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Indústria hoteleira tem papel fundamental na pauta ESG

A indústria hoteleira gera empregos, movimenta a economia, mas também tem grande impacto nas questões ambientais e sociais

ESG é um acrônimo que representa três fatores considerados importantes na avaliação de uma empresa ou investimento: Ambiental (Environmental), Social (Social) e Governança Corporativa (Governance). A abordagem desses temas tem ganhado destaque nos últimos anos, pois investidores, consumidores e demais stakeholders estão cada vez mais interessados em apoiar empresas que demonstrem compromisso com a sustentabilidade e responsabilidade social. A avaliação dessas práticas pode ser usada para medir o desempenho de uma empresa em relação a esses critérios e fornecer informações relevantes para a tomada dos mais diversos tipos de decisões.  A indústria hoteleira desempenha um papel de extrema importância dentro desse contexto e deve participar ativamente desse processo, já que está inserida em dois dos maiores setores da economia: o mercado imobiliário e a indústria do turismo.

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O impacto que a construção e operação dos empreendimentos hoteleiros têm no meio ambiente, na comunidade local e na vida de seus colaboradores e parceiros deve estar no centro das atenções de qualquer projeto. Para se ter uma ideia da responsabilidade desse setor, um estudo recente do time europeu da JLL Hotels & Hospitality mostrou que a construção de imóveis comerciais no mundo contribui com 39% da emissão total de CO2 e emprega 13 milhões de pessoas. E de acordo com a WTTC – World Travel & Tourism Council, antes da pandemia, a indústria do turismo respondia globalmente por cerca de 11% dos empregos (cerca de 334 milhões de pessoas) e pouco mais de 10% do PIB mundial. Além disso, a operação dos hotéis que funcionam normalmente 24 horas por dia, 365 dias por ano, evidencia o impacto ambiental causado por essa indústria.  Um relatório da “Urban Land Institute Hotel Sustainability” mostrou que, entre todos os ativos comerciais, os hotéis são os produtos imobiliários com o maior consumo por metro quadrado de eletricidade e água. E também estão entre os produtos que apresentam os maiores índices de emissão de gás carbônico. Para mitigar esses impactos a indústria hoteleira, desde as grandes redes até os hotéis independentes tem colocado como prioridade a implementação das práticas ESG em suas operações.  Mas antes de tudo é preciso entender os principais pontos dessa tão falada sigla.

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O termo ESG foi cunhado em 2004 pela ONU em uma publicação do Pacto Global, que é um código de conduta para policiar as políticas e práticas gerenciais, em uma iniciativa voluntária que fornece diretrizes para a promoção do crescimento sustentável e da cidadania, por meio de lideranças corporativas comprometidas e inovadoras. O Pacto Global foi lançado em 2000 pelo então secretário-geral das Nações Unidas, Kofi Annan. Em 2015, os 193 países-membros das Nações Unidas aprovaram, por consenso, a Agenda 2030, que representa um chamado para ação global e uma visão compartilhada para um futuro sustentável. Ela reconhece a necessidade de abordar os desafios globais de forma integrada, equitativa e sustentável, buscando o equilíbrio entre as necessidades das pessoas, a proteção do planeta e o alcance da prosperidade econômica.

Os principais pontos da Agenda 2030

Para balizar os objetivos foi desenvolvido um plano de ação que pode ser aplicado por todos aqueles que quiserem colaborar. O pilar desse plano de ação consiste nos 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) e 169 metas associadas. Esses 17 itens abrangem uma ampla gama de questões, incluindo erradicação da pobreza, fome zero, saúde e bem-estar, educação de qualidade, igualdade de gênero, água limpa e saneamento, energia acessível e limpa, trabalho decente e crescimento econômico, redução das desigualdades, cidades sustentáveis, consumo responsável, ação climática, vida debaixo d’água, vida terrestre, paz, justiça e instituições eficazes, parcerias em prol das metas e outros. Além disso outros fatores são importantes para o cumprimento das metas.

Universalidade: A Agenda 2030 é universal e se aplica a todos os países, independentemente de seu nível de desenvolvimento. Ela reconhece a necessidade de ações tanto nos países desenvolvidos quanto nos países em desenvolvimento para alcançar os objetivos.

Abordagem integrada: Os ODS são interconectados e abordam questões sociais, econômicas e ambientais simultaneamente. Eles reconhecem que as ações em uma área podem afetar outras áreas e promovem uma abordagem holística para o desenvolvimento sustentável.

Participação e parcerias: A implementação da Agenda 2030 requer a participação de governos, setor privado, sociedade civil, organizações não governamentais e outros atores relevantes. As parcerias são fundamentais para mobilizar recursos, compartilhar conhecimento e promover a cooperação para alcançar os objetivos.

Ação climática: A Agenda 2030 reconhece a urgência das mudanças climáticas e inclui ações específicas para combater esse desafio, como o ODS 13 – Ação contra a mudança global do clima.

Monitoramento e revisão: Um sistema de monitoramento global foi estabelecido para acompanhar o progresso em relação aos ODS. Os países são incentivados a desenvolver planos de implementação e relatórios nacionais para avaliar seu progresso e identificar desafios.

Questões legais, lei ambiental e leis trabalhistas

Além de todas as questões e propostas configuradas nas diretrizes da ONU, é preciso entender que para a implementação desses princípios, cada país possui regras e legislação a respeito dos assuntos tratados dentro das propostas ESG, principalmente no que diz respeito às questões ambientais e trabalhistas. Izabella Alonso Soares, advogada e consultora em ESG, explica que apesar de não existir uma lei específica com a denominação ESG no Brasil, a legislação nacional é muito robusta. “Temos controles rígidos ambientais, com exigências específicas como o licenciamento. No campo social, de igual forma, temos um regime complexo de normas trabalhistas, que forçam a existência de uma responsabilidade social. Na parte da governança as coisas estão evoluindo rapidamente, a melhor definição dos papéis dos gestores, a transparência são ações crescentes que decorrem de leis recentes como a Lei Anti corrupção – Lei Federal nº 12.846/2022”, exemplifica. Izabella comenta que mercado financeiro também está de olho. “A Comissão de Valores Mobiliários – CVM, que regula e fiscaliza o mercado de valores mobiliários no Brasil, vem editando normas inserindo a prestação de informações sobre as práticas relacionadas à governança corporativa, direitos humanos e meio ambiente. Sendo o próprio mercado um grande impulsionador desta agenda oferecendo créditos especiais para empresas que conseguem apresentar seus resultados dentro da perspectiva ESG. O Congresso Nacional também tem debatido o tema, existem alguns projetos de lei que trata do ESG. Mas tudo ainda de forma muito incipiente, sem avanços significativos”.

Izabella: “Os conceitos e indicadores de ESG se baseiam em uma série de leis, regras e normativas, sendo individualizado para cada negócio” (Foto – Divulgação)

Seja para iniciar um novo projeto ou para adaptar um empreendimento já existente, é preciso buscar orientação e as informações corretas, principalmente no que diz respeito a conformidade legal do negócio. “O cumprimento das leis que envolvem a atuação do negócio é o básico a ser feito. É a linha de base do programa, algumas empresas têm um nível de maturidade maior que outras menores. Infelizmente sabemos que nem todos conseguem cumprir todas as obrigações legais, temos um país de dimensões continentais onde os médios e pequenos empreendimentos podem enfrentar algumas dificuldades. Os conceitos e indicadores de ESG se baseiam em uma série de leis, regras e normativas, sendo individualizado para cada negócio. Não existe uma fórmula mágica que será aplicada para todos. Por exemplo, uma atividade que tem impactos sociais na comunidade local, deve ter um programa mais robusto no S. Irá começar cumprindo a lei, mas depois precisará conhecer seus riscos e definir metas de mitigação”, afirma Izabella.

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Ameris

E não é só o conhecimento jurídico ou legal que precisa ser levado em conta em um projeto. Às vezes a falta de conhecimento de que as práticas que já fazem parte do dia a dia da operação do empreendimento estão dentro do guarda-chuva que abrange os princípios ESG faz com que empresas percam grandes oportunidades de potencializar os resultados. É o que explica Gustavo Corrêa, CEO da Simbiose, empresa que há 10 anos atua na implantação de programas ESG com foco na hotelaria. “O desconhecimento, e a falta de clareza sobre o tema, ainda é o maior desafio na implementação do modelo ESG. Assim como em qualquer novo projeto, é preciso saber onde se quer chegar e como chegar até onde se quer. Sem isso as organizações saem sem direção e se perdem no caminho, atribuindo uma visão equivocada sobre os benefícios deste modelo de gestão”.

Com uma equipe bem estruturada e planos bem traçados, alguns hotéis saem na frente. A Accor sempre esteve comprometida com a implementação de boas práticas em ESG e em realizar um trabalho conjunto com diferentes frentes, como os funcionários, fornecedores, hóspedes, iniciativa pública e o setor hoteleiro como um todo. Antonietta Varlese, SVP de Sustentabilidade e Comunicação Accor Américas para as marcas Premium, Midscale & Economy, explica que a estratégia de sustentabilidade da Accor é dividida em quatro pilares estratégicos: Stay, Eat, People e Explore, com projetos específicos em cada um desses pilares. “É desafiador mudar a visão de toda uma cadeia produtiva, desde os hóspedes, governos, fornecedores, entre outros, mas o turismo é responsável por 11% das emissões de CO2 na atmosfera e, como uma grande rede hoteleira, temos noção do impacto de nossas operações”. Entre as ações praticadas pela rede, a eliminação de itens de plástico de uso único, como embalagens de produtos de higiene pessoal, garrafas, canudos e itens de alimentos e bebidas já é aplicada globalmente em 84% dos hotéis da Accor; mais de 100 hotéis no Brasil já compram energia 100% renovável com certificação internacional; os hotéis são estimulados a oferecerem opções plant based food em todos os cardápios. Segundo Antonietta, a rede está comprometida com a agenda 2030, avançando rapidamente para as implementações das políticas de ESG. Por exemplo, uma das metas da empresa é reduzir a emissão de poluentes da rede em 50% até 2030 e 100% até 2050, além de reduzir em 60% até 2030 o desperdício de alimentos, do qual já foi atingido em torno de 30% em grande parte dos hotéis. “Temos o compromisso de substituir em 100% os ovos utilizados em nossas unidades por ovos de galinhas livres até 2025 e, em 2022, já atingimos 28% dos nossos hotéis com a adesão dessa medida. Na agenda de energia limpa e acessível, fizemos um diagnóstico de nossos hotéis, com mapeamento de oportunidades de eficiência energética visando a redução do consumo por meio de projetos de melhoria contínua e retrofit de estruturas. Temos a certificação da energia limpa (I-REC) que é internacionalmente reconhecida e conta favoravelmente para a redução das emissões atmosféricas da empresa. A instalação de painéis solares também é uma prática difundida em nossos hotéis, somando mais de 16 mil m² de painéis solares distribuídos entre mais de 140 hotéis na América do Sul”, conta a executiva.

A Bourbon Hotéis e Resorts tem em seu DNA a preocupação socioambiental há muitos anos e atualmente vem consolidando ações que visam alterar os aspectos das operações e reduzir o impacto sobre o planeta. Annie Morrissey, Diretora de Vendas e ESG, destaca que dentre as novas iniciativas adotadas, um dos destaques é a utilização de energia proveniente de fontes limpas, renováveis e rastreáveis, com certificação internacional (I-REC) já garantida até 2026 para o Bourbon Atibaia Resort e Bourbon Cataratas do Iguaçu Thermas Eco Resort. Os hotéis e resorts da rede também já possuem outras iniciativas de eficiência energética para uso racional dos recursos, ampliação de automação nos prédios, modernização de elevadores, retrofit nos sistemas de ar-condicionado, substituição dos gases de escopo 2, aprimoramento dos fluxos de energias térmicas combinando tecnologias como recuperadores de calor até a implantação de carregadores veiculares que abastecem os carros com energia certificada, entre outros. “Iniciamos recentemente um trabalho com consultoria externa internacional para benchmarking e desenvolvimento de plano de ação em médio e longo prazos em ESG. A partir do projeto inicial, poderemos consolidar melhor todas as ações em andamento no grupo, e divulgar a materialidade de nosso compromisso com a sustentabilidade socioambiental e negócios. Nossa intenção é replicar ações para todos os hotéis da rede e teremos relatórios e planos estratégicos de atuação divulgados em breve”.

Vista aérea do Rosewood São Paulo e o entorno da Cidade Matarazzo (Foto – Divulgação)

O Rosewood São Paulo, inaugurado em 2022 no enclave histórico da Cidade Matarazzo, foi projetado para ser um empreendimento sustentável e referência de upciclyng do Brasil, focando em celebrar e proteger o patrimônio cultural e natural do país. Suas ações são apoiadas em três bases: energia, resíduos e água. A propriedade utiliza 100% energia renovável, parte dela abastecida por painéis solares, com todas as lâmpadas de led para menor consumo de energia e disponibiliza transfers aos hóspedes com carros elétricos. Com o intuito de diminuir ainda mais o impacto, o hotel possui um programa de gerenciamento de resíduos, no qual todos os descartáveis sólidos e orgânicos são reciclados por meio de um biodigestor e um triturador de vidro. O programa “Aterro Zero”, permite à propriedade medir a quantidade dos seus esforços na destinação de resíduos, que até agora foram executados com sucesso. O Rosewood São Paulo também é livre de plásticos descartáveis, por meio da instalação de um sistema interno de filtragem de água que produz água engarrafada em vidro para consumo dos hóspedes e as comodidades do quarto são embaladas em materiais reciclados em vez de recipientes de plástico.

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Outra rede que no início deste ano se tornou signatária do Pacto Global das Organizações das Nações Unidas foi a Amarante. Lua Romão, Gerente de Compliance e ESG na Amarante, explica que os hotéis estão inseridos numa Área de Proteção Ambiental – APA, a APA da Costa do Corais e em municípios na costa alagoana, dessa forma as questões ambientais e sociais fazem parte da essência do empreendimento. “Em relação à nossa estratégia ESG, começamos buscando entender os temas mais importantes e materiais e montamos um plano de ação. Iniciamos pelas ações simples e de rápida implementação e atualmente estamos elaborando a nossa estratégia de médio e longo prazo, traçando onde queremos chegar e quais são os resultados esperados. Durante o primeiro semestre de 2023 realizamos uma pesquisa de materialidade envolvendo mais de 2000 respondentes. Essa pesquisa nos ajudou a identificar quais são as nossas prioridades em relação aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) e como elas se conectam com nossas metas e entregas para 2025 e 2030”, comenta.

O Palladium Hotel Group tem avançado na implementação da sua política de RSC – Responsabilidade Social Corporativa e anunciou Gloria Juste, que já atuou em diferentes ações de voluntariado nacionais e internacionais, como Diretora de Responsabilidade Social Corporativa e recentemente o apresentou o Palladium Cares, uma identidade que engloba todos os projetos de Responsabilidade Social Corporativa do grupo em nível global, alicerçado em três verticais de ação estratégica: Nossa Gente, Nossa Comunidade e Nosso Planeta. O objetivo é consolidar o compromisso histórico da empresa com a Responsabilidade Social Corporativa, dando continuidade aos projetos existentes, fortalecendo-os e promovendo novos. No Brasil, por exemplo, o Centro de Produção Agrícola oferece cursos de educação ambiental, meliponicultura e cuidados com o planeta e otimização da produção.

A Associação Roteiros de Charme, fundada em 1992 e inspirada pela conferência Eco-92, se dedica a praticar a hotelaria de qualidade com responsabilidade ambiental e social. Ao se associar à Roteiros de Charme o hotel candidato assume a missão de desenvolver suas atividades com elevada responsabilidade social e ambiental, comprometendo-se em contribuir para o processo de conscientização ambiental de todos os envolvidos com a atividade turística nos destinos onde operam.

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Clima ao Vivo

Este compromisso está no DNA da Associação e é descrito no seu Código de Ética e Conduta Ambiental, disponível no site da Associação e desenvolvido por ela, com a chancela do órgão Ambiental das Nações Unidas. Os empreendimentos associados da Roteiros já adotam, desde longa data, grande parte das práticas que constituem os pilares do ESG, embora sem a formalidade da metodologia hoje difundida como ESG. Ultimamente inúmeros associados da Roteiros vem experimentando a formalização das práticas de sustentabilidade de seus empreendimentos dentro do regramento ditado pela abordagem ESG.

A Morada dos Canyons, é um dos empreendimentos associados a Roteiros de charme, que prática diversas ações com foco no ESG. Localizada entre Praia Grande – SC e Cambará do Sul – RS, na Serra do Faxinal, com área de 30 mil m² com apenas 4 mil m² de área construída, à beira dos canyons dos Parques Nacionais Aparados da Serra e Serra Geral, são quase 90% de mata preservada no entorno da pousada. Exatamente pelo contexto em que está inserida, a pousada está comprometida em preservar o rico ambiente natural da região dos canyons, ao mesmo tempo em que oferece experiências turísticas autênticas e de alta qualidade. A pousada com suporte da Simbiose implantou ações e o uso de ferramentas que permitem medir todas as ações e encontrar soluções. “A sustentabilidade está no cerne da estratégia de negócios, guiando as decisões e ações diárias. A Morada dos Canyons está incorporando os princípios ESG em suas operações, focando em sustentabilidade ambiental, responsabilidade social e governança corporativa. Adotamos medidas como o uso de energia renovável, gestão de resíduos e ações de conservação da biodiversidade”, afirma Messias Fernandes, Gerente geral. Além disso, em 2023 o empreendimento se tornou Carbono Neutro compensando os três escopos de emissão de 2022.

Messias Fernandes: “A sustentabilidade está no cerne da estratégia de negócios, guiando as decisões e ações diárias” (Foto – Divulgação)

Além das grandes redes que promovem esforços para mudar o mindset e alterar o curso de suas pegadas, há também iniciativas de hotéis que se propõem a “nascer” sustentáveis.  A Reserva é uma startup ecológica e seu propósito é gerar impacto positivo na hotelaria. De acordo com Márcio Franco, idealizador do projeto, a Reserva Ilhabela é o protótipo, e está sendo desenvolvido há quatro anos e agora foi inaugurado a Reserva Campos onde o modelo de negócio será testado em outra praça. “Smart & Green Hotel define nosso sistema, por ser todo automatizado, eliminando todas as burocracias e etapas desnecessárias da jornada do hóspede. Desde o primeiro impacto, através do marketing, a efetivação da reserva, o pré-checkin, o checkin, a experiência durante a estadia, o checkout, a avaliação até a nova reserva. Estamos lançando nosso app Reserva Smart & Green Hotel para facilitar a jornada do hóspede e para a gestão do back office. Temos a certificação Lixo Zero, um reconhecimento pela gestão sustentável do lixo produzido. A Reciclagem é feita em uma estação de Lixo e os resíduos compostados são utilizados como adubo na horta da propriedade. Além disso, a energia que abastece as suítes e áreas de convivência é produzida através de um sistema de placas fotovoltaicas, além de placas solares para aquecimento da água. O sistema de cisternas instalado na propriedade permite a reutilização da água da chuva coletada através das calhas para fins não potáveis. E ainda disponibiliza bebedouro com água potável na recepção reduzindo o consumo de garrafas pet. Além disso, todos os produtos de limpeza são biodegradáveis e dentro das suítes são disponibilizados shampoos e condicionadores também biodegradáveis”, afirma Márcio.

Márcio Franco é idealizador da Reserva, uma startup ecológica com propósito é gerar impacto positivo na hotelaria (Foto – Divulgação)

Vale destacar que as empresas de hospitality e fornecedores também tem se adequado e mostrado crescente preocupação com a pauta ESG. A Tramontina desde 1987 vem adotando práticas relacionadas a sustentabilidade, iniciada com a criada a Associação Tramontina de Funcionários (ATF), uma organização sem fins lucrativos, com gestão independente, que proporciona diversos benefícios nas áreas da saúde, educação, bem-estar, sociais e culturais, assessoria jurídica e ações em eventos especiais aos mais de 12 mil associados e seus dependentes. Hoje sob o guarda-chuva do Tramontina Transforma, projeto criado com o objetivo de comunicar as ações sustentáveis da marca, a empresa entre outras coisas, investe em reuso da água de chuva, tem uma Central de Resíduos, que trata e separa os resíduos perigosos e não perigosos, tem Estações de Tratamento de Efluentes (ETEs), tem um programa de logística reversa disponibilizando pontos de coleta de panelas, formas, frigideiras, fervedores e assadeiras usados, em lojas oficiais da Tramontina. André Guerra, Diretor comercial da Tramontina, destaca a pegada sustentável da companhia, que atende todas as leis ambientais na utilização de madeira e o serviço de entrega em todo o País. “Sustentabilidade hoje é fato. Nossa fábrica fica no coração do Pará e temos toda a preocupação do manejo da madeira, com rastreio de sua origem, garantia de reflorestamento e atendendo as normas e legislações vigentes. Além disso, nosso olhar sustentável também abrange outras matérias-primas, sempre visando o melhor uso, com revisão constante de tudo o que é utilizado. Usamos há muitos anos vernizes a base de água, por exemplo. Isso para nós, é um ponto que não se discute, a sustentabilidade está em nosso DNA e para nós, é um ponto essencial para o sucesso da marca”, argumenta.

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Tramontina
Cuidado com o Greenwashing

Com as questões de sustentabilidade tão em evidencia, com todos os players do mercado querendo fazer parte do jogo e colher os resultados provenientes dessas ações, é preciso também estar atento as “falsas” promessas, projetos e produtos que vendem uma imagem que não corresponde à realidade. O termo “greenwashing” refere-se a uma prática em que uma empresa, organização ou indivíduo tenta criar uma imagem ambientalmente responsável, sustentável ou “verde”, enganando ou exagerando seus esforços nessa área. É uma forma de marketing enganoso em que uma empresa tenta se posicionar como amiga do meio ambiente, mesmo que suas práticas e impactos reais não sejam verdadeiramente sustentáveis. O greenwashing é problemático porque engana os consumidores e dificulta a tomada de decisões informadas. Isso pode levar as pessoas a acreditar que estão fazendo escolhas sustentáveis quando, na realidade, estão sendo enganadas. Para combater o greenwashing, é importante que os consumidores sejam céticos em relação a alegações “sustentáveis” e façam pesquisas independentes para verificar se as empresas estão realmente adotando práticas sustentáveis. As certificações e selos são bons indicadores das práticas adotadas pelos estabelecimentos. A certificação LEED – Leadership in Energy and Environmental Design é um sistema de certificação internacionalmente reconhecido e amplamente utilizado para edifícios sustentáveis.

Desenvolvido pelo U.S. Green Building Council (USGBC), o LEED fornece um conjunto de critérios e diretrizes para avaliar o desempenho ambiental e a sustentabilidade de projetos de construção. O JW Marriott que alia conforto e luxo às práticas sustentáveis e conscientes é um dos quatro hotéis que possui o certificado com o selo LEED no Brasil. Com 86 painéis solares instalados em suas dependências, seu sistema de aquecimento de água reduz a dependência de fontes de energia convencionais e diminui as emissões de gases de efeito estufa. Todos os equipamentos do hotel possuem variadores de frequência, que ajustam o consumo de energia de acordo com a demanda. Nos quartos, sensores de presença ajustam automaticamente o uso de energia quando os hóspedes estão ausentes, resultando na diminuição de utilities em cerca de 18%.  No Brasil o ICMBio – Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade é uma autarquia federal responsável pela gestão das unidades de conservação no país. Além de atuar na conservação ambiental, o ICMBio oferece programas de certificação, como o Selo Nacional de Qualidade e Sustentabilidade em Turismo, que reconhece empreendimentos turísticos que adotam boas práticas socioambientais. Há também o “Certificado Internacional de Energia Renovável”, ou “I-REC”, que serve para comprovar que a energia elétrica consumida é proveniente de uma fonte de energia renovável, e os certificados de neutralização de carbono como o desenvolvido pelo IBDN – Instituto Brasileiro de Defesa da Natureza. Para facilitar a vida dos hóspedes e viajantes preocupados com as questões ambientais e de sustentabilidade, a Booking.com, uma das maiores plataformas digitais de viagem, lançou o selo ‘Viagem Sustentável’, cujo objetivo é fornecer informações importantes para todas as pessoas que desejam viajar de forma mais sustentável. O selo está disponível para todas as propriedades que implementaram um conjunto de práticas sustentáveis e que cumprem o requisito mínimo de impacto para o destino em que estão inseridos. A iniciativa visa oferecer aos viajantes uma forma clara, consistente e fácil para identificar estadias mais sustentáveis.

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Harus
O ‘S’ não é de sustentabilidade

O termo sustentabilidade ganhou destaque nos últimos anos e geralmente está associado as práticas ambientais. Sustentável derivada do latim sustentare significa sustentar, apoiar, conservar e cuidar. A preservação do meio ambiente é de extrema importância mas quando se olha com atenção para o local em que muitos hotéis e resorts estão sendo implantados não se pode deixar de olhar com atenção para a comunidade local, e é nesse contexto que a parte social se faz presente. O desenvolvimento sustentável se baseia em um tripé: ambiental, econômico e social.  Quando diz respeito às questões sociais é preciso ter atenção a diversidade, inclusão, capacitação e cuidado com as pessoas, parte fundamental da cadeia de hospitalidade. “Pessoas estão no centro de tudo o que fazemos, e por isso fomentamos projetos de diversidade, equidade e inclusão, além de investimento social em ações de elevação social por meio do fundo Accor Heartist Solidarity. Em São Paulo, temos parceria com a ONG Unibes há mais de 10 anos, para a formação de jovens em um curso profissionalizante de hotelaria. Em 2022, foram 60 jovens formados em hotelaria e que entraram no mercado de trabalho após a conclusão do curso, e em 2023, estão previstos 80 jovens concluindo o curso. Com o programa de treinamento “School for Change” atingimos 96% dos colaboradores das sedes da Accor no mundo todo, treinados em sustentabilidade em cinco módulos com foco em mudanças climáticas, sensibilização para questões de biodiversidade e ações sobre nossa própria pegada de carbono. Em 2023, expandiremos o programa de treinamentos para todos os gerentes gerais de nossos hotéis, visando aumentar o senso de urgência sobre as transformações em nosso negócio e na sociedade”, afirma Antonietta Varlese.

Antonietta Varlese: “Pessoas estão no centro de tudo o que fazemos, e por isso fomentamos projetos de diversidade, equidade e inclusão” (Foto – Danilo Borges)

Lua Romão da Amarante, fala sobre a atuação da empresa no pilar social. “Atuamos a partir da necessidade de ajudar as pessoas que envolvem a empresa e seus resorts, tendo em vista que atuamos junto às comunidades dos municípios próximos aos hotéis. Dentre as atividades desenvolvidas adotamos a prática de doar nossos resíduos recicláveis para cooperativas locais. Essa iniciativa contribui para fortalecer a geração de emprego, renda e a economia das comunidades do entorno. Ao apoiar as cooperativas, estamos promovendo a inclusão social e auxiliando no desenvolvimento sustentável dessas comunidades. Além do processo de gestão de resíduos, realizamos doações de alimentos para as comunidades carentes próximas aos empreendimentos e promovemos ações de valorização e promoção da saúde e segurança no ambiente de trabalho”. Em relação ao tema Diversidade e Inclusão, Lua informa que foi contratada uma consultoria especializada em diversidade e inclusão para avaliar a situação dos empreendimentos em relação a demografia de minorias sociais da Amarante. “Com base nas recomendações desta consultoria, implementamos programas de capacitação voltados para a diversidade e inclusão, alcançando a marca de mais de 800 colaboradores treinados”.

A Rede Bourbon também desenvolve um trabalho social de grande relevância no interior do Paraná: o Instituto Bourbon de Responsabilidade Socioambiental. Criado em 2002, o projeto funciona em um complexo escolar e atende centenas de alunos, com o objetivo de prepará-los através de ações educacionais, culturais, esportivas e de saúde. No decorrer desses anos, a instituição vem transformando a vida de mais de 2.000 pessoas de 5 a 80 anos e contribuindo com a formação de cidadãos. “Recentemente, iniciamos um projeto de doação de alimentos no Bourbon Cataratas do Iguaçu Thermas Eco Resort. O resort faz uso da Lei 14.016, sobre doação de excedente da produção da cozinha. A Instituição Sagrada Família (donatária) é uma casa abrigo para adultos em recuperação, em situação de rua e a maioria dependentes químicos. Por meio deste projeto, atendemos ao ODS 2: Fome Zero”, afirma Annie Morrissey. Além disso a executiva afirma: “Na rede Bourbon, tanto nossa diretoria como nossas equipes são compostas por um público muito heterogêneo no que se refere a gênero, raça e idade, o que traz diversidade de pensamento e ações. Quanto ao gênero, há um equilíbrio entre homens e mulheres, tanto em cargos de gestão quanto de base, assim como temos funcionários iniciando sua carreira aos 18 anos e funcionários, já aposentados, que continuam trabalhando aos 70 anos. São essas diferenças que trazem inovação, envolvimento das pessoas, variedade de experiências e melhores resultados”.

O Rosewood São Paulo, sob a liderança de Lou Ana Garcia, Gerente de Impacto Social, vai expandir práticas de contratação e capacitar a comunidade ao redor da propriedade. Em parceria com a ONG brasileira Sefras, a propriedade contratou refugiados e 20 aprendizes em diferentes departamentos. Lou Ana fala que o Rosewood São Paulo é um local de trabalho inclusivo, que se propõe a oferecer oportunidades sem distinção de gênero, ou de qualquer outro tipo, tendo entre seus colaboradores homens, mulheres, transgêneros e não binários, permitindo que os funcionários selecionem seus uniformes com base em suas preferências pessoais. “Valorizamos a diversidade como um todo e a partir da equipe formada procuramos entender suas necessidades e particularidades para implementar ações de melhorias”, explica Lou Ana.

Annie Morrissey: “São as diferenças que trazem inovação, envolvimento das pessoas, variedade de experiências e melhores resultados” (Foto – Divulgação)
Aumentando os elos da cadeia

Recente levantamento da Booking.com, mostra que 81% dos viajantes globais desejam se hospedar em uma acomodação sustentável no próximo ano, e mais de dois terços (67%) dos viajantes esperam que o setor ofereça mais opções sustentáveis. Se os hóspedes então atentos e preocupados com essas questões, porque não o incentivar e engaja-lo a participar das ações, sendo parte dessa cadeia de preservação?

Luiz Penna, Diretor de sustentabilidade da Roteiros de Charme fala sobre o engajamento dos hóspedes. “O grande desafio para a consolidação das práticas sustentáveis reside justamente na dificuldade de reconhecimento do valor destas práticas por parte do grande público. Durante muitos anos nos defrontamos com um baixo entendimento de sua importância o que desencorajava o aumento de escala na implementação das mesmas. No momento atual assistimos com satisfação a gradual diminuição desta dificuldade na medida que ganha corpo na sociedade a consciência sobre a necessidade de transformação do estilo de desenvolvimento e modo de vida preponderante no planeta. Nossa campanha “Viajante Consciente prioriza hotéis sustentáveis”, lançada no dia Mundial do Meio Ambiente aborda este desafio buscando sensibilizar viajantes para a urgência em agir, que a emergência climática nos impõe”.

Luiz Penna: “Lançamos a campanha ‘Viajante Consciente prioriza hotéis sustentáveis’, buscando sensibilizar viajantes para a urgência em agir”

Gustavo Corrêa acredita que mais do que nunca, as pessoas estão muito atentas a tudo que acontece e impacta suas vidas, e por essa razão entendem que possuem um papel muito importantes como grandes influenciadores para que suas marcas se engajem em causas que as representa. Temos aqui o censo de pertencimento muito forte, e com isso a oportunidade de engajar o público com a marca. “Crie temáticas recreativas, campanhas de incentivos às práticas ESG envolvendo hóspedes que irão contribuir para o fortalecimento da marca e de sua conexão com a sustentabilidade”, sugere Gustavo.

Com cinco unidades em três estados do Brasil, o Grupo Tauá de Resorts e Hotéis, que desde janeiro de 2022 passou a integrar o Pacto Global da ONU, passou a ser uma empresa carbono neutro. A partir deste ano, as unidades da rede irão compensar todas as emissões de carbono geradas em suas unidades e pela sede administrativa. A rede implementou uma calculadora para que os hóspedes conheçam sua pegada quanto ao poluente e ajudem a atuar no combate às mudanças climáticas. O cálculo estima as emissões de carbono por pessoa, considerando o número de diárias, e observando que todas as áreas e utilidades do hotel estão disponíveis para todos os hóspedes, independente da utilização. Agora em 2023 o Tauá vai identificar e compensar suas emissões mensalmente, junto aos seus hospedes. O próximo passo da rede é convidar e sensibilizar seus clientes para que cada um possa fazer a sua compensação após o término da hospedagem. Depois do check-out, os clientes receberão, por e-mail, suas pegadas de carbono e se quiserem, poderão compensar a emissão de CO2 que foi gerado durante a estadia. Assim, a estadia é ainda mais sustentável e a sociedade tem a possibilidade de atuar em conjunto a companhia pelo combate às mudanças climáticas e a preservação do meio ambiente. O grupo acredita que a adesão deverá ser grande pois, geralmente, os valores em média para compensação de cada hospedagem de dois a três dias com média de três hóspedes devem ficar abaixo de R$ 20,00, e mesmo assim, ele pode apoiar o projeto com qualquer valor.

“Em nossos resorts e no Gran Bourbon Asunción, as hortaliças servidas são provenientes de nossas hortas orgânicas, aproximando os hóspedes de nossas práticas sustentáveis. Além disso, atividades lúdicas são oferecidas nas programações de lazer dos resorts, colocando as crianças em contato com a natureza em ações como plantio na horta e oficinas de enriquecimento ambiental, em que são criados móbiles para os pássaros do Refúgio dos Animais de nosso resort em Foz do Iguaçu”, conta Annie Morrissey.

Lou Ana Garcia afirma que é preciso seguir alguns passos para o engajamento do hóspede. “É preciso entender quais as expectativas dos hóspedes e educa-los, desenvolvendo uma consciência sustentável, incentivando-o a fazer escolhas responsáveis, facilitando a tomada de decisões e despertando o interesse deles para essas questões. No Rosewood São Paulo damos aos hóspedes acesso à cultura regional, com artesanato e produtos locais, o estimulando a interagir com o ambiente no qual ele está hospedado”.

Antonietta, também tem o entendimento de que além de educar é preciso investir em comunicação. “Temos o papel de educar e comunicar nossos clientes das mudanças que adotamos em prol do meio ambiente e de uma sociedade mais sustentável. Desde as pequenas mudanças em amenities, até as grandes alterações como reformas e investimentos em tecnologia são comunicadas, para que eles observem que as medidas são contribuições para uma transformação de cultura muito maior a nível global. Nosso objetivo final é que cada hóspede saia de nossos hotéis com uma mensagem clara que pode ser replicada em seu próprio dia a dia”.

Não é despesa, é investimento

Muitas vezes ao fazer um planejamento os gestores levam em conta o orçamento e os gastos, mas quando se pensa nas ações a longo prazo, é possível perceber que os investimentos gerarão vantagens no futuro. “É importante se posicionar, promover esse círculo virtuoso, promover a economia circular, entender que investir em sustentabilidade traz benefícios para todos, não é um gasto, é um investimento a longo prazo”, argumenta Lou Ana.

Lou Ana Garcia: “Investir em sustentabilidade traz benefícios para todos, não é um gasto, é um investimento a longo prazo” (Foto – Divulgação)

É importante frisar que a aplicação dos conceitos ESG traz tanto benefícios tangíveis quanto intangíveis, mas ambos de grande importância. “Entre os benefícios tangíveis, destacam-se a redução de custos operacionais por meio do uso eficiente de recursos, como energia e água, e a gestão adequada de resíduos. Além disso, a implementação de práticas sustentáveis pode resultar em economia de recursos financeiros, como incentivos fiscais e financiamentos preferenciais para projetos sustentáveis.

Já os benefícios intangíveis são igualmente importantes. Os hotéis que adotam abordagens ESG fortalecem sua reputação e imagem perante os clientes, investidores e comunidades locais. A sustentabilidade e responsabilidade social são valorizadas pelos consumidores conscientes, que tendem a preferir empresas alinhadas a esses princípios. Isso pode resultar em maior fidelização de clientes, atração de novos públicos e, consequentemente, aumento da demanda e da receita.

Além disso, os hotéis que incorporam práticas sustentáveis fortalecem seu relacionamento com stakeholders, como colaboradores, fornecedores e comunidades locais. Isso gera confiança e engajamento, criando um ambiente de trabalho mais positivo e produtivo, bem como parcerias duradouras com fornecedores comprometidos com a sustentabilidade”, explica Messias Fernandes.

Tendências e desafios

Gustavo Corrêa acredita que um dos grandes desafios dos gestores é conseguir traduzir conceito, sentimento, ideologia e converter tudo isso em resultado pragmático. “Isso é extremamente necessário, pois é exatamente nessa conversão que o modelo ESG se baseia para mostrar o quanto as ações sistêmicas impactam objetivamente nos resultados pragmáticos. Exemplos disso, podemos citar o índice de satisfação de colaboradores x clientes x aumento de faturamento x rentabilidade e evidenciar que quanto mais se investe em pessoas, quanto mais se capacita e sensibiliza pessoas, estas mesmas pessoas mais se engajam e realizam melhores entregas, transformando toda a operação em mais eficiente e lucrativa, geração atração de clientes e fidelizando através das entregas, sejam elas sistêmicas ou técnicas”.

Lua Romão destaca alguns desafios da implementação da estratégia ESG: “Criar a cultura de ESG e ser agente de mudança e transformação nas pessoas e nos processos. Desenvolver uma cultura de sustentabilidade acaba sendo desafiador, pois envolve a educação de cada indivíduo em fazer escolhas cada vez mais sustentáveis no seu dia-a-dia; a escassez de fornecedores com produtos e serviços sustentáveis para a hotelaria; o envolvimento efetivo do setor público. Como setor privado precisamos atuar junto ao setor público para viabilizar o desenvolvimento das ações; a falta de mão de obra qualificada na área também é um desafio, o ESG é um processo relativamente novo no Brasil e as instituições de ensino ainda estão desenvolvendo currículo sobre esse tema”.

Lou Romão: “Criar a cultura de ESG e ser agente de mudança e transformação nas pessoas e nos processos é um desafio” (Foto – Divulgação)

Para Gustavo uma tendência para o futuro é o uso da tecnologia para permitir medir e monitorar ações que envolvam todas as camadas de uma organização a tal ponto de contribuir com o desenvolvimento das propostas em torno dos aspectos sociais, ambientais e de governança que irão sobretudo gerar evidências incontestáveis fazendo com que uma organização compreenda que sem ESG, ela corre sérios riscos de se manter viva em uma sociedade cada vez mais envolvida com causas de impacto.

Messias acrescenta: “A indústria hoteleira como um todo tem a oportunidade de desempenhar um papel significativo na construção de um setor mais sustentável e responsável. À medida que a conscientização sobre as questões ESG continua a crescer, é fundamental que os hotéis adotem abordagens inovadoras e estratégias de longo prazo para enfrentar os desafios ambientais, sociais e de governança. É importante que hotéis e outras organizações continuem a buscar maneiras de melhorar suas práticas ESG, adaptando-se às tendências futuras e trabalhando em parceria com outras partes interessadas. Acredito que quando a sustentabilidade for integrada aos serviços de hospitalidade os resultados serão maiores e mais efetivos, levando a um maior engajamento dos colaboradores e maior interesse das lideranças”, conclui.

Gestão, transparência e ética

E por último, mas não menos importante a governança é parte fundamental dessa mudança. A governança é um conceito amplo que se refere às práticas, processos e estruturas através das quais as organizações são direcionadas, controladas e monitoradas. Ela abrange tanto o setor público quanto o setor privado e visa garantir que as organizações operem de maneira eficiente, transparente, ética e em conformidade com as leis e regulamentos aplicáveis. Entre os principais pontos que envolvem a governança estão a transparência, a prestação de contas, a responsabilidade corporativa, a gestão de riscos e a ética. Talvez essa seja a parte menos visível e mensurável dentro dos conceitos de ESG, mas está cada vez mais sendo aprimorado.

Para Luiz Penna a governança é ainda um campo a ser muito desenvolvido no âmbito do ESG nas empresas do setor de turismo e hotelaria. “Não basta cada empreendimento individual apresentar procedimentos de excelência e transparência na gestão da companhia, na gestão das questões sociais e no relacionamento com fornecedores e partes interessadas. É preciso ir além, e alcançar a integração com os demais empreendimentos dentro de um mesmo destino turístico. No setor do turismo e hotelaria os elementos de governança dos empreendimentos individuais necessitam ser ampliados de forma a proporcionar instrumentos de cooperação e regulação com os demais empreendimentos e a administração pública atuantes em uma mesma área de influência, sem o que, o alcance de objetivos de sustentabilidade para o destino como um todo dificilmente será alcançado. Vemos com otimismo que está se abrindo aos empreendedores privados um campo de oportunidades para o protagonismo em seus destinos turísticos visando a implantação de instrumentos e mecanismos de uma ampla governança voltada para a tomada de decisão participativa sobre políticas públicas nas áreas de gestão de resíduos, mobilidade, ordenamento territorial, emprego, entre outros temas de vital importância  para o futuro dos  destinos. Este é o desafio que se coloca na atualidade aos empreendimentos que desejam avançar no caminho da sustentabilidade de seus destinos”.

Gustavo Côrrea: “ Os próximos 25 anos serão guiados pelo modelo ESG, quanto antes compreendermos isso, mais cedo desfrutaremos de seus benefícios” (Foto – Divulgação)

Gustavo Corrêa faz uma análise a respeito da evolução do conceito ESG na indústria hoteleira nos últimos anos e quais as perspectivas para o futuro. “Em 2013 quando falávamos em ESG para hotéis, víamos um mercado que tratava o tema com absoluta desconfiança, e hoje 10 anos depois, vemos um mercado em busca do tempo perdido, mas que ainda não sabe qual caminho deve percorrer para recuperar de tal atraso. Neste sentido entender o tema e perceber a profundidade que ele consegue tocar, será de grande relevância para o mercado hoteleiro e de toda a economia que está mudando a visão percebendo que gerar valor é tão importante quanto gerar lucro. Os próximos 25 anos serão guiados pelo modelo ESG, quanto antes compreendermos isso, mais cedo desfrutaremos de seus benefícios, finaliza.

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Denise Bertola

Denise Bertola é Repórter da Revista Hotéis

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