Entrevista

Guerra de tarifas deve começar em breve na hotelaria de Belo Horizonte

A Lei municipal 9.952/10 da prefeitura de Belo Horizonte que criou incentivos para a construção de novos hotéis em Belo Horizonte, prevê que até o próximo dia 30 de março todos os hotéis beneficiados com esta lei entrem em operação.  Se não entrarem, as multas serão bastante pesadas, mas antes do prazo vencer, já é sabido que a maioria absoluta dos novos hotéis não vão ficar prontos para atender às necessidades da Copa do Mundo de 2014. Dos 72 alvarás de construção de hotéis concedidos, sete já estão em operação, 20 devem abrir perto do prazo estipulado na lei e outros 16 estão com obras bem atrasadas, com previsão de abrirem em 2015, pouco antes das Olimpíadas.
Além de se discutir se as sanções legais vão ser aplicadas, se discute também como se comportará a hotelaria de Belo Horizonte com mais 4.300 novas unidades hoteleiras. Isso já representará um aumento de 50% da oferta e já traz resultados antecipados. A taxa de ocupação está caindo de forma vertiginosa e em dezembro ficou em apenas 46%.
Guerra de tarifas, queda de receita e fechamento de alguns hotéis mal posicionados será algo que irá acontecer se não forem tomadas medidas urgentes para resolver a situação que preocupa em muito a Presidente da ABIH /MG — Associação Brasileira da Indústria de Hotéis do Estado de Minas Gerais, Patrícia Coutinho. Confira a seguir nesta entrevista exclusiva.

Revista Hotéis — Os incentivos que a Prefeitura de Belo Horizonte concedeu para ampliar a rede hoteleira estipulava que no próximo dia 30 de março todos os empreendimentos beneficiados com os incentivos deveriam entrar em operação. Esta data está mantida ou o prazo será estendido? Uma vez estendido pode prejudicar quem cumpriu os prazos?

Patrícia Coutinho — A ABIH/ MG já está se movimentando para dilatar o prazo disposto na Lei 9.952/10 que diz que os hotéis contemplados deveriam estar em funcionamento até o dia 30 de março. Tivemos no último dia 28 de janeiro uma reunião com o Secretário Extraordinário da Copa, Camillo Fraga, juntamente com o Vereador Marcelo Álvaro Antônio, para discutirmos o novo prazo a fim de atender à finalidade precípua da lei e não prejudicar o empreendedor de boa fé.      Não acredito que a extensão do prazo irá prejudicar aqueles que cumpriram o disposto na lei. Ao contrário, estes serão agraciados pela inoperância dos demais. O que realmente nos preocupa é o pós copa, pois não verificamos o aumento da quantidade de locais para eventos na mesma proporção da construção de novos hotéis.

Revista Hotéis — Quantos empreendimentos devem entrar em operação em Belo Horizonte e o que isto pode impactar para a hotelaria da capital mineira? A taxa de ocupação e diária média poderá ter uma queda acentuada, assim como corre-se o risco de alguns empreendimentos mal posicionados fecharem?

Patrícia Coutinho  Dos 72 alvarás de construção de hotéis concedidos, sete já estão em operação, 20 devem abrir perto do prazo estipulado na lei e outros 16 estão com obras bem atrasadas, com previsão de abrirem em 2015, pouco antes das Olimpíadas. Assim, até a Copa, serão ao todo 27 novos hotéis no mercado ou mais de 4.300 novas unidades hoteleiras. Isso já representará um aumento de 50% da oferta atual, que é de 8.700 apartamentos.
Nossa taxa de ocupação, diária média e REVPAR vem caindo consistentemente ao longo dos últimos anos e veja que ainda não estão em operação nem 10% dos novos hotéis. Comparando-se a taxa de ocupação do mês de dezembro de 2011, dezembro /2012 e dezembro/2013 vemos nossa taxa de ocupação cair de 54%, para 48% e 46% respectivamente. O valor da nossa diária média de dezembro de 2013 é menor que a diária média de dois anos atrás! Imagine quando todos os novos empreendimentos estiverem em operação… acredito que haverá guerra de tarifas, queda de receita e fechamento de alguns hotéis mal posicionados.
Esperamos que a Prefeitura ouça nossa reinvidicação a fim de rever o IPTU, a TFA -Taxa de Fiscalização e Anúncio e ISS nos próximos anos para os hotéis que fizeram seu retrofit ou readequação para a Copa do Mundo como forma de inibir o fechamento de empreendimentos hoteleiros e abrandar os inúmeros benefícios dados aos novos hotéis que entrarão em operação.

Revista Hotéis — Como a mão de obra está sendo preparada e qualificada para atender a esta demanda? Poderá haver algum gargalo e comprometer a qualidade dos serviços prestados?

Patrícia Coutinho  Já apoiamos várias ações nesse sentido nos últimos anos, com a qualificação de vários profissionais, através de várias ações governamentais e particulares. Acabamos de fechar um acordo com a BELOTUR para capacitar via PRONATEC recepcionistas, camareiras, profissionais de cozinha, reservas, assim como outras posições, com aulas intensivas de inglês. O curso iniciará no dia 20 de fevereiro e terá duração de 4 meses.
Claro que haverá alguns gargalos mas nada que comprometa a hospitalidade mineira. Na minha visão, o bom atendimento é feito com um sorriso, com atenção e predisposição para a solução do problema do hóspede. O Brasil não mudou de quatro anos para cá e assim não pode-se esperar que toda uma cadeia de serviços também se qualifique tão rapidamente. A qualificação e a qualidade dos serviços leva tempo e deve ser feita de forma consistente.

Revista Hotéis — Após este ciclo de novos hotéis, poderá acontecer um novo ciclo de investimentos em modernização? Como você analisa estas mudanças que estão acontecendo na hotelaria da capital mineira e o impacto disto nos próximos anos?

Patrícia Coutinho — Este ciclo de modernização já vem acontecendo nos últimos três anos. Posso dizer com tranquilidade que toda a hotelaria da capital investiu em modernização do seu espaço físico e da prática de serviços. Temo que a hotelaria mineira passe pelo que passou a hotelaria paulista nos anos 2000… com muitas ações na justiça, desequilíbrio entre a oferta e a demanda, guerra de tarifas, queda expressiva da receita, desvalorização dos imóveis, afetando o setor hoteleiro como um todo.
A lei que concedeu benefício no coeficiente construtivo para a construção de hotéis levou a uma especulação imobiliária sem que fosse analisado atentamente a capacidade do mercado de absorver tantos novos empreendimentos. As construtoras divulgaram dados e prometeram retornos que não serão facilmente cumpridos.Também a prefeitura deveria ter tido o cuidado de limitar o número de novos empreendimentos… Enfim, acredito que como conseqüência da baixa rentabilidade, novos hotéis vão parar de ser inaugurados e a oferta, com o passar dos anos, se estabilizará.

Revista Hotéis — Na sua opinião, investir na hotelaria ainda é um negócio seguro e rentável? Uma gestão familiar pode fazer frente a gestão profissional de grandes redes nacionais e internacionais?

Patrícia Coutinho  Na minha opinião depende do cenário econômico, da localização e de uma análise atenta do mercado em que está inserido o empreendimento. Acredito sim que uma gestão familiar pode fazer frente à gestão de grandes redes. Apesar de cobrar taxas abusivas, os novos sites de reserva pela internet democratizaram o ambiente de compra do hóspede além de darem publicidade ao empreendimento de forma relativamente barata, e o hotel independente ganhou com isso. A gestão familiar tem algumas peculiaridades no atendimento que agradam a um público determinado, e esse é um mercado com fatia específica.

Revista Hotéis — Muitas especialistas afirmam que locais para eventos serão o grande gargalo que inibe o crescimento da hotelaria de Belo Horizonte e o centro de Eventos do Expominas pegou fogo recentemente. Qual o impacto que isto poderá trazer no calendário de eventos da capital mineira e o reflexo na hotelaria?

Patrícia Coutinho  A perícia ainda está levantando a expansão dos danos do incêndio no Expominas, mas posso adiantar que o incêndio se deu na Arena e não nos Pavilhões, que é onde acontecem os eventos. Por isso, relativamente ao Expominas não sofreremos impacto negativo na agenda de eventos.
Belo Horizonte têm vocação para o turismo de negócios e eventos, inclusive existe uma grande mobilização de várias entidades em torno disso. A grande questão é, aonde faremos os eventos? O Expominas  e o MinasCentro são insuficientes, a recém lançada PPP do Parque da Gameleira têm previsão de ficar pronta apenas em 2019…
Fizemos um levantamento do espaço de eventos dos novos hotéis e estes também não serão suficientes para atender toda a nova “safra” hoteleira da capital. Este é, sem dúvida, um grande problema a ser enfrentado e a hotelaria sofrerá os reflexos da falta de grandes espaços de eventos. Um dos caminhos será o fortalecimento do turismo convencional, que vem ganhando aos poucos força na capital, com a abertura de espaços culturais, retorno do carnaval, teatros, feriados, etc.

Revista Hotéis — Muitos hotéis em Belo Horizonte estão sofrendo uma rigorosa fiscalização em razão da legislação exigir que os meios de hospedagem disponibilizem preservativos masculinos em todos os apartamentos. Como a ABIH/MG analisa esta situação e quais medidas e impactos esta legislação ocasiona?

Patrícia Coutinho — Veja que esta lei existe não só em Belo Horizonte como em São Paulo, Rio de Janeiro, entre outras cidades e estados. No âmbito federal também tramita a PL-1272/2011 no mesmo sentido. Ora, esta lei penaliza os meios de hospedagem com uma obrigação do Estado, que é o controle da saúde pública. Me parece totalmente inapropriado que preservativos estejam disponíveis nos quartos dos hotéis posto que é um local sério, para executivos e famílias a passeio. Isto causa embaraço o acesso desimpedido e não solicitado de objeto de cunho sexual a pais e acompanhantes de crianças pequenas, idosos e fiéis de algumas religiões.
Além disso, a ABIH/MG é totalmente engajada no combate à prática do turismo de exploração sexual e não observa na distribuição de camisinhas um meio eficaz de combatê-la, mas de confirmá-la.

Revista Hotéis — Na sua opinião, qual o legado que a Copa do Mundo de 2014 poderá deixar para a cidade de Belo Horizonte e ao Estado?

Patrícia Coutinho — Belo Horizonte e Minas Gerais podem se solidificar como destino turístico, quiçá internacional. Espero que aproveitemos essa grande oportunidade que teremos de nos apresentar para o Mundo inteiro, com nossa história, hospitalidade, seriedade e gastronomia… Para a hotelaria, infelizmente, acredito que a Copa do Mundo não trará boas lembranças…

Revista Hotéis — Quais os projetos e ações que a ABIH/MG pretende implantar nos próximos anos? O projeto de descentralização rumo ao Interior continua?

Patrícia Coutinho — Continua, a intenção é democratizarmos o acesso à informação, ajudando o hotel independente e do interior, assim como o de grandes redes, a se atualizar em novas práticas e serviços, tendo conhecimento de oportunidades e convênios com o poder público, particulares e fornecedores. Planejamos abrir cinco novas regionais no estado, além da já existente em Ouro Preto.
Recentemente informatizamos vários práticas, atualizamos nosso site, retomamos o Congresso Mineiro da Hotelaria e pretendemos retomar também o TURHOTEL. Tenho reunido com a diretoria para traçarmos o plano de metas até o final da minha gestão que é em abril de 2015. Pretendemos formar também comitês para auxiliar profissionais de várias áreas operacionais, ainda este ano

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