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Nobile Hotéis e o lema de sobreviver, crescer e perpetuar

Assim como a grandiosa maioria das redes hoteleiras corporativas, a Nobile sofreu muito o impacto da pandemia da COVID-19. Os executivos de negócios das empresas pararam de viajar, os eventos da noite para o dia acabaram e esses eram os dois públicos principais desse nicho hoteleiro. Mas mesmo assim, como uma gestão ágil, flexível e reinventando a operação todo dia, a Nobile Hotéis conseguiu fechar o ano de 2020 com lucro operacional positivo.

Mas com a capilaridade e distribuição da Nobile que é a terceira maior administradora do País, a expectativa da retomada são muito boas. Nesse ano já entraram em operação cinco novas unidades, sendo três conversões. No segundo semestre haverá mais duas novas operações e mais e mais conversões. De janeiro a junho/2021 a Nobile já atingiu 46% de taxa de ocupação consolidada e com R$ 221,00 de diária média. Confira essas e outras informações exclusivas com Roberto Bertino, Fundador & Presidente – Nobile Hotels & Resorts que adota como lema sobreviver, crescer e perpetuar.

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Revista Hotéis – Quais foram os impactos provocados pela pandemia da COVID-19 nos planos da Nobile e como estão superando esses desafios?

Roberto Bertino – Estamos há 16 meses enfrentando uma crise sem precedentes. Gigantes que atuam na cadeia produtiva do turismo ficaram de joelhos e viram o valor de suas ações derreter da noite para o dia. No início da pandemia, adotamos rapidamente medidas de austeridade, tanto nos hotéis como na estrutura corporativa da Nobile, e isso fez toda diferença. Os meses de maio a julho/2020 foram muito difíceis, com leve recuperação das receitas a partir de agosto. Embora inexpressivo, fechamos o ano de 2020 com lucro operacional positivo na companhia. Em 32% dos hotéis do nosso portfólio tivemos que solicitar aporte, nos demais, conseguimos fechar o ano atingindo o ponto de equilíbrio e, em alguns casos, distribuindo dividendos. A Nobile é reconhecida no mercado como sendo uma empresa mais leve, mais eficiente na gestão de custos e, num momento de crise como o que atravessamos, isso nos gera vantagens competitivas, como também a sustentabilidade dos negócios. É cultural na Nobile pensarmos com cabeça de dono. Logo, cada centavo para nós importa.

R.H – Quantos hotéis compõem o portfólio da Nobile no momento? Em quantas cidades estão presentes?

R.B – A Nobile atualmente conta com 41 empreendimentos em seu portfólio e atua em quatro países, sendo eles Brasil, Chile, Paraguai e Uruguai.

R.H – Como está a performance da Nobile e qual é a expectativa de taxa de ocupação em 2021?

R.B – Por força da segunda onda, atingimos 64% do que tínhamos projetado no budget consolidado da companhia para o primeiro semestre. Acreditamos num segundo semestre melhor, pois as agulhadas diárias da vacina estão avançando bem e isso promoverá o incremento da demanda. Já enxergamos a luz no fim do túnel e os números nos mostram que estamos na retomada.

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R.H – Na sua visão, quando a rede atingirá os padrões de receita de 2019?

R.B – Com base nas análises que fizemos em estudos e relatórios de renomadas consultorias nacionais e internacionais, tudo leva a crer que só no segundo semestre de 2022 retornaremos aos padrões de receita que tivemos em 2019. Isso se dá pelo fato de que, historicamente, a recuperação da diária média é mais lenta do que a da taxa de ocupação. A grande questão é que estamos muito focados na racionalização dos custos, pois no período de pandemia e da retomada gastos com utilities (água, gás e energia), mão de obra e insumos estão aumentando consideravelmente e, infelizmente, impactarão mais duramente na rentabilidade do negócio hoteleiro. Não menos importante, a promoção de experiências memoráveis aos nossos hóspedes continua a ser um vetor de melhores resultados às nossas operações.

R.H – O segmento corporativo e MICE em que a Nobile possui a maioria dos hotéis, ainda continuam muito impactados pela pandemia. Que análise faz desse momento e como será recuperação?

R.B – É bem verdade que houve mudança de hábitos nessa pandemia, mas sou do pensamento de que o segmento corporativo vai voltar a ser como antes, mesmo que a tecnologia exerça impactos no volume de viagens. Já o segmento Mice terá uma retomada mais lenta, pois depende de planejamento e antecedência à programação/ agenda dos eventos. Além de hotéis corporativos, a Nobile possui Resorts e hotéis em destinos com vocação para o lazer e isso gerou receitas importantes ao caixa da empresa na pandemia. A Nobile detém excelente capilaridade de Norte a Sul do País, por isso acreditamos que os impactos serão mais leves em comparação a outras redes que estão mais centralizadas no Sudeste, com grande parte dos seus hotéis em cidades como São Paulo, Rio e Belo Horizonte, mercados que mais sofreram e ainda sofrem na pandemia.

R.H – É sabido que a Nobile fez a opção de atuar com foco em marcas próprias. A decisão teve motivação de redução de custo com os royalties e taxas de marketing cobrados pelas bandeiras internacionais? O que levou a rede a tomar esta decisão?

R.B – Importante lembrar que antes da pandemia o setor hoteleiro já enfrentava uma longa crise e, com o agravamento provocado pela pandemia, não foi uma questão pontual de reduzir custos, mas sim de sobrevivência. Tivemos a coragem de abrir mão de algumas operações com marcas internacionais porque não eram mais sustentáveis. Decidimos dedicar foco em operações com nossas próprias marcas. A marca Nobile é reconhecida no mercado brasileiro, goza de excelente reputação e está posicionada entre as Top Ten Brands do setor hoteleiro nacional. Além disso, somos a quinta maior administradora hoteleira do Brasil no ranking das 50 maiores. Considerando que 86% da demanda por hospedagem no Brasil é nacional, e apenas 14% é internacional, uma marca nacional forte como a Nobile oferece uma melhor relação custo-benefício aos investidores. A única marca internacional com a qual atuamos no Brasil é a Red Roof, pois, como somos master franqueadores exclusivos no Brasil, dispomos de condições especiais que promovem o equilíbrio na relação comercial. A Nobile é uma empresa estrategista e ágil, se movimenta rapidamente e pode ter todo o seu foco dedicado nas suas forças. As marcas internacionais acabam trabalhando mais em atendimento do que estar propriamente na atividade fim, por isso acabam se perdendo nas atividades meio. A Nobile seguirá se dedicando a negócios onde possa agregar valor e ser reconhecida pelo seu trabalho. Temos liberdade que é fundamental. Nossos custos são bem menores do que os dos nossos concorrentes. Quem exerce liderança em custo, diz não. E, dizer não, é vital para se conduzir uma empresa. Como diz o Nizan Guanaes, “antigamente, o paradoxo era como Davi enfrenta Golias. Hoje, é como Golias enfrenta Davi.” Mudou o nome da história.

“Importante lembrar que antes da pandemia o setor hoteleiro já enfrentava uma longa crise e, com o agravamento provocado  pela pandemia, não foi uma questão pontual de reduzir custos, mas sim de sobrevivência”

R.H – Como você está analisando as oportunidades mercadológicas de crescimento da Nobile, tendo em vista que abriram algumas unidades. E que previsão faz para 2022?

R.B – Abrimos cinco novas operações neste ano de 2021, sendo três conversões. No segundo semestre temos duas novas operações e mais e mais conversões. Mesmo em tempos de crise, seguimos pelejando e marchando 20 milhas ao dia. Nosso lema é sobreviver, crescer e perpetuar.

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R.H – Quais os principais indicadores consolidados da rede no primeiro semestre? E qual é a expectativa de taxa de ocupação, diária média e Revpar para esse ano?

R.B – De janeiro a junho/2021 atingimos 46% de taxa de ocupação consolidada rede; R$ 221,00 de diária média; e R$ 101,66 de REVPAR. Ainda temos um gap de recuperação e, com o time brilhante de colaboradores que temos, vamos preenchê-lo.

O time de líderes da Nobile Hotéis reunido (Foto – Divulgação)

R.H – Na sua opinião os incentivos concedidos pelo Governo Federal para amenizar o impacto da pandemia da COVID-19 foram suficientes para atender a demanda dos hotéis ou ainda é necessário mais medidas econômicas? A Nobile chegou a receber algum recurso?

R.B – Na minha opinião, algumas medidas atenuaram o impacto da pandemia, a exemplo de algumas MPs (Medidas Provisórias), mas não foram suficientes para suprir a necessidade de caixa para os hotéis. Os recursos do Pronampe e Fungetur não chegaram na ponta. O Governo Federal, dadas as circunstâncias, deve assumir o protagonismo na retomada das atividades econômicas. Entendo que o Governo tem que tomar a inciativa de resgate da economia concentrando-se em quatro pilares. O primeiro é o de vacinar os cidadãos de forma ágil, resgatando o clima de segurança e confiança das pessoas, de tal forma a gerar a retomada do consumo em ambiente seguro e estimulante. Segundo, garantir a empregabilidade através de programas criados e financiados pelo próprio Governo. Terceiro, dar crédito à iniciativa privada do setor em condições extraordinárias, sendo o Governo o garantidor das operações de crédito, oferecendo longo período de carência, com prazo extenso para pagamento e a juros módicos. Por fim, o quarto pilar e não menos importante, acelerar as reformas estruturais que fomentem o ambiente de negócios, estimulando a economia e gerando uma ação anticíclica, ou seja, evitando que a recessão entre num ciclo de depressão. Ainda, inseridas no quarto pilar, são importantes as reformas e regulação do setor, a exemplo da aprovação da LGT – Lei Geral do Turismo, a implementação de medidas emergenciais e mudanças culturais na relação política entre Governo e o setor produtivo. Em relação à última questão, a Nobile não recebeu recursos do Governo Federal.

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R.H – A pandemia fez com que muitos investidores aumentassem ainda mais a troca de administradoras acreditando que isso seria a solução. Como você enxerga essa situação e como está a relação com os investidores das propriedades que a Nobile administra?

R.B – É bem verdade que a pandemia separou os bons dos maus gestores. Algumas administradoras fizeram o seu dever de casa e reagiram pro ativamente, outras não. A mudança de uma administradora que demonstrou baixa eficiência por outra com melhor performance durante a pandemia, é apenas parte da solução. A verdade é que a maioria das trocas de administradoras que ocorreram durante a pandemia se deu não por falha das administradoras, mas sim pela busca frenética e sem critério algum de alguns Síndicos e Conselhos de apart hotéis por administradoras que aportassem dinheiro em suas operações. Eis aí o grande e grave equívoco, pois sabemos que não existe “almoço de graça” e que alguém vai pagar essa conta, na verdade os investidores, os quais sofrerão perdas expressivas na rentabilidade do seu investimento, frustrando as expectativas de melhora na retomada. Na Nobile alimentamos relacionamentos genuínos e transparentes com nossos investidores, pois assim geramos credibilidade e um clima de cooperação mútua e convergência de interesses.

“A mudança de uma administradora que demonstrou baixa eficiência por outra com melhor performance durante a pandemia, é apenas parte da solução”

R.H – Se antes a preocupação da hotelaria era tão somente o Airbnb, agora várias startups estão atuando no mercado fazendo locação de residencial com serviços hoteleiros. Algumas administradoras já estão atentas e entraram nesse segmento, assim como casas de aluguel. Como a Nobile enxerga esse nicho de mercado? Pretendem entrar também?

R.B – Vivenciamos um mercado frenético e vibrante, o qual está sempre buscando novos caminhos e oportunidades. A tecnologia potencializou o empreendedorismo e percebo isto como um importante vetor à geração de oportunidades e riqueza. O dinheiro vem trocando de mãos com uma velocidade enorme. Em relação à locação de residenciais com serviços hoteleiros, percebemos um grande crescimento da atividade em alguns mercados, a exemplo de São Paulo, e o interesse de administradoras hoteleiras por este segmento. O futuro dirá se lograrão êxito. Vejo alguns mercados com vocação a esta atividade, outros não. Há mais de 10 anos a Nobile atua na operação de residenciais com serviços em cidades como Recife e Fortaleza, onde vem apresentando boa performance. Recentemente, inauguramos o Nobile Residences Studio Pinheiros em São Paulo e estamos analisando outras oportunidades.

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R.H – A multipropriedade hoje é a principal alavanca de recursos para a construção de novos hotéis. A Nobile pretende entrar nesse segmento administrando essas propriedades?

R.B – A Nobile inaugurou seu primeiro empreendimento no segmento da multipropriedade no ano de 2020, mais especificamente na cidade de Campos do Jordão, o Carpe Diem Boutique & SPA. Em 2022 inauguraremos mais dois empreendimentos neste segmento, sendo um em Sergipe e outro no Pará. As experiências no Carpe Diem Boutique & Spa estão sendo positivas, não só em relação à qualidade dos serviços aos proprietários, como também na rentabilidade da operação hoteleira através da comercialização das semanas depositadas pelos proprietários no pool de locação.

R.H – E qual é a chave do sucesso da Nobile para continuar crescendo?

R.B – Na Nobile colocamos as pessoas no centro estratégico da companhia e acreditamos que se cuidarmos bem dos nossos colaboradores, eles cuidarão bem dos nossos clientes. Essa é a chave do sucesso. Teremos meses desafiadores à frente, mas juntos afrontaremos com a máxima confiança.

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Edgar J. Oliveira

Diretor editorial - Possui 31 anos de formação em jornalismo e já trabalhou em grandes empresas nacionais em diferentes setores da comunicação como: rádio, assessoria de imprensa, agência de publicidade e já foi Editor chefe de várias mídias como: jornal de bairro, revista voltada a construção, a telecomunicações, concessões rodoviárias, logística e atualmente na hotelaria.

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