IV Fórum Nacional da Hotelaria aponta futuro da inclusão no setor
Dando continuidade a programação do 4º Fórum Nacional da Hotelaria do FOHB – Fórum de Operadores Hoteleiros do Brasil, no hotel Intercontinental São Paulo, a primeira roda de conversa do dia abordou o tema “Painel ESG – Como transformar o discurso em realidade”, com os convidados: Carol Iguinarra, CEO e fundadora da Talento Incluir; Celso Atayde, fundador da primeira holding social de que se tem notícia, a Favela Holding; Eduardo Marson, CEO e Chairman da Global Forest Bond; e Reinaldo Bulgarelli, Secretário executivo do Fórum de Empresas e Direitos LGBTI+. A moderadora desse painel foi Cris Kerr, fundadora da CKZ Diversidade.
Cris direcionou a primeira pergunta a Carol Iguinarra, que explicou: “A Talento Incluir tira as pessoas com deficiência da invisibilidade e traz para o mercado de consumo. Assim, mantemos a nossa missão dentro do segmento ESG. Quando falamos de acessibilidade, falamos de lei. É muito mais legal nos movimentarmos não por obrigação e lei, mas por consciência. Acessibilidade tem sete dimensões. Uma pessoa cega precisa conseguir comprar uma hospedagem no seu site. Há poucas informações sobre acessibilidade atualmente. Nossa missão é valorizar as pessoas com deficiência dentro de uma sociedade que ainda enxerga esse nicho como pedintes, como pessoas que não trabalham. Nós mostramos para a sociedade e necessidade que incluir a pessoa dentro dos espaços. Acredito que assim contribuímos para a ESG”.
Já Celso Atayde explicou a sua jornada, desde o nascimento na Baixada Fluminense, as dificuldades com o convívio com a família e a problemática do alcoolismo. “Achei que passaria uma semana apenas como morador em situação de rua, mas acabei ficando dos seis aos doze anos. Após uma enchente, fomos remanejados para outros abrigos e acabei trabalhando vendendo cachorro-quente e refrescos na praia. Nessa época perdi meu irmão, assassinado. Depois me tornei camelô, vendendo peças de roupa. O tempo foi passando e eu senti desejo de fazer uma revolução, começada pelos bailes de Rap. Comecei então a montar um selo de gravação, lançamos Racionais, Gang do Samba, entre outros. Aprendi muito com isso. Para concluir, senti necessidade de colocar tudo o que vivi a serviço da sociedade. Eu quis empreender e impactar efetivamente.
Criei iniciativas e ações em que o povo preto não fosse mais enxergado como extra-terrestres e sim como parte da sociedade. Montei a Favela Holding e passamos a contribuir com a ESG sem nem saber o que isso significava. Hoje temos uma projeção de venda de passagens aéreas em favelas da ordem de mais de um bilhão em três anos”, explicou o empresário.
Reinaldo detalhou a relação do Fórum com a ESG. “Trabalho há mais de quarenta anos com o setor da erradicação de exploração sexual de crianças e adolescentes e hoje nosso Fórum interage com os direitos humanos dos LGBT e mais, com outros setores da indústria. É um assunto que está na mesa e deve ser tratado com a seriedade que merece, com seus desafios e dimensões numéricas. Isso se trata de olhar para essas pessoas e admitir que sim, elas existem. Um importa e pensando assim estou efetivamente pensando na melhoria do todo. Todo mundo importa e como construir negócios considerando todas as pessoas e sua realidade é uma das nossas premissas, além de entender a pluralidade da vida. Significar a modernidade, que é ser respeitoso e inclusivo”.
Eduardo Marson também fez um breve resumo de sua trajetória: “Venho da aeronáutica, fui Presidente da Airbus aqui no Brasil, que é um setor dos mais machistas e uma das maiores responsáveis pelos gases do efeito estufa no planeta. Depois de passar por isso, estou aqui para fazer a diferença com uma start-up no setor de precificação de florestas preservadas. Queremos fazer a diferença”.
Administração e gestão
Carol Iguinarra explicou como as empresas do turismo podem considerar as pessoas com deficiência, com maiores oportunidades que podem resultar no crescimento contínuo e individualizado de cada uma. “Um País no qual a violência, a desnutrição e falta de orientação com imunidades e vacinas, não percebe quanto somos. Quanto mais eu emprego pessoas com deficiência, mais eu as encontro. Obviamente nem todas as deficiências são estampadas como a minha. O censo está sendo refeito e estamos questionando. Temos uma questão que não vai acabar e não saber quanto somos, faz com que negócios não invistam nesses talentos. Temos uma lista com sete mil influencers com deficiência, que estão faturando, estão ganhando o Brasil. E as pessoas com deficiência são uma comunidade. Se você atender um surdo bem, você vai atrair milhares, igualmente com aqueles com deficiência visual ou de locomoção. Se não há como eu me hospedar em um hotel, ali não há como minha família inteira se hospedar. Isso não pode ser cumprido por lei e sim por motivos óbvios. Temos de acabar com as opressões que as limitações impõem todos os dias”, defendeu Carol.
A mediadora Cris Kerr destacou a importância de uma mudança na forma de enxergar as pessoas com deficiência e com outros nichos. “É importante abrir caminhos para todos”, observou.
Celso também explicou como a CUFA – Central Única das Favelas empoderou o morador das comunidades com oportunidades e capacitação. “Começamos a desenvolver as pessoas, por exemplo por meio do esporte. A CUFA foi se desenvolvendo e criando parcerias. Eu sempre me mantive por trás de tudo, não aparecia muito. Viemos de um lugar que não existe work, match, nem empreendedorismo se fala em favela. A partir disso, sentimos a necessidade de levar conhecimento as pessoas. Falar de ESG não é comum nesses ambientes, soa até como um imposto. Quem não é livre para fazer suas escolhas não é feliz. A CUFA mobilizou R$ 870 milhões durante a pandemia, não exatamente em dinheiro. Buscamos parcerias para gerir tudo financeiramente.
Precisamos lembrar por exemplo, que as pessoas ainda morrem por falta de saneamento básico nas favelas. Se esses territórios não se desenvolverem, entre os dois mundos haverá sempre um caos. Quando você observa o Complexo do Alemão, ele sai do conceito de favela porque tem 35% de urbanização. Mesmo assim, se transformasse as favelas em um estado, seria o quarto maior em população e com consumo maior do que a Bolívia e o Paraguai, por exemplo. Qualificar as pessoas, promover encontros, se propor a elevar o social e ajudar as pessoas não apenas por morarem naquele território é essencial. Normalmente se toma aquelas pessoas por carentes, mas não exatamente o são. Pagam impostos e consomem do mesmo jeito”, afirmou o empresário.
Flexibilização e oportunidades
Cris fez uma provocação relevante para Reinaldo, quando lhe perguntou como a hotelaria pode inserir o LGBT e mais de forma efetiva em cargos diversos na operação dos hotéis. “Sobretudo pessoas LGBT e mais, negras e trans. Esse é um amadurecimento importante, seja qual for o tema que você trabalhe. É legal pensar o setor hoteleiro como empregador e garantir oportunidades iguais para todas as pessoas e aprender a lidar com essas demandas é igualmente legal e importante. Junto com a demanda, vem a inovação. Isso nos leva a lugares melhores, podemos enfrentar o elitismo, nada contra a elite, mas enfrentar o social enxergado como pobre. Coitada da empresa que acha que pode viver deixando essa demanda de fora, porque é ali que reside a inovação. A Accor é a única que entrou no Fórum e está atuante. Por que? É uma questão”, devolveu Reinaldo, para reflexão.
Eduardo concluiu: “Não é possível alguem pegar o lucro de uma atividade humana qualquer em detrimento de outros. Essa é uma das razões pela qual o ESG veio para ficar. Não podemos admitir o trabalho de menores ou o descarte incorreto de detritos. Até a crise de 1929 não era obrigatório que as empresas publicassem balanços acerca desses temas. Alguém aqui imagina nos dias de hoje alguma empresa que não publique seus resultados? Não há como investir em empresas sem saber como ela trata as questões ambientais e sociais”.