Hotéis temáticos começam a ganhar força no Brasil
Tematizar um hotel é muito comum no exterior e uma redescoberta da hotelaria nacional para se posicionar de maneira diferenciada e competitiva no mercado
Na pandemia da COVID-19 os hóspedes intensificaram as buscas por experiências cada vez mais diferenciadas, exclusivas, imersivas e passaram a ser ainda mais exigentes. Isso acirrou a competitividade dos meios de hospedagem na fidelização dos hóspedes, exigindo muita criatividade de hotéis considerados independentes para fazer frente a poderio das grandes redes nacionais e internacionais que possuem fortes canais de comercialização e distribuição. E a tematização de hotéis, algo muito comum em países da Europa, Estados Unidos e na Ásia, e que muito pouco é explorado no Brasil, começa a despertar nos interessados em investir no segmento hoteleiro. A tematização pode oferecer um plus aos hóspedes e posicionar o hotel de forma diferenciada à frente da concorrência. Pode ser um filme, desenho animado, ritmo musical, sustentabilidade, modalidade esportiva ou outro tema característico ao local do hotel. O que leva é a criatividade e os hotéis temáticos oferecem toda sua infraestrutura e serviços baseados no tema central escolhido. Alguns empreendimentos chegam a ser exóticos e procuram proporcionar ao hóspede uma experiência única, seja pela decoração ou implantação de um novo conceito no cardápio.
Os hoteleiros também começam a recorrer a tematização de seus empreendimentos, como uma alternativa para aumentar a taxa de ocupação nos períodos de baixa temporada, e consequentemente alavancar a rentabilidade, por sua grande potencialidade na atração de novos hóspedes. Estes atributos são responsáveis ainda pela fidelização de um cliente simpatizante de determinado tema ou aquele sempre a procura por novidades e conhecimento. E tematizar um hotel não é difícil, basta criatividade. Na Argentina, por exemplo, é possível encontrar hotéis que remetem temas ligados ao vinho, nos Estados Unidos ao tema country ou da Disney e na Europa ao uísque escocês. Então porque no Brasil não fazer um hotel que remete ao tema cachaça, produto 100% nacional, um hotel bossa nova, temático de carnaval ou mesmo no estilo sertanejo? Existe uma legião de fãs do mais variados tipos e idades, há o universo geek que envolve várias gerações, os aficionados por séries, filmes, personagens, os gamers, os fãs de bandas ou estilos musicais e até aqueles fascinados por experiências gastronômicas. Enfim existe uma infinidade de temas para serem explorados, mas que no Brasil, ainda não despertou a atenção de hoteleiros e investidores.
O consultor hoteleiro Marco Túlio Quina, que atuou na implantação de 32 projetos de hotelaria, jamais desenvolveu um projeto de hotel temático. “Os investidores ainda não têm uma visão estratégica de mercado e as vertentes a serem exploradas. O pedido inicial é sempre para um hotel “convencional”, muitas vezes baseado em outro empreendimento que o investidor conheceu e acha parecido com seus desejos”, revela Quina.
Questão cultural
Segundo ele, a tendência de hotéis temáticos é clara e já sendo explorada há muito por cadeias internacionais. “É o que eles chamam de turismo de nichos, ou seja, nichos de mercado/pessoas em busca de determinadas experiências ou vivências. Alguns exemplos bem específicos, já no mercado, são os hotéis temáticos da Louis Vuitton e a Casa Gucci com hotéis de luxo e temática de alta costura ou o hotel World Ferrari, em Dubai, com sua temática voltada para o mundo da Fórmula 1 e carros de corrida e velocidade”, exemplifica.
Mas ao redor do mundo é possível encontrar vários tipos de hotéis temáticos. Cada um destacando particularidades do local de onde estão inseridos, como os hotéis com temática de inverno na região nórdica, como o Icehotel, em Jukkasjärvi, na Suécia, todo esculpido em gelo ou Kauklauttanen Arctic Resort, em Saariselkä, Finlândia, em que você pode se hospedar em um iglu em meio a neve. Existe os hotéis inspirados na saga Senhor dos Anéis na Nova Zelândia, como The Hobbit Motel, Woodlyn Park; na Alemanha, berço de icônicas marcas automotivas como Mercedes-Benz e BMW, o hóspede pode dormir na carroceria de um carro no V8 Hotel, em Stuttgart. Já na África do Sul, o tema safari está presente o Grand Daddy Hotel que reproduz as cabanas de hospedagem, na Inglaterra suas famosas bandas e clássicos da literatura estão presentes na temática, como o Hard Days Night Hotel. Em Liverpool existe um hotel totalmente inspirado nos Beatles e o Georgian House Hotel que reproduz cenários do universo de Harry Potter. Mas com certeza o grande destaque quando se trata de hotéis temáticos são os Estados Unidos que com um território continental, como o Brasil, e grande diversidade regional, exploram como ninguém esse universo de temas e transformam tudo em negócios.
Hotel temático de jogos eletrônicos
Essa é a aposta da empresa chinesa Tencent, uma das maiores do ramo de videogames e para isso se uniu à Ouyu Technology para abrir um hotel temático de jogos eletrônicos. Localizado em Hangzhou, na China, o hotel será repleto de equipamentos para jogos, com quartos tematizados inspirados por times de eSports e altamente tecnológico, contando com um gerente virtual chamado Veegy. Os hóspedes terão a sensação de como é passar a noite em um computador gamer e várias atividades relacionadas aos jogos, como testes de talento em eSports, treinamento, ou passar por uma imersão que simula o treinamento de jogadores profissionais. Toda a experiência é conduzida pela inteligência virtual Veegy, que foi desenvolvida pelas empresas para gerenciar o hotel, sendo capaz de ajudar as pessoas a fazerem uma configuração completa do quarto, podendo escolher a seleção de hardware que o quarto terá, desde o telefone celular até configurações elaboradas para PCs. Veegy também orienta as atividades dos hóspedes, funcionando como treinadora, além de fornecer dados como classificações atualizadas de equipes de eSports e obter recomendações de visualização “inteligentes” de sua vasta biblioteca de vídeos, entre outras coisas.
O hotel terá cinco quartos temáticos, cada um correspondendo a uma liga de eSports específica, como King Pro ou Peacekeeper Elite. O lançamento está previsto para o final do mês de agosto. De acordo com a empresas que desenvolveram o projeto, o objetivo é trazer uma visão diferente de conteúdo de esportes eletrônicos, indo além de uma imersão que outros hotéis na Ásia oferecem. Nesse projeto, com a assistente virtual e toda tecnologia disponível a experiência do usuário é completa tendo em vista que não se sabe onde os eSports terminam e o hotel começa.
Nicho de mercado
O consultor especializado em hotelaria e autor de sete livros sobre o tema, Mario Cezar Nogales, fala um pouco sobre o assunto: “Hotéis temáticos surgiram como um hotel diferenciado onde o hóspede, além de uma boa noite de sono, disfruta de um tema que ele tem inferência, preferência ou até mesmo um certo fanatismo, nos Estados Unidos hospedar-se na Guest House at Graceland que é um meio de hospedagem onde morou Elvis Presley atende a este nicho de mercado, assim como vários outros. Certamente nos Estados Unidos existe este nicho de mercado pela própria essência norte-americana”. Com uma rápida busca na internet é possível ver exemplos desses nichos no mercado norte-americano, os parques temáticos de Orlando dão um bom exemplo disso, oferecendo diversos hotéis temáticos, como é o caso do Art of Animation Resort, que conta com suítes inspiradas nos clássicos da Disney. Há casos menos famosos, mas curiosos, como The Dog Bark Park Inn, em Idaho, para apaixonados por cachorros, o hotel tem o formato de um beagle e há réplicas de cães por todos os cantos. Outro que também se destaca é o El Cosmico, em Marfa, no Texas, que se considera um hotel nômade onde é possível se hospedar em trailers e cabanas, tudo em um ambiente vintage. Existe ainda o Argonaut Hotel, em São Francisco, Califórnia, que aproveitou o clima da região costeira para personalizar o hotel com temas náuticos. Como se vê quase tudo serve de motivo para criar uma temática.
Nichos pouco valorizados no mercado nacional
Ele lembra que no Brasil há vários meios de hospedagem que são temáticos sem que tenham conhecimento disto e por este motivo são poucos explorados. “A Pousada D’óleo de Guignard, em Tiradentes (MG), apesar de ter nascido do relacionamento particular entre a proprietária e o artista plástico Alberto da Veiga Guignard (1896-1962), que foi um dos expoentes da pintura modernista brasileira, e cada unidade habitacional ter o nome e a decoração de seus quadros, a pousada não explora este aspecto devido ao artista ser pouco conhecido do público em geral”.
A Pousada Castello Benvenutti, também chama a atenção pela característica da construção, mas não explora o caráter temático do empreendimento. O prédio foi construído em formato de castelo, como um projeto pessoal de Edegar Benvenutti e sua esposa Laurita Benvenutti. São mais de 300 mil pedras basalto num projeto executado ao longo de uma vida. O Castello Benvenutti existe há 40 anos, onde funciona uma loja de móveis e decorações, além de dois restaurantes que pertencem à família Benvenutti e há 14 anos em uma parte do prédio, funciona a Pousada Castello Benvenutti, administrada pelos filhos do casal. “Por ser um castelo, atrai um público que busca viagens românticas, normalmente casais sem filhos. Nossa localização também é privilegiada, pois estamos à menos de 2km da entrada principal do Vale dos Vinhedos”, explica a Gerente Fernanda Pelissari. Mas ressalta que as acomodações não são temáticas. “Cada acomodação possui uma decoração diferente, mas tudo é contemporâneo. Nada remete a castelo dentro dos quartos, a não ser a atmosfera que envolve a construção que é toda de pedras. O prédio chama atenção, e por ser uma pousada pequena procuramos oferecer um atendimento personalizado, fazendo disso o nosso diferencial”, conclui Fernanda.
Mario Cezar Nogales entende que hotéis temáticos no Brasil são pouco explorados pelo motivo de que o nicho de mercado que eles podem entrar são pouco valorizados na cultura nacional, “temos poucos museus ou apelos históricos, de fato nem mesmo conhecemos a história do Brasil, não temos heróis nacionais e por este vazio, os hotéis temáticos que talvez poderiam dar certo se tratam de culturas estrangeiras. Vários temas poderiam ser explorados como, Independência, Pelé, Airton Senna; poderíamos ter uma pousada onde era a casa de Clodovil, ou um hotel dedicado ao Corinthians, mas o mercado nacional tende ainda a não cultuar estes tipos de estruturas pois se trata muito mais de uma questão cultural”, finaliza Nogales.
A cultura regional brasileira é muito variada e alguns temas são mundialmente associadas ao País, como a cachaça, o futebol e o samba. “Há um enorme nicho de hotéis temáticos aqui no Brasil, mercado para temas como gastronomia, incluindo queijos, vinhos, e também cachaça. Não só a degustação, mas a visitação e acompanhamento de toda a cadeia de produção. Turismo de observação de pássaros e animais, com inserção no ambiente natural”, observa Marco Túlio Quina. O consultor ainda nos dá um exemplo de prospecção interessante, mas que não foi adiante. “Há alguns anos um grande produtor de cachaças, a Vale Verde, nos procurou para desenvolvermos um projeto hoteleiro que se agregasse ao já existente parque Vale Verde, onde já existiam alambiques, adegas, viveiros e muitas outras atrações. Mas infelizmente, a família proprietária do complexo desistiu do empreendimento, achou mais viável a desativação e a transformação do parque em um loteamento com casas”.
Paixão nacional sem casa temática
Voltando aos temas identificados com a cultura nacional, o futebol um dos esportes mais populares do mundo com milhares de aficionados e paixão nacional em diversos países é pouco explorado nos meios de hospedagem. Na Inglaterra, berço do esporte, o Hotel Football, localizado em frente ao mundialmente famoso estádio Old Trafford, casa do Manchester United, foi idealizado por um grupo de ex-jogadores do clube. Inaugurado em 2015, sob a bandeira Marriott, o Hotel Football possui 133 quartos, todos decorados com referências a futebol e alguns deles com vista para o estádio. Uma das principais atrações do hotel é o pacote de hospitalidade em dias de jogos do Manchester United, com direito a festa antes e depois dos 90 minutos, bebida livre, jantar e bate-papo com personalidades do futebol. Mais antigo que o caso na Inglaterra e talvez o primeiro hotel temático de futebol do mundo é o Hotel Boca, em Buenos Aires. Diferente do Hotel Football que foi construído a partir do tema, nesse caso o time Boca Juniors cedeu seu nome à um hotel cinco estrelas em uma região turística. O empreendimento foi inaugurado em 20 de março de 2012 e é administrado pela rede hoteleira Design Suítes. Os hóspedes do hotel têm alguns privilégios especiais, como visitas aos treinos do time e também ao Museu Boca Juniors, além de ingressos para os jogos em lugares especiais da arquibancada. Esse modelo é parecido com o que o Grêmio Foot-Ball Porto Alegrense vai adotar ao inaugurar o primeiro hotel temático de futebol do Brasil. Em parceria com a construtora e incorporadora de alto padrão Melnick, está previsto para ser inaugurado em setembro deste ano, o Park Plaza Moinhos 1903. O empreendimento, está localizado na área da cidade que marca o início da história gremista, o bairro Moinhos de Vento.
A construção contempla uma torre de 10 pavimentos com 144 unidades, que vai contar com espaços temáticos e um rooftop com um pub bar exclusivo para o público assistir a todas as partidas do Tricolor. O Grêmio, que licenciou sua marca, utilizará o hotel nas suas concentrações e apoiará as ações de divulgação do empreendimento. A Melnick foi a responsável pela obra e a comercialização do hotel. Suas unidades serão vendidas para investidores autônomos, obedecendo as normas editadas pela CVM – Comissão de Valores Mobiliários. Segundo Leandro Melnick, CEO da Melnick, “É uma iniciativa inédita no país que vai trazer resultados muito positivos para este empreendimento. Percebemos mais uma oportunidade de criar algo novo para o Rio Grande do Sul e criando uma nova atração turística para Porto Alegre”. O Park Plaza Moinhos 1903 será vinculado ao grupo Radisson Hotel Group e a gestão da operação será realizada pela Atlântica Hospitality International.
Licenciamento de marca
O licenciamento de marcas é uma das opções para tematização de hotéis. Herbert Greco, que possui grande expertise na área de licenciamento, com passagens pela Warner Bros, Deamworks e hoje integra a byFrog Lab à frente de projetos que envolvem mais de 20 marcas, avalia que o assunto é pouco explorado pelos hotéis como diferencial competitivo e principalmente pelo desconhecimento do modelo de negócio do licenciamento. E acredita que as marcas licenciadoras também não têm explorado o segmento hoteleiro com a assertividade merecida, porque nem sempre procuram saber sobre a necessidade a ser atendida de seu cliente potencial na hotelaria. “O licenciamento de um personagem, marca ou história na hotelaria não é a única ferramenta e nem a definitiva, mas se for considerada com senso de oportunidade, planejamento estratégico e principalmente foco no perfil do público que se deseja atrair, cria diferenciais de alto valor para um empreendimento hoteleiro”.
Os modelos adotados pelo Hotel Boca e o Park Plaza Moinhos 1903, seguem esse padrão. No caso do hotel temático do Grêmio, Herbert acompanhou mais de perto o processo. “Foram feitas pesquisas e o negócio foi estruturado de forma segura para os investidores, clientes e os próprio clube. O licenciamento é a base do contrato, mas muitas cláusulas foram adicionadas para que pudessem refletir as características do mercado imobiliário e hoteleiro. O nicho do futebol é uma realidade consolidada no Brasil, não faz sentido deixá-lo vazio. A característica a ser destacada neste modelo desenvolvido é que está sujeito às eventuais oscilações do time. Bons momentos sempre vão estimular mais as vendas e vice-versa. Mas, por outro lado, este modelo oferece segurança por também oferecer oportunidade de hospedagem e recreação pela localização e pode atrair público que não seja aficionado pelo futebol”.
Chocolate, paixão nacional
Segundo dados da ApexBrasil – Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos, o Brasil é o 7º maior produtor de cacau no mundo e ocupa também a 7ª posição entre os maiores exportadores do produto e seus derivados. No ano passado foram exportados 33,521 mil toneladas de chocolates e 54,756 mil toneladas de derivados do cacau, gerando US$ 226 milhões de dólares. O principal destino do chocolate brasileiro é a Argentina, que é seguida por Estados Unidos e Chile. E com tantos ‘chocólatras´ era natural o País ter um hotel com a temática de chocolate, mas isso só ocorreu recentemente. No final do ano passado entrou em operação em Campos do Jordão (SP), o Bendito Cacao Resort & Spa, propriedade onde ficava o antigo Blue Mountain Resort & Spa que foi arrematado em leilão pelo empresário Alexandre Costa, fundador da marca de chocolates Cacau Show.
Imerso na paisagem da Serra da Mantiqueira, o empreendimento que é operado pelo Grupo Txai, que já possui um resort em Itacaré (BA), exigiu cerca de R$ 90 milhões em reformas e tematização de chocolate. A decoração das lojas possuui identidade visual onde predominam os tons de marrom, com alguns toques de cores vibrantes. Porém, a proposta é que a temática do cacau vai além e permeia toda a experiência no resort como na gastronomia. No restaurante principal, a matéria-prima do chocolate aparece em pratos doces e salgados, combinada com ingredientes dos pequenos produtores locais, como queijos, azeites e pinhão. Na Cave, mistura de adega, restaurante e pizzaria, são ministradas aulas de harmonização de chocolates com vinhos. Para as crianças, o Bendito Cacao promove atividades como oficinas de brigadeiro. O empreendimento hoteleiro possui também um spa com banheiras de hidromassagem, ofurôs, saunas e salas de tratamento. As massagens são feitas com manteiga de cacau e as esfoliações, com a casca do fruto.
E como frio e chocolate tem tudo a ver, outra cidade serrana no Brasil que aposta na temática de chocolate é Gramado (RS), onde se encontra várias fábricas dessa iguaria. Está previsto para entrar em operação no final desse ano o Chocotel Gramado que ocupará uma área de 7 mil m2 e terá 118 apartamentos. O projeto conta com a criação do artista Zeca Zenner, que desenvolveu a tematização e personagens que estão surgindo de seu traço. A decoração do hotel terá o chocolate como ícone e estará em todos os ambientes, sendo apresentado com criatividade, trazendo referências de um palácio com ares românticos e elegantes. O objetivo é que o hotel ofereça uma experiência multissensorial do chocolate e a Prawer, primeira fábrica de chocolate artesanal do Brasil, será parceira neste empreendimento hoteleiro que terá o Chocospa. Essa será uma área de relaxamento e conexão com todos os benefícios que o cacau pode proporcionar a saúde, além de uma linha completa de produtos desenvolvidos com exclusividade para a marca.
Bebida dos deuses
O vinho também começa a ganhar força na tematização de hotéis no Brasil, como em São Roque (SP) através de um chalé temático construído a partir de tonéis de vinho. Essa novidade faz parte de uma experiência oferecida pela Quinta do Olivardo, um dos restaurantes mais tradicionais do da Rota do Vinho. A estrutura do chalé foi idealizada com a utilização de um barril que armazenava 100 mil litros da bebida. Agora, como hospedagem, o local ganhou o nome da uva Chardonnay. Além da vista para os parreirais, a experiência é imersiva, pois permite contemplar a estrutura preservada e sentir o aroma de vinho. A acomodação é dividida em dois ambientes. No piso inferior fica a sala, com micro-ondas e uma mesa para o café da manhã (que funciona como alternativa à refeição no próprio restaurante), além de banheiro com jacuzzi. Já no superior, está o quarto, onde é possível encontrar uma cama de casal, TV, ar-condicionado e janelas com vista dos vinhedos. E diante do sucesso que é esse chalé, em breve mais dois entram em operação para os hóspedes vivenciarem essa experiência única.
Já no Vale dos Vinhedos em Bento Gonçalves (RS), a principal região produtora de vinhos de qualidade no Brasil se destaca o Hotel & Spa do Vinho, Autograph Collection. Essa é a primeira bandeira da Marriott no Brasil e fica no alto de um morro com vista privilegiada do Vale dos Vinhedos. A edificação clássica em estilo toscano está repleta de história e cultura e dispõe de uma adega bem abastecida com mais de 600 rótulos internacionais e nacionais para experimentar. Ele está rodeado de lindas paisagens e oferece uma variedade de instalações, incluindo biblioteca de vinhos, piscina ao ar livre, banheira de hidromassagem e duas quadras de tênis.
No interior dos apartamentos e suítes a ambientação foi inspirada nas antigas residências da região, com brocados e estamparias de época, roupa de cama de puro algodão canforada e impecavelmente branca e mobiliário em estilo menorquin, típico da colonização italiana no sul do Brasil. O esmero se evidencia em diferentes provérbios do dialeto imigrante “Talian” que foram pintados à mão nas paredes de cada acomodação. Privacidade e extremo conforto em meio aos parreirais e à natureza das montanhas. O hotel conta com o exclusivo Vino.Spa, um local onde sua saúde e beleza são tratados o fruto da vinha, águas puríssimas e mineralizadas, vindas da própria fonte do hotel. Os tratamentos proporcionam um profundo estado de relaxamento, desintoxicação e bem estar.
Hotéis independentes
Longe das grandes redes hoteleiras e às vezes sem grandes investimentos, há um nicho de meios de hospedagem independentes que apostam na temática para conquistar e fidelizar clientes. É o caso do Recanto La Ballena, localizada na praia da Gamboa, em Garopaba (SC). O proprietário Thiago Nascimento Oliveira, funcionário público e artesão prefere se referir ao local como uma hospedagem familiar, já que possui apenas três apartamentos. Thiago sempre gostou muito da cultura mexicana, principalmente as cores vivas e alegres que tornam o ambiente mais acolhedor e começou decorando sua casa de praia com as cores e artesanatos do México.
No início da pandemia a situação financeira apertou e ele começou a alugar a casa de praia. “Com o passar do tempo notei que as pessoas gostavam da decoração, elogiavam e recomendavam para outras pessoas. O boca a boca foi ganhando força e o que era apenas uma maneira de me capitalizar momentaneamente foi virando um negócio”, explica. Além de gostar muito da cultura mexicana, Thiago também é fã do seriado mexicano Chaves, que fez parte da infância de muitos brasileiros. “Sempre fui muito fã do seriado Chaves e a ideia da vila veio na sequência, quando fiz mais dois apartamentos, acabei fazendo um cenário inspirado na vila, bem na entrada da recepção. A vila viralizou na internet em dezembro de 2021, assim como o tema mexicano do nosso residencial. Notei que todas as pousadas e residências seguiam um certo padrão de casa normal e que a parte temática estava sendo meu diferencial”. Thiago explica que toda a construção da vila é feita 100% artesanal. “Sou apaixonado por artesanato e decoração utilizando objetos recicláveis. A vila é cenográfica, para chegar aos apartamentos os hóspedes passam pelo pátio da vila. Estou trabalhando também na casa da Chiquinha que é possível visitar e divide espaço com a coleção de brinquedos antigos com cerca de 952 itens que será inaugurada em setembro”.
Thiago explica sobre como a tematização foi importante para o negócio, “houve um aumento muito significativo dos hospedes procurando nossa pousada. A grande maioria vem por conta do tema, isso é engraçado, pois antes as pessoas procuravam a praia, já que ficamos a 400 metros dela, e hoje elas procuram nossa pousada temática para conhecer nossa exposição de brinquedos e maquete da vila, a praia se tornou secundária para 80% dos nossos hóspedes. E pensar que antes a praia era a procura de 100% de nossos hóspedes. Em menos de três anos temos mais de 30 mil seguidores no Instagram, tudo de forma orgânica. Sem a temática, que é o nosso diferencial, com certeza estaríamos concorrendo com as mais de mil pousadas da região de Garopaba, mas agora somos a única temática de toda região Sul de Santa Catarina”.
Para o Consultor Quina a tematização de hotéis tem um enorme mercado em função da busca, cada vez maior, de pessoas e grupos com desejos e necessidades de produtos e serviços específicos. As pessoas buscam hospedar-se já com o intuito de exploração de determinado nicho, mas faz uma ressalva. “Por serem hotéis temáticos, sua atuação e seus mercados são mais restritos e por isso é preciso um estudo e projeto muito bem dimensionado em todos os sentidos, para torná-lo competitivo no mercado. Tematizar um hotel requer um enorme trabalho de padronização por vezes extremamente complexo”.
Greco também avalia que a tematização precisa ser detalhada e planejada com os requintes de storytelling, capazes de atrair o público-alvo desejado, pensadas de forma estratégicas para tornar o hotel ou resort num local atrativo, para se tornar realmente um destino conhecido. “É preciso oferecer uma experiência para que os hóspedes se tornem os divulgadores e principais comunicadores da experiência. Oferecer uma experiência única, exclusiva e emocionalmente impactante faz mais do que fidelizar, ele transforma o cliente numa ferramenta de comunicação, com seu testemunhal de satisfação entre seus amigos e, principalmente, em suas redes sociais”.
Para Thiago, do La Ballena, a dificuldade maior é pensar em um tema que abrace seu público alvo. Encontrar ícones para criar a atmosfera temática e serviço para o desenvolvimento é caro e difícil de encontrar. “No meu caso, trabalhar com arquitetura e artesanato facilitou muito para baratear toda criação. Procuro sempre trabalhar com itens reciclados e dar vida a elementos que teriam outra função”.
Já a Viviê Pousada que sempre pensou no conceito de oferecer acomodações diferenciadas e exclusivas, passou pelo processo de criar um novo ambiente temático, com as dificuldades de desenvolver e executar adequadamente o projeto que englobam inúmeros detalhes, indo bem além das etapas posteriores ao lançamento. Embora já oferecesse chalés temáticos, com temas que envolviam a natureza, a pousada em Monte Verde (MG), resolveu inovar. “A ideia surgiu de criar algo completamente inédito no mercado nacional. Em 2011, em discussão familiar, os proprietários pensaram: por que não transformar um avião em hospedagem? E, de fato, como Monte Verde está situada à altitude de 1600 metros do nível do mar, o projeto do chalé do avião se enquadraria bem, explica Stuart Townsend de Oliveira, Gerente de marketing. O chalé temático Aero Flyer tem cerca de 180 m² de pura sofisticação e conforto, divididos entre avião e torre de controle. O acesso do hóspede a acomodação é feita por meio de uma passarela iluminada do tipo “pista de pouso,” e depois, pela própria escada original da aeronave. O interior é decorado como “jatinho executivo”, com TV de bordo, guarda malas, tablet, sofá-cama, frigobar, mesa para pequenos lanches, etc. Além disso a hospedagem possui o lavabo original do avião, meal cart, cabine de comando com parte dos controles e manetes originais, e é equipada com poltronas de couro e simulador de voo.
Stuart conta um pouco desse processo: “Para nós incluiu desde encontrar o produto ou material correto, a montagem, os pormenores das adaptações necessárias, da personalização, da criação de identidade própria e outros — sendo estas últimas etapas da montagem e reforma em diante as que consumiram mais energia — e por fim, obviamente, o alto investimento relacionado com cada estágio disso, cientes a partir da concepção da ideia de que o retorno seria de médio a longo prazo”.
Contudo, a Viviê Pousada segue procurando inovar e proporcionar experiências exclusivas aos seus clientes e inaugurou recentemente outro chalé temático, o chalé Viviê Trailer, que inclui um motorhome real, todo reformado e personalizado, com vários ambientes e detalhes internos para descobrir, lareira ao ar livre para fazer uma fogueira e assar marshmallows, banheira de hidromassagem com vista para o lago e muito contato com a natureza em redor.
Realidade pós-pandemia
Para Quina é um fato inegável a drástica mudança que a pandemia trouxe ao mundo atual e que se reflete de diversas formas no turismo e hotelaria. Thiago sentiu essas mudanças no cotidiano “na pandemia teve uma baixa muito grande na procura por hospedagem e essa baixa demanda fez com que as pessoas buscassem um diferencial e no meu caso foi fundamental tematizar o residencial para me destacar entre vários estabelecimentos da região. Agora pós-pandemia as pessoas estão com outra mentalidade de consumo, buscando o diferente, principalmente para postar fotos nas redes social em ambiente instagramaveis”. A situação instável gerada pela pandemia mostrou o quanto é importante o “fazer turismo”: ele estava a todo momento disponível, e, de repente, não estava mais. “Descobriu-se então dentre muitas coisas a necessidade de viajar e aproveitar a vida, construindo memórias especiais, sair do “comum” ou “rotineiro” para algo “novo” ou “diferente” ganhou algum peso de lá para cá”, afirma Stuart.
Para Carolina Haro, Sócia-diretora da Mapie, consultoria especializada em gestão estratégica de serviços para turismo e hotelaria, cada vez mais os clientes estão em busca de super experiências, que entreguem histórias e memórias, seja para viagens de lazer e de negócios. Não desejam mais encontrar somente um quarto padrão, que poderia estar em qualquer parte do mundo. Querem ser surpreendidos por um enredo, uma narrativa, que torne a hospedagem mais autêntica e marcante. “É importante entender que a tematização não precisa ser caricata e exclusivamente para o lazer. Ela pode estar presente para fortalecer o posicionamento e entregar algo que torna aquele negócio único. Quanto mais os hotéis compreenderem que o cliente quer personalidade, mais a tematização passa a fazer sentido, podendo inclusive, influenciar positivamente a diária média e por consequência, o retorno sobre o investimento”.
Apesar de ainda não ter grande adesão no Brasil, os hotéis temáticos, em suas várias formas de execução, se mostram uma opção interessante que merece um olhar mais atento do mercado hoteleiro. “O principal obstáculo é mesmo o setor hoteleiro local despertar para esta oportunidade, com a vantagem de usar como referência os casos de sucesso no mundo. Uma vez que decidam considerar a tematização de seus empreendimentos, caso não possuam profissionais com este conhecimento em sua estrutura interna, devem buscar no mercado profissionais que possam auxiliá-los na escolha das marcas”, pontua Herbert Greco.