Opinião

O varejo entra em campo – Artigo de Carlos Pires

*Carlos Pires

No dia 30 de outubro de 2007, uma reunião em Zurique gerou euforia em todo o Brasil. Foi nesta data, que em um encontro do comitê da FIFA, foi decidido que a Copa do Mundo de 2014 seria realizada aqui, no país do futebol. A partir de então, todos os empresários brasileiros se encheram de expectativa e as palavras “legado” e “oportunidade” estavam presentes em todas as conversas sobre as perspectivas com a realização do evento.


Hoje, após quase sete anos do anúncio e a poucos dias do início da Copa do Mundo, convivemos com baixas expectativas da grande maioria dos brasileiros e diversas críticas em relação à herança do evento. Mas, assim como o turismo, o segmento de varejo ainda pode colher bons frutos com a realização deste que é o maior torneio de futebol do planeta e que mexe com uma das maiores paixões mundiais. E é por causa deste sentimento que as perspectivas ainda são boas.


Recente estudo divulgado pelo SPC Brasil (Serviço de Proteção ao Crédito) e pela CNDL (Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas) com empresários do ramo de comércio e prestação de serviços apontou que 56% destes têm a expectativa de aumentar suas vendas durante o período de realização da Copa do Mundo no Brasil. Os empresários do setor de hotelaria são os que têm melhores perspectivas de lucratividade durante a realização do torneio, já que quase 70% dos entrevistados gestores ou donos de empreendimentos na área de hotelaria, pousadas e albergues acreditam que o seu setor será um dos que mais lucrará com a Copa. Dentro do segmento de lazer, 56% dos empresários do ramo estão otimistas, seguidos pelos setores de alimentação (55,6%) e transporte (38,2%).


As expectativas são altas pois a utilização destes serviços não será exclusiva dos turistas estrangeiros, mas também teremos maior consumo dos brasileiros. Aqueles que não estiverem nas arenas para presenciar os jogos, vão comprar mais cervejas, refrigerantes, carnes para churrasco, enfim, tudo para acompanhar os jogos com seus amigos. Não podemos esquecer o comércio de eletrônicos, que já vem sentido os efeitos da Copa. Afinal, quem não gostaria de assistir os jogos em uma televisão nova, com maior definição? A favor do setor, há o incentivo do governo com programas como o Minha Casa Melhor que oferece R$ 18,5 bilhões em crédito subsidiado para 3,7 milhões de mutuários do Minha Casa, Minha Vida.


Os resultados do IBGE sobre o volume de vendas no varejo podem ser um indicativo de que há possibilidades do setor se aquecer na Copa. Apesar de uma queda de 0,5% nas vendas de março, em relação ao mês anterior, no acumulado do ano o crescimento é de 4,5%. Importante destacar que em março tivemos o carnaval, o que pode refletir em queda nos resultados do varejo devido muitos estabelecimentos permanecerem fechados.


Para quem ainda não se preparou para a Copa, ainda há tempo. Não adianta só entrar no clima da disputa se as ações não gerarem faturamento adicional. Por isso, é importante planejar ações focadas para o período e público que o varejista quer atingir e pensar em vários cenários, pois as vendas podem oscilar dependendo da participação da seleção brasileira no torneio.


Infelizmente, a última vez que recebemos um evento deste porte foi em 1950 e, por isso, não temos uma base de comparação para projetar os resultados que o varejo pode obter. Muitos argumentam que as paralisações em decorrência dos jogos vão resultar em perda de períodos de venda. Mas a verdade é que teremos um fluxo maior de consumidores no país e é dever do varejista se preparar para tirar proveito deste cenário. Sabe o “legado da Copa?”. Para o varejo a preocupação não deve ser a herança, mas sim o que o evento vai proporcionar durante sua realização.


*Carlos Pires é sócio da KPMG e líder para o setor de mercados de consumo 

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