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Alta no preço da passagem aérea preocupa setor hoteleiro

Viajar para o exterior está mais barato que viajar para um destino no Nordeste. A alta no preço da passagem aérea pode comprometer o resultado dos hotéis na alta temporada e até mesmo no carnaval

Foi se o tempo em que existia no Brasil aquela velha máxima de que comprar passagem aérea antecipada conseguia preço mais baratos. Ou quem sabe varar a madrugada vasculhando a internet em busca das tais promoções. Quem está planejando viajar para as festividades de final de ano, e até mesmo no carnaval, já sentiu que alguma coisa está fora da órbita em relação aos preços das passagens aéreas que estão nas alturas, mas em ano eleitoral, essa é uma questão de difícil solução. Com isso, o alto preço da passagem aérea é uma realidade que já está preocupando a hotelaria no País que teme os cancelamentos e uma abrupta interrupção, ainda que temporária, da retomada do setor, que continua em ascensão.

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Em junho deste ano, a CNC – Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo divulgou uma projeção sobre o preço do bilhete aéreo no resto do ano e a constatação foi de que este continuaria em ascensão no decorrer de 2022. Para a CNC, a previsão naquele momento era a de que o custo das passagens seguisse pressionado, com previsão de alta entre 5% e 10% no valor pago pelo consumidor. O mesmo levantamento apontou que no intervalo entre os meses de maio de 2021 e maio de 2022, o preço das passagens teve alta acumulada de algo em torno de 89%. Em maio deste ano, segundo ainda a CNC, as passagens de avião foram o item que mais contribuiu para a alta mensal do IPCA. A entidade aponta ainda que, apesar da alta de 89% no período, e de 102% se analisado desde setembro de 2020, os preços têm alavancado depois de um período de queda brusca. De março a agosto do referido ano, houve uma queda de, em média, até 48% nos preços dos bilhetes, causada pela demanda encolhida por voos naquele período, de auge da pandemia do COVID-19.

Apesar da alta para os próximos meses apontada pela CNC, as passagens devem ter valor ainda mais elevado no final do ano, quando a demanda tende a ser maior e nem a queda do Querosene de Aviação de 10,4% em agosto, resultou em readequação do valor dos bilhetes. Frente a questão levantada, o Ministério do Turismo declarou: “O governo federal tem adotado uma série de ações para fortalecer o setor aéreo no País que, antes da pandemia, movimentava cerca de 90 milhões de passageiros pelo Brasil. Estas ações passam pela melhoria do ambiente de negócios no País, reduzindo burocracias e encargos que buscam diminuir os custos operacionais para voar, além da realização de rodadas de conversas com companhias aéreas.

Entre elas estão a introdução do combustível JET-A na aviação brasileira que reduz custos operacionais das companhias, a diminuição de alíquotas do IRRF – Imposto de Renda Retido na Fonte sobre o leasing de aeronaves, a abertura de mercado para companhias aéreas estrangeiras ampliando a concorrência e a criação de um grupo de trabalho com a EMBRATUR – Agência Brasileira de Promoção Internacional do Turismo para discutir desafios, gargalos e melhorias para o setor de aviação.

Cabe destacar ainda, as sucessivas reduções no preço do QAV – Querosene de Aviação que, desde 1º de outubro deste ano, registra uma redução de 0,85%, representando a terceira queda em três meses deste item que, segundo a ABEAR – Associação Brasileira das Empresas Aéreas, representa mais de um terço dos custos totais das companhias aéreas.

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Por fim, cabe destacar que essas ações reafirmam o compromisso do governo brasileiro em continuar trabalhando junto com o setor aéreo para impulsionar o fluxo de passageiros a preços acessíveis. Como resultado, o número de pessoas embarcando nos aeroportos brasileiros tem crescido mês após mês, aproximando-se cada vez mais dos resultados pré-pandemia. De janeiro a agosto deste ano foram transportados 53 milhões de passageiros em voos nacionais, que correspondem a 92% do número registrado no mesmo período de 2019. Inclusive, alguns aeroportos já registram ocupação acima de 100%, quando comparados aos números registrados no pré-pandemia”.

Alta no preço da passagem aérea preocupa setor hoteleiro
Abastecer uma aeronave está cada vez mais caro com as altas constantes do querosene de aviação (Foto – Divulgação)
Custos e passagens aéreas

Procurada para comentar o tema, a ABEAR – Associação Brasileira das Empresas Aéreas, preferiu emitir um comunicado informando que: “É importante enfatizar que o preço de uma passagem aérea tem relação direta com os custos das companhias, que por sua vez são impactados por fatores externos. Um desses fatores é a cotação do dólar em relação ao real, que indexa mais da metade dos custos do setor, pressionando itens como o combustível dos aviões (Querosene de Aviação – QAV), manutenção e arrendamento de aeronaves. Só o QAV responde por cerca de 40% dos custos de uma companhia aérea, além disso, o combustível é precificado como se fosse importado, sendo que mais de 90% desse insumo é produzido no País.

A ABEAR considera positivas as reduções no preço do QAV anunciadas pela Petrobras, como a de 0,84% em vigor desde 1º de outubro. Apesar disso, cabe relembrar que essas reduções ainda não cobrem o aumento acumulado no ano de 2022, que segue em 47,64%. A situação de intensa volatilidade das cotações do barril de petróleo e da cotação do dólar impossibilita projeção de impacto nos preços, dado que na comparação de julho de 2019 com o mesmo mês em 2022 a alta do QAV chegou a 168,7%, variação muito superior à da gasolina (+50,9%), do GLP (+81,3%) e do diesel (+126%) no mesmo período, segundo os últimos dados disponibilizados pela ANP – Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis”.

De acordo com Eduardo Sanovicz, Presidente da ABEAR, “É fundamental que haja estímulo à adoção de políticas públicas que estimulem a recuperação e o desenvolvimento da cadeia de turismo no País, potencializando a retomada das demandas doméstica e internacional. Também é necessário enfrentar o Custo Brasil e incentivar investimentos de infraestrutura para impulsionar a aviação regional e a ampliação da malha aérea para localidades fora dos grandes centros urbanos. Com isso, a aviação comercial brasileira terá condições de se consolidar como principal catalisadora da cadeia do turismo, estimulando as viagens de lazer e de negócios, transportando cada vez mais pessoas para mais destinos”.

Uma fonte que pediu para não ser identificada, disse que enquanto o próximo presidente da república não tomar posse, a situação deve continuar do jeito que está e lembrou que: “O Brasil é o único País do mundo que tem um imposto estadual sobre o combustível dos aviões, mas o ICMs não incide em voos internacionais. Isso gera muitas vezes voos mais baratos para o exterior do que para destinos brasileiros, prejudicando toda a cadeia produtiva do turismo nacional. Isso tem que ser revisto, assim como a tão prometida abertura do mercado de voo doméstico para as companhias aéreas internacionais. Hoje o quinto maior País em extensão territorial no mundo está concentrado em mais de 90% nas mãos de apenas três companhias aéreas (Gol, Latam e Azul). Elas só querem operar rotas aéreas muito rentáveis e praticam valores abusivos com a simples desculpa do aumento do querosene, o que é no mínimo uma mentira. Essas práticas abusivas inibem o crescimento do turismo no Brasil e impacta diretamente o setor hoteleiro. Vamos esperar que os novos governantes e os parlamentares no Brasil resolvam esse imbróglio a partir de 1º de janeiro de 2023”, disse esperançoso a fonte.

Alta no preço da passagem aérea preocupa setor hoteleiro
Eduardo Sanovicz: “É necessário enfrentar o custo Brasil e incentivar investimentos de infraestrutura para impulsionar a aviação regional” (Foto – Divulgação)
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Reorganizando a casa

Segundo Gustavo Vedovato, Country Manager do Kayak no Brasil, são muitos os fatores que contribuíram para essa alta: “Podemos dizer que vários fatores influenciam nos preços das passagens. A pandemia da COVID-19 desorganizou as cadeias logísticas mundiais e, agora, com o aumento da demanda por viagens, as companhias aéreas ainda estão reorganizando suas redes e ofertas, o que também pode influenciar nos preços. A flutuação das moedas estrangeiras afeta o mercado brasileiro de um modo geral e, por consequência, pode afetar os preços dos tickets aéreos também. Devemos lembrar que os preços também podem variar caso a viagem seja realizada na alta ou baixa temporada, ou ainda, se é realizada com antecedência ou em cima da hora”, observa.

O Kayak é um metabuscador, com bilhões de consultas em suas plataformas a cada ano, ajudando as pessoas a encontrar seu voo, hotel, aluguel de carro ou pacote de férias. “No Kayak, acompanhamos o comportamento de busca dos usuários, ou seja, conseguimos monitorar os interesses dos viajantes, entretanto, não é possível afirmar se de fato efetuaram a reserva ou não, uma vez que o processo de compra é realizado no site de nossos parceiros. O que podemos fazer é ajudá-los com nossas ferramentas gratuitas a encontrarem os preços da passagem aérea, do hotel, do pacote, da locação de automóvel que cabem no bolso de cada um. No Alerta de Preços, após cadastro gratuito, o viajante passa a receber notificações de variações de preços do destino escolhido, com recomendação de quando é o melhor momento para reservar sua passagem”, explica Vedovato.

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Gustavo Vedovato: “No Kayak, acompanhamos o comportamento de busca dos usuários, ou seja, conseguimos monitorar os interesses dos viajantes” (Foto – Divulgação)

O executivo destaca outras ferramentas úteis na plataforma: “No Explore, basta indicar o orçamento disponível e a plataforma sugere destinos que se encaixam na faixa de preços informada. Já o Detetive de Preços valida se uma oferta encontrada é de fato a melhor opção ou se existem outras mais favoráveis. Dessa maneira, mesmo quando os preços dos tickets aéreos estiverem mais altos, o viajante consegue se planejar melhor no Kayak, com o uso dessas ferramentas”, finaliza.

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APP da Revista Hoteis
Mudança de comportamento

Para não deixar de viajar após dois anos de restrições, a saída mais prática e econômica encontrada pelos viajantes foi a opção pelo modal rodoviário. Dados da ABRATI – Associação Brasileira das Empresas de Transporte Terrestre de Passageiros, mostram que de janeiro a julho deste ano, o movimento de passageiros em viagens interestaduais e internacionais via ônibus teve aumento de 60%, se comparado com o mesmo período em 2021. A ClickBus é um marketplace de passagens rodoviárias cuja operação no País já ultrapassa nove anos. Pioneira no mercado, a ClickBus já conta com mais de 200 viações em seu portfólio de parceiros e atende mais de 4,8 mil destinos em todo o País. “Além de uma plataforma fácil e segura para quem busca sua passagem, somos um dos principais catalisadores da transformação digital do modal rodoviário, atuando junto às empresas em diversas frentes, sempre buscando a melhor experiência para os nossos clientes”, explica Elbert Leonardo, VP Comercial da ClickBus.

Leonardo revela que a empresa já sente os efeitos da alta da passagem aérea, que gerou um êxodo de viajantes do aéreo para o rodoviário. “Podemos notar que está ocorrendo uma migração do público do aéreo para o modal rodoviário, ainda mais quando se trata de viagens mais curtas de até oito horas. O trecho São Paulo-Rio de Janeiro, por exemplo, apresentou um aumento de 53% nas vendas nos últimos 12 meses. Também temos notado uma forte demanda por viagens nas categorias leito e semi-leito. Outro número importante é do acumulado deste ano, de janeiro a setembro, quando vendemos 83,65% passagens a mais do que no mesmo período do ano passado.

Porém, esse crescimento não se dá apenas pelo aumento das passagens, há também um esforço por parte das empresas do setor em entregar cada vez mais valor aos seus viajantes ampliando desta forma o custo-benefício da viagem. Hoje é muito confortável você pegar um leito de São Paulo para o Rio, viajar em um ônibus como se estivesse na cama de casa, com um serviço de bordo, wi-fi e ainda por cima economizando em diária de hotel, por exemplo”.

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Elbert Leonardo: “Podemos notar que está ocorrendo uma migração do público do aéreo para o modal rodoviário” (Foto – Divulgação)
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Ameris
Modelo democrático

Elbert Leonardo acrescenta que o modal rodoviário, na sua opinião, é o mais democrático do País e também o que garante mais acesso aos destinos tradicionais de Carnaval. “Além de contar com uma oferta que atende a todos os públicos, o rodoviário possui a maior capilaridade do Brasil, são mais de cinco mil pontos de embarque e desembarque enquanto o aéreo conta com pouco mais de 100 aeroportos operando comercialmente. Atualmente o ônibus já é uma parte vital do turismo nacional tendo em vista que ele é um modal complementar para várias viagens, por exemplo, alguns destinos do Nordeste e alguns destinos do litoral do Rio de Janeiro e São Paulo, que não são atendidos por aeroportos.

No Carnaval, por exemplo, existe hoje uma grande atividade que fomenta o turismo de blocos e desfiles em pequenas cidades em que apenas o rodoviário tem acesso, em complemento ao modal aéreo em muitos casos. Hoje, o Brasil tem 4.500 rodoviárias contra cerca de 100 aeroportos, fazendo da malha rodoviária um importante modal para o turismo”.

Para concluir, o executivo compartilha a visão da ClickBus sobre o cenário atual do turismo no País. “Acreditamos que estamos em um momento de oportunidade para todo o mercado de turismo. Onde os modais podem ser complementares uns aos outros e garantir com isso a ampliação da oferta em nossa plataforma. Empresas americanas já estão operando modelos que ganham em sinergia intermodal, como a American Airlines, por exemplo, que desde o início deste ano, está oferecendo o transporte de ônibus entre seu centro da Filadélfia e cidades menores: Allentown e Lancaster, Pensylvania e Atlantic City, New Jersey”, finaliza.

Opinião dos hoteleiros

Orlando de Souza, Presidente do FOHB – Fórum de Operadores Hoteleiros do Brasil, acredita que sim, a alta do preço da passagem aérea pode ter impacto no setor, porém essa preocupação deve ser compartilhada com outros segmentos. “O temor não é só da hotelaria, considerando que o Brasil é um País continental, as distâncias são longas e as pessoas precisam pensar no aéreo como modal mais indicado para a locomoção a outros destinos. O aumento da passagem aérea deve ter impacto na demanda como também consequentemente, na hotelaria. É aquela lógica: quando um abacaxi fica muito caro, o cliente opta por outra fruta e não compra mais o abacaxi. Agora, mensurar o tamanho desse impacto, só os especialistas poderão fazê-lo. Os mesmos que também erraram as projeções da pandemia. Não podemos soltar previsões que causem alarde, é prematuro. Temos que lembrar que existe uma demanda reprimida, ou seja, apesar do preço da passagem, existe aquela família que vai viajar mesmo com o preço alto. Também existem os que compraram com antecedência, os que remarcaram. É difícil estabelecer o quanto vai impactar.

Também ajudam os apelos que as datas possuem, réveillon, Carnaval, muita gente está ansiosa para festejar, ver os fogos em Copacabana ou pular o Carnaval em destinos tradicionais do período, como Bahia e Rio de Janeiro. O aumento das passagens terá sim um impacto, é uma preocupação, mas não podemos transformar em tragédia anunciada”, opina.

Alta no preço da passagem aérea preocupa setor hoteleiro
Orlando de Souza: “Imaginar que o preço aumenta só porque está atrelado ao Querosene da Aviação é simplificar demais” (Foto – Divulgação)

Sobre a precificação do aéreo, Orlando de Souza é cauteloso: “Não vou teorizar preço, não tenho essa capacidade. No entanto, a inflação está ai e nosso setor é a hotelaria, que vai bem. Agora, imaginar que o preço aumenta só porque está atrelado ao Querosene de Aviação é simplificar demais. É muito mais complexo. Temos de lembrar que estamos no Brasil e muitas companhias não querem operar aqui porque o ambiente de negócios é difícil. Além do custo do Querosene, tem a questão das leis, da mão de obra, dos aeroportos, entre outros. É uma composição de custos que não impacta somente a aviação, como outros setores também. Não é porque em agosto houve queda no Querosene que obrigatoriamente tem que haver queda no preço da passagem. Acho que isso tem que ser entendido no contexto geral. O modal aéreo é essencial para o Brasil, você não vê com frequência alguém pegando seu automóvel para uma viagem de São Paulo para o Ceará. O ambiente de negócios é que faz a aviação enfrentar custos que no resto do mundo, não enfrenta”, analisa Souza.

Dificuldades geram aprendizado constante

Perguntado se possui uma previsão de quando todos esses desafios para o alcance da aceleração total e plena do turismo e da hotelaria serão superados, juntamente com os impactos deixados pela pandemia, Orlando é enfático: “Nada fica durante muito tempo estabilizado. Antes da pandemia tivemos anos de crise também, com a questão Dilma, a inflação alcançando dois dígitos. Antes os Estados Unidos passaram por crise semelhante, ou seja, o mundo anda em ciclos que em algum momento são virtuosos e no outro geram barrigas de crises, dificuldades. Veja bem, guerras, crises sociais e sanitárias são coisas que não controlamos. O mundo não funciona assim, como se tudo engendrasse um ritmo e permanecesse, com tudo funcionando perfeitamente. O que posso afirmar é que a hotelaria está retomando os níveis pré-pandemia, que diga-se de passagem (e muita gente ignora), não foram os melhores e nem são os ideais para o setor. Em anos anteriores, como 2013 e 2014, a hotelaria registrou índices superiores aos de 2019. Em 2019 estávamos vivenciando uma recuperação dos anos de crise, que foi interrompida pela pandemia”, finaliza.

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Clima ao Vivo

Um dos líderes e voz ativa da hotelaria nacional em muitos pleitos de relevância para o setor, Manoel Linhares, Presidente da ABIH Nacional – Associação Brasileira da Indústria de Hotéis, acha que o impacto do preço da passagem aérea na hotelaria é grande e justifica a preocupação do setor. “A alta nos preços das passagens aéreas tem grande impacto no setor hoteleiro, pois atrapalha o desenvolvimento do turismo interno e deixa de atrair os viajantes estrangeiros. De acordo com o IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, as passagens aéreas subiram 88% nos últimos 12 meses. Ficou difícil para o consumidor arcar com esses custos e isso tem refletido na taxa média de ocupação das aeronaves.

Em maio deste ano, segundo dados da ANAC – Agência Nacional de Aviação Civil, o índice ficou em 75,1%, cerca de seis pontos abaixo que o mesmo mês em 2019. Entre os passageiros transportados (6,4 milhões), houve uma retração de 10% na mesma comparação. O que temos visto então é uma opção maior pelo turismo rodoviário, com a escolha de destinos mais próximos às cidades de origem. O setor vem trabalhando com uma expectativa de ocupação semelhante à última alta temporada antes da pandemia, em 2019”, explica.

Alta no preço da passagem aérea preocupa setor hoteleiro
Manoel Cardoso Linhares: “A alta nos preços das passagens aéreas tem grande impacto no setor hoteleiro, pois atrapalha o desenvolvimento do turismo interno e deixa de atrair os viajantes estrangeiros” (Foto – Divulgação)
União e ação

O Presidente da ABIH Nacional aponta algumas medidas que podem favorecer o turismo e contornar a questão sem maiores prejuízos para a hotelaria. “Como representante da hotelaria independente do País, ressalto a importância de ações integradas entre todos os segmentos ligados ao turismo, com foco em ações imediatas e estratégias de médio e longo prazo para se obter um maior equilíbrio no preço das passagens aéreas. Isso é fundamental. A diminuição do número de passageiros, como mostram os números citados na primeira resposta, impacta diretamente toda a cadeia produtiva do turismo. A alta no valor das passagens dificulta, por exemplo, a mobilidade do viajante pelo País, fator fundamental para estimular a chegada de estrangeiros, que vêm ao Brasil para, na maioria das vezes, por conta da diversidade, conhecer vários destinos, com tempo médio de estadia em cada lugar de três ou quatro dias. Outro ponto importante é a respeito do Querosene de Aviação. Seu custo também impacta o preço das passagens, mas apesar da terceira redução seguida (2,6% em agosto, 10,4% em setembro e 0,84% em outubro) o combustível continua acumulando uma forte alta de mais de 63% em 2022”, pontua Linhares.

Carnaval a todo vapor

Linhares compartilha a visão de que, apesar da alta dos preços das passagens, o brasileiro não deve abrir mão do primeiro Carnaval após o ciclo de vacinações e relaxamento das restrições impostas na ocasião do auge da pandemia. “Os números mostram que estamos num processo de retomada dos índices de ocupação hoteleira que estão novamente voltando aos níveis anteriores à pandemia. Há uma demanda represada por viagens de forma geral, mas principalmente em datas como o Carnaval, um dos períodos mais fortes para o turismo no País. Afinal, são dois anos que o brasileiro não aproveita plenamente um dos principais feriados do Brasil. Por tudo isso, nossa expectativa para o período é bastante otimista, impulsionada principalmente pelo turismo de proximidade. E, como sempre digo, o Brasil tem a vocação nata para ser um dos principais destinos do mundo, basta que o turismo receba mais atenção e incentivos para ocupar cada vez mais espaço na vida do nosso povo e da nossa economia, gerando emprego e renda por todo o País”.

Linhares conclui que é preciso entendimento entre toda a cadeia turística para que se estabeleçam metas de médio, curto e longo prazo que objetivem o melhor cenário para o aquecimento da economia dos setores que integram esse mercado. “Os benefícios fiscais concedidos às vias aéreas, por exemplo, devem necessariamente se refletir no preço final das passagens e, consequentemente, no bolso do consumidor. É importante ressaltar que não represento o setor aéreo, mas sim a hotelaria, um dos segmentos mais importantes da cadeia do turismo. Cabe ao setor aéreo propor medidas que não sejam aumentar cada vez mais as passagens, pois isso inviabiliza a expansão do turismo. A retomada já está em curso, mas precisamos deixar de ser imediatistas e semear o futuro, trazendo à discussão os temas relevantes para o crescimento do turismo, para que possamos não apenas chegar aos patamares que atingimos em 2019, mas sim ultrapassá-los e continuar numa rota de crescimento nos próximos anos, beneficiando toda sua cadeia produtiva, entre elas, é claro, as companhias de aviação.

Estamos vivendo um momento especial, de recuperação do turismo brasileiro. Como todos sabem, passamos por um período de muitas dificuldades para o setor hoteleiro, causadas pelas restrições da pandemia, mas os números crescentes de ocupação hoteleira mostram que a retomada está em curso e que estamos diante de uma grande oportunidade de fazer o turismo ocupar mais espaço na vida do nosso povo e na economia brasileira”, finalizou Linhares.

Destino consolidado

Referência no segmento de lazer e destino consolidado no turismo de Porto Seguro, na Bahia, o La Torre Resort, assim como outros empreendimentos semelhantes espalhados pelo Estado, dependem da capilaridade do modal aéreo, já que recebem muitos viajantes de importantes destinos emissores, como São Paulo, Rio de Janeiro e Brasília. Luigi Rotunno, CEO do Grupo La Torre, enxerga o momento com certa preocupação: “O impacto das tarifas aéreas se torna a cada dia um problema maior, principalmente para um destino como Porto Seguro, que por não ser uma cidade corporativa, tem um fluxo aéreo praticamente 100% turístico. Para contornar esse problema precisamos trabalhar nossa distribuição de forma estratégica e ficar sempre ligados nas tarifas, que não apresentam um critério lógico. As vezes um voo de Porto Seguro para São Paulo custa bem mais caro que um voo para Goiânia, que tem conexão e o dobro de horas de voo. O mercado atual requer um acompanhamento minucioso das tarifas aéreas para permanecer competitivo no valor final do pacote”, ressalta.

Alta no preço da passagem aérea preocupa setor hoteleiro
Luigi Rotunno: “Para contornar esse problema precisamos trabalhar nossa distribuição de forma estratégica e ficar sempre ligados nas tarifas, que não apresentam um critério lógico” (Foto – Divulgação)
Volatilidade do mercado

Para Rotunno, o encarecimento da passagem aérea não é um fenômeno isolado. “Acredito que existem vários motivos, a resposta não é simples. De forma geral vejo que o Brasil ficou caro, neste segundo semestre o La Torre se deparou com um aumento de custo considerável que superou nossas expectativas. Estamos em um mercado muito volátil e com dificuldades de previsão de custos. Fazer um preço de um serviço turístico ou uma viagem aérea que será entregue daqui três ou seis meses é quase uma mágica. Isso significa que os preços de vendas a curto prazo devem absorver uma eventual compensação das vendas passadas, criando um fenômeno de aumento considerável do valor final”.

Apesar da cautela na fala, quando o tema é Carnaval, Rotunno demonstra otimismo e entusiasmo: “Nesse sentido acredito que o mercado vai se reorganizar. Pode surgir um número maior de voos fretados que darão oxigênio ao mercado do turismo. As companhias aéreas podem fechar mais parcerias com as operadoras. Pela minha experiência de mais de 20 anos de mercado confio na agilidade de reorganização dos players de mercado, todos ganham quando o turismo gera volumes, principalmente as companhias áreas, e essa temporada promete um número recorde de viajantes”, prevê o CEO.

Luigi Rotunno conclui com o mesmo otimismo em relação ao futuro e um apelo sobre o reconhecimento da relevância do turismo para a economia do País: “O turismo infelizmente não tem seu devido lugar na economia brasileira, esse é o verdadeiro problema. Quando falamos em recuperação econômica, não se leva em consideração o quanto nossa indústria é fundamental. Se considerarmos que o turismo chegou a valer mais de 10% do PIB brasileiro (direto e indireto), nos deparamos com a falta de políticas públicas e projetos de reinvestimento no segmento. O Brasil sofre da ausência de companhias aéreas low costs que permitiriam uma distribuição diferenciada da malha aérea. Um assunto complexo, mas essencial para o desenvolvimento do turismo.

Por mais que não se fale mais de pandemia, o ciclo de recuperação das empresas ainda é influenciado pelas dívidas contraídas e da necessidade de se recompor economicamente. Acredito que 2023 será um ano importante para o mercado do turismo que deve registrar ótimos resultados em 2022, mas que realmente vai se consolidar se 2023 seguir na mesma onda. As companhas aéreas são um aliado essencial neste processo e contamos com elas”, finaliza.

Alta da passagem aérea e o mercado de viagens corporativas

O preço da passagem aérea também impacta outras modalidades de turismo, como o de negócios e das viagens e eventos corporativos. Mercado robusto no Brasil e em plena ascensão da retomada após os dois anos de pandemia, esse setor tem na ALAGEV – Associação Latino Americana de Gestão de Eventos e Viagens Corporativas, uma de suas principais aliadas. Há 18 anos, a ALAGEV, entidade sem fins lucrativos, é um hub multissetorial de integração, facilitação de conexões e desenvolvimento de melhores práticas entre os players do Brasil e da América Latina.

Giovanna Jannuzzelli, Diretora executiva da ALAGEV, acredita que atualmente, as empresas estão limitando seus gastos com bilhetes aéreos e hospedagem, voltando seu foco para viagens mais assertivas e de extrema importância. “As empresas estão alterando o perfil das viagens de executivos, colaboradores, com deslocamentos por meio de carro alugado e transporte rodoviário, além de estarem realizando eventos mais próximos do ambiente empresarial, a curta e média distâncias. Mas acredito que mesmo com preços mais elevados, o setor de eventos e viagens corporativas se mantém em crescimento em relação ao ano passado e as empresas continuam investindo em ações presenciais. De acordo com o mais recente Levantamento de Viagens Corporativas, criado pela ALAGEV junto à FecomercioSP, o segmento registrou movimentação de R$ 5,7 bilhões em julho de 2022, o que remete ao crescimento de 38,7% em relação ao mesmo período de 2021. O faturamento está próximo ao apontado em julho de 2019, mantendo-se apenas 2,6% abaixo do registrado.

E pensando em um período fora das férias escolares como, por exemplo, junho, as viagens corporativas registraram faturamento de R$ 8,2 bilhões, o dobro do apontado no mesmo período do ano passado. Na comparação com junho de 2019 (ano pré-pandemia), o patamar atual está apenas 3,4% abaixo dos R$ 8,5 bilhões alcançados”, revela a Diretora.

No segmento do turismo em todo o País, foi notória a ascensão do lazer, que decolou quase que simultaneamente ao início da campanha de vacinação e relaxamento das restrições. Com novos protocolos e um público mais atento a questão da segurança sanitária e principalmente, ávido por férias e novas experiências, o segmento ganhou fôlego e voltou a registrar bons índices e oportunidades. No setor corporativo, a retomada foi mais lenta e gradual, por fatores que vão dos custos à funcionalidade das reuniões remotas, que acabaram por se tornar hábitos do nicho. Giovanna, no entanto, enxerga o cenário com otimismo: “Essa situação dos custos mais elevados não é exclusividade do turismo. Os aumentos são consequência dos dois últimos anos de pandemia e da Guerra da Ucrânia, que impactou os preços das commodities, de energia, passando por minerais e áreas agrícolas. Esses itens afetam diretamente o nosso setor, principalmente nos transportes, hospedagem e estrutura de eventos, por exemplo. E mesmo com todos esses obstáculos, além de um reajuste nos valores, estamos próximos aos patamares pré-pandemia, e acredito num fortalecimento maior do setor até final do ano”. E conclui, corroborando a fala dos anteriores: “O impacto no valor das passagens não está ligado somente ao querosene da aviação, outros fatores também afetam como câmbio, juros e guerra”, finaliza.

Giovanna Jannuzzelli: “Mesmo com preços mais elevados, o setor de eventos e viagens corporativas se mantém em crescimento em relação ao ano passado e as empresas continuam investindo em ações presenciais” (Foto – Divulgação)
A pandemia deixou marcas

Marcelo Linhares, CEO e co-founder da OnFly, empresa cuja principal missão foi estabelecer a democratização e simplificação do serviço de gestão de viagens, antes exclusivo para poucas empresas, acredita que o fenômeno do preço das passagens é um movimento natural. A OnFly cuida da gestão ‘ponta a ponta’ da viagem, desde o Uber, passando pelo cafezinho, compra do hotel, passagem aérea até o aluguel de automóvel. Tudo sob medida para todos os perfis de empresas que acreditam no conceito de digitalização e descentralização.

De acordo com Linhares, “Nos últimos dois anos especificamente, 2020 e 2021, o preço das passagens aéreas foram artificialmente reduzidos por causa da baixa demanda gerada pela pandemia, e era sabido que elas trabalhariam no prejuízo. Agora a demanda voltou e é natural que aconteça essa correção de preço, e ainda teve aumento do preço do petróleo e do dólar, que influenciam muito nos custos da aviação. Sobre o corporativo, ele é menos sensível ao preço que o lazer, haja vista que as empresas entendem viagens de uma forma diferente, como investimento ou OPEX. Então não, as aéreas não serão vilãs na retomada do mercado”, finaliza.

Marcelo Linhares: “O preço das passagens foram artificialmente reduzidos por causa da baixa demanda causada pela pandemia e agora a demanda voltou” (Foto – Divulgação)

Já para Luiz Moura, co-fundador da Voll, agência de viagens corporativas da ‘nova economia’, que oferece em um mesmo espaço virtual, passagens aéreas, hospedagem, mobilidade urbana, gestão de despesas e atendimento humanizado, trata-se de um período de reestruturação. “Assim como a indústria hoteleira, as empresas de aviação civil estão buscando se reestruturar depois de um período pandêmico. A veloz retomada do hábito de viagem que se vê nos grandes mercados globais – o que inclui o Brasil – tem exigido que essas empresas se adaptem tão rapidamente quanto tiveram que o fazer, durante o início da pandemia de COVID-19. Por isso, no contexto de uma crescente demanda por viagens aéreas, não vejo as companhias de aviação como vilãs; elas têm buscado se adaptar à retomada acelerada e, falando do seu tipo de negócios, ampliar a oferta de assentos não é algo que pode ser feito da noite para o dia. Da mesma forma que um hotel não consegue ampliar seu pool de UH’s em um curto espaço de tempo. As empresas aéreas dependem de artefatos físicos (aeronaves e poltronas) e de serviço (operação em aeroportos) que não podem ser habilitados em um estalar de dedos”.

Moura aponta como principais fatores de encarecimento do bilhete, “a alta repentina de demanda em um negócio que não consegue adaptar a sua oferta na mesma velocidade. O brasileiro voltou a viajar de forma muito mais acelerada do que as melhores previsões puderam avaliar – o que, naturalmente, em um negócio cuja oferta não é tão flexível quanto essa variação, impacta no preço do serviço e consequentemente, na experiência do cliente”.

Como forma de amortizar esse custo, a Voll tem oferecido cada vez mais tecnologias modernas e serviços especializados. “Temos apoiado grandes empresas em suas iniciativas de viagens com nossa inteligência, tecnologia e serviços especializados. O app mobile e portal Voll na web permitem aos viajantes terem uma visão mais clara e simples do cumprimento da política de viagens de suas empresas. Essa facilidade, somada à ampliação da visibilidade de ofertas, permite que as compras sejam feitas de forma mais econômica e consciente”.

Luiz Moura: “As companhias têm buscado se adaptar à retomada acelerada e ampliar a oferta de assentos não é algo que pode ser feito da noite para o dia” (Foto – Divulgação)

O executivo aponta como sendo fatores de extrema importância para a ‘readequação’ do preço do bilhete aéreo: “Adequação da oferta (mais voos, mais aeronaves) e um equilíbrio entre custos e preço de venda. Como se sabe, cerca de 30% dos custos de operação de um voo são com combustível. O QAV não operou de forma linear nos últimos meses e a sua variação não permitiu às companhias aéreas definirem políticas de precificação mais estáveis. Agora, com mais atrativos à vista, essa balança tende a ficar mais equilibrada”. E conclui: “É importante lembrarmos que, assim como qualquer serviço ou produto comercializado nos ambientes das grandes economias globais, a balança entre oferta e demanda geralmente é responsável pela definição de preço. Muito se falou do impacto do custo do combustível e da corrida pelos assentos disponíveis em um voo comercial, mas pouco se discute a responsabilidade de quem viaja nessa história.

Se sabemos que o preço está alto, que a demanda está cada vez maior, e que o mercado está tão ativo como nunca, o que o cliente pode fazer a respeito disso? A resposta é simples, mas ainda precisa de reforço: planejamento. E, para além do viés de custo financeiro, a oferta por serviços é sempre maior quando a demanda não é tão expressiva para determinada data ou destino. Por isso, sempre reforçamos em nosso discurso de que é melhor agir com planejamento do que chorar o preço do leite (caro) derramado”.

Expectativa para o futuro

Das três principais companhias aéreas que operam no País, duas reiteraram as palavras da ABEAR – Associação Brasileira das Empresas Aéreas sobre o tema, considerando-as suficiente para elucidação da questão levantada. A Latam por sua vez, observa em seu comunicado: “A Latam esclarece que a recente redução do Querosene de Aviação tem estabilizado o preço dos bilhetes. Há a expectativa que o câmbio também fique estável e o petróleo e o refino permaneçam em baixa, fatores que também impactam diretamente os valores das passagens. O patamar de preços segue elevado neste momento, mas está proporcional ao combustível. Entre junho de 2021 e junho de 2022 a alta no QAV (Querosene de Aviação) chegou a 102,4% no Brasil e essa conjuntura afeta diretamente os custos de operação, a precificação das passagens e a própria retomada do setor aéreo brasileiro. Como esse cenário ainda está volátil, é prematuro fazer qualquer projeção de queda dos preços das passagens neste momento.

Em meio ao cenário instaurado, fica a torcida de que o turismo continue ocupando assentos e fomentando a economia do País (Foto – Pixabay/OlgaW)

Vale lembrar que a composição da tarifa considera uma série de fatores; como precificação dinâmica, que analisa informações sobre oferta versus demanda por passageiros, sazonalidade, compra antecipada, disponibilidade de assentos, preço do combustível de aviação, variação do dólar, entre outros”.

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