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Segmento de lazer deverá liderar a recuperação da hotelaria no Brasil

Mas até quando em um País recessivo as viagens podem crescer?

 

Artigo de Pedro Cypriano*

É de conhecimento do mercado que os resorts e os hotéis de lazer, em especial os próximos a centros urbanos, saíram na frente no processo de recuperação da hotelaria no Brasil. Durante os finais de semana, muitas propriedades operam já próximo ao limite de ocupação permitido e o aumento de demanda pressiona as tarifas para cima, ao menos nos períodos de maior procura. As dúvidas que muitos se perguntam são: Os sinais de recuperação perdurarão em médio prazo? Como melhorar a performance em um país recessivo e com queda de renda e empregos?

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Para ajudar na reflexão, a HotelInvest, em parceria com a Omnibees e a STR, concluíram em setembro um amplo e profundo estudo sobre o potencial de recuperação da hotelaria de lazer no Brasil. As análises contam com o envolvimento direto de quase 30 resorts icônicos no país, além de informações de aproximadamente 100 propriedades via Omnibees e referências internacionais pela STR. Após 4 meses de análises e uma relação muito próxima ao mercado, os resultados sim sinalizam um horizonte em médio prazo positivo para a hotelaria de lazer no Brasil. Entendamos o porquê.

Turismo de lazer não é movido apenas por PIB

Entre 2015 e 2016, o Brasil passou por uma de suas maiores recessões na história recente, com queda econômica acumulada de quase 7%. Como consequência, em destinos urbanos a demanda hoteleira caiu aproximadamente 20% no país. No entanto, a procura por hotéis de lazer cresceu. E a variável que fez a diferença foi o câmbio, que apresentou uma desvalorização do Real frente ao Dólar de 46% em comparação a 2014.

Sim, dólar alto estimula viagens domésticas pelo Brasil

E isso acontece porque o nosso mercado emissivo internacional é expressivo. São mais de 10 milhões de brasileiros em viagens ao exterior por ano, segundo a OMT. Apenas em 2019, as despesas cambiais do país, registradas pelo Banco Central, chegaram a US$ 17,5 bilhões, o equivalente, em ordem de grandeza, a 20 vezes o faturamento de todo o setor de resorts no Brasil. Qualquer fração pequena de reversão da demanda externa pelo turismo nacional trará importante nova demanda aos hotéis. E segundo o Boletim Focus, o dólar permanecerá próximo a R$ 5 até 2023.

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Substituição de viagens em cruzeiros por resorts também deve ocorrer

Segundo estudos da CLIA Brasil e da Fundação Getúlio Vargas, antes da pandemia 62% dos cruzeiristas já afirmavam poder substituir sua viagem por um resort ou um hotel de luxo. Com a crise sanitária, a necessidade de distanciamento social e o dólar alto, é natural que ao menos em curto prazo parte dos mais de 400 mil brasileiros que viajaram em cruzeiros na temporada passada opte por viagens terrestres domésticas.

Segmento de lazer deverá liderar a recuperação da hotelaria no Brasil

Crescimento econômico em médio prazo também estimulará o turismo nacional

Para além do dólar alto e da priorização das viagens domésticas, a expectativa dos analistas econômicos é de retomada de crescimento da economia a partir de 2021, próximo a 3,5% ao ano. O reaquecimento da produção no país e a intensificação da agenda reformista devem melhorar o ambiente de negócios e a propensão de consumo a turismo da população. O Brasil é um país em desenvolvimento, com demanda ainda abaixo do seu potencial.

Em médio prazo, setor aéreo voltará a crescer

Até o início do ano, o apetite de novas cias aéreas pelo Brasil aumentava. Novas rotas foram anunciadas, aeroportos privatizados e o mercado aéreo aberto a maior competição. O horizonte vislumbrado era de entrada de novas empresas, maior atenção a gargalos estruturais no país e uma expectativa de crescimento de demanda e barateamento das passagens em médio prazo. A crise traz um grande freio a parte dos avanços, mas certamente não os descarta definitivamente. O processo de aumento da competitividade e da movimentação aérea no país voltará a crescer a partir do controle definitivo da pandemia.

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Mas e os resorts? O que se esperar para os próximos anos?

Assim como em todas as atividades do turismo, o período de “travessia” até o segundo semestre de 2021 não será fácil. Apesar das reservas já sinalizarem ocupações próximas a 50% em resorts nacionais no final de 2020, os custos operacionais do setor são altos e a volatilidade ainda é presente. Contenção de gastos e atenção total ao caixa seguem fundamentais até o controle definitivo da pandemia.

As boas notícias são que a recuperação já começou e deve se intensificar quando o ambiente sanitário for mais favorável. O macroambiente será mais propício a viagens domésticas, e os resorts deverão viver um novo horizonte de melhoria de performance nos próximos anos. Vejamos as principais oportunidades e os pontos de atenção relacionados ao setor.

Oportunidades
  1. Volume de reservas pela Omnibees já supera 60% do total transacionado no pré-pandemia

A recuperação já começou. Há sinais claros de demanda reprimida de lazer no país e a procura por resorts se intensificou nas últimas semanas. Procura é maior para o último trimestre de 2020 e para o período de férias de verão.

  1. Resiliência em preços pode abreviar a recuperação do setor

A recuperação total de RevPAR, pela média móvel de 12 meses, pode ocorrer até o primeiro semestre de 2022 caso não haja guerras de preço. Não apenas gestão de custo, mas também de receita são fundamentais para aproveitar a recuperação do setor.

  1. Aumento das vendas diretas pode ser um legado positivo da pandemia

As dúvidas sobre a reabertura das propriedades e sobre os novos protocolos operacionais aumentaram a comunicação entre os resorts e o consumidor final. Consolidar esse relacionamento para o pós-pandemia é essencial para o aumento das vendas diretas no setor.

  1. 2022 em diante com desempenho acima de 2019

Passada a tempestade, dias melhores virão. As dúvidas são: como aproveitar o horizonte mais positivo em médio prazo? Quais reinvestimentos são necessários? Como estruturar as equipes e os processos para aumentar o potencial de recuperação nos próximos anos?

  1. “Estoque de eventos” dará impulso à recuperação

Após o início da pandemia, apenas 1/3 dos eventos contratados nos resorts foram cancelados. Com a normalização do ambiente sanitário, espera-se que os 2/3 adiados ajudem na recuperação do setor de forma mais imediata. Propriedades com facilidades logísticas, próximas a grandes centros urbanos, serão as primeiras a reaquecer.

Segmento de lazer deverá liderar a recuperação da hotelaria no Brasil
Pedro Cypriano: “A recuperação total de RevPAR, pela média móvel de 12 meses, pode ocorrer até o primeiro semestre de 2022 caso não haja guerras de preço” – Foto – Divulgação
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 Pontos de atenção
  1. Equilíbrio operacional mais claro apenas no final do ano

Com o fim das medidas de alívio de custo operacional, o setor precisará de maior volume de demanda para equilibrar as suas contas, o que é mais provável no final do ano, caso as perspectivas de reservas se concretizem. Atenção total ao caixa continua fundamental.

  1. Cancelamentos de reservas ainda é alto

É verdade que as reservas vêm crescendo semana após semana. No entanto, os cancelamentos continuam altos. A intensificação das quedas de novos casos diários e de óbitos da Covid é fundamental para que a confiança do consumidor continue crescendo e a procura se converta em ocupação nos resorts.

  1. Potencial de lucro operacional ainda modesto em 2021

Segundo os especialistas da área da saúde, é provável que o controle total da Covid se estenda até o final do próximo ano. Logo, restrições de ocupação podem prevalecer ao menos até o primeiro semestre de 2021. Recomposição das reservas, pagamento de dívidas e alavancagem operacional trarão resultados modestos em curto prazo.

  1. Cenário conservador não está descartado

Acreditamos que os cenários moderado e otimista são os mais prováveis, e torcemos por eles. No entanto, a volatilidade no mercado é alta e existe um claro risco de novas ondas de contágio e/ou de atraso no controle da doença. É importante que estejamos preparados.

  1. Mudanças de hábito podem afetar o setor?

O maior risco talvez esteja vinculado aos eventos e a uma possível migração parcial a atividades online. O que requer pesquisas adicionais e precisa ser acompanhado de perto. Por ora, sabe-se que entre os resorts, aqueles próximos a grandes emissores de demanda serão os primeiros a iniciarem a recuperação dos eventos.

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Sinais de melhoria

Em setembro, iniciaram os sinais de melhoria do ambiente sanitário no Brasil. A média móvel de novos casos e de óbitos pela Covid-19 finalmente começou a cair. Pouco a pouco, a confiança nas viagens está retomando e, mantida a tendência de controle gradual da pandemia, a recuperação do turismo ganhará força, liderada pelo turismo de lazer no país.

Até o final de 2021, esperam-se ocupações mais próximas aos valores pré-pandemia, especialmente no segundo semestre. Um horizonte mais sólido e positivo nos aguarda a partir de 2022. Até lá, sigamos com os cintos apertados e muito atentos a todos os sinais de evolução da Covid e do turismo nacional.

Acesse o estudo completo para mais dados e análises sobre a recuperação dos resorts no Brasil em:

https://hotelinvest.com.br/hotelinvest-publica-estudo-sobre-a-recuperacao-dos-resorts-no-brasil

*Pedro Cypriano é Managing Partner da Hotelinvest – Contato – pcypriano@hotelinvest.com.br

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Edgar J. Oliveira

Diretor editorial - Possui 31 anos de formação em jornalismo e já trabalhou em grandes empresas nacionais em diferentes setores da comunicação como: rádio, assessoria de imprensa, agência de publicidade e já foi Editor chefe de várias mídias como: jornal de bairro, revista voltada a construção, a telecomunicações, concessões rodoviárias, logística e atualmente na hotelaria.

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