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P.O e os desafios na retomada dos eventos no Brasil

Paulo Octavio Pereira de Almeida, conhecido no mercado de eventos como P.O é um profissional com larga vivência no formato de eventos Corporativos, Entretenimento e Foco em negócios. Em março do ano passado ele deixou o cargo de Vice-presidente executivo da Reed Exhibitions Brasil e montou a Live Marketing Consultoria e aposta muito nos eventos híbridos na retomada do setor.

Nessa entrevista P.O comenta como se dará a retomada de eventos no Brasil, a relevância que as feiras e eventos deverão ter a partir da COVID-19.  A aprovação do PERSE – Programa Emergencial de Retomada do Setor de Eventos que dará um socorro ao setor de eventos também é analisada por P.O, assim como o legado que a pandemia deixa para a indústria dos eventos. Confira nessa entrevista exclusiva. 

Revista Hotéis Em março do ano passado você deixou o cargo de Vice-presidente executivo da Reed Exhibitions Brasil e montou uma consultoria. O que o motivou a tomar essa decisão e como está sendo esse novo desafio profissional?

Paulo Octavio Pereira de Almeida – Depois de quase nove anos no time de liderança da Reed Exhibitions mais um ciclo foi cumprido na minha opinião. Os primeiros dez anos da minha carreira foram na Unilever onde aprendi muito sobre marketing, vendas e bastante sobre eventos corporativos. Os próximos dez anos me dediquei ao entretenimento ao vivo atuando em empresas como Time For Fun, Dream Factory e XYZ Live nas quais aprendi bastante sobre eventos B2C com foco em entretenimento. A ida para a Reed tinha como objetivo complementar a minha vivência em eventos, desta vez com foco em B2B através de Feiras com foco na geração de negócios. Portanto após vivenciar os três grandes formatos de eventos que existem, Corporativos, Entretenimento e Foco em negócios e minha vontade em voltar a estudar, resolvi que a minha consultoria seria o melhor formato. Desde julho, do ano passado, estou cursando um Mestrado Profissional em Administração de empresas na Fundação Dom Cabral em Belo Horizonte. Meu desejo além de ser consultor do setor de live de marketing é dar aulas no futuro. As mudanças no setor serão profundas e creio que toda esta minha vivência pode ajudar a chegarmos no formato ideal. Eu acredito muito nos eventos híbridos. 

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R.H – Na sua opinião as medidas adotadas pelos governantes proibindo a realização de feiras e eventos para evitar aglomerações foram assertivas ou alguns eventos poderiam acontecer seguindo os protocolos?

P.O.P.A – Temos que colocar esta situação em perspectiva. Nos momentos de pico da pandemia (julho/agosto 2020) e agora (março/abril 2021) qualquer tipo de evento deveria ser evitado pela segurança sanitária de todos os envolvidos. Mas partindo do pressuposto que existem protocolos seguros, como os que demonstramos ao vivo ao mercado durante a Expo Retomada em outubro do ano passado, eu acredito que os eventos B2B (foco na geração de negócios) deveriam ter tido um tratamento diferente por parte dos 3 níveis governamentais. Eventos B2B são indutores da economia e não indutores de aglomerações. Eventos B2C por outro lado dependem das aglomerações e os organizadores deste formato souberam readequar os seus calendários a partir das expectativas dos participantes. Com a ampliação da vacinação em todo o país, a percepção de segurança sanitária irá retornar aos poucos e os eventos B2B irão retornar primeiro e logo depois os eventos B2C. Eventos presencias fazem parte da característica humana de sermos gregários. Nunca vão deixar de acontecer.

“Creio que a partir de setembro teremos a realização de eventos presenciais”

R.H – Muitas feiras que estavam programadas para acontecer no ano passado também foram adiadas nesse primeiro semestre. O que reserva o segundo semestre desse ano para as feiras no Brasil? Haverá a confiança para as visitas?

P.O.P.A – Com a ampliação da campanha de vacinação, tenho certeza que a confiança sanitária de toda a população irá se recuperar, agora é uma questão de tempo. Em 2020 quando não existia a vacinação das pessoas a incerteza era maior. Organizadores de eventos já anteciparam a esta nova percepção e alteraram os seus calendários com adiamentos para o 2º semestre. Infelizmente o 1º semestre de 2021 foi uma extensão do ano de 2020. Creio que a partir de setembro teremos a realização de eventos presenciais, com um público naturalmente menor dos que nos outros anos, e voltaremos a um “quase normal” durante o ano de 2022. Lembrando que 2022 é um ano de calendário cheio com Eleições e Copa do Mundo no 2º semestre e este tipo de ano favorece e muito o setor de eventos como um todo. O pior da pandemia já passou na minha opinião. 

R.H – Muitos especialistas já alertavam antes da pandemia para o número excessivo de feiras que aconteciam no Brasil e que não havia público e expositores para tantos eventos. Como você analisa essa questão? Algumas dessas feiras podem se fundir ou mesmo acabar?

P.O.P.A – O setor de feiras não sofre do excesso de eventos. Sofre de queda de relevância de alguns eventos específicos. A questão não é quantitativa e sim qualitativa. Quando um setor com baixo índice inovação que organiza uma feira a cada dois anos, a última edição foi em 2018, a de 2020 foi obviamente cancelada e a próxima edição viável deve acontecer em 2022, portanto quatro anos depois da realização da última edição presencial. As empresas expositoras, entretanto não ficaram sem vender nada nestes quatro anos, buscaram outros formatos. Agora a questão é a relevância de um evento bianual. Vale a pena voltar? Alguns eventos essa questão é respondida com um sonoro sim, em outros a resposta é um talvez. Neste caso a situação é negativa. Tudo depende da postura do organizador do evento e do nível de inovação que existe naquele setor específico. Eu já organizei um evento que o ciclo era trianual (a cada três anos tinha uma edição). Lógico que este evento não existe mais. Quanto a fusão de feiras eu acredito que temos que analisar se são feiras do mesmo setor. Somente neste caso as fusões podem acontecer na minha opinião. 

R.H – Quais são as incertezas que rondam o setor de eventos no Brasil hoje? A vacinação em massa da população será decisiva para a retomada?

P.O.P.A – A situação da vacinação já está equacionada na minha opinião. O tempo de duração desta ação é que ainda apresenta fatores de dúvidas. Acredito que as principais incertezas em relação ao setor de eventos estão relacionadas a capacidade financeira de muitas empresas (organizadores e fornecedores destas empresas), pois o choque de queda de faturamento foi brutal. Acima de 80/90% em alguns casos. Estes empresários precisam retornar a crer na viabilidade dos seus negócios. Portanto existe uma crise de credibilidade geral no setor. Outro ponto é que várias empresas experimentaram eventos virtuais e outros formatos durante a pandemia e nestes casos o cálculo do ROI é mais visível. Os organizadores de feiras de negócio precisam esquecer a quantidade de visitantes como a principal argumentação de vendas. Agora o foco tem que ser na qualidade e na comprovação do ROI. Aqueles que não entenderem esta dinâmica vão fechar as portas.

“O setor de eventos deve ser visto como um impulsionador da economia e não um gerador de aglomerações”

R.H – O Presidente Bolsonaro sancionou a lei que regulamenta o Programa Emergencial de Retomada do Setor de Eventos, mas houve vários vetos. Na sua opinião, esses vetos podem impactar a retomada? E no que essa lei pode beneficiar o setor?

P.O.P.A – Eu acredito que parcelamento e renegociação de impostos para as empresas impactadas no setor é um bom primeiro passo, mas nunca deve ser visto como o único ou último. Quem não faturou nada não paga impostos certo? Essa deveria ser a lógica, mas em alguns casos não é bem assim. O setor de eventos é reflexo de uma economia, de uma região, de um país. Uma empresa que organiza uma convenção de vendas sempre tem novidades para apresentar, essa é a dinâmica. Se não existem convenções acontecendo pode ter certeza que o número de lançamentos de novos produtos diminuiu. É uma relação direta. Os três níveis governamentais têm responsabilidade na recuperação do setor. A credibilidade vai retornar com certeza, mas o setor deveria ser visto como um impulsionador da economia e não um gerador de aglomerações. 

R.H – Você foi o idealizador da Expo – Retomada, quais foram as principais ideias que você teve para organizar esse evento no “novo normal”?

P.O.P.A – A principal ideia que tivemos (eu e o Fernando Lummertz outro co-criador do evento) foi que precisaríamos mostrar de maneira isenta como todos os protocolos sanitários poderiam atuar a favor da indústria de eventos. Se o evento fosse feito por uma das associações do setor (a de feiras / a de hotéis / etc.) não seria tão representativo e democrático quando a nossa iniciativa foi. Envolver toda a cadeia de eventos foi o grande diferencial do evento.

“O futuro dos eventos é híbrido, a tecnologia é aliada e não inimiga”

R.H – Todos os setores foram impactados com a pandemia, mas assim como o turismo, a indústria dos eventos sofreu demais com a paralisação. Como você enxerga os próximos meses?

P.O.P.A – O retorno das atividades presencias (e as viagens ao redor deles) só retornam mesmo com a segurança sanitária (vacinas) totalmente regularizada. É como a pirâmide das hierarquias de Maslow, os níveis superiores (auto estima) só são acionados quando os níveis inferiores (segurança/saúde) estão preservados. Portanto o ano de 2021 até o Q3 deve ser impactado negativamente. A partir de setembro e com certeza em 2022 as atividades presenciais irão retornar. Mas atingir níveis de 2019 pré pandemia creio que leva mais tempo. Por outro lado, o aprendizado generalizado do setor em relação aos eventos virtuais, que “bombaram” durante a pandemia mostra que a busca por um ROI efetivo para os eventos é algo mandatório e muito preocupante. 

R.H – Dá para pensar e projetar eventos como antigamente? Com a possível retomada dos eventos (presencial), você acha que os eventos online ainda vão continuar em alta?

P.O.P.A – Quando surgiu o videocassete falaram que o cinema iria acabar. Daí veio o DVD e falaram de novo. Quando chegou a Netflix falaram mais uma vez. Meu ponto é que a tecnologia não é substituta e sim proporciona evolução. Eventos presenciais terão sempre o seu espaço, mas muitos eventos que migraram para este formato durante a pandemia não retornam a ser presenciais. O futuro é híbrido, a tecnologia é aliada e não inimiga.

P.O e os desafios na retomada dos eventos no Brasil
Hoje em dia, se pode participar de uma feira de forma virtual (Foto: Gerd Altmann por Pixabay) 

R.H – Qual é o legado que a pandemia deixa para a indústria dos eventos?

P.O.P.A – Com certeza o legado virtual, descobrimos que podemos fazer muitas coisas das nossas casas (quase tudo). Para você sair da sua casa o motivo tem que ser forte e relevante, as questões de Relevância/Tema/Experiência ganham uma enorme magnitude neste novo cenário por pandemia. 

R.H – Quais são os principais desafios a serem vencidos?  E quais dicas você daria para os organizadores de eventos?

P.O.P.A – Saber mostrar o ROI dos eventos presenciais. No virtual é tecnologicamente mais fácil mostrar isso. Se reinventem. Pense que organizadores de eventos sempre atuaram em uma dimensão (presencial) e agora precisam atuar em várias dimensões. Os filósofos chamam essas dimensões de Metaverso. Evento não é mais follow up em uma planilha de atividades. É agora principalmente saber atuar com os desejos e necessidades dos frequentadores/visitantes dos eventos. Aqueles que não fizerem isso vão desaparecer. Para engajar e reter público daqui em diante é necessário relevância, relevância e relevância. E uma ótima experiência o mais personalizada possível. Simples assim!

P.O e os desafios na retomada dos eventos no Brasil
A pandemia acelerou a preferência por eventos e reuniões on line (Foto: rawpixel.com – Freepik) 

R.H – E o setor hoteleiro, também precisa se reinventar?

P.O.P.A – O setor com foco em turismo já vem trabalhando neste conceito de experiência já faz algum tempo. Novas demandas (como atrair os Nômades Digitais) também estão sendo atendidas. Minha análise é que o setor hoteleiro focado em turismo de negócios será o mais impactado. Saber criar opções tipo “work+leisure” pode ser uma saída. Teremos menos viagens de negócios curtas (1 viagem para fazer uma reunião somente) e saber capturar essa tendência eu acho que é fundamental para este setor focado nas viagens de negócios. 

R.H – Com os eventos remotos, você acha que os hotéis vão ter que pensar em estratégias novas para conseguir esse público de novo? Por onde começar?

P.O.P.A – Criando oferta híbridas. Uma parte da reunião presencialmente no hotel e outra parcela estará virtualmente por aí. Hotéis precisam transformar as salas de reunião em “estúdios que possibilitam reuniões”. 

R.H – O que podemos aprender com os outros países?

P.O.P.A – Que o setor de eventos não pode ser visto somente como um gerador de empregos e impostos (com certeza é) e sim principalmente como um indutor de crescimento econômico. Infelizmente aqui no Brasil os governos (de todos os 3 níveis) ainda tem uma visão parcial do setor. Não sabem a diferença entre um evento B2C e outro B2B. Durante a pandemia todos foram classificados como aglomerações.

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Edgar J. Oliveira

Diretor editorial - Possui 31 anos de formação em jornalismo e já trabalhou em grandes empresas nacionais em diferentes setores da comunicação como: rádio, assessoria de imprensa, agência de publicidade e já foi Editor chefe de várias mídias como: jornal de bairro, revista voltada a construção, a telecomunicações, concessões rodoviárias, logística e atualmente na hotelaria.

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