Multipropriedade corre risco com a entrada de “aventureiros”

Alguns players estão entrando no principal modelo de expansão da hotelaria brasileira de forma abusiva, vendendo frações sem registro de incorporação imobiliária ou mesmo com a promessa de ser um produto de rentabilidade

Muitas pessoas devem conhecer o ditado popular: “Devagar com o andor, o santo é de barro”. Esse cuidado se explica pelo fato de que o andor (instrumento em forma de padiola portátil geralmente de madeira e ornamentada utilizada em cortejos religiosos) pode estar podre ou comprometido pela ação dos cupins. E se a procissão seguir rápida, chacoalha o andor e o santo que é feito de barro cerâmico, pode cair no chão e se quebrar e ai acaba a procissão. Esse ditado serve perfeitamente no mundo dos negócios para quando alguém está indo além do razoável como está acontecendo no modelo da multipropriedade. Como essa é a principal alavanca para a construção de novos hotéis e um dos melhores negócios da construção imobiliária no Brasil, pois é possível vender um mesmo apartamento para até 52 donos, muitas empresas resolveram entrar. Desde 2018, o crescimento médio anual de lançamentos de nos empreendimentos é de 24% ao ano. Um cenário tão promissor, que é regulamentado pela Lei 13.777/2018 e que gerou um VGV – Valor Geral de Vendas em mais de R$ 28 bilhões no ano passado, conforme dados da Caio Calfat Real Estate, merece atenção para que continue crescendo de forma saudável e sustentável.

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A multipropriedade turística tem possibilitado a centenas de milhares de famílias o sonho da casa de férias. É, portanto, um produto eminentemente de lazer voltado para o uso, não cabendo o argumento de venda para rentabilidade. Produtos de rentabilidade, seja ela fixa ou variável, são regulamentados pela CVM – Comissão de Valores Mobiliários e precisam ser autorizados por ela. Qualquer publicidade de empreendimentos fracionados nesse sentido deve ser combatida, já que não é a finalidade do produto. Mas o que está se vendo no mercado são algumas empresas que mesmo sem saber como funciona, estão entrando nesse negócio preocupadas somente com o lucro e cometendo um crime bastante sério. Nem sequer registro de incorporação possuem e esse é um documento essencial, pois garante que a construção de um imóvel está de acordo com os parâmetros da lei e devidamente validado para venda. Se a ação de venda e entrega do que foi prometido não deixar os investidores contentes, é simples, essas empresas aventureiras pelo lucro saem do negócio e vão procurar outras formas mais rentáveis, ou no linguajar popular, o pega bobos. E quem perde com isso são os players sérios que atuam nesse segmento e macula muito a imagem dessa alavanca de recursos hoteleiros, como aconteceu com o modelo condo hotel na época da Copa do Mundo e Olimpíadas no Brasil. Basta ir na região da Barra da Tijuca no Rio de Janeiro, em Belo Horizonte ou em outras granes capitais e ver o estrago que muitas construtoras e incorporadas fizeram e desapareceram. Com isso, houve muitos investidores lesados e a justiça está abarrotada de processos para julgar e tentar encontrar os culpados.

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Edgar J. Oliveira

Diretor editorial - Possui 31 anos de formação em jornalismo e já trabalhou em grandes empresas nacionais em diferentes setores da comunicação como: rádio, assessoria de imprensa, agência de publicidade e já foi Editor chefe de várias mídias como: jornal de bairro, revista voltada a construção, a telecomunicações, concessões rodoviárias, logística e atualmente na hotelaria.

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