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Fim do parcelamento sem juros impacta negativamente o turismo

Artigo de Walter Teixeira*

Tive a oportunidade de ser um dos protagonistas no momento do impulso que o pagamento com cartões de crédito teve no setor de viagens e turismo, nos anos 90*. Naquela época a inflação era estratosférica – chegou a mais de 80% num único mês em 1990. Imaginem que as cias. Aéreas, hotéis e todos os outros estabelecimentos do setor, recebiam os valores após 30 dias da data da compra. O valor recebido valia quase a metade do que no momento da venda.

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(*) Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.

Era praticamente impossível aceitar cartões de crédito, mas as empresas que tinham atuação mundial, como as companhias aéreas, locadoras e principalmente os hotéis de redes internacionais, não podiam abandonar esse meio de pagamento, pois os viajantes internacionais tinham o plástico na carteira e politicas corporativas de uso. A alta inflação, que perdurou por 10 anos no Brasil, impediu temporariamente a expansão deste meio de pagamento no Brasil. Mas com a estabilização da moeda, em 1995, o volume que estava represado, começou a fluir e crescer.

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Com o Plano Real, os bancos passaram a expandir suas bases de cartões, oferecendo crédito e um meio de pagamento “moderno” para milhões de brasileiros, assumindo outro patamar de risco de crédito. Juntamente com a expansão da base de clientes, os Bancos – Foi quando os pagamentos parcelados apareceram. O pagamento parcelado “com juros”, onde o próprio banco financiava o crédito do consumidor, era o principal modelo utilizado internacionalmente. Lembrando que na época os Bancos eram emissores de cartões (ou seja, ofereciam crédito) e adquirentes (ou seja, se relacionavam com os estabelecimentos) ao mesmo tempo. Dessa forma, começaram a testar novas formas de compras.

Fim do parcelamento sem juros impacta negativamente o turismo
O pagamento parcelado é um grande estímulo as viagens – (Foto: Pixabay/JoshuaWoroniecki)

O que pegou mesmo no Brasil foi o pagamento “sem juros”, que é o que se discute hoje. Neste modelo, o estabelecimento majorava seu preço embutindo nas parcelas o custo do dinheiro e recebia o pagamento também em parcelas. Sem o risco de crédito, que era do banco. As companhias aéreas usaram muito esse modelo para impulsionar suas vendas, que persiste até hoje. Mas as operadoras foram as quem mais se alavancaram em cima desse conceito.

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Com o tempo, outras funcionalidades apareceram. Estimulados pela venda crescente com cartões, os bancos antecipavam os valores futuros e o cálculo financeiro entrava na maquininha calculadora das operadoras e dos resorts, para compor o preço de venda. Apareceram empresas de factoring, auxiliavam estes estabelecimentos, faziam o cálculo do preço, intermediavam a antecipação e ficavam com parte do resultado, inclusive para pagamento com boletos.

Na esteira dos bons resultados comerciais, a American Express e depois a Credicard, lançaram a operação de parcelamento em dólares. Ao governo e aos cartões, interessava regularizar a venda em dólar, que por muito tempo ficou no limbo da ilegalidade. A Amex foi a primeira administradora a lançar a venda em dólares, também com o parcelamento, que era indexado na data do fechamento da fatura do cliente. O mercado de Operadoras adorou a novidade e aderiu prontamente.

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A Credicard, que na época era uma empresa administrada pelo Citibank, em parceria com o Itaú e Unibanco, tinha uma base muito maior de clientes no Brasil e surfou essa onda junto com as operadoras. As vendas explodiram. Em 2015 o modelo de full-adquirencia foi implementado pelo Banco Central, acabando com a exclusividade entre bandeiras de cartões de crédito e adquirentes, mas as vendas parceladas sobreviveram. Neste momento os adquirentes não tinham mais nada a ver com o risco do crédito, que ficaram com os bancos emissores, como tinha que ser.

Fim do parcelamento sem juros impacta negativamente o turismo
Planejando a próxima viagem internacional | Crédito: iStock

Agora a inadimplência está incomodando muito os bancos, o governo e principalmente os consumidores, que estão atolados nas faturas dos cartões. Sim, cartões, porque o mesmo consumidor tem alguns cartões, multiplicando seu volume de crédito. Os juros do cartão têm relação direta com o grau de inadimplência, ou seja, quanto mais inadimplência tiver, maiores os juros para bancar esse risco. O turismo é parte de um todo, onde entra o endividamento por compras de eletrodomésticos, bens duráveis, gastos em restaurantes e o não pagamento da fatura do banco que concedeu o crédito para os consumidores.

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A oferta de crédito de forma parcelada, sem juros, certamente é um grande estímulo ao consumo, também no turismo. O setor deve se organizar para participar e influenciar esse debate. Os hotéis, principalmente os que atuam no segmento de lazer, também devem calcular o impacto que tem nesse modelo de venda.

Por exemplo, uma consulta rápida na internet neste momento, mostra que a Decolar vende seus produtos em 15 parcelas sem juros, a Rio Quente em 18 parcelas, a CVC vende resorts em 10 parcelas sem juros, a Expedia parcela em 12 vezes. Ou seja, uma mudança de politica vai afetar não só a politica comercial dos hotéis, mas também sua relação com os intermediários da cadeia produtiva. O que acontecerá se o Banco Central impedir ou alterar essa forma de pagamento? É um assunto importante, certamente o setor deve se organizar para debater e trazer propostas à mesa.

*Walter Teixeira, é Consultor na empresa TXC.  

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Edgar J. Oliveira

Diretor editorial - Possui 31 anos de formação em jornalismo e já trabalhou em grandes empresas nacionais em diferentes setores da comunicação como: rádio, assessoria de imprensa, agência de publicidade e já foi Editor chefe de várias mídias como: jornal de bairro, revista voltada a construção, a telecomunicações, concessões rodoviárias, logística e atualmente na hotelaria.

Um Comentário

  1. Os bancos, por sua vez as administradoras de cartões não dão, nem nunca darão ponto sem nó… ou seja, a argumentação dos bancos e adm de cartoes e manter os juros altos cobrados dos clientes sem “justificam” em funçao do alto indice de inadimplência, o que é um contra senso uma vez que, os chamados bons pagadores nunca são beneficiados por esse “status” uma vez que a taxa é praticamente uniforme para todos e balizada pelos “maus pagadores”. O Governo agora quer se mostrar interessado em “ajudar” a massa e controlar o indice de individamento das empresa, algo pouco provavel uma vez que esse setor é fortissimo no LOBBY e interfere diretamente na rentabilidade dos negocios dos bancos e adm de cartoes. Ao meu ver, é uma miopia achar que o nivel de juros cobrados pelos banco esteja diretamente ligado com aquele consumidor que realiza o parcelamento em 5 ou 12x no cartão de credito, ainda mais por que, se voce parcela em 3x 2x ou 12x o banco/adm de cartoes reserva o seu limite de credito para tal finalidade, e com isso voce nao consegue mais fazer compras por nao dispor de limites, talvez neste caso, como todas as familias estao com inumeros outros compromissos financeiros e por sua vez nao consigam realizar o pagamento em dia de suas despesas, acabam-se colocando numa roleta russa de juros altos cobrados por Limite do cartao, limite do cheque especial, aumento de tributos e aumento da inflação que nao as permite enxergar alterantivas para renegociar e sanear as contas, colocando assim agora na visao do governo que “somente” o parcelamento do cartao de credito venha ser o vilão da história. Concordo com o Teixeira, o turismo será sim afetado, mas vejo que todos os outros setores também serão pois o brasileiro para conseguir adquir bens e serviços infelizmente não tem o habito de realizar planejamento na sua grande maioria, cabendo assim fazer o carne, ou neste caso o parcelamento em 12x para visitar os parentes em partes do brasil ou entao fazer a tão sonhada viagem de férias com a familia paga parceladinha….

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