Retomada do setor hoteleiro passa pelo crescimento da tarifa
A HotelInvest possui mais de 23 anos de atuação no segmento hoteleiro oferecendo soluções que compreendem consultoria e assessoria estratégica e englobam desde a fase da ideia inicial de investimento em hospitalidade até a operação dos empreendimentos e das empresas hoteleiras. Em parceria com o FOHB divulgou recentemente a 17ª edição do Panorama da Hotelaria Brasileira que apontou que o setor começou a ver o impacto da COVID-19 pelo retrovisor.
Entre outros pontos importantes revelados por esse estudo, está a retomada do crescimento das tarifas para devolver rentabilidade para os investidores e diminuir a distância que ainda existe entre valor e o custo de construção de novos empreendimentos. Os 108 novos hotéis no pipeline das redes hoteleiras no Brasil até 2027 com investimento de R$ 5,7 bilhões também é destaque nesse estudo.
A perda de espaço do condo hotel no modelo de negócios para a expansão da hotelaria nacional, se investir em hotelaria ainda é rentável e o crescimento do modelo Short-Term Rentals também são apresentados nessa entrevista com Cristiano Vasques, Sócio-diretor da HotelInvest. Confira com exclusividade.
Revista Hotéis — Como a HotelInvest enxerga o mercado hoteleiro e que soluções apresentam ao setor?
Cristiano Vasques — A HotelInvest vê a hotelaria como negócio e temos soluções de consultoria e assessoria estratégica que englobam desde a fase da ideia inicial de investimento em hospitalidade até a operação dos empreendimentos e das empresas hoteleiras. De hotelaria urbana ao mercado de lazer, temos uma experiência relevante, compreendendo mais de 23 anos de atuação.
R.H — A HotelInvest lançou recentemente, em parceria com o FOHB – Fórum de Operadores Hoteleiros do Brasil, a 17ª edição do Panorama da Hotelaria Brasileira. Como foi realizada essa análise e qual foi a metodologia adotada?
C.V — Nós publicamos o Panorama desde 2008 e mais recentemente fizemos uma parceria com o FOHB para ampliar a base de dados, incluindo mais cidades e empreendimentos. A última edição foi realizada ao longo do 1º trimestre pela nossa equipe de consultoria, que também desenvolveu a nova ferramenta interativa através do Power BI. Trata-se do registro e análise do histórico recente do desempenho hoteleiro nas principais cidades brasileiras, além de um levantamento da nova oferta em desenvolvimento de hotéis urbanos pelas principais redes atuando no País.
R.H — Quais foram os principais pontos apresentados nessa análise e como ela pode contribuir para tomada de decisão e negócios para o segmento?
C.V — Acho que o principal ponto é que estamos começando a ver o impacto da COVID-19 pelo retrovisor. Muitas cidades ainda não atingiram os patamares de receita por quarto de 2019, ajustados pela inflação, mas isso se dá pelos resultados do 1º trimestre de 2022, ainda afetados pela variante ômicron. Isso ajuda a gerentes, donos de hotéis e empresas hoteleiras a entenderem o que acontece no mercado de forma mais ampla e a se posicionarem para tornar seus negócios mais rentáveis.
R.H — Essa análise mostrou que o desempenho dos hotéis está muito próximo de 2019. Isso demonstra que todos os transtornos da pandemia da COVID-19 já foram superados. O que podemos esperar de resultados para esse ano e nos próximos que virão?
C.V — Sim, de fato a curva dos últimos meses de 2022, bem como os dados preliminares de 2023, indicam que nosso objetivo agora é outro: retomar o crescimento das tarifas para devolver rentabilidade para os investidores e diminuir a distância que ainda existe entre valor e o custo de construção de novos empreendimentos. Sem isso, a outra informação relevante do estudo, a diminuição do número de novos hotéis em desenvolvimento, não acontecerá tão cedo. Assim, acho que a expectativa principal é essa, termos ganhos reais de tarifas e lucros. Isso permitirá, por exemplo, retomar reformas e a renovações de hotéis.
“O mercado hoteleiro é resiliente e se renova e adapta quando preciso”
R.H — Alguns indicadores do mercado apontam que o número de viagens corporativas devem diminuir em razão das tecnologias implantadas na pandemia e o custo das passagens aéreas. Você acredita que isso poderá se concretizar e impactar os hotéis de público corporativo. Os destinos independentes ou mesmo de lazer podem sobressair e compensar as perdas?
C.V — É curioso, mas o mercado hoteleiro é resiliente e se renova e adapta quando preciso. As pessoas gostam e precisam viajar, a lazer ou trabalho. Conexões pessoais continuam fundamentais e a indústria arranja formas de fazer isso acontecer. Temos visto um incremento muito grande no número e no público de todos os tipos de eventos: sociais, culturais, esportivos, religiosos e corporativos. Penso que se menos viagens de negócios estão acontecendo, mais eventos de conexão, cultura empresarial, relacionamento com clientes estão ganhando força e público. Além disso, vemos que as viagens de lazer continuam com muita força, mesmo que exista uma necessidade de ajustar a distância e o modal da viagem, elas continuam acontecendo.
R.H — Essa análise apontou que existem 108 novos hotéis no pipeline as redes hoteleiras no Brasil até 2027 com investimento de R$ 5,7 bilhões. Esse resultado ficou dentro da margem esperada? E o que se conclui a respeito?
C.V — Dadas todas as dificuldades de viabilização de novos projetos, acredito que a queda era amplamente esperada. Diria que as principais razões para isso são o aumento do custo de implantação, dado que a alta do INCC foi maior que a da inflação e dos resultados hoteleiros, e do custo de oportunidade – aqui influenciado pela SELIC. No entanto, foi até menor que nossa expectativa. Na prática, muitos empresários continuam interessados em desenvolver hotéis, mas adiam ou revisam seus projetos.
R.H — O condo hotel ainda permanece como o principal modelo de negócios para esses novos investimentos? E que são esses investidores?
C.V — Vem perdendo espaço para investimentos patrimoniais de grupos empresariais, como era de se esperar. Mas ainda há apelo em regiões onde há muita liquidez e dinamismo urbano, como o cinturão do agronegócio que vai do interior dos estados do Sul até o Centro-Oeste.
“Enquanto o volume de nova oferta de Short-Term Rentals não for tão significativo, acredito que o modelo irá complementar a oferta hoteleira típica”
R.H — Na sua opinião, investir no segmento hoteleiro é seguro e rentável? E quais os principais gargalos existentes no setor, e como resolvê-los?
C.V — Há uma dificuldade de fundo que é importante atentar. Hotelaria é intensiva em capital e o retorno se dá em longo prazo. O problema é que o Brasil, historicamente, tem muita volatilidade e o futuro é ainda mais imprevisível que em outros países. Isso torna o cenário mais desafiador. No entanto, esse cenário é assim desde que eu entrei na indústria, há mais de 20 anos. Dito isso, acho que é mais uma questão de estruturar projetos pertinentes, bem conceituados, bem localizados, em regiões dinâmicas e a custos adequados. Isso é um seguro contra as intempéries que, no Brasil, sempre acontecem.
R.H — Tem várias administradoras que já adotaram o modelo Short-Term Rentals (aluguel por curto prazo), mas algumas ainda resistem alegando ser uma ameaça a hotelaria tradicional? Que análise você faz?
C.V — Nós estudamos esse mercado e fizemos uma publicação sobre o assunto em novembro do ano passado. Acredito que é uma adequação às mudanças do mercado, tanto do ponto de vista das expectativas da demanda quanto uma resposta ao surgimento de novos modelos de negócio. A princípio, ao menos na cidade de São Paulo, não há elementos suficientes para dizer que impacta a hoteleira. Ao contrário, parecer ter induzido nova demanda e criado mercado. Em alguns lugares há uma febre de novos projetos, pois não precisam passar por CVM – Comissão de Valores Mobiliários e são mais simples de desenvolver que hotéis. Enquanto o volume de nova oferta não for tão significativo, acredito que o modelo irá complementar a oferta hoteleira típica. Mas certamente irá força-la a fazer ajustes e a evoluir.
R.H — Na sua opinião, que contribuição o governo poderia dar para alavancar o setor hoteleiro. É utópico o setor esperar linhas de financiamento público se no Brasil?
C.V — Acho que ajuda com medidas de microeconomia que tornem o ambiente geral mais dinâmico, previsível e seguro. Como comentei anteriormente, a hotelaria é negócio de longo prazo de retorno, então isso seria essencial para melhorar a saúde do setor. Não vejo nada específico que poderia se aplicar exclusivamente à hotelaria.
R.H — Como você analisa o setor hoteleiro no Brasil nos próximos anos? O turismo pode romper em breve a barreira de 6 milhões de visitantes estrangeiros ano?
C.V — Vejo um setor mais profissional e maduro após a COVID-19. Creio que empresários desatualizados vêm perdendo espaço, o que permite um ambiente mais profissional, com mais oportunidades para quem atua na área e mais segurança para os investimentos. Sobre a questão do capital mais qualificado investindo, com proprietários originários do mercado financeiro, isso vai ajudar a aprimorar a gestão dos empreendimentos e dos negócios. Enfim, acredito que tem havido e haverá ainda mais evolução. Sobre a barreira dos 6 milhões, acho que a taxa de câmbio com o dólar a R$ 5 deve fortalecer os destinos domésticos, assim como novos grandes projetos turísticos vinculados ao timeshare e à multipropriedade. Como o tempo acharemos o caminho para trazer o mercado externo de forma mais relevante.