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Hotelaria busca eficiência operacional após sobreviver a pandemia

O pior da pandemia da COVID-19 já passou, porém o volume de transações tem sido impactado negativamente pelas consequências financeiras desse período. Essa situação está sendo agravada pela Guerra da Rússia e Ucrânia. Esse é a análise que faz Ricardo Mader, Diretor de Valuation and Advisory Services da JLL na América Latina. Ele destaca que agora o maior legado que a pandemia trouxe para a hotelaria é saber operar com estruturas de custos mais enxutas. Em relação a construção dos novos hotéis no Brasil, Mader acredita que o modelo de condo hotéis encerrou seu ciclo desde que esse segmento passou a ser regulado pela CVM – Comissão de Valores Mobiliários. Os novos hotéis serão desenvolvidos por grupos empresariais privados em cidades secundárias e terciárias. Mas ele alerta que a situação da macro economia, principalmente a inflação e as taxas de juros são duas variáveis que se não baixarem significativamente, não haverá financiamento para o setor hoteleiro.

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Em relação ao crescimento dos investimentos imobiliários de residencial com serviços hoteleiros, Mader não enxerga uma ameaça direta, mas diz que podem atrapalhar o mercado. A indústria hoteleira já aprendeu a conviver com a presença dos Short Stay Rental que tem uma característica diferente dos hotéis. Mas na opinião dele, esse produto já alcançou seu pico e volume de novos lançamentos deve começar a cair no Brasil. Confira a seguir nessa entrevista exclusiva.

Hotelaria busca eficiência operacional após sobreviver a pandemia
A pandemia da COVID-19 impactou muito a hotelaria (Foto: Pixabay/fernandozhiminaicelaimages)

Revista Hotéis – Qual foi o impacto da COVID-19 no segmento hoteleiro?

Ricardo Mader – O impacto do COVID na hotelaria pode ser dividida em várias fases. A primeira foi a da paralisia total das viagens, que levou à queda rápida da demanda e à paralisação da operação da grande maioria dos hotéis no mundo. A segunda fase foi a partir de setembro de 2020, quando os hotéis começaram a reabrir e puderam captar a demanda de viajante a lazer. Não só os hotéis de praia e de montanha, mas também alguns urbanos com mais instalações de lazer, conseguiram atrair essa demanda.  A terceira fase se desenvolveu ao longo de 2021, quando o processo de vacinação começou a trazer alguma tranquilidade aos viajantes e as ocupações começaram a variar num nível médio de 30%, de acordo com as notícias de novas variantes do vírus. 

R.H – Houve muitas fusões e ou aquisições globais ou mesmo no Brasil em decorrência da pandemia? E qual foi o comportamento do mercado para superar os desafios?

R.M – A consequência maior dessas três fases, foi o prejuízo financeiro de quase toda a indústria hoteleira. De uma maneira geral, os hotéis sobreviveram, mas somente com o aporte de capital feito pelos proprietários, financiando o capital de giro. Por último, a quarta fase começou em 2022, quando a sensação de segurança foi sendo difundida. Com relação a outras tendências como mudança de hábitos dos hóspedes, mudanças nas instalações dos hotéis, fusões e aquisições, minha visão é que nada foi alterado por causa da pandemia. Elas já vinham acontecendo e diminuíram o ritmo durante a pandemia (de acordo com as quatro fases mencionadas acima), e agora estão retomando.

Cito por exemplo a questão das fusões. A indústria hoteleira já vem passando por um processo de consolidação desde o início da segunda década deste século, como forma de combater o impacto do crescimento das OTAs. Em 2022, essa consolidação retomou pelos mesmos motivos no período pré-pandemia. 

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R.H – Na sua opinião, o pior já passou? Como se encontra o volume global de transações no segmento hoteleiro?

R.M – O pior da pandemia já passou, porém o volume de transações tem sido impactado negativamente pelas consequências financeiras desse período. Essa situação está sendo agravada pela Guerra da Rússia e Ucrânia. 

R.H – Que legado o segmento hoteleiro pode tirar da pandemia da COVID-19?

R.M – Saber operar com estruturas de custos mais enxutas. Espero que essa seja a maior lição. 

R.H – Os investimentos que estavam em curso no Brasil de novos hotéis e ou aquisições se mantiveram no pós pandemia?

R.M – Os que estavam em curso já retomaram as suas obras. Novos projetos acredito que vão demorar pelo menos dois anos para começar a acontecer. As transações não estão acontecendo ainda. 

R.H – O condo hotel permanece como principal alavanca para os investimentos ou fundos de pensões ou de investimentos poderão prevalecer, assim como recursos públicos ou de bancos?

R.M – Na minha opinião, a venda pulverizada de unidades hoteleiras (Condo Hotel), encerrou seu ciclo desde que esse segmento passou a ser regulado pela CVM – Comissão de Valores Mobiliários. Os novos hotéis serão desenvolvidos por grupos empresariais privados em cidades secundárias e terciárias. Nas grandes cidades, vamos ver a participação de fundos de investimentos. De acordo com a nova regulamentação dos Fundos de Pensão, eles não podem mais investir diretamente em nenhum tipo de ativo imobiliário (incluindo hotéis), somente através de cotas de Fundos de Investimentos.

“Na minha opinião, a venda pulverizada de unidades hoteleiras (Condo Hotel), encerrou seu ciclo desde que esse segmento passou a ser regulado pela CVM” 

R.H – Na sua opinião, quais são os principais gargalos existentes para se construir hotéis no Brasil?

R.M – A situação da macro economia, principalmente a inflação e as taxas de juros. Enquanto essas duas variáveis não baixarem significativamente, não haverá financiamento para o setor hoteleiro. Todos sabem que o desenvolvimento de hotéis em um país depende da disponibilidade de financiamento. 

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Hotelaria busca eficiência operacional após sobreviver a pandemia
Falta mão de obra para atender a demanda do segmento hoteleiro (foto: Gerd Altmann/Pixabay)

R.H – O apagão da mão de obra que migrou para outros segmentos na pandemia preocupa nessa retomada do setor?

R.M – Sim, a falta de mão de obra é uma preocupação mundial e não tem sido diferente no Brasil. Os hotéis estão recuperando rapidamente os seus níveis de ocupação e estão com um número muito alto de vagas abertas. 

R.H – Uma recente pesquisa da Booking.com identificou que 64% dos viajantes disseram preferir uma hospedagem sustentável, se tiverem a opção de escolher. Na sua opinião essa é uma tendência ou algo que chegou para ficar?

R.M – A indústria Hoteleira mundial não está preparada para essa demanda ESG. Aliás, a indústria imobiliária em geral, não está preparada. A adaptação vai ter que ser rápida, porque essa é uma tendência que veio para ficar. 

R.H – O mercado imobiliário residencial com serviços hoteleiros tem crescido muito nos últimos anos no Brasil. Isso pode ser uma ameaça ou um aliado para a hotelaria tradicional?

R.M – Não são uma ameaça direta, mas podem atrapalhar o mercado. A indústria hoteleira já aprendeu a conviver com a presença dos Short Stay Rental que tem uma característica diferente dos hotéis. Na minha opinião, esse produto já alcançou seu pico e volume de novos lançamentos devem começar a cair no Brasil. 

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R.H – Como você enxerga a hotelaria no Brasil nos próximos anos? Vão aparecer linhas de crédito para expansão e modernização do setor?

R.M – Não vejo uma estabilidade macro econômica a curto prazo para o Brasil, o que vai afetar negativamente o crescimento da oferta. Mesmo com a demanda crescendo a um nível baixo (1% a 2% ao ano), o baixo crescimento da oferta vai ajudar nos níveis de performance dos hotéis existentes. Linhas de crédito só vão aparecer, se a taxa de juros real ficar em 1% ou 2%. 

R.H – A hotelaria que sobreviveu a pandemia da COVID-19, como deve se manter agora? 

R.M – Sobrevivemos. Agora é continuar a política de cinto apertado buscando eficiência operacional, e tentar recuperar as diárias média que ficaram muito abaixo da inflação nos últimos oito anos.

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Edgar J. Oliveira

Diretor editorial - Possui 31 anos de formação em jornalismo e já trabalhou em grandes empresas nacionais em diferentes setores da comunicação como: rádio, assessoria de imprensa, agência de publicidade e já foi Editor chefe de várias mídias como: jornal de bairro, revista voltada a construção, a telecomunicações, concessões rodoviárias, logística e atualmente na hotelaria.

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