Você conversaria com um estranho a um metro de distância?
Artigo de Louise Bang*
Na era digital do hoje, é cada vez mais fácil passar horas, até dias, sem interação humana. Tudo o que temos é digitalizado de alguma forma. Nossos telefones são nossos escritórios fora do escritório. Quando estamos nos espaços de trabalho utilizamos os softwares de gerenciamento de projetos, Skype, Whatsapp e e-mail para nos comunicarmos com a pessoa que está a um metro de distância.
Quantas vezes, no último mês, você ficou olhando para um iPad ou para a tela do computador enquanto estava em uma reunião com clientes, esquecendo-se de fazer contato visual com eles? Mesmo quando deixamos nossos escritórios para participar de conferências, eventos ou reuniões, nos sentamos ao lado das pessoas e ficamos isolados enquanto avaliamos com quem compartilharemos nossas experiências. Essas são as pessoas com quem você se senta por horas, mas nunca as olha nos olhos. Eles estão dispostos lado a lado, olhando para a frente, apenas a vislumbrar perifericamente o outro indivíduo. A interação pessoal está se tornando um valor agregado. As empresas anunciam o tratamento humano como o grande diferencial da experiência de atendimento ao cliente. E é assim.
A comunicação “cara a cara” é uma ferramenta extremamente valiosa que, como sociedade, estamos reaprendendo a apreciar. Um estudo conduzido pela psicóloga americana Susan Pinker descobriu que uma conversa entre colegas de trabalho aumenta substancialmente o desempenho, e que uma conversa presencial equivale, em produtividade, a 34 e-mails enviados. Essa reavaliação da interação humana é o catalisador de uma nova tendência na indústria de reuniões de negócios: gerar espaços e experiências que facilitem e promovam a comunicação real e interpessoal, in loco, entre os hóspedes do hotel, os colegas de trabalho e os participantes do evento.
Salas de reuniões em estilo lounge, espaços livres para cadeiras, lobbies abertos e salas comuns, todos esses elementos criam um espaço dedicado a orquestrar e incentivar a interação humana. Ao projetar lugares que inspiram contato, geramos uma interconexão entre pessoas capazes de trabalhar e interagir diariamente, mas são, paradoxalmente, continuam sendo completos estranhos que não se conhecem. Não sabem nada além do seu endereço de e-mail.
As viagens de negócios, conferências e reuniões em um ambiente desconhecido são excelentes catalisadores para promover a comunicação humana autêntica, porque as pessoas abandonam seus hábitos diários de isolamento e deixam sua zona de conforto. Os lobbies abertos e salas de reuniões flexíveis e inovadoras ajudam a promover essas interações e podem ser projetadas para atender as necessidades de qualquer cliente. O lugar perfeito para promover a interação humana é aquele em que todos esses elementos coexistem harmoniosamente para facilitar a sinergia, não se trata apenas de ter uma sala de reuniões inovadora, mas sim de incluir a todos os componentes necessários. Você nunca sabe quando esses “momentos-chave” podem surgir. Por isso, é importante que todo o lugar seja propício à inter-relação.
Quando as pessoas interagem e se comunicam pessoalmente, o brainstorming flui melhor, os projetos são mais claros e a atmosfera é mais energética
As interações de longo prazo têm um ROI maior do que qualquer valor de vendas. Esses ambientes orquestrados estimulam a co-criação e a motivação. Quando as pessoas interagem e se comunicam pessoalmente, o brainstorming flui melhor, os projetos são mais claros e a atmosfera é mais energética. Afinal, como seres humanos, precisamos de outros para nos apoiar e compartilhar nossa energia. Esse feedback é o que produz algo de grande valor.
As experiências são outro fator importante para estimular a interação humana entre estranhos. À medida que a linha entre negócios e prazer desaparece, conferências e eventos evoluem para um projeto que vai além de uma simples apresentação. As práticas interativas fora das salas de reunião, como aulas de ginástica, visitas culturais, experiências culinárias etc levam os colegas de trabalho para fora de sua zona de conforto, a um ambiente desconfortável que se presta à criação de um sentimento de grupo. Uma sensação de “estar juntos nessa”, que pode ajudar as pessoas a socializar e experimentar essa experiência compartilhada como um quebra-gelo para conduzir uma conversa mais ampla.
As vivências coletivas podem ter um efeito duradouro em seus relacionamentos profissionais. Estes momentos minuciosamente pensados podem estabelecer as bases estratégicas para o futuro do relacionamento interpessoal, ajudando as pessoas a se conectarem e iniciarem sua jornada juntos. Seja durante alguns dias da conferência ou aproveitando essa curta experiência para gerar um relacionamento de longo prazo trabalhando no mesmo escritório, mas como verdadeiros colegas de trabalho que se olham nos olhos e conseguem conversar.
A curto ou longo prazo, essa proximidade pode proporcionar aos clientes e colegas de trabalho algo mais valioso do que os números de ROI, índices de vendas e receita. As interações pessoais podem fornecer memórias e conexões que, em geral, melhorarão sua vida profissional, economizando o tempo de escrever cadeias de e-mail infinitas e, ao invés disso, dedicá-lo a uma caminhada pelo corredor, a bater na porta e ter uma conversa. Isso tudo porque você acabou de conhecer de verdade o estranho que fica todo dia a cinco metros de distância da sua mesa de trabalho.
*Louise Bang é VP Global Sales Office da Marriott International