Visto para EUA, Canadá e Austrália: como isso impacta o turismo?
Governo brasileiro passa a exigir vistos de cidadãos desses três países por princípio de reciprocidade

A partir de 10 de abril de 2025, o Brasil voltou a exigir vistos de entrada para cidadãos dos Estados Unidos, Canadá e Austrália. A medida foi implementada pelo Governo Federal com base no princípio da reciprocidade, já que esses países também exigem vistos de brasileiros. A exigência de visto estava suspensa desde 2019, quando o governo anterior a revogou com o objetivo de incentivar o turismo. No entanto, a nova decisão foi assinada em 2023 e entrou em vigor após três adiamentos.
O processo de obtenção do visto pode ser feito de forma eletrônica, facilitando o procedimento para os viajantes, sob taxa de US$ 80,90. A permanência do estrangeiro em solo brasileiro também não poderá ultrapassar 90 dias. O governo brasileiro espera que, mesmo com a exigência, o turismo continue a crescer, especialmente considerando que, em 2024, o País recebeu 728.537 turistas dos Estados Unidos, 96.540 do Canadá e 52.888 da Austrália.
No Senado, foi aprovado um projeto de decreto legislativo (PDL 206/2023), feito pelo Senador Carlos Portinho (PL-RJ), que busca suspender a exigência de visto para esses países em questão. No entanto, a proposta ainda aguarda análise da Câmara dos Deputados para que possa entrar em vigor.
A exigência de visto para cidadãos dos Estados Unidos, Canadá e Austrália tem impactos relevantes no turismo e na hotelaria no Brasil, tanto positivos quanto negativos, dependendo da perspectiva.
Impactos negativos
Alguns especialistas preveem que essa medida do Governo Federal pode trazer uma queda no número de turistas, pois se configura como um fator de desestímulo, já que a exigência de visto pode desencorajar turistas que optam por destinos com entrada facilitada.
Após a isenção em 2019, o Brasil teve aumento de turistas desses países. O retorno da exigência pode reverter essa tendência. Um exemplo ilustra bem: os Estados Unidos são o segundo maior emissor de turistas para o Brasil, atrás apenas da Argentina.
Essa medida pode impactar em uma ocupação hoteleira menor, já que significa menos reservas em hotéis e pousadas, principalmente em destinos populares como Rio de Janeiro, Foz do Iguaçu e o litoral nordestino.
Além disso também há a redução de receitas, pois restaurantes, guias turísticos, agências de turismo e empresas de transporte também sentem a diminuição do fluxo internacional.
Para o Senador Carlos Portinho, a medida impacta negativamente, “tanto é que todo o setor hoteleiro ficou ao meu lado, solicitando a isenção para esses turistas. Os dados mostram como o número de turistas destes países aumentou sem a cobrança do documento, principalmente dos norte-americanos”, revela.
De acordo com dados da Embratur, a isenção do visto ocasionou um aumento de 8% no total de turistas estrangeiros. “Com o retorno dos vistos, podemos não bater a meta de 8,1 milhões de turistas estrangeiros até 2027, gerando perda econômica, obviamente”, ressalta o Senador.
Portinho se mostra otimista em relação ao apoio da Câmara dos Deputados sobre o tema. “Espero que na Câmara aprove também, é pelo bem do Brasil, do turismo brasileiro. A burocracia de tirar um documento desmotiva muitos viajantes. Mesmo que seja de forma simples, muitos nem procuram saber sobre o processo quando descobrem a necessidade de apresentação de visto”, ele conclui.

Impactos mitigadores
O processo para obter o visto é digital e relativamente simples, o que reduz a barreira burocrática e pode manter parte dos turistas interessados.
Essa medida reforça o princípio de reciprocidade, demonstrando equilíbrio diplomático. Isso pode abrir caminho para futuras negociações bilaterais de isenção mútua.
Também pode haver uma qualificação do turismo: quem realmente vem ao Brasil está mais disposto a gastar e aproveitar serviços de maior valor agregado como hotéis de luxo, experiências exclusivas, etc.

Retrocesso
Para a FBHA – Federação Brasileira de Hospedagem e Alimentação, a medida representa um retrocesso e pode afetar diretamente o fluxo de visitantes internacionais, prejudicando a economia do setor.
A isenção buscava impulsionar a vinda de estrangeiros desses países, facilitando o acesso ao Brasil como destino turístico. Agora, com a retomada da exigência de visto, a FBHA teme uma queda na competitividade do País em relação a outros destinos latino-americanos. “O momento exige estímulos ao turismo, e não barreiras. A imposição de vistos a turistas de países emissores importantes como Estados Unidos, Canadá e Austrália pode ser um tiro no pé”, comenta o Presidente da entidade, Alexandre Sampaio. “Estamos indo na contramão de uma política global que visa a facilitação de viagens e o fortalecimento do setor de serviços”, afirma.
Segundo a entidade, os impactos negativos do decreto do Poder Executivo podem ser sentidos de forma imediata em áreas como hospedagem, alimentação, transporte e comércio local, especialmente em cidades cuja economia depende fortemente do turismo internacional.
Diante do fato, a federação propõe três caminhos para mitigar os efeitos da decisão:
Negociação bilateral com foco no turismo: estabelecer acordos diplomáticos que busquem a reciprocidade facilitada, com processos de visto mais rápidos e acessíveis, especialmente para turistas com intenção comprovada de viagem de lazer ou negócios.
Criação de vistos eletrônicos simplificados: adotar sistemas digitais que agilizem o processo de solicitação, com menos burocracia, tempo de espera reduzido e taxas menores, tornando a entrada mais atrativa.
Campanhas internacionais de promoção turística: investir em campanhas nos mercados afetados para reforçar a imagem do Brasil como um destino desejável, seguro e acolhedor, compensando possíveis entraves criados pela exigência do visto.
Enquanto o setor turístico luta diariamente para se manter ativo, a FBHA defende que o momento exige políticas de estímulo, e não de restrição. Para a entidade, a retomada da obrigatoriedade do visto é mais um obstáculo num momento em que o País deveria estar apostando no turismo como motor de crescimento econômico e geração de empregos.

Na opinião do Presidente da HotéisRIO, Alfredo Lopes, o turismo é uma vocação natural de nosso País, abençoado com uma natureza exuberante e dotado de uma cultura e hospitalidade reconhecidas internacionalmente. “Nossa indústria gera milhões de postos de trabalho, diretos e indiretos, e contribui significativamente com a arrecadação tributária. No entanto, esses números poderiam ser muito melhores, devido ao nosso potencial. Exigir visto de alguns países significa travar o crescimento do número de visitantes estrangeiros, prejudicando não apenas o turismo, mas diversos segmentos de nossa economia”, afirma. “Esperamos que os Deputados entendam a importância de votar em sintonia com seus colegas de Congresso. O turismo e o Brasil agradecem”, completa.
A CNC – Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo manifesta preocupação com a retomada da exigência de vistos de entrada no País para turistas provenientes dos Estados Unidos, Canadá e Austrália. Para ela, a medida representa um retrocesso nas políticas de estímulo ao turismo internacional e pode impactar negativamente a competitividade do Brasil como destino global. “Entendemos que a decisão do governo busca respeitar princípios de reciprocidade nas relações internacionais, mas é importante avaliar com cautela os possíveis impactos no turismo e buscar soluções que conciliem soberania com estímulo ao setor”, avalia o Presidente do Sistema CNC-Sesc-Senac, José Roberto Tadros.
A reversão desse modelo, ainda segundo a CNC, sem a implementação de mecanismos compensatórios, pode comprometer o desempenho do setor num momento que ainda se buscam caminhos para a plena recuperação da atividade turística.
A CNC defende a adoção de soluções que sigam as diretrizes diplomáticas ao mesmo tempo que fortalecem a economia. Entre elas, destacam-se a negociação de acordos bilaterais voltados à facilitação de vistos, a criação de sistemas eletrônicos simplificados para solicitação de entrada e o reforço de campanhas internacionais de promoção do Brasil. “O setor de turismo tem papel estratégico na geração de empregos e no desenvolvimento regional. É, portanto, essencial que o País adote políticas públicas que estimulem sua expansão. A CNC seguirá trabalhando, em articulação com suas entidades representativas e com o poder público, por medidas que garantam um ambiente favorável ao crescimento do Brasil e à valorização da nossa imagem no exterior”, finaliza Tadros.

Perda para países vizinhos
Na opinião de Alfredo Lopes, é preciso levar em conta a necessidade do País de atrair mais visitantes do exterior. “Há anos que o Brasil não passa de seis milhões de turistas estrangeiros. No setor de turismo, é comum a triste observação de que a cidade de Buenos Aires, sozinha, recebe mais turistas estrangeiros do que nosso País inteiro. No último ano, houve um grande esforço das autoridades, como a Embratur, para melhorar esse quadro, o que levou ao número recorde de 6,65 milhões de turistas internacionais. Mesmo assim, ainda é um número reduzido. Todo esse trabalho iria por água abaixo com a volta da exigência dos vistos”, diz.
A Fhoresp – Federação dos Hotéis, Restaurantes e Bares do Estado de São Paulo acredita que o Brasil vai sofrer impactos negativos no turismo com a medida. A entidade prevê a perda de visitantes para países vizinhos, que não exigem o documento.
Para o Diretor-executivo da Fhoresp, Edson Pinto, a medida pretendida pelo Governo Federal pode prejudicar o próprio País, pois vai afugentar turistas de fora. “Não de hoje, o Brasil é destino de longa distância para europeus, americanos e asiáticos. Com esta obrigatoriedade de visto, vamos perder visitantes para outros países. Isso vai influenciar no faturamento do turismo, e falo em hotéis, restaurantes, bares e atividades de recreação e de lazer – o trade como um todo. Isso vai impactar negativamente, inclusive, as estratégias e o trabalho da Embratur”, lembra Edson, ao citar a Agência Brasileira de Promoção Internacional do Turismo.
Na avaliação do representante da Fhoresp, enquanto o Brasil não consegue, nos dias de hoje, ultrapassar a média de sete milhões de turistas, o México recebe 20 milhões de estrangeiros, anualmente – diferença que deve ficar ainda mais latente a partir da retomada de exigência do visto americano. “O Brasil sairá perdendo. Vamos passar a disputar o turista com países como Colômbia, Chile, Peru, Costa Rica, Argentina e México, que não exigem visto. Se a União for em frente com essa medida, estaremos adicionando uma restrição ao Brasil que vai impactar diretamente e negativamente o turismo, que já atua com dificuldades”, reforça.
A Fhoresp ainda faz ressalvas em relação ao desempenho do turismo internacional brasileiro perante outras nações que já são destinos consolidados. A França, uma das referências na Europa, recebe 100 milhões de turistas ao ano. Já os Estados Unidos, bate a marca dos 70 milhões. “O Governo Federal está misturando taxa com visto, isso é catastrófico. É preciso que o Brasil compreenda o momento político norte-americano, por exemplo, exerça sua diplomacia e defenda os interesses nacionais, mas a análise deve ser ampla e aprofundada, para que o turismo não pague o preço e saia no prejuízo”, finaliza Edson Pinto.

Governo Federal
De acordo com a Secom – Secretaria de Comunicação Social do governo brasileiro, a revogação da dispensa unilateral de vistos restabelece o princípio da reciprocidade na política migratória brasileira e fortalece a posição negociadora do Brasil no que tange à obtenção de novos acordos bilaterais de isenção de vistos.
Segundo a Secretaria, notou-se impacto limitado da política de dispensa unilateral no que diz respeito ao fluxo de turistas. O percentual de ingresso de visitante de Austrália, Canadá, EUA e Japão sobre o total de turistas estrangeiros permaneceu praticamente idêntico durante a vigência da medida: comparados o ano inicial (2019, quando os turistas dos países beneficiados pela dispensa representaram 8,8% do total de turistas estrangeiros) e o ano final (2024, quando representaram 8,4% do total).
Para facilitar o ingresso dos cidadãos desses países, sem prejudicar a posição negociadora do Brasil, foi implementado ainda em dezembro de 2023, um sistema eletrônico de concessão de vistos (e-visa), totalmente digital. No portal, estão disponíveis todas as orientações sobre os documentos necessários, taxas, prazos de processamento e etapas do processo. O tempo de análise dos pedidos tem sido inferior a 48h, o que permite conclusão do processo em até cinco dias úteis.
Desde dezembro de 2023, foram processados quase 130 mil pedidos de e-visa pela plataforma. Foram concedidos aproximadamente 84 mil vistos para cidadãos dos EUA; 12 mil para canadenses; e 6.500 para australianos, diz a Secom. Vistos físicos válidos, emitidos anteriormente por embaixadas ou consulados do Brasil, continuam aceitos normalmente até sua data de expiração. Sem o visto válido, a entrada no Brasil poderá ser recusada pelas autoridades de imigração e, ainda no país de origem, as companhias aéreas também poderão impedir o seu embarque.

Feiras e Eventos
Outro setor que deverá ser afetado com a medida do Governo Federal é o de Feiras e Eventos, que cresceu bastante e movimenta a economia em diversos pontos, principalmente nas grandes metrópoles. De acordo com Daniel Pereira, Gerente da Equipotel, maior feira de turismo e hospitalidade da América Latina, que acontece anualmente em São Paulo, aumentar a burocracia também pode significar aumentar as objeções. “Ou seja, a inserção de mais um processo pode fazer com que o turista desses países pense duas vezes ou acabe decidindo por um outro destino. A entrada simplificada e o poder de compra aqui são, sem dúvidas, grandes atrativos e influenciam no fechamento dos pacotes. Para mostrar como isso pode ser impactante, o Brasil recebeu mais de 6,6 milhões de estrangeiros em 2024, sendo que 12,64% do total foram de pessoas vindas dos Estados Unidos, Canadá e Austrália. Se esse número, que é considerável, optar por não visitar por conta do visto, toda a cadeia é impactada. Hotéis, restaurantes, comércios, serviços e, na prática, é dinheiro deixando de ser injetado no ciclo do turismo nacional. Não é questão de ser a favor ou contra a medida, pois a implementação tem suas razões, mas o mercado discute as possíveis consequências”, afirma.
Segundo Pereira, há outras facetas sobre essas medidas, como a abertura de espaço para a discussão de questões como a reciprocidade diplomática entre os países envolvidos, além de sistemas mais eficientes e o aprimoramento das regulamentações pertinentes. “Um outro lado, tão importante quanto, é que o turismo brasileiro, das viagens à hospitalidade, terá que, mesmo que forçosamente, encontrar meios para atrair esses visitantes, apesar da burocracia. A exigência pode impulsionar a inovação, além da criação de promoções e experiências. E é justamente aí que entra a Equipotel, que é um ecossistema onde empresas e profissionais podem adquirir conhecimento, tecnologia, soluções e recursos necessários para levar negócios que focam em hospitalidade como diferencial competitivo para o próximo nível”, salienta.
A Equipotel é uma feira internacional e cerca de 10% dos visitantes vêm de países como Estados Unidos, Canadá, China, Itália, França, entre outros. Em relação à obrigatoriedade de visto, a grande questão é a feira servir como vitrine de tendências para as empresas brasileiras que querem atrair esses compradores de outros países ou elevar seus serviços a padrões internacionais. “É sobre apresentar os recursos que podem ser utilizados para atender bem, encantar, impressionar pela qualidade, independentemente da origem do visitante. Por isso, a feira é considerada o grande outlet da hospitalidade”, diz.

Ainda, segundo Daniel, as feiras e eventos de negócios que ocorrem no Brasil têm um público majoritariamente latino. Não que a burocracia para visitantes de outras regiões não tenha impacto ou não seja preocupante, mas o País não só tem uma posição geográfica estratégica como também é protagonista em diversos segmentos da indústria da região. “No próprio caso da Equipotel, o evento é um ponto de conexão entre o bloco e tudo o que acontece no mundo, fazendo com que o profissional daqui não tenha que se deslocar para Europa, Ásia e América do Norte para acompanhar lançamentos e o que está acontecendo de mais importante na indústria”, ele conta.
O Gerente da Equipotel ressalta que, assim que a medida de exigência do visto para Estados Unidos, Canadá e Austrália foi anunciada, o governo passou a ser questionado pelo mercado e o Itamaraty informou que o Brasil segue negociando acordos de isenção com esses países. “Então, sobretudo, a questão é política. A decisão foi tomada em maio de 2023 sob o princípio da reciprocidade. Ou seja, nós, brasileiros, também precisamos de visto quando viajamos para um desses destinos e o nosso país não concede isenção unilaterial de vistos de visita. Não é nenhuma retaliação ou ação com foco econômico, mas que tem seus impactos diretos e indiretos. Para mitigar efeitos, precisamos, sim, de políticas públicas voltadas para o turismo, que incentivem o intercâmbio cultural e comercial e promovam a imagem do Brasil no exterior. Também temos que fomentar um diálogo entre governo e iniciativa privada para ações de longo prazo, além das medidas pontuais, como neste caso”, finaliza.

Comércio
Na análise de Hilton Nascimento, Diretor-presidente da CCBC – Câmara de Comércio Brasil-Canadá, o número de visitantes canadenses no Brasil vem aumentando a cada ano, segundo os dados da Embratur. Em 2024, o Canadá foi o 14º país que mais enviou visitantes ao Brasil, com a entrada de 96.540 no território nacional, ante os 86.591 que vieram em 2023 e os 54.252 que visitaram o País em 2022. “Acreditamos que, além do visto, há outros fatores, como os econômicos e cambiais, por exemplo, que influenciam o fluxo do turismo entre países. Como Câmara de Comércio, nós incentivamos a relação bilateral e, consequentemente, apoiamos ações de estímulo à intensificação do fluxo de pessoas, seja para turismo, negócios ou estudo”, afirma.
Em princípio, a CCBC entende que quanto menos burocracia para todos, melhor. No entanto, eles não acreditam que a exigência de visto vai impactar significativamente a relação entre Brasil e Canadá. Os números do comércio bilateral são bons indicativos. Somente neste primeiro trimestre de 2025 (de janeiro a março), o Brasil bateu recorde de exportações para o país norte-americano, com US$ 1,8 bilhão de produtos embarcados. A projeção é de que este ano termine como um dos melhores de todos, com uma balança comercial favorável ao Brasil, mas também com bons índices de importações de produtos do Canadá. Há grandes perspectivas futuras também para o setor de tecnologia. “O Canadá hoje exporta para nós, por exemplo, expertise na área de maquinários, equipamentos e peças para aeronaves, que são utilizadas pela nossa indústria aeronáutica para montar os aviões que nós exportamos para eles. Não apenas o fluxo comercial estimula as viagens entre os dois países, como também promove o aumento do conhecimento mútuo entre os cidadãos de ambas as nações”, comenta Hilton.
A CCBC acompanha de perto os efeitos dessa medida e de qualquer ação que diga respeito à relação bilateral entre Brasil e Canadá. “Como uma instituição da iniciativa privada, sem fins lucrativos, não temos ingerência em questões diplomáticas entre os governos. Nosso papel é incentivar a relação entre os países, fomentar negócios, valorizar o turismo e contribuir para que este intercâmbio ocorra de forma cada vez mais intensa”, diz o Diretor-presidente.
Para Nascimento, é muito cedo ainda para podermos dizer se haverá perda ou não de turistas e negócios para outros países que não exigem visto para cidadãos do Canadá. Outros fatores, como a complexidade ou simplicidade para obtenção do visto e o prazo para ele, por exemplo, são também importantes nessa equação. “O que podemos afirmar, sem sombra de dúvida, é que o interesse canadense em visitar o Brasil existe e é crescente. Podemos detectá-lo mesmo antes da extinção da exigência da autorização de entrada. Em 2018, por exemplo, quando havia a obrigatoriedade do visto para entrada de estrangeiros por aqui, houve o registro da entrada de 71.160 canadenses em solo brasileiro. No ano seguinte, esse número subiu para 77.043, um crescimento significativo. Apenas durante a pandemia de COVID-19 é que esse movimento parou. Em 2023, quando não havia exigência para a entrada, o Brasil recebeu 86.591 canadenses e, depois, no ano passado, 96.540 cidadãos (conforme já destacado acima). Importante ressaltar que acreditamos no enorme potencial turístico e econômico do Brasil para a atração de visitantes e esperamos que cada vez mais canadenses possam conhecê-lo”, conclui.
Agências de viagens
Embora reconhecendo que a política de vistos é uma prerrogativa soberana de cada país e envolva aspectos que vão além do turismo, a ABAV Nacional – Associação Brasileira de Agências de Viagens acredita que qualquer obstáculo no processo de entrada impacta diretamente a atratividade do destino. Segundo a Associação, a exigência de visto para cidadãos dos Estados Unidos, Canadá e Austrália pode representar uma espécie de entrave na hora desses turistas escolherem o Brasil como destino, especialmente em um cenário de alta competitividade internacional. “Do ponto de vista do turismo, quanto mais simples e acessível for a entrada de visitantes, maiores as chances de o Brasil ser incluído nos roteiros internacionais. As agências de viagem, que atuam na linha de frente da promoção e comercialização do Brasil no exterior, sentem de forma imediata os efeitos de decisões como essa, que podem influenciar negativamente o fluxo turístico e a competitividade do País frente a outros destinos da América Latina. Facilitar o acesso é um passo estratégico para posicionar o Brasil como uma escolha viável e desejada no cenário global”, explica Ana Carolina Medeiros, Presidente da ABAV Nacional.

Na opinião de Medeiros, existe um certo receio de que medidas como essa afetem a atratividade do Brasil como destino turístico, já que qualquer fator que represente uma barreira pode impactar as decisões de compra, o que preocupa diretamente o setor. ”Acreditamos que o impacto pode ser mais perceptível no médio prazo, com possíveis reflexos no volume de vendas das agências, especialmente nos segmentos de lazer e MICE (eventos, incentivos e negócios). É uma questão que estamos acompanhando de perto, sempre em diálogo com os profissionais da cadeia produtiva do turismo e atentos às movimentações do mercado internacional”, ela salienta.
A ABAV Nacional segue em contato com o Governo Federal e outras entidades do trade para contribuir com informações, dados e sugestões que ajudem a mitigar eventuais efeitos dessa medida. A Associação de Agências de Viagens defende que o Brasil mantenha um ambiente de negócios competitivo e atrativo para o viajante internacional, com processos ágeis, previsíveis e seguros. Também procura fortalecer o turismo doméstico e receptivo por meio de eventos estratégicos como a ABAV Expo, que promovem o País e abrem espaço para parcerias com operadores globais.
Ana Carolina Medeiros nos conta que o turista internacional, especialmente o de lazer, leva em consideração fatores como facilidade de entrada, segurança e custo-benefício na hora de escolher um destino. “Países como México, Colômbia e outros da região continuam oferecendo entrada facilitada a norte-americanos, canadenses e australianos, o que pode influenciar a decisão do viajante. Por isso, consideramos essencial que o Brasil continue adotando medidas que estimulem a competitividade e melhorem a experiência de quem nos visita”, finaliza.