EntrevistaEspecial

Thomas Michaelis: Um dos maiores expoentes da arquitetura hoteleira no Brasil

Podemos dizer que Thomas Michaelis nasceu para ser arquiteto. Desde cedo demonstrou interesse e vocação para o ofício. Formado arquiteto pela Faculdade de Arquitetura e Urbanismo de Santos, abriu seu escritório em São Paulo e logo começou a projetar residências, lojas de shoppings, restaurantes, cafés, edifícios comerciais, residenciais e até mesmo parques de diversões. Assim, Michaelis foi adquirindo experiência para iniciar posteriormente uma bem sucedida trajetória no segmento hoteleiro.
Há 17 anos projetou o primeiro Formule 1 no Brasil e não parou mais. Visando a oportunidade de oferecer aos empreendimentos hoteleiros um pacote completo de projetos, Michaelis estruturou o escritório em setores: arquitetura, interiores e consultoria. Seu portfólio conta com 121 projetos de arquitetura e interiores hoteleiros executados, sendo 11 deles no exterior. Entre os projetos no Brasil, estão em cidades como Macapá, Manaus, Recife, Belém, Salvador, Brasília, Goiânia, Rio de Janeiro, Vitória, Belo Horizonte , São Paulo , Porto Alegre, Aracaju, Fortaleza  e outras mais.
Michaelis é hoje um dos escritórios mais disputados por investidores e construtores hoteleiros, tanto por oferecer soluções completas, modernas e inovadoras para o negócio, quanto por atender a cada solicitação de maneira personalizada.
Confira a seguir a entrevista exclusiva concedida pelo arquiteto.

Revista Hotéis — Como foi que entrou para a área de arquitetura?

Thomas Michaelis —  Sempre me interessei por edificações, construções e suas funções urbanas. Sua proliferação ocupando os espaços vazios da cidade. Minha escolha pela arquitetura foi instintiva, uma vez que nunca tive influencia familiar ou de amigos.

Revista Hotéis  — Como e quando decidiu abrir seu escritório de arquitetura?

Thomas Michaelis — Me formei na FAUS — Faculdade de Arquitetura e Urbanismo de Santos há 32 anos. Recém formado, abri meu escritório com um sócio, um colega arquiteto, e fui trilhando um caminho, ora com sócio, ora sozinho. Há cerca de 26 anos passei para a carreira solo. Tive experiências muito diversas em arquitetura, como por exemplo: As lojas do Café do Ponto, em shoppings centers, casas em condomínios exclusivos, os restaurantes Applebee’s, e até mesmo parques temáticos e finalmente, navegando no mercado imobiliário, projetei diversos edifícios residenciais. Assim, fui adquirindo experiência em vários segmentos, o que me deu bastante musculatura para novos desafios.

Revista Hotéis — O que o fez se interessar pelo segmento hoteleiro?

Thomas Michaelis — Eu já trabalhava para o mercado imobiliário projetando edifícios residenciais junto a uma construtora. Com ela, surgiu a oportunidade de projetar o primeiro hotel super econômico “Etap” da bandeira  Accor, na América do Sul, mais especificamente no Brasil. Na realidade, este produto levou o nome de Formule 1, que também era um produto hoteleiro da rede, porém mais simples e que nunca foi trazido ao país.
Com esta oportunidade fiz um curso  de especialização em hotelaria na FAUUSP e viajei à França para conhecer de perto os exemplos existentes do produto Etap.
Com base nas informações coletadas, projetei o hotel, com algumas adaptações funcionais, utilizando basicamente os parâmetros de áreas sociais e de serviços disponibilizados pela rede para os hotéis desta marca na Europa. O início da operação foi um sucesso. O hotel estava sempre cheio, com uma taxa de ocupação surpreendente, o que nos levou a questionar o tamanho das áreas pré estipuladas para o produto, pois estas, eram pequenas para tamanha demanda. A partir dessa experiência os novos hotéis Formule 1, foram projetados com áreas mais generosas condizentes com a demanda do mercado brasileiro. Este projeto me colocou em contato com as complexidades e as possibilidades do universo hoteleiro, o qual nunca mais abandonei.

Revista Hotéis — Inclusive esta obra do hotel Formule 1 do bairro Paraiso, em São Paulo, foi um marco e precursor dos demais no Brasil, não?

Thomas Michaelis — Sem dúvida, foi um marco para esta categoria de hotéis no mercado brasileiro e, para mim especialmente, foi uma experiência muito gratificante iniciar minha carreira no segmento com um desafio tão marcante. Utilizamos o que havia de mais moderno em termos de métodos e sistemas construtivos, tais como banheiros prontos, fachadas pré-moldadas, drywall entre os quartos além de outras tecnologias adjacentes. Vale destacar que isso foi há 17 anos! A construção ofereceu a resposta desejada e o hotel inaugurou em prazo recorde.

Revista Hotéis — Você também participou da chegada do ibis Styles no Brasil, certo?

Thomas Michaelis — Esta foi sem dúvida, já na área de arquitetura de interiores, uma experiência muito interessante. O produto Ibis Styles é flexível, e, portanto, não segue padrões rígidos como os demais hotéis  econômicos da rede, o que permite que sua implantação ocorra em hotéis existentes, desde que estes apresentem, após análise inicial, os parâmetros minimamente necessários para uma operação saudável.
Antes da introdução do “tema”que nortearia a produção atual dos projetos de interiores, foram apresentadas “palavras” pela equipe de marketing internacional que deveriam conceituar o design tais como jovialidade, bom humor, tecnologia, alegria. Enfim, verbetes positivos, que utilizamos pela primeira vez no ibis Styles Barra Funda, em São Paulo. Aperfeiçoando esta ideia inicial e, com a necessidade de parametrizar ao mesmo tempo em que abre uma gama infinita de possibilidades, a rede optou pela tematização na decoração dos hotéis, e o resultado tem sido muito positivo. Hoje, estamos envolvidos em dois novos hotéis, nos quais além da arquitetura, estamos desenvolvendo também os interiores. Em um deles a  decoração leva o tema da “gastronomia italiana”, considerando a influência dos imigrantes locais, da região onde está sendo implantado o hotel. O outro, localizado no litoral de São Paulo, apresenta o tema “Surfe” ocasionalmente muito em voga em função do sucesso conquistado pelos surfistas brasileiros em competições internacionais. Estes projetos demandam internamente, um trabalho intenso de pesquisa, o que não faz com que não seja também prazeroso e hiper divertido!

Revista Hotéis— Quantos projetos de arquitetura e de design de interiores de empreendimentos hoteleiros já desenvolveu até hoje? Considera algum deles mais especial?

Thomas Michaelis — Entre arquitetura e interiores, projetamos um total de 121 hotéis no território nacional, e 11 no exterior. O Novotel de Lima, no Peru, por exemplo, além do desafio de projetar em um país de língua estrangeira de características geográficas e climáticas distintas, com pouca produção de insumos e acabamentos para a construção civil, existe a presença latente de abalos sísmicos, o que faz com que o projeto estrutural seja muito mais complexo. Estes são submetidos a programas de computador, que simulam os abalos, testando os modelos projetados e seu eventual impacto na arquitetura.
Existem ainda projetos especiais para rotas e sistemas de fuga que, obviamente, não encontramos no Brasil. Cada país tem sua legislação  e temos que respeitá-las. Em Buenos Aires, onde projetamos o Novotel/ibis Corrientes, obedecemos aos recuos que são exigidos para preservar o “miolo” de quadra. Já em Santiago a prefeitura disponibiliza um programa para os arquitetos calcularem a sombra que os novos edifícios irão projetar sobre as edificações vizinhas.
Ao projetar os interiores buscamos inspirações na cultura local com o intuito de trazer esses elementos para a decoração, e consequentemente, enriquecer o projeto. Independente da localização ou da quantidade de quartos, todas as experiências tem seu valor. Cada projeto tem sua história e sua carga de aprendizado, que se acumula a cada nova experiência.

Revista Hotéis — Onde você busca inspiração para compor estes projetos?

Thomas Michaelis — Minha experiência hoteleira nasceu fundamentada na função, operação e manutenção de um hotel. Para mim, um hotel nasce de dentro para fora. Considero muito importante a distribuição racional e econômica dos espaços visando, principalmente, uma operação eficaz.
Nas áreas sociais, o hotel precisa apresentar “surpresas”, procurando sempre valorizar a experiência positiva do hóspede. Já as áreas de serviço devem ser generosas e agradáveis, valorizando, portanto, o espaço de trabalho do colaborador. As inspirações estéticas ficam por conta do olhar poético sobre o dia-a-dia, sobre a natureza, sobre a grande variedade da produção arquitetônica, ou qualquer evento que possa “despertar” uma ideia diferente e contribuir com beleza na composição dos espaços edificados.

Revista Hotéis — Que mudanças mais visíveis você pode apontar na evolução dos projetos arquitetônicos, assim como do design de interiores de quando começou a desenvolver projetos hoteleiros até os dias de hoje?

Thomas Michaelis — A arquitetura evoluiu e se internacionalizou muito e, devemos estar atentos para acompanhar estas mudanças e tendências. O programa interno continua o mesmo, o que mudou basicamente foram os tamanhos dos espaços, ora maiores ora menores, adaptados não somente a legislação legal e sanitária, que a cada dia se torna mais exigente, como também às novas necessidades técnicas e pessoais dos clientes e colaboradores. As expectativas financeiras dos empreendedores e as novas demandas operacionais também contribuíram na formatação do edifício. Não podemos esquecer ainda dos equipamentos visíveis, tais  como a iluminação, tão importante na experiência do hóspede, ou até mesmo, as fechaduras das portas acionadas por telefones celulares, e outros inúmeros elementos tecnológicos invisíveis que trazem conforto térmico, acústico e segurança. Cada dia mais a demanda do hóspede moderno e exigente e a constante necessidade de atualização com a criação de novas ideias por parte das operadoras, fazem do hotel um produto de vanguarda nas questões estéticas e técnicas e sensoriais.

Revista Hotéis — O que você leva em consideração para desenvolver um projeto hoteleiro?   E como lida com as expectativas dos clientes?
Thomas Michaelis — Estou sempre atento a produzir um projeto que seja eficiente no que tange as possibilidades legais, urbanas, econômicas – sob o aspecto da construção civil – que tenha uma operação eficiente, obviamente, respeitando as necessidades operacionais de cada bandeira, sem deixar de lado a estética, buscando sempre harmonia e integração entre os elementos internos e externos.
Primeiramente desenvolvemos a viabilidade arquitetônica do empreendimento no terreno apresentado pelo cliente. Minha equipe avalia com critério o produto levando em conta sua localização, insolação, vizinhança e geografia, além do entendimento da legislação local e outros parâmetros legais que regulamentam a construção civil na cidade. Com posse destes dados, desenvolvemos o estudo de implantação, apresentando um produto final com todas as informações utilizadas pelos empreendedores na decisão da compra efetiva do terreno ou a própria realização  do empreendimento. Este trabalho inicial demanda um conhecimento profundo das premissas operacionais, técnicas e estéticas de cada operadora.

Revista Hotéis — Quais são os desafios de projetar um hotel no exterior?

Thomas Michaelis — A primeira experiência internacional foi na Argentina com o ibis/Novotel em Buenos Aires em 2006. Cada país ou cidade possui suas especificidades legais. Assim, acredito ser fundamental a presença de um arquiteto parceiro local, para nos ajudar na compreensão da legislação e nos trâmites de aprovação do projeto. Existem também restrições legais quanto aos programas mínimos. Por exemplo, na época do projeto do ibis/ Novotel, a prefeitura de Buenos Aires exigia a presença de um bidê em todos os sanitários dos hotéis, uma vez que este equipamento faz parte da cultura local.  Atualmente estamos projetando o novo design para os 385 quartos do Sheraton Santiago. Um trabalho complexo realizado em conjunto com uma equipe de projetistas locais que avaliaram todos os sistemas técnicos, tais como ar condicionado, hidráulica, elétrica para só então propor soluções ora de substituição ora de restauração dos equipamentos.
Em Cuzco, reformamos o Novotel, uma casa antiga linda onde nos deparamos com a dificuldade da elevada altitude e da baixa umidade relativa do ar que “castigou” alguns móveis de madeira trazidos do Brasil. Além disto, estes móveis, desembarcados em Lima, foram transportados por caminhão Andes acima até a cidade de Cuzco, uma viagem dura e longa. Com estes projetos adquirimos experiência, fazendo com que o escritório seja reconhecido no âmbito sul-americano até hoje.

Revista Hotéis — Dependendo da bandeira hoteleira, os hóspedes possuem perfis completamente diferentes.  Como atender as necessidades deles nos projetos?

Thomas Michaelis — Os hóspedes possuem uma característica comum: são viajantes e buscam encontrar um serviço de qualidade e conforto.  Cada rede ou hotel busca de maneira personalizada atender estas demandas. Nosso exercício é entender que o pretende desenvolver com o hospede e, com esta informação fazer de nosso projeto um link (hotel/hospede).

Revista Hotéis — Como você analisa o mercado hoteleiro no Brasil atualmente e que projeção faz para os próximos anos?

Thomas Michaelis — O parque hoteleiro brasileiro é ainda em sua grande maioria composto de edificações desgastadas e com infraestrutura desatualizada. Muitos hotéis não suprem as novas necessidades dos atuais hóspedes de negócios. A chegada da hotelaria de rede, além de ocupar uma fatia do mercado carente de demanda, obriga a hotelaria independente a se modernizar o que é saudável para o mercado e para o consumidor final. Ainda existem muitas oportunidades para aberturas e reformas nos próximos anos, mas é preciso cautela para dirigir o crescimento do mercado.

Revista Hotéis — Como vocês possuem também uma forte atuação em design de interiores, estas modernizações que necessitam acontecer são grandes oportunidades de crescimento. Como você analisa a questão?

Thomas Michaelis — Sem dúvida, a velocidade e a necessidade de modernização que acontecia com menos frequência nos hotéis, vem ao longo dos últimos anos exigindo mudanças mais rápidas ditadas pela modernização tecnológica e, pelos novos anseios dos clientes. Estamos preparados e atualizados para estes novos desafios e entendemos que o design tem uma função primordial na vida de um hotel, uma vez que através dele o hóspede faz a leitura do espaço, experimenta as sensações e enfim interage com o hotel. É um instrumento poderoso, que necessita de ciência para ser aplicado e se aperfeiçoa com o exercício da profissão.

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4 Comentários

  1. Excelente nota. Habiendo ya contado con el apoyo profesional del team Thomas Michaelis Arqs para varios proyectos hoteleros en Sudamerica, sin dudas Thomas hoy se destaca hoje como uno de los mayores exponentes de la arquitectura hotelera nacional y regional. Felicitaciones!

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