Opinião

Superoferta de hotéis no Brasil

Artigo de Caio Sergio Calfat Jacob*

O parque hoteleiro brasileiro é formado por cerca de 10 mil hotéis, sendo que somente 10% destes são administrados por operadoras profissionais, que, no entanto, abrigam 28% dos apartamentos. A tendência, nos próximos anos, é a de aumento substancial da presença das redes hoteleiras em atuação no País. Até meados da década passada, não mais de 30 cidades no País eram atendidas por redes profissionais e, no processo de expansão hoteleira em curso, deve-se atingir mais de 200 municípios em todas as regiões brasileiras.

 

Em relação ao desempenho hoteleiro, acompanhamos a recuperação das taxas de ocupação dos hotéis brasileiros para um patamar entre 65% e 70% ao ano, percentual que, em linhas gerais, é satisfatório. Ao mesmo tempo, a Diária Média Anual atinge cerca de R$ 230,00 valor relativamente baixo e que deverá sofrer uma redução no segundo semestre, em virtude do aumento de oferta hoteleira construída nos últimos anos para a Copa do Mundo, assim como da queda de demanda provocada, principalmente, pelo desaquecimento econômico.

 

Apesar dos cuidados do setor hoteleiro nesses últimos anos, inclusive com a publicação do Manual de Melhores Práticas para Hotéis de Investidores Imobiliários Pulverizados – editado pelo Secovi-SP em parceria com as principais entidades do setor turístico-hoteleiro do País (FOHB, ABIH, ADIT, FBHA e FHORESP) -, que já somou mais de 20 mil downloads, o setor produtivo, como ocorreu nas gerações anteriores de condo-hotéis, promove novamente lançamentos em excesso, provocando superoferta em várias cidades, como Belo Horizonte, Cuiabá, Manaus, Brasília, Porto Alegre, Salvador, Barueri (Alphaville), São Bernardo do Campo, Santos, Ribeirão Preto, Jundiaí, Rio de Janeiro (especificamente na Barra da Tijuca), Recife, entre outras.

 

Há alguns projetos em planejamento em São Paulo, uma vez que os corredores especiais de transportes públicos, que poderão receber o benefício do coeficiente de aproveitamento 4 em seus terrenos lindeiros, com reduzido número de vagas de estacionamento, em geral, são bons endereços para hotéis – que também operam com poucas vagas de garagem. Se o setor produtivo procurasse seguir, da forma correta, todas as orientações sobre as melhores práticas contidas no manual, um novo fenômeno de superoferta hoteleira no Brasil (como ocorreu nos ciclos anteriores de produção deste empreendimento) poderia ser evitado.

 

Em relação a retrofit hoteleiro, aconteceram poucos, mas bons projetos, especialmente na orla da zona Sul e no Centro do Rio de Janeiro, que são endereços notáveis. Hotéis como Copacabana Palace, Glória, Windsor Copacabana, Miramar, Guanabara, Luxor, entre outros, passaram por um processo de renovação profunda, com troca de todo o sistema elétrico e hidráulico, novas instalações eletrônicas, troca de todas as instalações de banheiros, caixilhos e esquadrias, repaginação da decoração, renovação da fachada. 

 

Quanto ao parque hoteleiro de São Paulo, temos 42 mil apartamentos, dos quais cerca de 30 mil foram construídos há menos de 15 anos, no formato de flats, depois de condo-hotéis, o que torna a cidade a que abriga a oferta hoteleira de maior quantidade e melhor qualidade do País.

 

A hotelaria paulistana atinge cerca de 70% de taxa de ocupação anual, consegue algo próximo a 100% de ocupação de segunda a quinta-feira e 40% nos finais de semana. Esta é a grande surpresa. Os nossos espetáculos, museus, eventos culturais, esportivos e sociais, gastronomia e shopping centers motivam o turista a visitar a cidade e ocupar cerca de 16 mil apartamentos nos finais de semana, na média anual; praticamente o mesmo número de quartos ocupados no Rio de Janeiro em igual período, fato considerado impensável há algum tempo, em função da força turística da Cidade Maravilhosa.

 

Este é o resultado de vários fatores de desenvolvimento, somados às ações criadas e promovidas por alguns órgãos de turismo da cidade, como São Paulo Turismo e São Paulo Convention & Visitors Bureau, entidades complementares e que vêm atingindo desempenho notável de atuação, trazendo e mantendo por mais tempo por aqui o turista a negócios, de eventos e, por que não, de lazer em São Paulo.

*Caio Sergio Calfat Jacob é consultor hoteleiro e vice-presidente de Assuntos Turísticos e Imobiliários do Secovi-SP — Sindicato da Habitação.

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