Especial

Sazonalidade na hotelaria: Como combatê-la de forma rentável

O mês de maio chegou e trouxe com ele uma velha preocupação para a hotelaria brasileira. Historicamente é um mês de pouca movimentação em diversos setores do trade nacional e o que registra o pior desempenho dos resorts durante o ano todo. É muito comum neste período, companhias aéreas e agências de viagens promoverem grandes promoções para atrair clientes e, assim, aquecer mais o turismo nacional. Um dos motivos desta sazonalidade é a proximidade desta época com feriados prolongados, como o carnaval, páscoa e tiradentes, além disso, maio fica a um mês das férias escolares.

O sonho de todo hoteleiro é ter uma grande movimentação de hóspedes no mês de maio usufruindo de todos os serviços oferecidos, mas a realidade é outra e o setor de lazer é o que mais sofre com a sazonalidade deste mês. Combater a sazonalidade se torna essencial e uma das alternativas adotadas por alguns empreendimentos é a captação de eventos nos períodos de baixa temporada. De acordo com dados da Resorts Brasil, os resorts brasileiros registraram no ano de 2012 cerca de 36,6% de ocupação no mês de maio, ou seja, quase ¾ do empreendimento ficou vazio. A expectativa da entidade é que neste mês de maio a taxa de ocupação alcance 40% e uma das explicações está no feriado de Corpus Christi, que será no dia 30 de maio.

Na média histórica, a taxa de ocupação dos resorts no Brasil não passa de 55% de média acumulada ao ano, mas existem exceções, como o Rio Quente Resorts, que consegue romper a barreira de 70% de ocupação ao ano e se manter rentável durante a baixa temporada. Apesar de estar localizado na Região Central do Brasil, longe do Litoral, onde se encontra a maioria dos resorts no Brasil, o Rio Quente possui um excelente aliado: o clima. Enquanto alguns empreendimentos dependem do clima quente de verão para atrair hóspedes, ele conta com o clima quente do cerrado brasileiro praticamente o ano inteiro.

O clima é o vilão?

A programação variada também contribui para a rentabilidade do negócio mesmo em períodos em que o resort registra queda na ocupação. “Existem vários fatores que contribuem para sermos um sucesso de público. O clima é um deles, pois enquanto alguns destinos dependem do verão ou inverno para aumentar o número de visitantes, o complexo oferece calor o ano todo e poucos dias de chuva. Obviamente, em períodos fora da alta estação, obtemos uma queda natural na ocupação. Mas conseguimos manter excelentes índices em função de promoções diferenciadas para hóspedes e visitantes, além de um rico calendário de eventos temáticos, que atraem grupos específicos, como os Festivais Italiano, Japonês e Alemão, Encontro de Motociclistas, Noites Douradas e torneios de Tênis. Sempre com uma programação abrangente, incluindo a participação de conhecidos artistas e bandas musicais, temos sido bem sucedidos na missão de cativar o público”, comenta Manoel Carlos Cardoso, Diretor de Experiência Marketing e Vendas do Rio Quente Resorts.

Interferência de fatores climáticos

O clima pode contribuir tanto positivamente quanto negativamente no sucesso de ocupação de um empreendimento hoteleiro e os localizados na região Sul do Brasil sabem o quanto as condições climáticas podem interferir. Geralmente, o turista tem a ideia de que o clima nesta região é sempre frio neste mês de maio, porém, em alguns locais litorâneos da região, é possível encontrar um clima agradável. O Hotel Beira Mar Itapema está localizado a poucos metros do mar e é o terceiro pólo turístico de Santa Catarina, com acesso privilegiado às principais atrações do estado catarinense como o Parque Beto Carreiro World (45km), Balneário Camburiú (15km), Florianópolis (60km) e Blumenau (70km). Mesmo assim sente forte os efeitos da sazonalidade, que começa no mês de maio e dura vários meses.

Dentre as principais ações que o empreendimento realiza para combatê-la, estão parcerias com as OTA’s — Online Travel Agency, captação de eventos, dentre outras. “A região Sul é a que mais sofre com a sazonalidade nos resorts e hotéis de lazer, pois o turista vincula o frio que ocorre na serra com a região litorânea, e na verdade não é isso que acontece, pois sempre temos um clima bom até o mês de maio. Para mantermos a rentabilidade de nosso negócio trabalhamos na captação de eventos que viabilizam alguns meses deste período crítico. Também apostamos nos grupos da melhor idade: para se ter uma ideia, no último mês de março que já é considerado baixa temporada, tivemos uma ocupação de 80%, somente com esse segmento. Temos também um restaurante aberto ao público, onde realizamos algumas ações de marketing focadas na população local e com isto viabilizamos a manutenção da equipe de A&B durante o ano todo, ao mesmo tempo em que temos um treinamento constante neste setor”, afirma Luiz Carlos Nunes, Diretor do Hotel.

Segundo ele, o setor de turismo brasileiro deveria contar com mais projetos de incentivo para que o brasileiro viajasse mais e enquanto ele foi Presidente da ABIH Nacional — Associação Brasileira da Indústria de Hotéis de 2002/2004, deu uma grande contribuição. “Demos entrada no Senado no Projeto Lei 0488/2003 que cria o Vale Hospedagem. Este Projeto já foi aprovado em todas as comissões e está desde 2010 aguardando para ir ao Plenário do Senado para aprovação. Através dele as empresas poderão conceder um incentivo aos seus colaboradores e abater em até 5 % do Imposto de Renda a pagar. Com esta ação, além de proporcionar ao trabalhador a oportunidade de descansar nos hotéis e conhecer o seu País, irá aumentar muito a ocupação dos empreendimentos em baixa ocupação, pois o mesmo só será válido para estes períodos”, enfatiza Nunes.

Custos Operacionais

Uma das despesas mais elevadas nos resorts brasileiros é a energia elétrica e independente da época do ano, este custo operacional sempre existirá. Mesmo com pouco hóspede não se pode sair apagando as luzes de áreas de lazer, como quadras de esporte, ou mesmo áreas comuns. A recente redução disponibilizada pelo governo federal no Plano Brasil Maior ainda não pôde ser sentida pelos hoteleiros, mas irá fazer grande diferença, assim como a desoneração na folha de pagamento já faz. A Resorts Brasil, por exemplo, tem estudado a hipótese da compra coletiva de energia elétrica entre os empreendimentos. De acordo com o Presidente, Dílson Fonseca, esta questão está na frente das discussões da entidade em conjunto com outras instituições da classe hoteleira, em articulação com os Ministérios do Turismo e de Minas e Energia.

Fonseca aponta também a flexibilização trabalhista como um fator de rentabilidade para o resort nos períodos de sazonalidade. A política do banco de horas, por exemplo, favorece o setor hoteleiro. Segundo ele, “A atual legislação trabalhista não permite a flexibilidade desejada para que os empreendimentos possam contar com seus colaboradores com mais horas em períodos de alta temporada e menos horas em baixa temporada, como acontece nos cruzeiros marítimos do Brasil. Essa legislação é aplicada nos Estados Unidos e Espanha, países onde o turismo é um dos pilares do PIB local. Essa é uma reivindicação do setor, para que tenhamos maior competitividade. Se pudermos contar com a diminuição dos custos com energia elétrica e a flexibilização do regime de trabalho, iremos dar um grande passo”, complementa o executivo.

A contratação temporária também pode ser a solução para a redução dos custos operacionais durante a baixa estação, mesmo em hotéis corporativos que não sentem tanto os efeitos de sazonalidade. Na visão de Emanuel Baudart, Vice presidente Comercial do FOHB — Fórum de Operadores Hoteleiros do Brasil, a contratação temporária favorece a administração hoteleira durante a sazonalidade. “Se avaliarmos a questão do ponto de vista da produtividade dos colaboradores, a contratação temporária faz mais sentido. Por exemplo: A camareira pode trabalhar no hotel no período de alta temporada e, na baixa, ao invés de ter que estar no hotel mesmo sem ter necessidade, ela fica livre para realizar outras atividades remuneradas, mantendo-se produtiva. A contratação temporária é uma solução que não só desonera o setor no que se refere aos custos operacionais, mas também mantém a população economicamente ativa efetivamente produtiva, o que é importante em tempos de pleno emprego”, comenta.

Público Corporativo

Se o segmento de lazer sofre bastante com os reflexos da sazonalidade, a hotelaria corporativa, sofre pouco, mesmo registrando baixa ocupação nos meses de dezembro e janeiro. Mas isto é compensado pela alta temporada dos empreendimentos de lazer. De acordo com dados do FOHB, a média de ocupação dos hotéis associados à entidade foi de 67,17% no ano de 2012. Enquanto os resorts registraram 36,6% de ocupação no mês de maio de 2012, os hotéis do segmento corporativo atingiram 67% de ocupação. “Os hotéis das redes associadas ao FOHB possuem uma dinâmica diferente quanto à taxa de ocupação. Pela preponderância de empreendimentos que atendem o público corporativo, a taxa de ocupação tradicionalmente registra queda nos meses de dezembro, onde a ocupação gira em torno de 55,81%, e janeiro, com 60,82%”, frisa Baudart.

Segundo ele, a entidade costuma incentivar seus associados a combaterem a sazonalidade de maneira rentável a partir da prática do Revenue Management — gerenciamento de receitas, onde se aplica uma diária maior em determinados períodos de alta ocupação para contrapor ao período de baixa ocupação. “No Brasil, a aplicação desta prática ainda é tímida, o que se pode explicar pelo fato de que a hotelaria de rede, que é onde as práticas internacionais se iniciam, representa 27% das UHs do setor no Brasil. Por meio do eixo de Desenvolvimento do FOHB, em que boas práticas do setor são homologadas, estimula-se que os associados tenham uma área de revenue management para administrar o deságio da perecibilidade do setor”, explica Baudart.

Mudança de vocação

O Rio de Janeiro é a principal porta de entrada de turistas estrangeiros no Brasil e a cidade que registra a mais alta taxa de ocupação hoteleira, mas ao contrário do que muita gente imagina, o segmento de lazer representou apenas 29,94% de ocupação na cidade no último ano. Por sediar um grande número de empresas de grande porte e estatais, como a Petrobrás, a vocação da capital fluminense mudou nos últimos anos para eventos, pois o público de lazer se concentra apenas nos meses do verão. De acordo com dados da ABIH/RJ — Associação Brasileira da Indústria de Hotéis do Rio de Janeiro, cerca de 36,17% dos room nights foram vendidos por motivo de trabalho ou negócios, somados a 12,18% de hóspedes que visitaram a cidade para participar de convenções, congressos ou feiras, totalizando 48,35% de ocupação para o segmento corporativo.

A malha hoteleira fluminense consegue manter-se rentável o ano inteiro devido aos grandes eventos realizados. Na média de ocupação anual da capital gira em torno de 80%. Apesar de ter o clima quente durante grande parte do ano, o turismo de lazer é mais sazonal, concentrando-se somente nos períodos de férias e de verão. Já o público corporativo acaba sendo menos sazonal, mantendo os níveis de ocupação altos durante o ano todo.  “Com os grandes eventos no calendário, a cidade está naturalmente em evidência e se posicionando entre os principais destinos turísticos mundiais. Além disso, estamos recebendo grandes investimentos em infraestrutura e a rede hoteleira está se modernizando em equipamentos e serviços para atender o crescimento da demanda. Nossa entidade também está apoiando a Embratur e o Rio Convention no direcionamento das campanhas de marketing no exterior para atrair mercados emergentes ainda não consolidados como emissores de turistas pro Brasil, como a China”, revelou Alfredo Lopes, Presidente da ABIH/RJ. Para ele, a sazonalidade deve ser combatida através de um forte trabalho de divulgação dos mercados emergentes, como os Brics, e com um sólido calendário de eventos corporativos e de lazer disponíveis.

Fatores externos

Como se já não bastasse a sazonalidade para os hoteleiros brasileiros se preocuparem, os fatores externos como as crises econômicas de países europeus, asiáticos e até mesmo os Estados Unidos, afetam a taxa de ocupação. A Hotel Invest divulgou recentemente na 5ª edição do Panorama da Hotelaria Brasileira dados que apontam que a ocupação média dos hotéis brasileiros teve queda de 4,1% no ano de 2012. De acordo com o estudo, essa baixa é resultado do baixo crescimento do PIB — Produto Interno Bruto, que acabou afetando o volume de viagens de negócios e eventos para empresas. O mercado hoteleiro mundial também acabou sofrendo com a baixa ocupação por conta das crises nos Estados Unidos, Ásia e na Europa. Além do pequeno crescimento do PIB, outros fatores também são responsáveis pela queda na ocupação dos hotéis, como por exemplo, a superoferta de quartos devido à inauguração de novos empreendimentos. Além disso, a alta dos custos operacionais e de mão de obra também são responsáveis por isso.

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