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Rui Eduardo Schürmann: o novo timoneiro da ABIH/SC

Ele é um empresário catarinense bem sucedido que comanda o Grupo Vila do Farol que consiste em uma construtora e incorporadora e quatro empreendimentos hoteleiros. O executivo tomou posse no início desse ano como o novo Presidente da ABIH/SC – Associação Brasileira da Indústria de Hotéis de Santa Catarina. Ele já participava ativamente na diretoria da Osmar Vailatti na qual o sucedeu agora tem o objetivo de dar continuidade ao trabalho que estava sendo realizado, assim como modernizar a entidade.

Nessa entrevista exclusiva Rui Eduardo fala dos desafios no comando de uma das mais representativas entidades da hotelaria nacional, os impactos da pandemia da COVID-19, a alta temporada do verão bastante comprometida, com redução de mais de 50% na ocupação, como será retomada do setor e o fato de que os recursos liberados pelo Governo Federal para auxiliar o setor, não chegaram.

As lições que os hoteleiros podem tirar da pandemia da COVID-19, os preparativos para a realização do ENCATHO/EXPROTEL em agosto, perspectivas para a hotelaria nos próximos anos também são abordadas por Rio Eduardo nessa entrevista que ele conclui dizendo: Aquela ideia romântica de que a pessoa vai se aposentar, montar uma pousada na praia e viver de comer peixe e receber alguns amigos felizmente está acabando. Hoje a hotelaria é um negócio e tem que ser gerido como tal. Confira a seguir a entrevista.

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Revista Hotéis – Qual a bagagem profissional que apresenta para comandar a ABIH/SC?

Rui Eduardo Schürmann – Sou formado em Direito pela Univali de Santa Catarina, advogado com registro na OAB/SC, com especialização em Empresas Familiares e MBA em Gestão de Empresas. Na Hotelaria tenho experiência como Gerente-Geral, Diretor Financeiro, Diretor de Hotelaria, Diretor-Geral e hoje Presidente de um grupo empresarial que agrega quatro hotéis no litoral de Santa Catarina.

R.H – O que o levou a aceitar esse novo desafio profissional e quais são seus planos frente a ABIH/SC?

R.E.S – Participei da Entidade como representante das nossas empresas, já fui diretor e me mantive acompanhando os trabalhos realizados e participando dos eventos e no meio do ano passado fui convidado para retornar a diretoria, desta vez como diretor-presidente. O convite partiu do Sr. Osmar Vailatti, então diretor-presidente e hoje Presidente do Conselho Deliberativo. Eu entendi que era o momento de colaborar de uma forma mais participativa com a hotelaria catarinense.

Os planos que temos são uma complementação do trabalho desenvolvido pelo Osmar, trazendo novamente a Entidade para o protagonismo que sempre teve, não só na representação da hotelaria, como também no posicionamento junto ao setor de turismo. Nossa intenção também é de modernizar a entidade, utilizando as ferramentas tecnológicas hoje disponíveis para podermos prestar um serviço de melhor qualidade ao nosso associado.

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Mas o grande desafio que se desenhou é o de auxiliar a hotelaria catarinense a enfrentar os efeitos da pandemia. No mundo todo os efeitos econômicos no setor de turismo foram os mais devastadores, temos que lembrar que muitas atividades ainda não voltaram, como os eventos, e que estas pessoas estão sem condições de gerar o seu sustento por quase um ano. A hotelaria também depende muito destes eventos. Em menor ou maior escala, todos os hotéis dependem de um ou outro evento social, seja um casamento, uma reunião, encontros empresariais ou mesmo as viagens de negócios, portanto, alguns hoteleiros ainda aguardam para poder contratar funcionários e retornar ao seu negócio.

R.H – Como você, que é um empresário do setor hoteleiro, acompanhou os vários embates judiciais para abrir e fechar os meios de hospedagem de Santa Catarina em razão da COVID-19? Na sua opinião houve equívocos, abusos ou excessos?

R.E.S – Não só na questão do final do ano, mas também com as portarias, decretos e demais medidas que os governos adotaram durante o ano passado inteiro, o profissional que mais necessitamos consultar foram os advogados. Na questão específica do final do ano, o Governo do Estado publicou uma portaria autorizando os meios de hospedagem a trabalhar com 100% de sua capacidade de ocupação. O Ministério Público entendeu que esta questão poderia oferecer risco de saúde pública e conseguiu suspender a decisão. Após uma briga jurídica árdua, onde a Procuradoria Geral de Santa Catarina agiu defendendo a posição do Governo do Estado, e consequentemente a hotelaria catarinense, o Tribunal de Justiça entendeu (provisoriamente) que a competência para editar tal ato seria pertinente a gestão pública, portanto, caberia ao governo o entendimento e não poderia ser discutido da forma como fora.

Finalmente, voltamos para a possibilidade de 100% de ocupação. Na nossa visão, este entendimento de que a ocupação da hotelaria poderia causar um aumento nos casos não procede, pois, os meios de hospedagem obedecem a procedimentos de limpeza muito bem estudados e realizados. Na limpeza de um quarto, o estabelecimento hoteleiro já toma uma série de medidas e cuidados, e isto ficou ainda mais rígido durante a pandemia. Temos que lembrar que o Ministério do Turismo – Mtur foi o primeiro Ministério a publicar diretrizes para que o setor funcionasse. Temos procedimentos de funcionamento para todo o setor turístico. O MTur inclusive criou um selo de conformidade, que possibilita que o próprio hóspede avalia a limpeza do estabelecimento hoteleiro. Portanto, se falar em risco maior de contaminação em um quarto de hotel é senso comum, ou seja, carece de um conhecimento mais detalhado de como o setor funciona, qual é a rotina e realidade dentro de um hotel, visto com os olhares de um técnico e não de um hóspede. E nas áreas comuns, os hotéis estão seguindo absolutamente todas as normas para cada caso, ou seja. O restaurante do hotel segue as normas dos demais restaurantes, as piscinas seguem as normas de piscinas de clubes ou academias, e assim por diante.

Rui Eduardo Schürmann: o novo timoneiro da ABIH/SC
A limpeza dos quartos dos hotéis se tornou ainda mais criteriosa em razão da pandemia d COVID-19   (Foto: Freepik)
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“Na limpeza de um quarto, o estabelecimento hoteleiro já toma uma série de medidas e cuidados, e isto ficou ainda mais rígido durante a pandemia”

R.H – Daria para precisar o impacto que teve a COVID-19 nos meios de hospedagem de Santa Catarina em 2020? É possível recuperar as perdas em curto prazo?

R.E.S – Este impacto é ainda desconhecido, pois temos que lembrar que alguns estabelecimentos ainda não voltaram a funcionar, inclusive alguns hotéis chegaram a ser adaptados para funcionar como escritórios, pois a demanda caiu a praticamente zero. A recuperação é também uma incógnita, pois, temos vários tipos de hotelaria dentro da hotelaria. Por exemplo, a hotelaria de lazer do litoral, que deveria estar vivendo sua safra, está com a ocupação muito menor do que um ano normal. A hotelaria de lazer na Serra teve uma tímida recuperação no final do ano passado mas perdeu a sua safra que foi o inverno de 2020. Já a hotelaria de negócios está parada deste março, quando começou a quarentena. Sobre 2021, temos que aguardar para ver como fica a vacinação da população, para sabermos quando poderemos considerar uma volta à normalidade.

Rui Eduardo Schürmann: o novo timoneiro da ABIH/SC
A pandemia provocada pelo corona Covid-19 teve um impacto grande na hotelaria (Foto: Vektor Kunst iXimus – Pixabay)

R.H – Como estão os entendimentos com os prefeitos eleitos para tratar da questão COVID-19 x meios de hospedagem, assim como o Governo Estadual. Corre o risco de novos fechamentos de hotéis?

R.E.S – Como o setor está muito bem normatizado, com vários procedimentos estabelecidos, a relação com as prefeituras municipais ficou bem melhor. Assim como aconteceu também com o Governo de Santa Catarina, depois que tivemos muitos problemas no ano passado, agora foram abertos vários canais de comunicação com o próprio Governador, que tem sido bastante compreensivo com a hotelaria. Acreditamos que o pior passou, de agora em diante as medidas que porventura tenham que ser tomadas tendem a serem discutidas antes. Sobre novos fechamentos não acreditamos que isso possa ocorrer, pois a questão da vacinação está caminhando e podemos dizer que temos novamente esperança no final da pandemia, agora com a chancela da medicina.

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R.H – Como está sendo a retomada do setor hoteleiro catarinense? A temporada de verão está comprometida ou ainda é possível recuperar e atrair os turistas argentinos em razão do início da vacinação?

R.E.S – A retomada será lenta, assim como no Brasil todo. A temporada de verão foi bastante comprometida, com redução de mais de 50% na ocupação. Uma grande parte disto é em razão dos argentinos que não puderam vir e também dos brasileiros que acabaram desistindo de seus planos de viagens. A questão dos turistas argentinos é uma grande incógnita ainda, pois as fronteiras continuam fechadas sem previsão de abertura. E mesmo que as fronteiras sejam reabertas, não existem indicadores que digam que os argentinos virão.

“A retomada será lenta, assim como no Brasil todo. A temporada de verão foi bastante comprometida, com redução de mais de 50% na ocupação”.

R.H – Na sua opinião, quais as lições os hoteleiros podem tirar da pandemia da COVID-19?

R.E.S – Estas lições são bem particulares, pois cada estabelecimento hoteleiro enfrentava uma realidade distinta, portanto, as causas e consequências da pandemia atingiram cada empresa de uma forma.

Nas empresas, sem dúvida alguma, a atenção pela gestão do negócio ganhou uma força ainda maior. A pandemia mostrou que as empresas que tinham controles apurados, gestão financeira bem executada, controles de custos bem definidos e estratégias comerciais e de marketing pensadas e bem executadas, tiveram um impacto menor no resultado. E quando eu falo nestas questões não estou me referindo ao tamanho da empresa nem na capacidade financeira dela, e sim em controles bem feitos, mesmo que os mais simples, e definições bem claras do que se quer do negócio. Esta questão se aplica a qualquer tamanho de empresa, desde uma pousada com cinco quartos até hotéis com centenas de quartos.

Outro ponto importante é que os destinos turísticos, no caso específico os Municípios, começaram a entender que o planejamento turístico é importantíssimo. Existem atrativos que a natureza nos deu, mas temos que ter estrutura nos locais para receber os turistas, bem como estratégias bem desenvolvidas para se atrair este turista, com planos de promoção do destino bem claros e executados.

“Outro ponto importante é que os destinos turísticos, no caso específico os Municípios, começaram a entender que o planejamento turístico é importantíssimo”.

R.H – As Medidas Provisórias editadas pelo Governo Federal foram suficientes para garantir o fôlego financeiro da hotelaria catarinense? O crédito liberado chegou a quem necessitava? Ou é necessário novas medidas?

R.E.S – Infelizmente não. O crédito não chegou, as empresas continuam em dificuldades financeiras e veremos estes problemas se acentuarem ao longo deste ano. Claro que seriam necessárias outras medidas, mas o dinheiro infelizmente não é destinado a quem precisa. Veja o exemplo da indústria automobilística, uma grande montadora decidiu deixar o país. Pesquisem os recursos que esta montadora recebeu de incentivos fiscais nos últimos anos e façam uma relação com o número de empregos gerados, agora verifique a questão do turismo no Brasil, o que temos disponível de linhas de crédito (não estamos nem falando de incentivos, mas de empréstimos com juros menores que serão pagos) e compare com o volume de emprego que o turismo gera. Veremos que são dois pesos e duas medidas, completamente diferentes.

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Além do crédito que não chegou a quem precisava, temos ainda a questão de determinadas despesas, principalmente as taxas municipais. Os estabelecimentos hoteleiros ficaram grande parte do ano passado fechados sendo que alguns deles ainda estão. No período de fechamento as taxas de recolhimento de lixo seguiram sendo cobradas, na grande parte dos municípios. Já no início deste ano, os estabelecimentos hoteleiros estão recebendo as novas taxas de lixo e os carnês estão chegando sem um único centavo de desconto. Esta questão demonstra que não só a hotelaria enfrenta os problemas de falta de crédito, mas também conta com a falta de empatia dos gestores municipais.

“Já no início deste ano, os estabelecimentos hoteleiros estão recebendo as novas taxas de lixo e os carnês estão chegando sem um único centavo de desconto”.

R.H – Como estão os preparativos para a realização do ENCATHO / EXPROTEL 2021? Esses eventos vão acontecer de forma presencial e o que o público e expositores podem esperar?

R.E.S – Estamos nos preparando para realizar o Encatho/Exprotel em agosto deste ano. Estamos firmando uma parceria com a Fecomércio e realizaremos em conjunto com um evento deles, destinado também ao turismo. Nas próximas semanas teremos isto tudo alinhado e faremos a divulgação oficial. Ficamos na expectativa que realmente em agosto os eventos presenciais possam já ser realizados.

R.H – Na sua visão de empresário do setor hoteleiro, quais são os gargalos existentes no Brasil para se desenvolver novos hotéis? O que é necessário para reativar o setor?

R.E.S – Eu sou um otimista por criação, aprendi assim com meu Pai, então entendo que os gargalos existem em qualquer lugar do mundo, em alguns locais maiores e em outros menores, mas sempre teremos dificuldades. O que nós precisamos é ter a coragem para enfrentar os desafios e sabedoria para encontrar as melhores alternativas. Nos próximos meses, teremos que ter muita coragem, determinação e resiliência, pois os desafios ainda serão grandes.

Sem dúvida precisamos ter as vacinas disponibilizadas para a população, só assim as pessoas terão segurança de novo para sair de casa.

E também precisamos ter a colaboração dos governos para que sejam realizados os planejamentos dos destinos e isto seja colocado em prática. Temos que “nos vender bem”, porque as pessoas vão querer sair de casa e passear com suas famílias, portanto teremos que nos apresentar a estes viajando como uma boa opção.

R.H – Que análise você faz do setor hoteleiro nos próximos anos?

R.E.S – Verificamos que existe um novo pensamento que começa a dominar o setor. Aquela ideia romântica de que a pessoa vai se aposentar, montar uma pousada na praia e viver de comer peixe e receber alguns amigos felizmente está acabando. Hoje a hotelaria é um negócio e tem que ser gerido como tal. Temos que ter planejamento como qualquer outra empresa, não importa o seu tamanho, você tem que ter o negócio na sua mão. O mercado, cada vez mais, vai exigir esta profissionalização.

Devemos também verificar um aumento de grupos hoteleiros, dos mais diversos tamanhos. Grupos formados por hotéis de médio e pequeno porte, para ganhar sinergia de divulgação e de operação. Como em todo setor, o setor hoteleiro passa por uma forte pressão por custos menores. Em muitas ocasiões este custo menor pode ser conseguido com esta sinergia.

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Edgar J. Oliveira

Diretor editorial - Possui 31 anos de formação em jornalismo e já trabalhou em grandes empresas nacionais em diferentes setores da comunicação como: rádio, assessoria de imprensa, agência de publicidade e já foi Editor chefe de várias mídias como: jornal de bairro, revista voltada a construção, a telecomunicações, concessões rodoviárias, logística e atualmente na hotelaria.

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