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Redução de plástico em hotéis é a nova preocupação durante pandemia

Opção de armazenamento e separação de objetos plástico têm impacto negativo sobre natureza

A pandemia da COVID-19 impôs uma série de regras de segurança sanitária para combater um inimigo invisível e até então desconhecido pela ciência nos efeitos no organismo das pessoas infectadas. Como pouco se sabia da propagação desse vírus e com o número crescente de internações e óbitos, num primeiro momento o isolamento e distanciamento foram as principais armas. E com a descoberta de vacinas, aos poucos a economia começou a retomada, mas os cuidados ainda eram essenciais. Como o plástico aumenta a percepção de higiene, passa sensação de segurança sanitária, é barato, leve, fácil de produzir e de limpar ele começou a ser utilizado em larga escala, principalmente no uso de máscaras. Segundo dados da UNCTAD – Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento, as vendas globais de máscaras foram de US$ 166 bilhões em 2020, mas um ano antes, este total era de US$ 800 milhões.

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E no segmento hoteleiro o uso acentuado de plásticos também aconteceu. Eles estavam presentes em algumas partes das máscaras de proteção facial, nas luvas que era necessário para se manusear os alimentos servidos nos buffets, nos canudos para ingerir as bebidas, nas embalagens dos talheres e em que alguns casos os alimentos eram servidos porcionados em embalagens plásticas. Toalhas, lençóis, cobertores e até mesmo o controle remoto das TV´s e ar condicionado nos apartamentos eram envolvidos em plásticos, além dos equipamentos de proteção individual dos colaboradores dos hotéis na limpeza e manutenção dos apartamentos. Frascos de álcool gel se somaram às amenidades do banheiro, assim como luvas, embalagens e estruturas plásticas foram aderidas em quase todos os ambientes. Houve um aumento de embalagens de produtos de limpeza e desinfetantes usados em quantidades maiores. Mas pouco se pensou sobre o impacto ambiental que essas medidas trariam de resultado.

 

Restos de embalagens de alimentos servidos e luvas plásticas em muitos hotéis vão para a mesma lixeira sem controle algum com o dano ambiental (Foto – Divulgação)

 

Uso excessivo preocupante

O uso excessivo de plástico durante o período pandêmico se tornou preocupante, porque, ainda que seja reciclável, o descarte do componente nem sempre é feito da forma correta. Segundo dados do IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, o País produziu 7,3 milhões de toneladas de produtos plásticos em 2020. Dados da ABIPLAST – Associação Brasileira da Indústria do Plástico revela que a produção do setor de transformados plásticos registrou crescimento de 2,4% em 2020 com relação a 2019, sustentado pelo segmento de embalagens e de tubos e acessórios para construção civil. O Atlas do Plástico, publicado pela Fundação alemã Heinrich Böll, coloca o Brasil como o quarto maior produtor de lixo plástico do mundo, o que representa 13% do total dos resíduos sólidos produzidos anualmente pelo País, segundo dados do Sindicato Nacional das Empresas de Limpeza Urbana. Mas o problema é que o Brasil recicla apenas 1% de milhões de toneladas de plásticos produzidos por ano. E em efeito de comparação, esse índice chega a 97% no caso das latas de alumínio.

A discussão desse tema se torna urgente, porque “a cultura do plástico” influencia em várias áreas e vidas. Seu descarte incorreto tem feito com que milhares de espécies marítimas sejam prejudicadas, e, em alguns casos, entrem em extinção. Como visto, imagens impactantes são diariamente distribuídas pelo Greenpeace e pela WWF – World Wildlife Fund, a fim de conscientizar grandes organizações e também o público comum. Além disso, como é de conhecimento geral, vale citar o quanto a Terra vem sofrendo, por conta de poluentes e produção desenfreada de produtos de difícil decomposição. Por esse motivo, além das medidas de revisão sobre o consumo excessivo de objetos plastificados, os responsáveis também têm discutido outras formas de inserir em seus hotéis práticas mais sustentáveis. A recomendação do Instituto Brasileiro de Sustentabilidade é que, além da redução no número de itens não reutilizáveis, haja também campanhas de incentivo ao descarte correto de lixo.

 

Antonietta Varlese: “Desde 2018 a Accor já vinha anunciando seu objetivo de eliminar o uso de plástico em seus hotéis” (Foto – Divulgação)

 

Política sustentável

Mesmo antes da pandemia várias redes hoteleiras já estavam eliminando o uso de plásticos em suas unidades, como trocar as embalagens de amenities de sabonetes, condicionadores e shampoos por dispensers. Além de ser uma política sustentável, reduz desperdícios e apresenta redução de custo operacional. A medida que o mercado foi entendendo o que era esse tal “COVID-19”, os sacos plásticos que envolviam os talheres também foram substituídos por embalagens de papel, que garantem a mesma proteção contra o COVID-19, porém são expressivamente menos nocivas para o planeta. E a rede hoteleira francesa Accor foi uma que adotou essa medida de redução do uso de plásticos. “A Accor adotou medidas rígidas de segurança na operação de seus hotéis, porém evitando ao máximo o consumo de plástico. Por exemplo, ao invés de usar invólucros de plástico para talheres, a empresa adotou o uso de embalagens de papel. Máscaras descartáveis aos colaboradores foram trocadas por modelos de tecido (laváveis), trocadas de três em três horas. As máscaras descartáveis só são utilizadas em situações onde seu uso é obrigatório segundo a OMS – Organização Mundial da Saúde. O papel filme para envolver alimentos foi substituído pelo papel manteiga ou por caixas de papel, quando permitido pelas normas da ANVISA – Agência Nacional de Vigilância Sanitária.  No lugar do protetor de calçado, os funcionários com acesso à cozinha utilizam líquido desinfetante para os sapatos colocados na entrada do ambiente, entre outas ações, mas que comprova padrões globais de limpeza e prevenção, desenvolvidos e aprovados pelo Bureau Veritas, sob a chancela do selo ALLSAFE”, revela Antonietta Varlese, Vice-Presidente Sênior de Comunicação, Relações Institucionais e Responsabilidade Social da Accor na América do Sul.

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Ela lembra que substituir o uso de plástico é algo que está no radar da Accor, não por conta da questão da COVID-19. “Muito antes da pandemia, desde 2018, a Accor já vinha anunciando seu objetivo de eliminar o uso de plástico em seus hotéis. A Accor eliminou os canudos plásticos de suas operações em 2019. Canudos de papel, bambu ou inox são entregues apenas mediante solicitação do hóspede. Em janeiro de 2020, a Accor assumiu o compromisso global anunciado na United Nation Tourism Plastic Initiative, que ocorreu na FITUR Madrid, de eliminar da experiência do hóspede todas as embalagens de plástico de uso único até o final de 2022”, revela Antonietta destacando que: “Logo no início da pandemia, a Accor saiu na frente do setor com um Guia de Retomada, um documento com mais de 150 itens cujo objetivo é assegurar o seguimento de novas medidas e procedimentos nos hotéis, isso inclui o descarte correto de resíduos plásticos e outros materiais com risco de contágio. Assim garantimos não só a responsabilidade com o meio ambiente, mas também a saúde de colaboradores e clientes”.

 

O uso de dispensers de sabonete, shampoos e condicionadores ganhou força na hotelaria (Foto – Divulgação)

Quantos à exclusão do uso de amenities de plástico, Antonietta diz que isso já é uma realidade nos hotéis da Accor. “Hoje nas unidades Mercure e Novotel, ao invés de usar aquelas tradicionais bisnagas pequenas de plástico com shampoo e condicionador, os clientes têm à sua disposição dois dispensers separados de 500 ml, um contendo shampoo e o outro condicionador. Fabricados pela Phytoervas, em parceria com a Realgem’s, as fórmulas desses produtos são isentas de contaminantes ambientais e ingredientes animais, sendo, portanto, cruelty-free e 100% veganas. Além disso, os hotéis das marcas Mercure e Novotel também oferecerem sabonetes em barra embalados em papel produzido com cera de abelha, substituindo o plástico. O mesmo ocorre nas marcas ibis, ibis Styles e ibis budget, onde os dispensers são de shampoo e condicionador 2 em 1 (de 265 ml), desenhados e desenvolvidos pela Realgem’s, além de sabonetes em barra, também embalados em papel com cera de abelha. Só nessa parceria da Accor com a Realgem´s, a redução no consumo de plástico foi de 87% (95 ton/ano), o equivalente a 15 barcos de pesca cheios de plástico a menos no planeta”, conclui Antonietta.

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Aumento nos custos operacionais

Para se adequar as normas da ANVISA e atender os protocolos de segurança sanitária, os meios de hospedagem tiveram um impacto grande nos custos operacionais, pois plásticos tem seu preço em dólar. E essa foi uma dura realidade que os meios de hospedagem tiveram que enfrentar, mesmo num momento em que as receitas literalmente despencaram. “Houve bastante variação nas resinas termoplásticas, principais matérias-primas dos produtos plásticos, com aumentos de 90% a 137% desde 2020. O dólar, sem dúvida, é um fator que influencia, pois o mercado fornecedor de resinas é altamente concentrado (monopólios e duopólios dependendo do tipo de resina) e protegido por uma das mais altas alíquotas de importação do mundo. Com isso, os fabricantes de resinas formam seus preços considerando o custo de internação do material importado (que abarca dólar, alíquotas de importação e fretes) e repassam aos transformadores de plástico”, assegura Paulo Teixeira, Diretor superintendente da ABIPLAST.

 

Paulo Teixeira: “O dólar teve um impacto grande nos preços dos plásticos” (Foto – Divulgação)

 

E em média os custos operacionais na utilização de plásticos cresceram de 20% a 30% no início da pandemia nos hotéis da rede Tauá. Hoje estes custos de limpeza e descartáveis, ainda estão acima dos 10%, comparando com períodos pré-pandemia. Isso é o que garante Felipe Castro, Diretor de Operações do Grupo Tauá. De acordo com ele, no início da pandemia foram utilizados plásticos em diversas áreas operacionais, pois naquele momento o que prevalecia era a segurança dos clientes. “Embalamos todos os tipos de roupa de cama, talheres, amenities, papel higiênicos dentre outros. Hoje com o conhecimento e aprimoramento dos processos, reduzimos drasticamente esta utilização e trocamos muitos dos materiais por papel ou até mesmo o reforço da higienização. Tivemos um custo alto de implantação de novas tecnologias, necessitamos de mais mão de obra em alguns setores e o objetivo era a entrega de um serviço seguro e óbvio. O custo de materiais de limpeza e descartáveis, que são muito alto desde o início da pandemia, hoje já estão mais controlados, devido reduções de alguns protocolos. Entendemos que realmente é necessário para entrega de um serviço seguro, negociações corporativas para ganho de escala e treinar muito bem os funcionários”, mencionou Castro.

Segundo ele, neste momento o Grupo Tauá está totalmente focados no ESG e um dos eixos é a parte ambiental. “Já iniciamos diversas ações e alterações de processos internos da empresa. Como exemplo, acabamos de trocar nossos recipientes dos amenities dos nossos hotéis para biodegradáveis com a empresa Realgem’s”, concluiu Castro.

 

Felipe Castro: “Os custos de limpeza e descartáveis, ainda estão acima dos 10%, comparando com períodos pré-pandemia” (Foto – Divulgação)

 

Redução do uso de plásticos nos produtos

Essa é uma das preocupações da Harus Soluções em Hospitalidade. “Estamos constantemente revendo nosso portfólio e processos de fabricação para oferecer aquilo que há de mais novo em embalagens e produtos ecologicamente corretos. Fomos pioneiros ao lançar, em 2007, as embalagens de refil sachê, diminuindo o descarte de frascos em 70% para quem opta pelo uso do formato. Hoje, toda a nossa produção de líquidos utiliza base vegetal e amigável para o meio ambiente. Nossos amenities levam matérias-primas livres de parabenos e não são testados em animais. Os frascos são feitos de PET reciclado e têm o selo Plástico Verde – ou seja, são produzidos com matéria-prima vegetal, renovável, e têm impacto ambiental significativamente menor. Além disso, todos os sólidos da linha Alma Brasil, nossa marca própria de produtos eco-friendly, são agora embalados em papel vegetal certificado, reduzindo ainda mais o descarte de embalagens plásticas”, explica Luiz Roberto Magrin Filho, Diretor executivo da Harus.

Substituir as tradicionais embalagens plásticas por papel ou um outro material biodegradável tem um custo maior? Senão, porque os hotéis não aderem a essa solução? Existe uma barreira cultural na hotelaria que impede isso e quem explica é Magrin Filho. “De todo o portfólio da Harus, o total de itens que registram alguma variação de preço em razão da diferença de embalagens não passa de 5%. Uma barreira específica que tenho observado no contato com os meios de hospedagem é a dificuldade de alguns deles com os sabonetes embalados em papel vegetal. Esse é um produto de alto consumo, mas que, caso não seja utilizado logo, pode absorver a umidade dos banheiros e ter de ser descartado”, revela Magrin Filho.

Para ele, os dispensers utilizados para sabonetes, shampoos e condicionadores nos hotéis já não é mais uma tendência, é algo que chegou para ficar. E por isso a Harus está atenta ao desenvolvimento novas linhas neste formato, a exemplo das novidades de L’Occitane au Brésil anunciadas na segunda quinzena de outubro. “Os dispensers minimizam o desperdício, reduzem o impacto ambiental e garantem economia de custo entre 30% e 60% para os gestores. Ainda existe, é claro, alguma resistência a eles, relacionada à manutenção dessas embalagens – e também a depender do público dos meios de hospedagem. A questão dos dispensers é que seu manuseio e reenvase têm de ser feitos de maneira específica, evitando contaminação e, portanto, questões de vigilância sanitária. Por isso, a Harus oferece a seus clientes um manual de procedimentos, além de treinamento para a melhor utilização desses frascos”, menciona Magrin Filho.

 

Luiz Roberto Magrin Filho: “Estamos constantemente revendo nosso portfólio e processos de fabricação para oferecer aquilo que há de mais novo em embalagens e produtos ecologicamente corretos” (Foto – Divulgação)

 

Ele finaliza lembrando uma ação que a Harus desenvolve na reciclagem dos plásticos utilizados em seus produtos. “Somos associados do projeto Dê a Mão para o Futuro, da ABIHPEC -Associação Brasileira da Indústria de Higiene Pessoal, Perfumaria e Cosméticos. Essa entidade viabiliza a recuperação e reciclagem de embalagens pós-consumo, reduzindo o volume de materiais que seriam destinados aos aterros. Em paralelo, o programa investe em melhorar as condições de trabalho e a qualidade de vida dos catadores de materiais recicláveis.

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Edgar J. Oliveira

Diretor editorial - Possui 31 anos de formação em jornalismo e já trabalhou em grandes empresas nacionais em diferentes setores da comunicação como: rádio, assessoria de imprensa, agência de publicidade e já foi Editor chefe de várias mídias como: jornal de bairro, revista voltada a construção, a telecomunicações, concessões rodoviárias, logística e atualmente na hotelaria.

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