Especial

Produtos chineses invadem a hotelaria nacional

A China é a grande fábrica do mundo e de olho no crescimento do segmento hoteleiro brasileiro cada dia mais produtos chegam ao setor com preços muito competitivos, mas a qualidade necessita ser observada, pois assim como em qualquer indústria mundial, existem bons e maus produtos

Desde a última década, a China vem se despontando como uma grande e importante liderança comercial e econômica mundial, e desbancando o reinado dos Estados Unidos que perdurou por décadas. Em consequência disto, a China considerada a grande fábrica do mundo e aproveitando o bom momento do mercado econômico dos países emergentes, já ocupa a posição de maior parceiro comercial do Brasil desde 2009, tanto no que se diz respeito a importação e exportação de produtos, que vão desde eletrônicos a equipamentos e maquinário industrial.


Dados do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, apontam que, em 2013, as exportações para o Gigante Asiático somaram US$ 46 bilhões e as importações, US$ 37 bilhões – total de US$ 83 bilhões. Em 2012, por exemplo, a cifra foi menor, o equivalente a US$ 75,4 bilhões – US$ 34,2 bilhões em importações e US$ 41,2 milhões em exportações. Para se ter ideia da importância das relações de mercado com a China, basta fazer uma comparação com os dados sobre o comércio bilateral entre o Brasil e os países do Mercado Comum do Sul (Mercosul) – US$ 43,9 bilhões (importações e exportações) em 2013 contra os R$ 83 bilhões com os chineses. Os principais produtos exportados foram minério de ferro, soja em grão e petróleo bruto. Em contrapartida o Brasil importou da China US$ 30,1 bilhões entre janeiro e novembro, crescimento de 23% em relação a 2010, e os principais produtos importados foram: aparelhos eletroeletrônicos e componentes, máquinas e equipamentos, químicos e veículos. Alguns céticos de plantão já falam que este é o início do processo de desindustrialização no Brasil.


Qualidade Made in China

E a qualidade destes produtos, como fica? Assim como em toda e qualquer indústria mundial, a China fabrica mercadorias boas e ruins e sem que muitas pessoas percebam, grandes marcas mundiais de eletrônicos japoneses, americanos ou mesmo europeus possuem o selo Made in China. Agora a ‘onda de ataque’ é o segmento hoteleiro, pois os chineses perceberam o imenso potencial deste setor e começou uma ‘invasão silenciosa’ de produtos principalmente na importação de cofres, sensores de presença, frigobar, secador de cabelo, espelho de aumento, amenities, travesseiros, enxovais de cama, mesa e banho, utensílios e equipamentos para cozinhas industriais. Para conquistar este mercado os chineses são presença cada vez mais constantes em feiras segmentadas para apresentar seus produtos e estreitar relacionamentos com os compradores hoteleiros. Independente disto, numa busca na internet é possível identificar dezenas de empresas que vendem diretamente para a hotelaria.

Esta ‘onda vermelha’, uma alusão a cor predominante da bandeira da China, preocupa até mesmo tradicionais fornecedores da hotelaria nacional que descobriram os produtos chineses como fortes concorrentes. Na maioria das vezes eles chegam ao mercado brasileiro com um preço imbatível, sendo que em muitos casos estes produtos podem estar subfaturados e algumas vezes quem compra corre o risco ainda da mercadoria não cumprir critérios estabelecidos pela vigilância sanitária brasileira.

A Tramontina que possui cerca de 90% da produção nacional de talheres se sentiu incomodada com a concorrência dos produtos chineses e chegou a pedir que o SECEX – Secretaria de Comércio Exterior, do Ministério do Desenvolvimento examinasse a diferença com relação aos valores de exportação cobrados por fabricantes de outros países. A Itália, por exemplo, exporta talheres aos Estados Unidos ao preço de US$ 39,22 por quilo, enquanto os chineses enviam talheres ao mercado brasileiro a US$ 3,48 por quilo.

A hotelaria brasileira é um desses setores que se beneficiaram com a chegada de uma variedade enorme de produtos utilizados com a finalidade de melhor atender  turistas e consumidores em geral. Hoje os produtos importados da China desfrutam de uma imensa aceitação por parte dos consumidores brasileiros. A fase da curiosidade, da desconfiança, já passou e os produtos chineses são muito bem recebidos pela qualidade obtida nos processos produtivos, que cresceram e se modernizaram muito nas últimas décadas.

Barreira aos chineses

Segundo João Peres, Presidente do SINDAL – Sindicato dos Fabricantes de Equipamentos, das Empresas Fornecedoras de Produtos e Serviços de Projeto, Montagem e Manutenção de Cozinhas Industriais em Hotéis, Motéis, Flats, Restaurantes, Bares, Lanchonetes, Fast-Foods, Supermercados, Hospitais, Escolas, Clubes e Similares do Estado de São Paulo, visando se posicionar de maneira ainda mais competitiva no mercado e fazer frente aos chineses, fabricantes brasileiros de equipamentos para cozinhas profissionais e food service em geral estão investindo pesado na ampliação e na modernização da sua produção. Novas tecnologias de ponta estão sendo incorporadas, assim como processos de fabricação voltados para o aumento da qualidade e o barateamento dos produtos. “Contudo, a matéria prima aço inox é uma das mais caras do mundo, a carga tributária é elevada e o custo do dinheiro é astronômico no Brasil. Apesar disto, a indústria nacional cresce e se organiza para atender seus clientes e dar o respaldo em assistência técnica e pós-venda. Isto é uma garantia para o empresário da hospitalidade, que não vai ficar na mão numa hora em que a sua reputação e a sua marca estiverem em jogo”, afirma Peres.

 Segundo ele, os fabricantes chineses de equipamentos para cozinhas profissionais estão introduzindo cada vez mais produtos no mercado brasileiro. “É crescente o número de  empresas  locais que buscam a competitividade importando containeres lotados com produtos chineses para o setor. Na própria feira Equipotel de 2011, os fabricantes chineses procuraram as indústrias brasileiras que ali estavam, oferecendo-se para produzir seus equipamentos com um custo mais reduzido, em função da mão de obra e matérias primas (especialmente o aço inox) mais baratas do que se fossem feitos no Brasil, descontados os impostos”, conta o Presidente do Sindal.

Qualidade e competitividade

A Humaitá Louças, uma das maiores fornecedoras de equipamentos e utensílios de cozinha para hotelaria nacional, descobriu que importar da China é mais vantajoso, pois existe muita qualidade nos produtos, que em alguns casos não existe fabricação nacional, e um preço mais competitivo do que adquirir no mercado nacional. Com isto, a empresa criou duas marcas próprias para os produtos que importa da China a Humaitá Catering e Humaitá Inox. “Os itens da Humaitá Catering não possuem similares fabricados no Brasil – são bandejas de fibra de vidro com antiderrapante, carros para pratos, suportes para pratos prontos, carros para transporte de gelo, recipientes isotérmicos para líquidos e alimentos, racks para lavagem, armazenagem e transporte de copos e taças. No caso da Humaitá Inox, são réchauds, chafings, suqueiras e samovares/cafeteiras em inox para atender a hotelaria e muitos também não possuem fabricação nacional”, conta Júlio César Rodrigues, Diretor Comercial da Humaitá Louças.

Outra tradicional empresa fornecedora da hoteleria nacional que recorre a China para suprir a carência da indústria brasileira é a Saga Systems. “Como hoje o Brasil não têm mais uma indústria de componentes eletrônicos e os nossos produtos são em sua essência eletrônicos, buscamos componentes de qualidade no mercado mundial. Hoje a China é um grande fabricante de componentes. Não temos como fugir desta realidade para equipar nossos cofres eletrônicos”, explica Priscilla Bastos, Diretora da Saga Systems. 

Segundo ela a empresa brasileira que importa e comercializa os produtos da China tem que atender as normas de qualidade, pós-venda e a legislação nacional. “Este é um tripé que caso não seja atendido, a empresa não dura muito tempo no mercado, pois um hotel que compra um produto que não tenha qualidade, não compra a segunda vez. A empresa que não atende a legislação brasileira entendo que ela está cometendo um crime e consequentemente será penalizado”, afirma Priscilla.

Um segmento que sofre com o avanço das importações chinesas é o têxtil. Enxoval de cama, mesa e banho chegam no Brasil com um custo até 40% menos que os produzidos no Brasil, mas em alguns casos a qualidade é questionável. Alguns hotéis que não fazem a conta literalmente na ponta do lápis, acabam comprando estes produtos simplesmente pelo preço, mas depois acabam se arrependendo pela pouca durabilidade e sem pós venda.

Importação dificultada

 

Quando o produto chinês envolve diretamente a saúde pública, a invasão é mais contida, como no caso de amenidades. “As exigências da ANVISA — Agência Nacional de Vigilância Sanitária são bem rígidas e como muitos destes produtos possuem uma qualidade questionável e não atendem a esta legislação, isto por si só funciona como um espécie de freio para a entrada destes produtos no Brasil. O facilitador pode ser o preço em razão de nossa alta carga tributária, mas como trabalhamos com produtos personalizados, a entrada destes produtos no Brasil se torna inviável. Existe ainda o desembaraço do porto o qual não é fácil, a legislação exige regulamentação na Anvisa, químico responsável, armazenamento adequado, que juntando tudo isto fica bastante inviável para não dizer quase impossível uma importação com qualidade desejável. Se eu fosse um hoteleiro, jamais pensaria em importar amenities da China. Este produto não possui um alto valor agregado, não responde por um percentual considerável na estadia e pode colocar em risco a reputação de um empreendimento por um valor pequeno”, assegura Luiz Roberto Magrin Filho, Diretor geral da Harus Amenities.

Um outro segmento da hotelaria em que os chineses entram agressivos é o de refrigeração, pois é uma tecnologia muito dependente de peças importadas, mas em câmaras frigoríficas, a realidade é outra. “Câmaras frigoríficas seguem projetos específicos e devem ser fabricadas de forma personalizada, o que inviabiliza a importação. No entanto, não vejo diferença entre produtos fabricados na China ou no Brasil, mas sim as garantias, os serviços de instalação, a reposição de peças, pois são estas as diferenças”, enfatiza Augusto Boccia, Diretor administrativo da São Rafael Câmaras Frigoríficas.  

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