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Os diferentes impactos do home office para o mundo corporativo

A propagação do coronavírus obrigou as empresas a aderir ao home office. Conheça as consequências para o mercado imobiliário e os prós e contras da decisão para os gestores

Falar sobre como a pandemia da COVID-19 mudou o cotidiano das pessoas desde o início de 2020 já é algo redundante, até porque as duas pontas – o mensageiro e o receptor da mensagem, certamente tiveram de adaptar a sua rotina e adquirir novos hábitos a fim de evitar a contaminação pelo vírus (que já ultrapassou, somente no Brasil, mais de 160 mil vítimas fatais). Uma das mudanças mais significativas dentro da rotina das pessoas foi a transferência de seu espaço de trabalho para dentro de suas casas, o sistema home office, já comum em alguns países do mundo. No primeiro momento parece simples, mas a verdade é que a criação de uma estrutura de trabalho dentro do lar, espaço de aconchego, descanso e convívio familiar, se assemelha por muitas vezes com a criação de uma operação de guerra. No início pode parecer uma aventura, mas logo os trâmites do corporativismo (reuniões, telefonemas, elaboração de relatórios, planilhas, contato com clientes e outras demandas que implicam concentração e esmero) se misturam com os conflitos e percalços domésticos e o grande desafio para as empresas é garantir o desempenho e manter a produtividade dos colaboradores.

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O home office ou trabalho remoto cresceu como estratégia adotada para: 1) obedecer as recomendações da OMS – Organização Mundial da Saúde e decretos elaborados pelo Governo de cada cidade, segundo a sua própria realidade; 2) para cortar custos em tempos de quarentena, quando a clientela some e os serviços não essenciais são postos em segundo plano. De acordo com a última Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) Contínua Anual: Características Adicionais do Mercado de Trabalho 2012-2018, do IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, o número de trabalhadores em home office em 2018, bateu todos os recordes: 3,8 milhões de pessoas, um aumento de 44% desde 2012.

Observações necessárias

O home office foi regulamentado na reforma trabalhista realizada em 2017, ocasião em que foram imputadas regras que devem ser observadas pelos gestores de empresas, tais como:

– A empresa que mantiver o sistema home office vai precisar fazer aditivos contratuais. O trabalho remoto já está previsto na CLT (artigo 75 A a 75 E), trazendo as regras de como deve ser essa relação como, por exemplo, local, recursos, equipamentos, atividades a serem realizadas etc.

– Na transição do trabalho presencial para o home office, o vale-transporte pode ser retirado por não haver mais deslocamento, mas os demais benefícios são devidos, conforme o contrato de trabalho entre as partes.

– Na estruturação do home office, a empresa precisa ter especial atenção à medicina do trabalho, especialmente a ergonomia. Será necessário verificar como é o mobiliário usado pelo empregado, altura da mesa e cadeira, do computador, iluminação e ventilação, entre outros. A CLT diz que a empresa deve orientar o funcionário de forma ostensiva quanto a esses aspectos para que não ocorram problemas de saúde.

– O equipamento usado também é de responsabilidade do empregador e os recursos necessários para sua viabilidade (tecnologia, energia elétrica, entre outros) devem ser reembolsados ou providenciados como ajuda de custo da empresa, mediante comprovação. Esses aspectos devem ser todos registrados em contrato.

– As demais questões operacionais (gestão do trabalho, do tempo, mecanismos de avaliação, supervisão e análise, métricas e outros aspectos da atividade) devem ser esclarecidas e formalizadas entre as partes com antecedência e, de preferência, por escrito.

Os diferentes impactos do home office para o mundo corporativo
O gestor deve proporcionar condições favoráveis para a realização do trabalho remoto, principalmente na questão da ergonomia e da saúde do colaborador (Foto: Pixabay/inkflo)
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Camila Franco, advogada formada pela Faculdade Metropolitanas Unidas/FMU e pós-graduada em Direito e Processo do Trabalho pela Universidade Mackenzie e em Processo do Trabalho pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo/PUC, destaca duas questões que também devem ser observadas na transição do escritório para casa. A primeira é o controle de jornada. “Uma das principais vantagens do trabalho remoto é a desnecessidade de controle de jornada. Entretanto, só será considerado como home office aquele em que a prestação de serviços ocorra de forma preponderante fora das dependências da empresa. Somente desta forma, o controle de jornada é dispensado”, explica.

O simples e não corriqueiro comparecimento à empresa para a realização de atividades específicas e que por vezes exijam a presença do empregado, por si só, não descaracteriza o regime de trabalho remoto. O que não pode é inverter a regra, ou seja, exigir a presença do empregado a maior parte do tempo nas dependências da empresa.

O segundo ponto diz respeito às condições de saúde, higiene e ergonomia. A empresa deve ser preocupar com a saúde, higiene e ergonomia do trabalhador também no home office, devendo agir de forma ostensiva para evitar acidentes ou doenças do trabalho, inclusive fornecendo equipamentos de proteção individual, caso seja necessário.

O fornecimento de computadores, mobiliário e demais itens devem ser tratado entre as partes, mas compete à empresa fiscalizar as boas condições de trabalho, ainda que na casa do empregado. “O trabalho em home office nos parece uma excelente alternativa para ambas as partes. Tomados os devidos cuidados, nos parece o futuro que, definitivamente, chegou às relações de trabalho”, finaliza.

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Pandemia versus Home Office

Quase sete meses passados desde a descoberta do primeiro caso de COVID-19, o País registrou, nesse ínterim, uma das crises mais complexas das últimas décadas, com a economia parada e diversos segmentos amargando prejuízos e até mesmo a bancarrota, com empresas tirando o time de campo de maneira definitiva. Players de diferentes segmentos entregaram as salas comerciais que ocupavam, e até andares inteiros, onde outrora funcionavam suas bases de atendimento e/ou produção, mantendo apenas setores mais críticos, onde o trabalho presencial se mostra indispensável como Recursos Humanos e Financeiro. “Nós não temos respostas prontas para o porvir, mas a gente pode fazer conjecturas. As grandes epidemias e as guerras resultaram em um mundo transformado após a sua passagem e com essa pandemia não será diferente. Nas relações de trabalho, o home office já se instalou como uma realidade. Empresas que antes resistiam à sua implantação por entender que a proximidade dos líderes, pelo pressuposto da fiscalização do trabalho, tiveram que fazer isso sem muito pensar”, reflete Cyntia Possídio Lima, pós-graduada em Direito do Trabalho pela Fundação Faculdade de Direito da Bahia, mestranda em Direito pela UFBA e Conselheira da Ordem dos Advogados do Brasil, Seção Bahia. “Uma vez que as empresas já identificaram que é possível manter a sua produção e atividade longe das suas dependências, não tenho dúvida que depois da pandemia o teletrabalho vai ser uma realidade. As empresas identificaram menos gasto com ar-condicionado, energia elétrica e outras estruturas físicas. Ao mesmo tempo em que os gastos operacionais do dia a dia são reduzidos, também há redução da necessidade de espaço, de pagamentos de aluguéis, entre outros”, conclui. Contudo, o crescimento do trabalho remoto trouxe desafios inesperados, como o aumento do número de imóveis vagos, o que colocou o segmento imobiliário em estado de alerta.

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Paulo Casoni: “Algumas empresas resolveram manter em 100% o índice de home office ou deixá-lo em percentuais acima de 50%” (Foto: Divulgação)

De acordo com Paulo Casoni, Diretor de Transações da JLL, empresa líder global de serviços imobiliários, especializada em propriedades comerciais, gestão de investimentos e serviços diversos para proprietários, ocupantes e investidores de bens imóveis em todo o mundo, antes do advento da pandemia, o cenário era outro: “O mercado estava aquecido com forte crescimento na locação de escritórios. Os preços pedidos de locação vinham aumentando, principalmente nas regiões primárias, Faria Lima, Paulista, Juscelino Kubitschek e Vila Olímpia, onde já tínhamos dificuldade de encontrar grandes áreas disponíveis”.

Com a pandemia, o mercado foi pego de surpresa e os efeitos não tardaram a surgir: “A pandemia obrigou quase todos a deixarem o escritório e fazer 100% do trabalho remoto. As empresas passaram a avaliar a manutenção deste modelo, e algumas, entendendo que está funcionando perfeitamente, resolveram manter em 100% este índice ou deixá-lo em percentuais acima de 50%. Essa decisão está refletindo na desocupação de espaços. Até agora, não tivemos um grande volume de devoluções porque há contratos a serem cumpridos e custos envolvidos na decisão de devolver lajes. Entendemos que muitas empresas estão em momento de refletir suas políticas internas, avaliar a performance dos funcionários em trabalho remoto versus as atividades a serem desenvolvidas para, então, decidirem qual é o espaço ideal para ocuparem, onde e em qual formato”, observa Casoni.

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A região da Avenida Luís Carlos Berrini foi uma das atingidas com a devolução de salas comerciais (Foto: Pixabay/ikedaleo)
Analisando tendências

Apesar da fala dos especialistas do mercado de locação, que apontam a existência de uma tendência das empresas pela redução dos espaços de suas sedes a favor do trabalho remoto, Casoni é cauteloso ao analisar a questão: “Neste primeiro momento concordamos com a tendência de reduzir espaços, mas acreditamos que esta tendência se altere após a vacina. Os escritórios não deixarão de existir. Eles permanecerão como ponto de conexão de pessoas, integração e difusão da cultura organizacional das empresas. Após a pandemia, acreditamos que haverá um equilíbrio entre trabalho remoto e presencial. Uma pesquisa global da JLL mostra, por exemplo, que mais de 40% das pessoas sentem falta do ambiente de trabalho e do contato com colegas. As pessoas também sinalizaram sentir falta da estrutura proporcionada pelos escritórios e de uma divisão mais equilibrada entre vida pessoal e trabalho. Ou seja, a pandemia acelerou a adoção do home office por parte das empresas, mas manteve o escritório como um espaço relevante”, afirma. “A JLL tem uma ampla atuação nos serviços imobiliários e acompanha as tendências e os movimentos do mercado. Entendemos as nuances de cada ciclo para contribuirmos com o mercado de forma assertiva. Além da área de Transações, que tem o pulso das negociações de compra, venda e locação, contamos com outros departamentos que contribuem para a saudabilidade do mercado, como a JLL Technologies ou a área de Projetos e Obras”, complementa.

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Custo das locações

O custo das locações, segundo o Diretor, depende do desenrolar dos acontecimentos dos próximos meses. “Ainda não houve queda, mas deve cair à medida que a taxa de vacância aumente”, opina. De acordo com o estudo da JLL “Perspectivas do mercado imobiliário brasileiro pós-COVID-19”, com a aceleração de algumas tendências, como o trabalho remoto, é fato que o novo normal trará novidades no que se diz respeito a ocupação de escritórios corporativos por parte das empresas. Segundo o relatório de mercado de escritórios de alto padrão da JLL, realizado no primeiro trimestre de 2020, havia uma vacância na cidade atual de 19,3% e uma disponibilidade de apenas 13,6%, considerando locações que eram previstas para acontecer ao longo deste ano. Já é previsto uma mudança neste cenário.

Com a postergação de locações que estavam para acontecer e com a previsão do aumento das devoluções de escritórios, pode-se dizer que a vacância na cidade tende a aumentar neste ano, assim como a disponibilidade de espaço na cidade, com a devolução de escritórios que, pelo tempo que aviso prévio, desmobilização e até por estarem esperando a volta do trabalho presencial para tomada de decisão de quanto de área irão devolver, não conseguirão ser efetuadas ainda neste ano, sendo contabilizadas como vacância apenas em 2021, no momento da devolução física do escritório. Estima-se atualmente que a vacância na cidade possa chegar em 19,0% e a disponibilidade em 20,9% ao final deste ano. Estes valores podem se alterar a depender do cenário econômico que virá nos próximos meses. Além desse aumento de devoluções, também contribui para o aumento da vacância, a entrega de 122 mil m² de área nas quais boa parte ainda está parcialmente ou totalmente vaga. Esse número poderia ser maior caso parte do novo estoque de 2020, previsto no começo do ano, não tivesse sido postergado para 2021, aproximadamente 74 mil m². (Fonte: JLL)

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Perspectivas do mercado imobiliário brasileiro pós-COVID-19
Mercado de construção de salas comerciais

A retração econômica do segmento também atingiu as empresas especializadas no desenho e construção de imóveis com salas comerciais. Porém, segundo Casoni, o ínterim entre o anúncio da pandemia (primeiro caso) e opção do Governo pela quarentena, ajudou as empresas a ter tempo hábil para amortização dos danos. “Como estávamos saindo de altas taxas de vacância, o mercado corporativo tinha diminuído o ritmo, portanto, de forma geral, o estoque futuro não é grande, o que ajudará a equilibrar o mercado. Os grandes desenvolvedores e investidores, incluindo os fundos imobiliários, continuam apostando no mercado corporativo para o futuro com novos projetos”, pontua o executivo.

JLL e o home office

A própria JLL já mantinha a política de home office como uma diretriz global. “Com a pandemia, todos os funcionários permaneceram em trabalho remoto. Neste momento, estamos retomando as atividades no nosso escritório seguindo todos os protocolos de segurança para garantir a saúde de todos os colaboradores”, diz Casoni, que conclui: “A pandemia só acelerou processos, como o aumento de trabalho remoto, maior uso de tecnologia. Isso trará impacto no mundo corporativo e para os escritórios. Uma tendência que estamos acompanhando fora do Brasil e deve ser replicada aqui é a descentralização de escritórios, isto é, ao invés de uma laje central que recebe todos os dias todos os funcionários, haverá um ponto central menor e outros escritórios menores, em diferentes regiões da cidade. Isso deve facilitara vida dos funcionários, reduzindo o deslocamento, porém mantendo o trabalho no ambiente corporativo, que é muito importante para a manutenção das empresas e para a promoção da cultura organizacional”.

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Negociação de aluguéis

De acordo com José Augusto Viana Neto, Presidente do CRECI-SP – Conselho Regional de Corretores de Imóveis de São Paulo, “Em um primeiro momento, realmente, o impacto foi grande, com diversas empresas e lojas devolvendo seus imóveis locados e encerrando as atividades. Outras acabaram optando pelo home office por questões de segurança e custo. Isso acarretou uma série de tentativas de conciliação entre inquilinos e locadores, no sentido de negociar um valor de aluguel mais viável ou de pausar o pagamento por alguns meses até que a situação se normalizasse. Não temos um número exato dos imóveis devolvidos, porque as pesquisas que realizamos são relativas a imóveis residenciais usados e não comerciais. Mas acreditamos que esse impacto inicial se amenizou com a retomada das atividades, especialmente no comércio. Estamos confiantes que, aos poucos, haverá uma estabilização e um novo aquecimento do mercado”.

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José Augusto Viana Neto: “Não acredito que isso possa causar um grande impacto no modelo tradicional de trabalho” (Foto: Divulgação)

O aquecimento do mercado mencionado por Viana, é atualmente a maior incógnita não só para o negócio imobiliário como para diversos segmentos que buscam o ritmo de antes da pandemia, quando se vislumbrava um bom momento após anos de crise e incerteza política. “Talvez não seja um reaquecimento nos moldes como vínhamos tendo no início do ano, com grandes lajes sendo construídas e alugadas rapidamente. Mas aos poucos vamos voltar à normalidade. A situação é nova para o mundo todo, então, não é muito fácil fazer previsões de longo prazo”, opina o executivo.

Tendências do setor

Viana também comentou sobre como a recente tendência do room office, no qual redes hoteleiras transformam quartos em escritórios pode impactar o modelo tradicional de aluguel de salas. De acordo com o Presidente do CRECI-SP, “Vejo isso como uma alternativa para que se possa dar continuidade às atividades nesse tempo de isolamento social. O ser humano é criativo e costuma se reinventar em situações difíceis. Talvez essa seja uma solução viável nesse momento de incerteza que vivemos. Mas não acredito que isso possa causar um grande impacto no modelo tradicional de trabalho”.

O Presidente do CRECI-SP explica que os mercados imobiliário e de construção civil continuaram em atividade durante a pandemia, “então no que se refere à questão habitacional, não houve grandes áreas afetadas. Já o de escritórios e lojas foi impactado especialmente nas regiões da cidade onde há grandes concentrações de empresas, como a Berrini, a Paulista e a Marginal Pinheiros. No entanto, podemos ter um segundo momento agora, em que as empresas passarão a buscar áreas menores para estabelecer seus escritórios, já que parte dos funcionários permanecerá em Home-Office. Com isso, teremos um reaquecimento no segmento”, pontua. Para ele, o home office surpreendeu no Brasil. “Muitas empresas perceberam que é plenamente possível o trabalho nessa modalidade e que, ao contrário do que esperavam, houve aumento na produtividade dos funcionários. Se essa tendência se confirmar mesmo, acredito que será uma opção muito boa no sentido de trazer segurança e economia às empresas”, conclui.

Trabalho remoto antes da pandemia

Estar um passo a frente da concorrência é um dos mandamentos do mundo corporativo para as empresas que desejam obter destaque e desempenho acima da média para continuar crescendo. Esse mandamento também implica o bem-estar do colaborador, que cada vez mais motivado, melhora em produtividade e resultados. Por esta razão, muitas empresas já mantinham ou planejavam seu próprio sistema de home office antes do advento da pandemia, caso da TOTVS, gigante nacional de tecnologia para empresas, que já vinha estudando a possibilidade. Segundo Izabel Branco, VP de Relações Humanas da companhia, “Antes da pandemia, a TOTVS já entendia perfeitamente que o trabalho remoto é totalmente viável e um diferencial competitivo para as empresas. Nós já adotávamos essa prática em algumas áreas e já havia um programa piloto desenhado para colocar 300 pessoas no modelo, e então torna-lo prática formal da companhia. Com a quarentena, nosso projeto piloto entrou em implementação imediata, e o que seria realizado para 300 pessoas acabou sendo feito com sete mil colaboradores”.

Izabel Branco: “Nós mudamos esse paradigma de que existe diminuição de produtividade no trabalho remoto” (Foto: Divulgação)
Processos de trabalho

Izabel pontua: “Como já havíamos começado o projeto piloto em algumas áreas, isso nos permitiu testar como nossos processos de trabalho poderiam ser adaptados caso fosse necessário estender o modelo home office para um número maior de funcionários. As áreas tiveram liberdade para testar diferentes modelos e escolher o que mais funcionava. Imagine fazer um time inteiro funcionar de forma remota, ou mesmo um laboratório completo de User Experience (UX)? Mas nós conseguimos! Cada gestor adotou sua dinâmica com o seu time, para acompanhar a produtividade. Por fim, a liderança sênior aumentou a frequência de conversas com os demais líderes para manter a comunicação de maneira constante.

Universidade TOTVS

A Vice-presidente de Relações Humanas revela ainda uma novidade implementada durante o período de quarentena. “Para auxiliar na adaptação, aceleramos o desenvolvimento da nova Universidade TOTVS, totalmente online, e que conta com uma trilha de capacitação focada em trabalho remoto. Existe ainda um desafio de fazer gestão a distância, e isso requer confiança, empatia e disciplina. Também é um desafio a necessidade de rever processos de trabalho para que funcionem sem presença física, além de coordenar a agenda para respeitar os horários de descanso de cada um, E claro, manter a proximidade e o contato humano, mesmo que de forma remota”, revela Izabel.

Na TOTVS, o home office trouxe impacto positivo com relação a contenção de custos, principalmente por conta do fechamento de escritórios. “Nos preocupamos com o conforto dos colaboradores que passaram a trabalhar de forma remota. Em termos de infraestrutura, liberamos notebooks para os funcionários que ainda não tinham, assim como acesso à rede VPN. Também garantimos monitores e cadeiras para quem julgasse necessário. Até as entrevistas e a recepção dos novos contratados foram realizadas de maneira online, com direito a integração remota. Os colaboradores receberam em suas casas os materiais básicos para exercerem as atividades (computador, materiais ergonômicos e de escritório)”, explica.

Acabou a pandemia, e agora?

Um dos anúncios mais desejados pelos brasileiros é o da chegada de uma vacina eficiente e posterior a isso, o controle total da pandemia. Nesse contexto, será que o home office, que o brasileiro já experimentou e constatou que não é nenhum ‘bicho de sete cabeças’, vai seguir com a mesma relevância conquistada em meio a pandemia? Para a TOTVS, essa questão tem múltiplas respostas. Segundo Izabel, “Ainda estamos estruturando o plano de retorno e não definiremos um percentual fixo de pessoal para atuar remotamente. O que deve acontecer, no futuro, é que o escritório vai mudar sua finalidade, ganhando importância como um espaço para interações, vivências, treinamento e fortalecimento de cultura além de estações de trabalho. As lições do período têm a ver com a capacidade de mobilização, organização e liberdade para os times criarem suas próprias soluções, com muito cuidado e empatia pelo momento de crise vivido.

Os diferentes impactos do home office para o mundo corporativo
A TOTVS foi de 300 para sete mil colaboradores em trabalho remoto (Foto: Divulgação)

A tecnologia, que sempre existiu, assumiu um papel fundamental neste momento para manter a engrenagem em movimento, impulsionando o resultado humano e ajudando-nos a enfrentar cenários incertos, como aconteceu durante essa pandemia. O trabalho remoto, total ou parcial, definitivamente, veio para ficar”.

Desempenho do colaborador em casa

Como especialista em Relações Humanas, Izabel afirma que, ao contrário do que se pensa, o desempenho do colaborador em home office não é inferior ao presencial na empresa. “Nós mudamos esse paradigma de que existe diminuição de produtividade no trabalho remoto. Isso foi totalmente quebrado. A TOTVS e seu time se mostraram totalmente capazes de manter o ritmo de sua operação trabalhando desta forma. Inclusive, todas as atividades de avaliação de metas e performance foram mantidas, até mesmo o plano individual de desenvolvimento”, ressaltou. “A estrutura para que todos trabalhassem de casa foi organizada em poucos dias sem prejudicar a operação da companhia. A TOTVS se beneficiou também, neste sentido, com o uso do próprio portfólio de produtos – uma vantagem de além de sermos um grande empregador, também somos líderes em soluções de RH para outras empresas. As marcações de ponto passaram a ser feitas via reconhecimento facial e validação de inteligência artificial por meio da nossa solução Clock In by Carol. A comunicação constante pela solução de engajamento e comunidade virtual, o Digital Workplace. Para novos colaboradores, todo o processo seletivo foi feito de forma digital, desde a entrevista até o processo de admissão. O próprio colaborador digitaliza seus documentos e consegue assinar eletronicamente o seu contrato de trabalho”, complementa.

Desenvolver e engajar

Para concluir, Izabel aponta os maiores desafios do trabalho remoto: “Desenvolver e engajar os colaboradores sem a presença física. Como nosso processo de gestão de pessoas é um ciclo contínuo, utilizamos nossa solução Performance e Metas. Dessa forma, conseguimos organizar as avaliações dos colaboradores e coletar suas percepções, dos colegas, das lideranças, para avaliar as competências e os comportamentos do nosso time, facilitando inclusive assertividade de feedback – o que é muito importante para a nossa cultura”, finaliza.

Liderança do turismo nacional

A CVC – gigante do turismo brasileiro com presença em cinco países, também aderiu ao home office e enviou cerca de quatro mil colaboradores para casa. Marcelo Zarppia, Diretor executivo de Gente e Gestão da CVC Corp, compartilha detalhes sobre o momento: “Em menos de 15 dias, no auge da pandemia, em março de 2020, a CVC Corp – grupo do qual fazem parte a CVC, Submarino Viagens, Experimento, RexturAdvance, entre outras marcas, – colocou quatro mil colaboradores em home office nos cinco países em que atuamos. Nossas marcas também tiveram de se adaptar rapidamente com o fechamento das lojas franqueadas, por exemplo, para atender aos clientes de forma remota e, principalmente, no caso da CVC, marca líder em viagens e que tem o maior volume de embarques, até mesmo fretar aviões para Portugal, para buscar clientes que estavam retidos. Foi um esforço conjunto de todas as áreas: Operações, Franquias, Pós-Vendas e também dos times de T.I, Comunicação e Gente e Gestão. No que se refere aos colaboradores, tivemos de locar 1,5 mil laptops, mudar nossa forma de comunicar, e desde então, adaptar para o modelo virtual toda a forma de treinamento do nosso público interno.

Os diferentes impactos do home office para o mundo corporativo
Marcelo Zarppia: “Em menos de 15 dias de pandemia, colocamos quatro mil colaboradores nos cinco países em que atuamos, no sistema home office”. (Foto: Divulgação)

O objetivo desde o início, foi manter a frequência da comunicação durante todo o processo, retroalimentando o relacionamento com o colaborador e priorizando o bem-estar das pessoas. As ações internas, desde o início até agora, falam sobre como tem sido a experiência do trabalho remoto, o que mudou no dia-a-dia, sobre equilíbrio emocional e como temos aprendido, como pessoas, a lidar com uma rotina diferente em nossas casas, na educação dos filhos e, também, como temos aprendido como empresa a estarmos mais próximos das pessoas, mesmo estando fisicamente distantes.

A partir do mês de outubro, liberamos as salas de reuniões de alguns de nossos prédios (dois em Santo André – ABC Tower e Premium – e o HUB, na Avenida Paulista) para utilização de nossos times. Realizamos pesquisa interna e cerca de 80% dos colaboradores se mostraram satisfeitos com a jornada em home office, porém sugeriram que a empresa promovesse alguns encontros entre áreas, de forma pontual, para reativar o lado social do mundo corporativo. Então liberamos as salas de reuniões, mediante reserva via aplicativo e respeitando a quantidade de pessoas por salas, entre outros cuidados. Quem ainda não se sente à vontade, pode entrar nas reuniões de forma remota”, detalha o Diretor.

Custos e produtividade

Apesar do impacto de uma mudança brusca na rotina de trabalho, Zarppia compartilha uma visão positiva sobre o tema: “O home office não é algo definitivo, com 100% da equipe em trabalho remoto. As companhias têm avaliado formas de trabalho híbrido, com parte da equipe em home office e parte em jornada presencial. A CVC Corp também tem estudado o modelo de Home-Based, que já vem sendo adotado por algumas empresas e equipes específicas. Como parte das ações, a CVC Corp implementou uma série de ações em março, abril, maio e junho, que envolve controle de despesas. Em março, por exemplo, aderimos à jornada reduzida em horas e salários, por três meses, e desde julho voltamos a trabalhar em jornada 100% de horas trabalhadas e pagamento”.

A adaptação dos colaboradores em uma operação tão suntuosa requer o acompanhamento direto da gestão, tanto no sentido do desempenho como no emocional dos colaboradores. “Sabemos que, trabalhando em home office, os colaboradores têm suas rotinas com a casa, filhos, entre outros, e a fase ainda exige adaptação de todos. O que vimos, com grata surpresa, é que todos se adequaram às ferramentas online de comunicação que trouxemos e o trabalho tem fluído muito bem. A pandemia também possibilitou a inclusão digital a colaboradores, por exemplo, que não tinham tanto conhecimento em reuniões online e lives. O nosso Presidente, que assumiu em abril, passou a fazer lives mensais para todos os colaboradores, de forma interativa, com transparência na comunicação. Alguns até consideram que a comunicação na companhia melhorou em todos os níveis, com mais trocas entre os times no decorrer do dia”, observa o Diretor.

Segundo ele, também avaliou-se com frequência a saúde dos colaboradores, por meio do programa de saúde e bem-estar do colaborador, o Viva Bem. “A cada mês, uma proposta diferente – já falamos de nutrição, atividade física, equilíbrio emocional – com lives de especialistas e aplicativos, e até mesmo promovemos duas edições do show de talentos CVC Corp Show, uma oportunidade para nossos colaboradores revelarem seus talentos artísticos e terminarem um dia de trabalho em clima descontraído”, complementa.

Zarppia finaliza resumindo a sua visão sobre o trabalho remoto: “O trabalho remoto tem funcionado muito bem e acreditamos que ele veio pra ficar, no entanto, o futuro do trabalho indica modelos híbridos. Não devemos retornar fisicamente aos escritórios em 2020, então estamos estudando um modelo de home office por três vezes na semana e duas vezes em jornada presencial quando tudo estiver normalizado”, conclui.

O trabalho remoto nos resorts

A necessidade de paralisação das operações também foi realidade no segmento de lazer, com resorts e parques aquáticos aproveitando o intervalo para realizar melhorias, treinar a equipe e adotar novos protocolos rigorosos de segurança. Parte das equipes desses empreendimentos também passou a trabalhar de suas casas. O Pratagy Beach All Inclusive Resort, em Maceió (AL), foi um deles, conforme explica Elaine Gomes, do Departamento de Gestão de Pessoas do complexo. “Nós criamos um sistema de home office específico para a pandemia e voltado mais para a área comercial (Reservas, Vendas e Marketing). No entanto, para o Pratagy, trata-se de uma estratégia satisfatória apenas para este período, que implica o distanciamento pelo protocolo de segurança. Mas após a retomada de nossa operação, no dia 30 de julho, todos os departamentos também retornaram para o empreendimento”, explica.

Os diferentes impactos do home office para o mundo corporativo
Elaine Gomes: “Para nós, a operação presencial é estratégica” (Foto: Divulgação)

A executiva explica que reuniões regulares e agenda periódica de encontros semanais foram essenciais para medir a produtividade das entregas. “No nosso segmento, manteremos a operação presencialmente, pois se torna mais estratégico e também econômico, já que estamos com o resort operando e com salas de eventos disponíveis”, finaliza.

Segundo Karla Amaral, Diretora de Desenvolvimento Humano e Organizacional da Hotéis Mabu de Hotéis e Resorts, “O lockdown foi decretado em 20 de março. Naturalmente como tantas outras empresas, os trabalhos que já são ferramentados de computadores, rede e sistema, foram deslocados para home office. Devido a parada total das operações, pudemos redistribuir as atividades em várias situações: home office, redução de jornada e suspensão de contrato. Obviamente que uma pequena parcela das atividades envolvidas na hotelaria puderam ser enquadradas nesta modalidade, afinal, a essência hoteleira reside nas operações. Mas, no nosso caso, as áreas administrativas, marketing, vendas e suporte não pararam completamente. No pico da pandemia, buscamos afastar o maior número de pessoas para o home office como providência imediata de higiene e segurança. Após medidas de adequação dos contratos, pudemos mesclar o presencial novamente na jornada”.

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Karla Amaral: “Na pandemia, buscamos afastar o maior número de pessoas para o home office como providência imediata de higiene e segurança” (Foto: Divulgação)
Contenção de custos

Para Karla Amaral, a almejada ‘contenção de custos’ perseguida pelos empreendimentos para sobreviver ao período da pandemia, na Hotéis Mabu, “não foi advinda do home office e, sim, das políticas públicas que deram apoio para o gerenciamento financeiro causado pela ausência de operações”. E conclui: “O que o home office trouxe em sua bagagem foi a melhoria da nossa capacitação de trabalho e comunicação remota, o que muito tem a ver com as vias tecnológicas que tiveram que ser enquadradas no nosso cotidiano. Acredito sim que muitas relações trabalhistas que eram consideradas imutáveis foram repaginadas e redesenhadas pela pandemia e pelas vias de comunicação remota. A tecnologia encontrou seu espaço na hotelaria como em todas as atividades e, com certeza, não serão mais deixadas de lado”.

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