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Os desafios e as oportunidades da retomada do turismo no Brasil

Toni Sando é um profundo conhecedor do mercado hoteleiro, eventos e do turismo em geral. Atualmente ocupa o cargo de Presidente da UNEDESTINOS – União Nacional de CVBx e Entidades de Destinos e Presidente executivo do SPCVB – São Paulo Convention Visitors Bureau. Com 36 anos de existência, é o primeiro Convention & Visitors Bureau da América do Sul, congrega atualmente mais de 700 associados.

Nessa entrevista, Sando lembra que o turismo de lazer está sendo o primeiro a dar sinais mais consistentes de retomada. Mas as viagens corporativas tendem a ser mais demoradas, pois a pessoa-jurídica precisa de mais fatores que garantam a segurança de seus executivos. E diz que é hora do brasileiro conhecer o Brasil. Criar e promover produtos voltados os turismo de aproximação, aproveitando a demanda reprimida do turismo.

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Para ele, o ano de 2021 será muito promissor para eventos, sendo dois anos em um, pois muitos eventos do segundo semestre foram adiados para o primeiro semestre do ano que vem. E para enfrentar os desafios impostos pela pandemia da COVID-19, Sando defende que no associativismo é que se encontra a união e força da real representação do setor, com um diálogo direto entre iniciativa privada e poder público. Confira a seguir nessa entrevista exclusiva.

Impactos da pandemia

Revista Hotéis – Como você analisa o impacto que a pandemia da COVID-19 provocou junto às atividades dos associados do SPCVB? Qual segmento que mais sofreu?

Toni Sando – Todo o setor de turismo, eventos e viagem foi impactado. Foi um dos primeiros a parar e só agora, com a flexibilização do Plano São Paulo na fase verde, que se inicia uma retomada mais consistente. No mundo associativo, as entidades que estavam em processo de escolha de destino para seus eventos postergaram suas decisões, assim como diversos eventos foram adiados ou tornaram a edição de 2020 híbrida ou digital, impactando o fluxo de caixa de toda a cadeia produtiva. No SPCVB, presenciamos mais de perto os desafios das empresas aéreas, meios de hospedagem, espaços de eventos, centros de convenções, bares e restaurantes, entre outros – mas se movimentando para atender todos os associados.

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R.H – Quantos associados possui o SPCVB? Houve desligamento ou alta inadimplência de associados em razão da pandemia? Como a entidade teve que se reinventar nesse sentido?

T.S – Como qualquer empresa, frente à crise, o SPCVB tomou medidas para corte de gastos, que vai de redução de equipe, home office, carga horária, além de renegociação de contratos. E, como qualquer associação, que vive de seus associados, buscou entender e negociar a situação financeiras de seus membros para buscar a melhor solução. Dos 700 associados ativos, tivemos entre saídas e renegociações uma média de 20%. 

Reivindicações dos associados

R.H – Em razão da pandemia, quais são as principais reivindicações dos associados do SPCVB e como vocês estão se articulando junto aos órgãos públicos?

T.S – Como a pandemia e quarentena estão se prolongando mais do que jamais imaginado para uma crise como esta, já se passaram algumas fases de necessidade desde março. A princípio, o SPCVB endossou o debate e pressão frente ao poder público para que se tomasse medidas que possibilitassem a manutenção da operação, ainda que mínima, e dos empregos, assim como negociou e acompanhou a negociação com os sindicatos do setor. Novas relações trabalhistas, acesso a crédito, isenção de taxas, todas essas foram as pautas iniciais. Em paralelo, trabalhamos para gerar negócios com as novas necessidades que o combate ao vírus trouxe, a exemplo de hospedagem a profissionais da saúde nos hospitais de campanha.

A pandemia da COVID-19 provocou grandes perdas nas companhias aéreas – Foto – Divulgação 
(Foto: Divulgação)

Estamos divulgando os serviços e produtos dos associados desde o início, como lives, deliveries e passeios virtuais, buscando trazer visibilidade e público para seus negócios. No momento certo, produzimos com apoio da ABEAR – Associação Brasileira das Empresas Aéreas e Secretaria de Turismo do Estado de São Paulo, filmes com os protocolos de saúde, higiene e bem estar, já em vista da retomada. Vale destacar que o trabalho de captação de eventos não foi interrompido neste período, além de uma constante atualização dos eventos do calendário do Estado.

Captação de eventos
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                           “O turismo de lazer está sendo o primeiro a dar sinais mais                             consistentes de retomada”

R.H – Que análise você faz da retomada da hotelaria paulista e quais as perspectivas nos próximos meses? O lazer prevalecerá em relação a hotelaria corporativa?

T.S – Sem dúvidas que o turismo de lazer está sendo o primeiro a dar sinais mais consistentes de retomada, por diversos motivos: as pessoas estão há meses em quarentena e uma saída segura de casa é bem-vinda, além de todo uma demanda represada dos viajantes que estão acostumados a realizar todos os anos experiências nacionais e internacionais. Com a evolução da flexibilização, a “pessoa-física” toma a dianteira do turismo e volta a consumir os produtos e serviços do turismo.

Por outro lado, as viagens corporativas tendem a ser mais demoradas, pois a “pessoa-jurídica” precisa de mais fatores que garantam a segurança de seus executivos. Entretanto, com a flexibilização para a fase verde do Plano São Paulo, que viabiliza a realização de congressos e feiras de negócios, o cenário tende a mudar para melhor gradualmente.

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Os eventos estão começando a retomar as atividades (Foto: Divulgação) 
Eventos em 2021

R.H – Eventos estão começando a retomar as atividades em São Paulo. Qual foi o impacto que a pandemia teve nesse segmento? O que estava previsto para acontecer de eventos em 2020 e o que realmente aconteceu ou ainda vai acontecer?

T.S – Os eventos do 2º e 3º trimestre foram todos adiados para uma nova data ou foram realizados de maneira híbrida ou digital. Vamos entender melhor o movimento agora que o Estado passou para a fase verde do Plano São Paulo e os contratos dos eventos para o último trimestre passam a ser confirmados, ainda que com as limitações que os protocolos impõem. O ano de 2021 será muito promissor em seu calendário, sendo dois anos em um, pois muitos eventos do segundo semestre foram adiados para o primeiro semestre do ano que vem.

“O ano de 2021 já conta com um calendário promissor de eventos”

R.H – Como fica a grade de eventos para 2021? Quando deve começar os grandes eventos e todos os que foram adiados para 2021 encontrarão espaço? Alguns eventos poderão ser cancelados, unidos ou mesmo ser somente virtuais?

T.S – O ano de 2021 já conta com um calendário promissor de eventos e tudo tende a crer em um aumento gradual da flexibilização, seja pelo faseamento do Plano São Paulo, seja pela aprovação e aplicação de uma vacina eficaz e segura. Os espaços de eventos, hotéis e centros de convenções negociaram com seus clientes a realocação de datas, mesmo que resultando em menores espaços e dias de realização. A execução híbrida dos eventos é uma tendência que foi acelerada pela pandemia e que deverá ficar, mesmo pós-crise, o que amplia a participação para um público virtual. 

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R.H – Muitos especialistas afirmavam que existiam muitos eventos e o que o mercado não absorvia. Como o mercado vai se comportar em 2021? Os eventos híbridos serão a grande aposta do setor?

T.S – O que vivíamos era uma hiper segmentação dos eventos. Um macro evento se tornava dezenas de micro eventos, o que é normal, entendendo que hoje é possível se viabilizar produtos, serviços e mesmo eventos para um público especializado. É algo que vai permanecer, ainda mais com a tendência dos eventos híbridos, que poderá aproveitar de uma “cauda longa” de pública em todo o mundo. Não vejo o híbrido como a grande aposta, mas sim, como uma tendência acelerada que irá agregar, e muito, aos eventos.

“A pandemia da COVID-19 trouxe a oportunidade do brasileiro conhecer o Brasil”

R.H – Como Presidente da Unedestinos, que análise você faz dos destinos turísticos do Brasil nesse ano e para 2021? O turismo doméstico terá a grande chance de se consolidar em relação as dificuldades impostas pela COVID-19 ao turismo internacional?

T.S – É hora do brasileiro conhecer o Brasil. Criar e promover produtos voltados os turismo de aproximação, aproveitando a demanda reprimida do turismo. É preciso agir agora pois será um movimento (e recurso) temporário, com uma reabertura gradual das fronteiras e retomada da malha aérea internacional. As viagens de final de semana e feriados são a bola da vez e chave para o início da reconstrução do setor. Por outro lado, a manutenção da promoção internacional do Brasil é essencial para que o País não saia do desejo de consumo dos viajantes do mundo. 

Oportunidades para o turismo

R.H – Na sua avaliação, quais são os gargalos existentes que não deixa o Brasil sair da casa dos 6 milhões de turistas estrangeiros recebidos ao ano? O que esperar para os próximos anos?

T.S – Promoção, capacitação e infraestrutura são ingredientes básicos em situações normais. Promoção composta por participação em feiras, representação internacional, campanhas de marketing, capacitação para treinar os profissionais da hospitalidade e melhorar a experiência do visitante, mas temos novos desafios, entre eles a volta da malha aérea internacional, abertura de fronteiras, imagem do Brasil no exterior, destinos de curta distância…  São novos fatores críticos de sucesso e precisamos rever os planos e estratégias necessárias para um novo comportamento do viajante pós-pandemia. Neste momento, não há uma receita de bolo pronta.   

R.H – Pelas dimensões continentais do Brasil, a malha aérea tem um impacto direto na promoção dos destinos. Como você analisa hoje o setor aéreo e o que esperar para 2021?

T.S – O aumento da competividade, de forma justa, tende a trazer benefícios ao consumidor. Mas, no caso das aéreas, há ainda fatores que deixam o debate em outros níveis, como a alta carga tributária que não deixa o País, como um todo, atraente para novos entrantes. Mas, frente à crise, creio que os desafios são diferentes, focado na retomada da malha aérea pré-pandemia, de forma segura. É um dos setores mais fragilizados pela COVID-19. 

R.H – Que lições o trade em geral pode tirar da pandemia da COVID-19?

T.S – Sobre a importância do associativismo. Desde o início, entidades de classe e associações se uniram para reforçar os pleitos fundamentais para sobrevivência do setor, como acesso a crédito, manutenção do emprego, decretos, medidas provisórias, isenções e mais. Temos o G20, o Movimento Supera Turismo, o trabalho incansável da Unedestinos em integrar e atualizar as ações entre os CVBs. É o associativismo que se encontra a união e força da real representação do setor, com um diálogo direto entre iniciativa privada e poder público. 

Os desafios e as oportunidades da retomada do turismo no Brasil
Por ser a principal economia do Brasil, a cidade de São Paulo teve um grande impacto em suas atividades provocado pela COVID-19 – (Foto: Ken Chu – Expressão Studio)

R.H – E no seu ponto de vista, como será a retomada e fortalecimento do setor hoteleiro?

T.S – A reconstrução do setor, ainda que já dando sinais de retomada, será lenta e gradua. Os hotéis, principalmente em destinos de eventos e negócios, como São Paulo, registram baixas ocupações. Então, o trabalho continua. Diálogos diários com o poder público nos níveis municipal, estadual e federal, defesa de pleitos, reformulação de modelos de negócios, inovação das relações trabalhistas, busca de oportunidades… são todos fatores essenciais para que o setor saia fortalecido da crise e aproveite o cenário promissor que se desenha em 2021 e 2022.

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Edgar J. Oliveira

Diretor editorial - Possui 31 anos de formação em jornalismo e já trabalhou em grandes empresas nacionais em diferentes setores da comunicação como: rádio, assessoria de imprensa, agência de publicidade e já foi Editor chefe de várias mídias como: jornal de bairro, revista voltada a construção, a telecomunicações, concessões rodoviárias, logística e atualmente na hotelaria.

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