Opinião

Oportunidade ímpar para a hotelaria no Brasil

Margarida de Ordaz Caldeira*

Com a organização da Copa do Mundo de 2014 e das Olimpíadas de verão de 2016, o Ministério do Turismo no Brasil lançou medidas de apoio à expansão da capacidade hoteleira. Em minha opinião, estamos perante uma oportunidade ímpar para o desenvolvimento de novos empreendimentos turísticos face a estes benefícios fiscais e de capacidade construtiva que existem em alguns locais como, por exemplo, no Rio de Janeiro.  Além disso, esta é, acima de tudo, uma grande oportunidade para o desenvolvimento de muitos projetos de Retrofit das unidades existentes e em operação.
Porém, na verdade não temos assistido a muitas realizações de Retrofit, enquanto muitas das operações de hotelaria, principalmente fora do eixo São Paulo e Rio de Janeiro, são bastante fracas. Isto salta aos olhos, quando visitamos algumas unidades hoteleiras em cidades do interior, com oferta hoteleira francamente de qualidade duvidosa e relação custo-benefício muito baixa.
Isto tudo acontece, em um momento em que Brasileiros nunca viajaram tanto, e que o hábito de viajar se está mais e mais instalando no país. Entendo, logicamente, que os Grupos hoteleiros após longos períodos de dificuldade,inclusive antes de 2008, queiram aproveitar o período de “vacas gordas” que tem havido nos últimos anos. Embora o histórico econômico brasileiro de altos níveis de inflação e sucessivas crises, como as ocorridas nos anos 80 e 90, esteja ainda muito presente na memória dos investidores, o mercado turístico nacional precisa ser pensado em longo prazo.
Avaliando sob este aspecto, e também olhando para o mercado internacional do setor, a hotelaria no Brasil precisa urgentemente se reposicionar. E, em minha opinião, se atendermos a este novo filão de mercado de brasileiros que, como mencionei acima, nunca viajou tanto e que em sua maioria viaja dentro do país, verificamos que há muito ainda a ser explorado. Nesta ótica, podemos afirmar que, sem dúvida alguma, houve um aumento de procura, o que nos leva a concluir que os investimentos no setor têm cada vez mais chances de retorno, sendo assim, uma valorização inequívoca do ativo.
Além disso, se observarmos que hoje o Brasil conta com apenas um quarto de hotel associado a uma marca para cada 2800 brasileiros, vemos que, de fato, aí há uma enorme oportunidade em longo prazo, principalmente para as marcas já estabelecidas no mercado. Com isto em seu radar, algumas delas que já enxergaram a oportunidade, estão adquirindo os portfólios de hotéis de grupos independentes de maior porte.
Analisando, as semelhanças e diferenças de outros dois mercados emergentes como a Índia e a China, percebe-se que muitos dos problemas são similares aos que encontramos no Brasil.
Se voltarmos nosso olhar ao mercado da China, por exemplo, atualmente veremos ali mais de 500 projetos de hotéis locais, bem como uma rede hoteleira internacional comprometida a abrir um novo hotel por mês nos próximos três anos. Ou seja, indiscutivelmente assistimos atualmente a um rápido crescimento da indústria hoteleira chinesa.
Este crescimento é estimulado mais pelo governo do que pelo mercado, sendo que, tanto os locais onde serão construídos quanto, a maioria dos investidores, são escolhidos pelo estado. Por sua vez, os principais desenvolvimentos na indústria hoteleira, são frequentemente impulsionados pelo desejo do governo em aumentar a visibilidade de uma determinada cidade, e desta forma, atrair mais investimentos.
Ainda que a grande maioria dos incentivos, se destine em maior parte ao desenvolvimento de empreendimentos de uso misto, na tentativa de atenuar os riscos globais dividindo-os por um maior número de geradores de receitas, o mercado está longe de ser isento de riscos. A desaceleração do crescimento econômico, o excesso de oferta em alguns dos principais mercados, uma supervisão governamental restritiva e a falta de mão de obra qualificada, ainda representam grandes desafios para o desenvolvimento.
Já a Índia, está se tornando um destino turístico de primeira classe. Vem apresentando um aumento ano após ano do turismo internacional, bem como a consolidação de um forte setor turístico doméstico, um mercado com enorme potencial de crescimento.
Em 2012, os indianos realizaram mais de 850 milhões de viagens e a procura doméstica está impulsionando o crescimento dos hotéis de médio porte. No entanto, um dos maiores desafios enfrentados por proprietários e operadores hoteleiros internacionais é o recrutamento. Alguns estão adotando uma abordagem em duas frentes: fazendo o uso de mão de obra estrangeira especializada em cargos de gestão e investindo no desenvolvimento de mão de obra local, através de treinamentos internos ou até mesmo treinamentos externos ministrados por escolas especializadas.
No Brasil, realmente dois dos principais fatores que representam um forte obstáculo para o mercado hoteleiro são, sem dúvida,  a falta de mão de obra especializada e o custo da mesma, seja ela no segmento da  construção ou na operação de um hotel. Pensar seriamente em um programa de treinamento a todos os níveis que envolvem a hotelaria, parece ser uma grande aposta que, certamente, trará retorno nos anos vindouros. Porém, este deverá ser um esforço tanto da classe empresarial quanto da classe política, que terão que trabalhar em conjunto para desenvolver estas ações, as quais sem dúvida alguma terão um impacto direto positivo no desenvolvimento e no futuro da indústria hoteleira Brasileira.

 

*Margarida de Ordaz Caldeira  é  Main Board Director da Broadway Malyan. – Contato –   m.caldeira@broadwaymalyan.com

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