O essencial é invisível aos olhos?
Artigo de Rhaxwell Santos*
A reclusão compulsória que o mundo nos obrigou a viver traz consigo uma série de impactos, até então impensados. A pandemia nos antecipou uma cruel, embora positiva, realidade: o mundo é formado por pessoas e não por coisas. Cada indivíduo tem seu papel e, se não assumiu ainda sua posição, está prestes a sumir.
A sociedade, os negócios e as relações foram tragadas impiedosamente por uma onda avassaladora. Tudo está a mudar, queiramos nós ou não, com a “quarentena”. Ao tempo em que somos sufocados pelo enclausuramento, o mundo respira e se recupera: as águas dos canais de Veneza, hoje próprias ao banho, que nos diga. Mas a grande mudança são realmente os novos paradigmas com que estamos nos deparando. Um desses paradigmas é relativo a pessoas, cujas profissões eram, até então, “invisíveis”. É como se, de repente, tivessem criado corpos e ficassem perceptíveis somente agora, tornando seus serviços imprescindíveis às nossas vidas, como se antes já não fossem.
Com o advento da pandemia que nos assola, muitas profissões já estão sendo repensadas, algumas possivelmente sequer mais existirão, enquanto outras se tornaram tão importantes, que passaremos a “enxergá-las” com o maior respeito e deferência.
Uma coisa que ficou muito clara nesse período é que, apesar de muito importante, a indústria de produção, de uma forma geral, pode parar por dias ou até meses, mas dependemos profundamente da indústria de serviços. Se essa parar, o mundo vira um caos. Precisamos “ser servidos” pelos profissionais da “linha de frente”, antes nem vistos, mas que tem feito a diferença em nossas vidas e nos permitido a comodidade de uma relativa segurança. São essas pessoas que nos possibilitam atender ao chamamento dos governos para não saírmos de casa.
Evidente que existem categorias que entregam as suas vidas para podermos viver a nossa, entre eles os médicos, enfermeiros, bombeiros, policiais, militares e todo o staff que apoia esses profissionais. Esses são heróis no campo de batalha.
Mas falo aqui também daqueles que, no dia a dia, passam despercebidos: dos garis/agentes de limpeza aos porteiros, do caixa do supermercado ao caminhoneiro, do motoboy/entregador de delivery ao atendente do posto de gasolina, do recepcionista dos hospitais aos motorista de ônibus, táxis e aplicativos, são tantos os que se sacrificam e se expõem diariamente para que possamos proteger a nós e aos nossos, que escreveríamos horas para relacioná-los. Essa quarentena tem despertado a percepção de “quem serve” e para que serve. Quem dera despertar em cada um de nós também a necessidade de “servir”.
De invisíveis a fundamentais, se esse legado pós quarentena perdurar humanizando as relações sociais e trabalhistas, como esperamos que tenha humanizado as relações familiares, nada disso terá sido em vão. Reconhecer no outro alguém importante é um grande passo. Agradecer e sorrir aos valentes profissionais que nos servem, nos faz servir também. Afinal, o essencial pode ser visível aos olhos.
*Rhaxwell Santos é CEO da Estrela do Sucesso, Developer em fundos de investimentos no Brasil e Portugal, Gestor, Hoteleiro, Professor universitário e formador de equipes vencedoras. Contato – rhaxwell@estreladosucesso.com