Leitos hoteleiros em Belém (PA) atenderão demanda da COP-30?
Alguns hotéis estão em construção, mas atualmente a cidade só possui 18 mil leitos, mas deverá receber pelo menos 40 mil visitantes para esse evento mundial que acontece de 10 a 21 de novembro de 2025

Ao aceitar sediar a 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudança Climática em Belém (PA), que acontece de 10 a 21 de novembro de 2025, com certeza nossas autoridades confiavam no ‘jeitinho brasileiro’ para resolver a infraestrutura necessária. E isso inclui portos, aeroportos, estradas, internet de alta qualidade em plena floresta amazônica, mão-de-obra qualificada e bilíngue, como nos receptivos e hotelaria, para receber um evento dessa dimensão mundial. Ele se destaca como um dos mais importantes no calendário global para a discussão e formulação de políticas ambientais, reunindo líderes mundiais, cientistas, ativistas e representantes da sociedade civil em uma tentativa de fortalecer os compromissos internacionais com a mitigação das mudanças climáticas. E agora faltando seis meses para iniciar o evento, a corrida contra o tempo é imensa para viabilizar a infraestrutura de obras, banda larga de internet e principalmente a hospedagem. No início de 2024, o Presidente Lula assinou um decreto que instituiu a Secretaria Extraordinária para a COP 30 (11.955, 19/03/24). Essa Secretaria fica responsável pela articulação entre o município-sede, Belém, o Estado do Pará e o Governo Federal, além da interlocução com a ONU – Organização das Nações Unidas que promove o evento. Entre as competências do órgão estão o monitoramento das obras necessárias para a promoção do evento, a gestão de contratos, convênios e acordos, a articulação do poder público para ações de segurança, saúde, mobilidade urbana, acesso aéreo e a capacidade de carga turística.
Segundo estimativas da FGV – Fundação Getúlio Vargas, espera-se um fluxo de mais de 40 mil visitantes durante os principais dias da COP-30. Deste total, aproximadamente 7 mil compõem a chamada “família COP”, formada pelas equipes da ONU e delegações de países membros. Somente para receber este grupo, são necessários investimentos de retrofit e adequações nos meios de hospedagens da cidade, que atualmente concentram perfis nas classes C e D, para perfis nas classes A e B. Belém, embora rica em cultura e história, possui uma infraestrutura hoteleira limitada se comparada a grandes metrópoles e para atender a demanda também foram cogitadas diversas opções, como distribuir os visitantes para uma área além da capital. O litoral paraense poderia ser uma alternativa de hospedagem, para isso a cidade de Salinópolis serviria como ponto de apoio para a hospedagem de chefes de estado e autoridades. Conhecida popularmente como Salinas, ela tem um forte apelo turístico e é servida por hotéis e resorts, porém está localizada a 215km de Belém. Para melhor equacionar a logística, a aposta seria no deslocamento aéreo para facilitar o acesso à capital paraense, mas talvez não seja uma alternativa tão viável. Outra tentativa de aumentar a oferta de hospedagem seria a readequação de edificações já existentes. Chegou a se considerar a hipótese de que prédios federais desocupados pudessem ser cedidos ou alienados à iniciativa privada para serem convertidos em hotéis. Sete prédios foram mapeados pela SPU – Secretaria do Patrimônio da União, com as informações de localização, tamanho da área, pendências financeiras e fiscais, além de obras e serviços necessários para reforma, restauro e revitalização, porém não houve mais informações de como funcionaria a iniciativa. O fato é que devido ao curto prazo para a preparação, as soluções precisam ser mais práticas e objetivas.

Déficit hoteleiro e opções alternativas
De acordo com Toni Santiago, Presidente da ABIH/PA – Associação Brasileira da Indústria de Hotéis, regional do Pará – a cidade de Belém possui atualmente em torno de 18 mil leitos. Mas esse número fica bem aquém dos estimados 40 mil visitantes que devem chegar à capital paraense para a conferência. “A ABIH está em constante contato com o poder público estadual e municipal. Além da capital, temos os municípios da grande Belém, que dispõe aproximadamente de 1.200 leitos”, explica Santiago.
E como existe uma lei pétrea desde os primórdios da humanidade chamada lei da oferta e procura, os preços de hospedagem simplesmente dispararam. Em um site de reserva de acomodação de casas ou apartamentos, os valores chegam a até R$ 2 milhões para os 15 dias de evento, algo completamente inimaginável de se pagar. E agora a equipe do Governo Federal entra nesse imbróglio para tentar resolver e deve assinar em breve um TAC – Termo de Ajustamento de Conduta com os representantes do setor hoteleiro. O objetivo é garantir equilíbrio nos preços de hospedagem durante a realização da COP30. A medida tem caráter preventivo e busca estabelecer um compromisso formal entre o setor público e os empreendimentos de hospedagem, com regras claras e acordadas previamente, para garantir a transparência e a previsibilidade na política de preços durante o evento. Mas lembrando que atualmente Belém possui 18 mil leitos hoteleiros e ainda faltam 22 mil, apenas seis meses do início do evento. E com certeza a lei da oferta e procura vai prevalecer nos alugueis de temporada, como casas e apartamentos.
Orlando de Souza, Presidente executivo do FOHB – Fórum dos Operadores Hoteleiros do Brasil, acredita que o desafio é muito grande e vai ser preciso muita criatividade e maleabilidade para encontrar as soluções. Ele destaca que a questão é complexa porque não se resolve somente com o aumento do número de hospedagens, é preciso também pensar em demanda e na relação entre investimento e retorno. “O número atual de leitos em Belém, se dá de acordo com a demanda da região. Se houver a construção de novos hotéis haverá queda na taxa de ocupação, assim como de diária média, pois vai se ampliar a oferta para uma demanda que já não é muito alta. Para alguém construir um novo hotel, é preciso ver se haverá retorno sobre o investimento”, alertou Orlando.

Algumas discussões giram em torno do aumento da oferta de hospedagem em pousadas e acomodações temporárias, possível construção de novos hotéis e a renovação dos existentes, mas há pouco tempo hábil para essas soluções. Os motéis também surgem como opção de hospedagem. De acordo com Felipe Martinez, Presidente da ABMotéis – Associação Brasileira de Motéis, a utilização de motéis para hospedagem já é uma realidade em grandes eventos. “É comum que a rede moteleira dê suporte quando a cidade em que o evento irá ocorrer tem um déficit de acomodação, como a COP-30 em Belém (PA). É importante ressaltar que atualmente os principais motéis das principais capitais já trabalham com a venda de diárias nas principais agências de viagens online como Booking.com, Expedia e Decolar. Em grandes eventos como o Carnaval de Salvador, Fórmula 1 e Rock in Rio, por exemplo, os turistas já procuram os motéis como opção de hospedagem. Na Copa do Mundo de 2014, no Brasil, o trade moteleiro foi acionado pelo Ministério do Turismo para compor o percentual de acomodação necessário para receber os turistas na época”, explica Felipe. Ele afirma que a ABMotéis tem mantido conversas com empresários do setor de Belém (existem 63 motéis na capital paraense que, juntos, representam aproximadamente 2.500 quartos disponíveis) para entender os desafios locais.

Outras opções são a utilização de alternativas criativas, o compartilhamento de moradia e o aluguel de casas e apartamentos por meio de plataformas online, são vistas como uma forma de aliviar a pressão sobre a rede hoteleira tradicional. Além da possibilidade do uso de navios de cruzeiro como alternativa de hospedagem. Está previsto também a chegada de dois grandes transatlânticos que deverão disponibilizar em torno de mais cinco mil leitos. Já existe uma ação de parceria junto à Airbnb onde a cidade pretende disponibilizar em torno de cinco mil leitos. De acordo com Aleksandra Ristovic, Gerente de Relações Institucionais e Governamentais do Airbnb no Brasil, a parceria entre Airbnb e Governo do Pará tem o objetivo de impulsionar o turismo e o desenvolvimento econômico em preparação para a COP-30 em Belém. O acordo prevê atuação em prol de empoderamento econômico, turismo regenerativo e promoção turística com a criação de uma rota de viagem sustentável para promover experiências autênticas.
Conheça alguns dos novos hotéis
Para atender a demanda de hospedagens, alguns hotéis estão sendo construídos em Belém e região metropolitana. Com um investimento de R$ 180 milhões, o grupo Vila Galé Hotéis está com obra em ritmo bem acelerado do seu primeiro empreendimento em Belém, no Pará. O Vila Galé Collection Amazônia – Belém. Este novo projeto será um hotel boutique, localizado em três antigos armazéns do Porto Futuro II – os armazéns 8, 8ª e 7, cada um com mais de 2.000 m². O empreendimento contará com 206 apartamentos e oferecerá uma infraestrutura completa e sofisticada, incluindo um restaurante, um bar, o Satsanga Spa com piscina aquecida e coberta, e três piscinas externas.
O projeto do hotel foi cuidadosamente planejado para atender as normas ambientais, garantindo que tanto a restauração quanto a operação sejam sustentáveis e responsáveis. “Esse hotel será todo dentro de armazéns, o que o torna diferente de todos os outros empreendimentos que fazem parte da rede. Vamos manter o formato horizontal já existente, com o objetivo de preservar a integridade arquitetônica original, assim como a volumetria. Não vamos causar impacto na paisagem. Será surpreendente”, explica o Fundador e presidente da Vila Galé, Jorge Rebelo de Almeida.

No armazém 8, localizado às margens da Baía do Guajará, estarão localizados a recepção, o lobby, o spa com piscina interna aquecida, o restaurante e o bar. O piso superior contará com apartamentos e duas salas de reuniões voltadas para eventos sociais e corporativos. O armazém 7 será dedicado aos apartamentos, tanto no térreo quanto no primeiro andar, e contará ainda com mais uma sala de reunião. Já o armazém 8A contará com uma área de estar, uma biblioteca e os demais apartamentos. A área externa do hotel será um atrativo adicional, com duas piscinas para adultos e uma piscina infantil equipada com parque aquático, oferecendo opções de lazer para todas as idades.
Bandeira Tivoli em Belém
O antigo prédio da Receita Federal em Belém, inutilizado desde um incêndio ocorrido em 2012, está sendo completamente revitalizado para abrigar um luxuoso hotel de categoria cinco estrelas, gerido pela renomada bandeira portuguesa Tivoli. O empreendimento está sob a responsabilidade de Maiorana Junior, que já administra um hotel de luxo na avenida Brás de Aguiar, em Belém. As obras de revitalização do prédio estão em processo bem acelerado, com grandes expectativas para a nova fase do local. A edificação terá 255 apartamentos, incluindo sete suítes executivas de 68 m² e uma suíte presidencial duplex de 230 m². Na área gastronômica, contará com quatro restaurantes, sendo: um especializado em culinária paraense e brasileira, dois temáticos de Portugal e Itália, além de um rooftop comandado por um renomado Chef português. Haverá ainda quatro bares, incluindo um bar panorâmico no lobby com vista para a Presidente Vargas e a Baía do Guajará. Os hóspedes também poderão desfrutar de um Spa da rede Anantara, do mesmo grupo do Tivoli. A moderna infraestrutura que está sendo implantada inclui ainda: um fitness room, cinco salões de eventos, um river club na área da piscina, e um lobby de 800 m². Haverá ainda no complexo um shopping com dez lojas de diversos segmentos.

Ibis Santarém
Outra bandeira de rede internacional que também chega para atender a demanda de hospedagem da COP 30 é o Ibis, que está sendo construído em Santarém. O hotel da rede Accor deverá oferecer modernas opções de estadia e fortalecer a infraestrutura turística no estado. O empreendimento recebe financiamento pelo FUNGETUR e contará com 134 quartos, restaurante, coworking (Wojo), academia e sala de reunião. A Accor assinou o contrato no modelo de franquia, destacando a importância do projeto como um polo logístico para empresas agrícolas e uma opção de hospedagem a apenas 40 minutos de Alter do Chão, conhecido como o “Caribe amazônico”. O Ibis Santarém está sendo construído na Avenida Mendonça Furtado, próximo à BR-163, rodovia estratégica que conecta o Norte ao Sul do Brasil.
Bristol expande presença no Pará
De olho nas oportunidades geradas pelo mercado de Belém e para atender a demanda da COP 30, a Rede Bristol Hotéis & Resorts coloca em operação no próximo mês de julho o Bristol Marambaia Belém Hotel. Com um investimento de R$ 47 milhões, o empreendimento terá 140 apartamentos em duas categorias, todos com wi-fi de alta velocidade, ar-condicionado, TV a cabo e outras comodidades premium. No espaço comum, o empreendimento conta com restaurante próprio e vagas de estacionamento, além de um Centro de Eventos de alto padrão. São seis salas amplas e modulares, que se transformam em um salão de convenções para 700 pessoas, que será referência para o público da região. O novo espaço recebe convenções corporativas, seminários, congressos, workshops e treinamentos, além de eventos sociais e outras celebrações. A moderna edificação tem na localização privilegiada um dos diferenciais. Está sendo erguida na Avenida Pedro Álvares Cabral, com facilidade de acesso aos principais pontos da capital paraense. Está a 6 km do Aeroporto Internacional de Belém (Val-de-Cans); 3,5km do Parque da Cidade, que será o endereço da COP30; a 5 km do Shopping Grão Pará, a 2,5 km do Shopping Castanheira e a 4 km do Hangar – Convenções e Feira da Amazônia, um dos maiores centros de eventos do Pará.

Outra unidade que será colocada em operação em breve pela rede Bristol será em Castanhal, cidade polo a 65 quilômetros de Belém (Pará), que faz parte da região metropolitana e está entre as cinco principais cidades do Estado. O hotel Bristol Castanhal terá 150 apartamentos no centro da cidade e o projeto é viabilizado pelo FUNGETUR – Fundo Geral do Turismo. O empreendimento está sendo implantado na Rua Senador Antônio Lemos – 189, esquina com rua Floriano Peixoto