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Impactos e perspectivas da COVID-19 nas operadoras de turismo consolidado de março 2020

A Braztoa (Associação Brasileira das Operadoras de Turismo) promoveu uma pesquisa entre seus associados para medir os impactos comerciais e trabalhistas da crise causada pelo novo coronavírus, bem como as perspectivas de retomada. Os dados, que refletem o mês de março, quando começou a quarentena, mostram que as vendas foram duramente afetadas, o que demanda a implementação rápida de políticas públicas de apoio ao setor de turismo, um dos mais afetados pela crise.

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Vendas, Cancelamentos e Adiamentos

Os números mostram que 45% das empresas pesquisadas não realizaram nenhuma venda no mês de março. Outras 45% afirmaram que as comercializações representam, no máximo, 10% do movimento registrado em março de 2019. Esses números refletem as atividades das primeiras duas semanas de março quando o mercado, apesar do bloqueio de vendas para alguns destinos internacionais, ainda se mantinha em funcionamento.

Um ponto de atenção é que, entre as vendas realizadas, cerca de 70% são para embarque no segundo semestre de 2020, ou seja, a efetivação das viagens poderá ficar comprometida se perdurar a manutenção de medidas restritivas e o avanço do COVID-19.

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Os cancelamentos afetaram 98% das empresas. Das operadoras pesquisadas, 32% registraram até 30% de cancelamentos, 13% das operadoras tiveram entre 30 a 50% de cancelamentos, 17% destas empresas constataram entre 50 e 75%. Para mais de um terço dessas empresas (36%), o maior grupo de operadoras, os cancelamentos chegaram entre 75 e 100%, representando números altíssimos.

Considerando o universo de viagens canceladas, pouco mais de um terço dos clientes já recebeu o reembolso à vista, mostrando que nem todas as operadoras puderam aguardar a publicação da MP948. Entre os demais: 43% vão receber dentro do período de carência para reembolso, 11% optaram por carta de crédito e cerca de 10% dividem-se em recebimento de forma parcelada ou negociada. Vale ressaltar que 96% dessas operações tiveram acordos amigáveis entre clientes e operadoras, sem o envolvimento de órgãos como o Procon e Senacon, o que denota uma maior maturidade nas relações comerciais, pautadas pela boa-fé e bom-senso de ambas as partes.

Sobre o adiamento das viagens, três quartos das empresas estão com adiamento superior a 50% (37% relatam que administram em torno de 50 a 75% de prorrogações, 28% entre 75 e 90% e outros 11% entre 90 e 100%). O restante, em torno de 24%, registra adiamentos inferiores a 50% das vendas comercializadas antes da pandemia.

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Considerando os cancelamentos e adiamentos juntos, os impactos registrados até o o final de março foram: 90,4% dos embarques de março, 96,2% dos embarques de abril, 94,2% dos embarques de maio, 63,5% dos embarques de junho. Apesar de não existirem dados concretos sobre a expansão da doença a partir do segundo semestre e, inclusive, previsões atuais mostrarem uma tendência de normalização a partir de agosto, os cancelamentos se estendem, atingindo 26,9% dos embarques previstos para o segundo semestre de 2020 e 3,8% embarques de 2021.

Em termos financeiros, esses mesmos cancelamentos e adiamentos de viagens somaram cerca de R$ 3,9 bilhões, ou seja, 25% do faturamento de 2019 das operadoras Braztoa, sendo R$ 3,5 bilhões no primeiro semestre, R$ 350 milhões no segundo semestre e R$ 50 milhões em 2021, números que podem aumentar caso se prolongue a crise gerada pela pandemia.

Roberto Haro Nedelciu, Presidente da Braztoa (Foto: Divulgação)

A pesquisa também mostra que há uma compreensão dos fornecedores nacionais. 59% das operadoras apontam que têm conseguido negociações de alternativas ao reembolso, 18% obtiveram reembolsos integrais, 18% indicaram que seus reembolsos tiveram restrições e apenas pouco mais de 3% cobraram os valores integrais, sem reembolso. Levando em consideração que as operadoras atuam como intermediadoras na relação dos fornecedores com os clientes, a boa relação destas com a cadeia produtiva é fundamental para a gestão da crise.

Já entre os fornecedores internacionais, que não estão vinculados às regras brasileiras, a pesquisa aponta que 40% está oferecendo alternativas ao reembolso, pouco mais de 32% está oferecendo reembolso com restrições, 16% está efetuando reembolso integral, e cerca de 12% está cobrando integralmente os valores. Esse cenário traz uma grande preocupação para as operadoras que se veem diante do desafio de ter que fazer frente a casos de reembolso sem ter tido a devolução dos valores pagos aos fornecedores sediados em outros países.

Redução Custos

Um dado delicado da crise é seu efeito dominó em relação às empresas que atuam no setor. 98% das operadoras já reduziram seus custos operacionais, 17% delas em até 25%, 61% entre 25 e 50%, 20% entre 50 e 75% e apenas 2% acima de 75%.

28% dessas empresas encerraram contratos, 28% suspenderam por tempo determinado, e mais de 30% dessas operadoras suspenderam por tempo indeterminado. Quase 75% renegociaram valores e apenas cerca de 6% ainda não praticaram alterações com empresas terceirizadas.

Para 43% das operadoras, os impactos da redução de custos atingiram acima de 10 empresas terceirizadas. Para 57%, entre 1 e 10 empresas foram impactadas pelas reduções, suspensões e cancelamentos de contratos.

Recursos Humanos

A pesquisa mostra que, apesar da queda de faturamento, há um esforço das operadoras em manter os seus colaboradores. Entre 29/02 e 31/03, houve um corte de 10% de funcionários. Quando questionadas sobre o mês de abril, 55% das operadoras não pretendem fazer demissões, 9% pretendem reduzir até 10% do seu quadro de funcionários, 17% vão reduzir até 25%, 15% vão reduzir até 50% e apenas 4% pretendem fazer até 75% de demissões.

Para não demitir, 78% das empresas promoveram reduções de carga horária e salários, 74% deram férias a seus colaboradores, 22% promoveram licenças remuneradas e 20% suspenderam contratos temporariamente.

Retomada do setor

A pesquisa também questionou os associados em relação às expectativas para normalização do mercado de turismo.

91% das empresas não prevê vendas no mês de abril. Apenas 12% dos associados acreditam que haverá retomada até o mês de julho, 36% apostam no segundo semestre, 43% apontam que o setor voltará ao normal apenas em 2021 e 9% dos entrevistados não conseguem ainda prever a retomada dos negócios.

Dentro disso, 41% das empresas esperam um faturamento até 50% menor em 2020, 39% esperam uma queda entre 50 e 75% e 20% uma queda maior que 75%.

Ainda em relação ao momento de retomada dos negócios, no que se refere aos destinos, 72% das operadoras acreditam que o Brasil esteja no topo das procuras, seguido da América do Sul, com 15% das indicações e Oriente Médio com 5%. As regiões da América do Norte, Europa, América Central e Caribe, Ásia e Oceania seguem no final da lista com 2% das indicações.

Esses números podem indicar que a retomada do turismo, no segundo semestre, deve se iniciar por viagens domésticas mais acessíveis financeiramente e que transmitam maior segurança sanitária para os viajantes.

72% das operadoras acreditam que o Brasil esteja no topo das procuras, seguido da América do Sul, com 15% das indicações e Oriente Médio com 5% (Foto Rovena Rosa/Agência Brasil)

Desafios da retomada 

Os desafios são diversos, mas alguns ganham destaque, como a preocupação sobre a falta de demanda por motivos financeiros, mencionada por 75% dos entrevistados. Essa preocupação está ligada diretamente à crise econômica, que trouxe como consequência, entre muitas coisas, o desemprego e as reduções salariais, que podem fazer com que as viagens deixem de ser uma prioridade em um primeiro momento.

Para 41% das operadoras, a ausência de recursos financeiros para ações de marketing e promoção também se configura como um grande desafio. Já para 16% dessas empresas, o ponto de atenção está na falta de recursos humanos para retomar as atividades.

Outras apreensões estão ligadas à saúde, como a possível falta de demanda por insegurança sanitária, apontada por 66% das empresas, e as condições inadequadas nos destinos para receber turistas, mencionada por 41% das operadoras.

Questões relacionadas à falta de oferta de produtos e serviços por parte dos fornecedores são um grande desafio para quase 30% dos respondentes e a ausência de produtos pelo agenciamento preocupa pouco menos de 20%.

Isso deverá direcionar as ações das empresas e do próprio Governo, através, especialmente, do Ministério do Turismo, para que a retomada ocorra de forma consistente e focada, lembrando que a comunicação deverá ser tratada como prioridade máxima nesse processo.

Ações

Sobre ações adotadas pelo Governo, 50% entendem que terá algum tipo de benefício, mas apenas 22% sabem como utilizá-lo a seu favor. Outros 39% não têm clareza se terão ou não benefícios referentes às medidas, número que mostra a necessidade de uma comunicação mais eficaz sobre a aplicabilidade dessas ações governamentais. Apenas 11% não enxergam nenhum benefício para as suas empresas.

Por outro lado, 93% das operadoras têm total ciência das ações de flexibilização adotadas pelo Senacon e Procon-SP referente aos cancelamentos e adiamentos de viagem. Para o mesmo número de empresas, campanhas como “Adie! Não Cancele”, são benéficas.

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