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Hotéis terão que se reinventar para sobreviver no pós COVID-19

Alguns ícones da hotelaria encerraram as atividades recentemente em razão do COVID-19 e a falta de liquidez preocupa o setor

A pandemia da COVID-19 deflagrou uma crise mundial inesperada que levou diversos setores da indústria à reinvenção de seus modelos de negócio. O turismo sofreu um grande golpe, foi à lona e ainda se encontra na contagem, tentando reerguer-se e continuar o embate contra um oponente há muito tempo conhecido: a economia brasileira. Outros segmentos da cadeia que compõem o exercício do turismo, como parques, atrações turísticas, restaurantes e hotéis também foram surpreendidos pela ausência total dos clientes. Em meio à surpresa e o ineditismo da situação, as redes e os empreendedores do segmento iniciaram uma verdadeira corrida contra o tempo no sentido de amortizar os prejuízos, manter a saúde financeira dos empreendimentos e o quadro de colaboradores intacto – talvez o principal desafio.  Com isso, os hotéis terão que se reinventarem para sobreviver no pós COVID-19 e não fecharem.

 

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O efeito surpresa da pandemia acabou selando o destino definitivo de empreendimentos que já eram consolidados como referência nos destinos onde estavam inseridos. Caso do Pestana Convento do Carmo, em Salvador, Bahia. O luxuoso hotel da rede portuguesa Pestana Hotel Group foi por três anos consecutivos (2017, 2018 e 2019), empreendimento oficial do evento Flipelô – Festa Literária Internacional do Pelourinho. O comunicado do Pestana apontou a pandemia do novo coronavírus como o principal motivo da decisão pelo fim de suas operações após
15 anos de história. Igualmente prestigiado e conhecido na região, o Hotel Frontenac, de Campos do Jordão, no interior paulista, também optou pelo fim das atividades durante a quarentena. A diretoria do empreendimento também divulgou uma nota na qual responsabiliza os efeitos da pandemia como principal razão do fechamento, após 19 anos de operação.

Hotéis terão que se reinventar para sobreviver no pós COVID-19
O Hotel Laje de Pedra fechou no último dia 7 de abril (Foto: Divulgação)
Ícones da hotelaria

O Laje de Pedra Hotel & Resort, um ícone da hotelaria nacional localizado em Canela (RS)que já passava por problemas de gestão e com a pandemia da COVID-19, encerrou as operações no dia 7 de maio. E outro ícone da hotelaria que também encerrou as operações no mês de maio foi o Senac Grogotó de Barbacena (MG) que era administrado pelo SENAC/MG mas a parte educacional da instituição, cujos cursos ocorrem no mesmo prédio do estabelecimento
hoteleiro, continua sem alteração. Para Alexandre Sampaio, Presidente da FBHA – Federação Brasileira de Hospedagem e Alimentação, os eventos desencadeados pela pandemia vão além do fechamento de hotéis em todo o País: “O impacto foi extremo. Acredito que nunca, talvez, a hotelaria brasileira tenha vivido uma situação tão dramática, mesmo na época do confisco do Collor a situação chegou a esse nível de deterioração da situação empresarial, das companhias, das empresas, das firmas e dos meios de hospedagem. Eu diria, também, que o problema é a projeção da recuperação, então, o quadro é muito assustador, principalmente porque somos empregadores por excelência. A questão do custo da manutenção da folha, na atual situação, sem demanda, com impostos minimamente suspensos, vai ser muito difícil. Temos também os consumos de energia elétrica, consumos com água, esgoto, gás, telefonia e internet, então eu diria que o quadro não é do mais promissor. Eu imagino que, em uma projeção modesta, se não houver a situação de créditos, a hotelaria tende a ter 10% do seu parque nacional fechado definitivamente”, opina Sampaio. Segundo ele, apesar da perspectiva e de todas as previsões, a sobrevivência a crise ainda está em curso.

Hotéis terão que se reinventar para sobreviver no pós COVID-19
Alexandre Sampaio: “A hotelaria brasileira nunca viveu  uma situação tão dramática (Foto: Christina Bocaiuva)

Sampaio destaca movimentos que podem ser considerados aliados dos hotéis e dos investidores durante a pandemia, que vale a pena relembrar, pegou a indústria de surpresa. “O período não findou. Estamos em plena crise da pandemia. Os hotéis, por enquanto, tiveram a MP 936. As empresas usaram a MP 936, suspendendo contratos de trabalho e fazendo lay-off, diminuindo a carga horária e também a remuneração correspondente. O FUNGETUR,  que acabou de ser sancionado, ainda não está liberado, então, é uma situação dramática na questão do crédito para poder fazer frente às despesas correntes que não puderam ser negociadas com os seus fornecedores e com o Governo, na questão dos tributos pendentes. A Procuradoria Geral da Fazenda Nacional nos deu um delay, mas isso vai findar e a gente tem que fazer frente a esses Refis do passado e também aos pagamentos dos impostos durante o período que até funcionamos. Esperamos que a postergação da declaração de renda de pessoa jurídica possa vir por aí, porque está marcado para junho, pelo menos para o núcleo real e presumido, então é importante também esse delay. Os hotéis estão encontrando maneiras, mas a maioria, eu diria, que 90% em todo Brasil, está fechado. É claro que existem exceções. Eu cito, por exemplo, os hotéis que atendem áreas de petróleo. Tem tido demanda, entretanto, nem sempre em todos os hotéis. Macaé é um exemplo disso, com 70% da hotelaria fechada, mas os que permaneceram abertos estão tendo um bom movimento. A Petrobrás está impondo descontos significativos mesmo em contratos vigentes. Diria que polos industriais ou polos relativos à agro e indústria, na hotelaria local, tem tido um bom desempenho e demanda. Há uma preocupação muito grande com as questões de EPIs, como atender esses clientes com os cuidados necessários, não só com a equipe, mas também com o hóspede. A decisão do Supremo, reconhecendo que o corona pode ser uma doença funcional, nos traz muita preocupação de como lidar com essa situação. É uma situação que estamos aprendendo a cada dia, mas realmente trágica e extrema no sentido de cuidados, faturamento e de como lidar também com os contratos dos funcionários”, detalha Sampaio.
Outra importante entidade do setor hoteleiro, o FOHB – Fórum de Operadores Hoteleiros do Brasil, também manifestou a sua visão dos recentes fatos na pessoa de seu Presidente, Orlando de Souza. “Acho que podemos equiparar o impacto do novo coronavírus com a seguinte imagem: aconteceu um tsunami e a hotelaria estava na praia – foi a primeira a ser atingida e será a última a recuperar-se”, disse o gestor.

Hotéis terão que se reinventar para sobreviver no pós COVID-19
Orlando de Souza: “Um quarto não vendido é um quarto de receita zero” – Foto – Divulgação

Para Souza, o papel do Governo Federal é essencial para a sobrevivência dos hotéis na travessia do período: “Tivemos uma queda para zero de receitas e nosso negócio não permite ‘delivery’ ou ‘estoque’ de mercadoria para o momento da reabertura. Um quarto não vendido é um quarto de receita zero nos hotéis. Para passarmos esse período de sobrevivência precisamos de recursos federais, de dinheiro novo, sem os quais as empresas quebrarão e o desemprego será cruel”, reflete o Presidente.

Papel do Governo

O protagonismo do Governo como vetor de uma recuperação da hotelaria é compartilhado por Alexandre Sampaio, que destaca a negociação com o Congresso para as Medidas Provisórias e torce para que o Governo se mostra favorável diante do parecer do Deputado Orlando Silva (PSB/SP), para a aprovação do dobro da vigência da MP 936.
“É importante que o Governo enxergue isso e apoie essa medida com aporte de recursos nesse gasto adicional, porque as empresas precisam de um fôlego para se planejar durante o olho do furacão da COVID-19. Esperamos agora o aporte do recurso do BNDES, do Tesouro, no FUNGETUR, então as empresas estão se organizando para tentar obter esse recurso, mas é fundamental que a gente ganhe um espaço de tempo de mais alguns meses para lidarmos com a nossa mão de obra. Então, o papel do Governo é apoiar isso”, ressalta Sampaio.

Projeções para a retomada

Tanto Souza quanto Sampaio são unânimes em relação ao cenário da retomada e sobrevivência da hotelaria. “Não há sobrevivência possível sem ajuda do Governo. Acho que na retomada, o setor sofrerá um ‘downsizing’. Muitas propriedades não reabrirão de imediato, outras demorarão ainda mais para reabrir e algumas sequer reabrirão, sendo convertidas para outro tipo de produto. As que tiverem condições, só entrarão em regime de uma certa normalidade, talvez, no segundo semestre de 2022”, avalia Orlando de Souza. “Acho também que não vamos ter eventos neste ano, a menos que surja uma vacina ou um tratamento que assegure confiança ao mercado. Nenhuma empresa/corporação terá a coragem de permitir que seus quadros participem de eventos sem nenhum tipo de proteção; e nenhum organizador de eventos/feiras vai querer assumir o risco de ter sua marca vista como provável causa de uma onda de contaminação ou ainda pior, como causa de mortes”, completa o Presidente do FOHB.
Para Sampaio, “a não ser que haja uma vacina ou que tenham testes maciços providos pelo Governo e que possam ser implementados para podermos designar qual a situação da população para poder estar apta a se descolar. Mas, eu diria que o ano está perdido. Eu só reputo que tenhamos condições de trabalhar mais adequadamente a partir do ano que vem. Ainda assim, com muitos cuidados e percentual ainda inexpressivo.
A preocupação é essa: o quanto esse inexpressivo vai gerar em termos de renda, em termos de ocupação média para podermos honrar o nosso compromisso durante o ano. A nossa esperança é de que uma vacina saia até o final do ano, mas sabemos que é muito difícil isso. Para este ano, não vejo perspectiva de recuperação nenhuma, vai ficar tudo para o ano que vem”.

Hotéis terão que se reinventar para sobreviver no pós COVID-19
Luigi Rotunno: “O La Torre foi um dos primeiros empreendimentos a anunciar o seu fechamento” – Foto – Divulgação

A prevenção do novo coronavírus implicou a necessidade de distanciamento social, o inverso do que o mercado de lazer propõe. Como já mencionado anteriormente, a hotelaria, que já se desdobra no período de baixa temporada para manter a sua operação e a saúde financeira em dia, viu-se diante de um novo desafio, mais complexo e cheio de incertezas já que não existem previsões corretas para a solução da crise e consequentemente, o reaquecimento da ocupação, principal fonte de renda dos hotéis. O resultado foi o fechamento definitivo de alguns hotéis. No entanto, outros grandes nomes do lazer permaneceram com a promessa de um retorno triunfal e, por que não, como inspiração para outros players, caso do La Torre Resort, na Praia do Forte, em Porto Seguro, na Bahia.
Luigi Rotunno, Diretor e CEO do Grupo La Torre, detalhou as estratégias de sobrevivência do empreendimento desde a deflagração da pandemia e o anúncio da quarentena: “O La Torre foi um dos primeiros empreendimentos a anunciar o seu fechamento. Sabíamos que o grande problema seria o retorno dos hóspedes para casa e o quanto as companhias seriam afetadas pela COVID-19. Portanto, não podíamos perder tempo”, explicou o gestor.
Segundo Rotunno, a prioridade do empreendimento foram os colaboradores desde o primeiro momento. “Só encerramos os contratos em fase de experiência. Os outros colaboradores foram mantidos mediante a aplicação da Medida Provisória que permite a ajuda do Governo Federal. Quanto às outras despesas, utilizamos um fundo de reserva que sempre temos guardado para casos de emergência, e todos os fornecedores foram pagos. Após isso, a empresa entrou em apneia para aguardar o seu futuro”, revelou.

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Valorizando talentos
Uma das características mais contundentes do Grupo La Torre é a relação que mantém com seus colaboradores. São benefícios que incluem fundos de auxílio para a construção ou reforma de imóveis até folgas em datas comemorativas. Rotunno explica que, em meio a pandemia, a atenção e cuidado para com a sua equipe não poderia ser diferente: “A empresa ofereceu a possibilidade de desligamento ou de permanência. Nisso, 99% decidiu ficar, o que me comoveu muito, pois sinceramente acreditava que vários iriam preferir receber o seguro-desemprego, Fundo
de Garantia e rescisão completa. Durante esse período estamos mantendo contato com eles para saber como estão, inclusive distribuímos máscaras e álcool em gel para cada família. Em breve estaremos iniciando pequenos grupos de trabalho voluntário para os colaboradores que sentem necessidade de sair de casa. Acredito que se mantermos a distância e respeitarmos as regras da OMS, não correremos riscos. Muitos colaboradores pedem para vir na empresa e dar uma volta, e ver as novidades também”. Luigi também reforça que a atenção aos padrões de limpeza neste momento é essencial: “Limpeza e higienização são um pouco diferentes. Estamos implementando novas práticas e equipamentos específicos para a higienização. Acreditamos que vai ser um grande diferencial para a reabertura. O viajante vai preferir um resort que pensa na sua segurança”, afirma.

Cenário de retomada
O Vice-Presidente de Operações e Desenvolvimento da Europa e América do Sul do Grupo Minor Hotels, Marco Amaral acredita que o segmento hoteleiro sofrerá transformações significativas que implicam investimentos, reestruturação, adequação aos novos comportamentos dos clientes e reinvenção de modelos e processos adotados pré-pandemia: “Todas as empresas serão obrigadas a ter uma capacidade de reação muito rápida, já que ninguém ainda sabe como vai ser o novo comportamento do consumidor, as exigências dos órgãos nacionais e internacionais e quanto o tempo o mercado vai demorar a retomar”,observa.
Já Orlando de Souza do FOHB, acredita na retomada em fases. Para ele, a segunda onda da pandemia pode ser a ‘pandemia do medo’: “Entendo que o futuro do setor na retomada vai se dar em duas etapas: a primeira no período imediato da pós-pandemia, onde teremos a ‘pandemia do medo’ e da falta de confiança; a segunda após a vacina onde, aí sim, tudo deverá voltar, com o tempo, ao normal. Nada é tão ruim que permaneça para sempre!”, reflete o gestor.
Para Luigi Rotunno, a sobrevivência do setor terá condições impostas pela própria necessidade que os últimos eventos criaram: da reinvenção da reinvenção. “O aspecto do lazer pode sofrer, precisa reformular seu produto para algo mais sob medida. O distanciamento é inimigo do lazer, no sentido que impede inúmeras atividades. Estaremos focando mais no lazer para famílias e casais pensando neles como um núcleo. O bem esta deve ganhar espaço. Vamos ter que aplicar mais do que nunca o conceito de serviço personalizado. O turismo vai sofrer uma grande mudança, ainda é difícil saber como nossa indústria vai acordar depois dessa pandemia, mas precisamos saber contornar esse imenso desafio, talvez o maior da nossa história”, concluiu Rotunno.

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