Hostels, mais do que uma hospedagem acessível, um estilo de vida
Você sabia que é possível se hospedar com qualidade no Brasil com preços que variam de R$ 20 a R$ 45 em quartos coletivos e R$ 50,00 a R$ 100,00 em quartos duplos com banheiro privativo? Trata-se do Hostels, os antigos albergues da juventude, que nasceu há mais de 100 anos na Europa para os estudantes adeptos de excursões rurais que procuravam uma hospedagem barata. O resultado foi tão positivo que se espalhou na Europa na década de 20 e hoje já não é somente uma hospedagem consolidada no mundo, mas um estilo de vida de mochileiros, aventureiros e até mesmo de famílias que buscam novas amizades e contatos com outras culturas.
Hoje, o Brasil conta com 96 hostels espalhados nas cinco regiões, nos principais pontos turísticos e históricos, em geral, bem localizados, com staff altamente qualificado, ambiente descontraído e equipe prestativa e bilíngüe, informações e dicas culturais e de turismo da cidade e da região, além de muitos passeios com descontos para os hóspedes. Existe todo um rigor em relação a procedimentos e uma fiscalização para os hostels seguirem um mesmo padrão de qualidade internacional nos serviços. A meta de crescimento é ousada e até o final deste ano espera-se ter mais 100 novos Hostels. Conheça um pouco mais deste estilo de hospedagem através desta entrevista exclusiva com Carlos Augusto Alves, Presidente da Federação Brasileira de Albergues da Juventude.
Revista Hotéis — Como e quando surgiu o movimento alberguista no mundo e quando ele chegou ao Brasil?
Carlos Augusto Alves — O movimento alberguista completou 100 anos no ano passado. O professor alemão Richard Schirmann adepto de excursões rurais teve a idéia de conceber uma hospedagem barata para os alunos, em agosto de 1909. Pouco depois era inaugurado na cidade de Altena, no Sul da Alemanha, o primeiro Albergue da Juventude, que está em funcionamento até os dias atuais. O excelente resultado abriu caminho para a expansão do alberguismo pela Europa no final da década de 20. Das acomodações improvisadas em celeiros à atual infra-estrutura padrão, os albergues da juventude ganharam o mundo, ao oferecer diárias com preços mais em conta e permitir uma maior troca cultural entre os alberguistas de diversas nacionalidades. No Brasil, o movimento chegou em 1961, através dos educadores Joaquim e Ione Trotta, que fundaram no Rio de Janeiro a Residência Ramos, primeiro albergue brasileiro. Com a criação em 1971 da FBAJ — Federação Brasileira dos Albergues da Juventude, passamos oficialmente a integrar o movimento alberguista mundial, com escritórios em vários estados.
Revista Hotéis — Como a HI Hostels está posicionada hoje no Brasil?
Carlos Augusto Alves — Contamos hoje com 96 hostels no Brasil, espalhados nas cinco regiões, nos principais pontos turísticos e históricos do País. O Brasil está entre os 15 países com maior número de hostel do Mundo e nossa expectativa é ter até o fim do ano mais de 100 hostels no Brasil, em razão da grande procura.
Revista Hotéis — Os Hostels no Brasil ainda mantém a imagem de acolher os hóspedes jovens aventureiros, mochileiros, pé na estrada ou isto tem mudado nos últimos anos? Quem são atualmente os hóspedes? Casais e famílias também procuram este tipo de hospedagem?
Carlos Augusto Alves — Sempre falamos que os hostels são para jovens de todas as idades, continuamos recebendo os aventureiros e mochileiros do mundo todo e com a melhoria da qualidade e das prestações de serviços, os casais e as famílias têm frequentado mais os hostels. O mais interessante é que o brasileiro esta viajando mais pelos hostels. Temos até uma carteira de associado destinada à família.
Revista Hotéis — Na sua opinião, o que faz as pessoas optaram por um Hostels em detrimento a um hotel? Quais as principais diferenças que existem entre estes meios de hospedagens?
Carlos Augusto Alves— A própria filosofia alberguista: às pessoas usam os hostels nem tanto pela questão do preço, mas pelo sentido de união, amizade, troca de conhecimento, intercâmbio cultural, acima de qualquer conotação social, política ou religiosa. Todo hostel tem um espaço de convivência, onde os hóspedes se encontram, batem papo, falam do seu dia, do que conheceram e para onde pretendem ir. Na cozinha e lavanderia, de livre aceso ao hóspede. O papo corre solto, onde dançar, os bares da moda, o que conhecer… Os hostels são, em geral, bem localizados, com staff altamente qualificado, têm ambiente descontraído e equipe prestativa e bilíngüe, informações e dicas culturais e de turismo da cidade e da região, além de muitos passeios com descontos para os hóspedes.
Revista Hotéis — Quais as exigências que os Hostels necessitam cumprir para serem membros da HI Hostels Brasil e as vantagens que eles encontram em se associar?
Carlos Augusto Alves — Existe todo um processo para abertura de um hostels que vai desde a escolha do local até a construção e inspeção final do hostel. Trabalhamos com sistema de franquia, temos um manual de abertura que possui todas as premissas básicas para abertura de um HI, temos normas de qualidade de padrão internacional baseadas no receptivo, segurança, limpeza, conforto, privacidade e conservação do meio ambiente. O credenciamento a Hostelling International propicia participar de uma rede de mais de 4500 estabelecimentos no mundo, integrar um site mundial de reservas, figurar nos guias nacionais e internacionais da HI, participar de toda uma programação visual pronta e manuais de procedimentos, além de Feiras Nacionais e Internacionais de turismo.
Revista Hotéis — Os Hostels recebem algum sistema de classificação, assim como acontece nos hotéis? E como é feita a fiscalização por parte HI Hostels para certificar que os padrões de hospedagens estão sendo seguidos?
Carlos Augusto Alves — Os hostels no Brasil são classificados como bons ou muito bons existe um manual de classificação e abertura de hostels que é aplicada na inspeção de abertura. Os hostels são fiscalizados pelo menos uma vez por ano pela HI Brasil, também temos um link no site da HI Brasil e no site da internacional destinado a opiniões dos hospedes que se hospedam nos hostels, é um medidor e também nos ajuda a identificar hostels que possivelmente estão fora dos padrões. As inspeções também podem descredenciar possíveis estabelecimentos irregulares.
Revista Hotéis — Existem regras de convivência a serem seguidas nos hostels, tendo em vista que em vários empreendimentos banheiros, cozinhas, lavanderias e as habitações são coletivas? Quem não se comporta de maneira desrespeitosa poderá sofrer alguma penalidade e não poder mais se hospedar num hostels?
Carlos Augusto Alves — Temos normas internas nos locais de uso comum, quartos, cozinha, lavanderia e banheiros que variam de hostel para hostel. Quem não segue as normas do estabelecimento pode até ser convidado a se retirar do estabelecimento e certamente não poderá se hospedar novamente um hostel da rede. O mais interessante que não temos muitos problemas com nossos hospedes, geralmente são pessoas que viajam bastante e com um nível cultural alto.
Revista Hotéis — Como é definida a tarifa dos Hotels. Eles necessitam seguir um mesmo padrão de valor? Como ela se encontra hoje no Brasil?
Carlos Augusto Alves — Os hostels seguem tabela de preços estabelecida pela HI Brasil, damos um piso e um teto e o hostel se adapta a concorrência local. Eles também devem manter a diferença de preços entre sócios HI e não sócios HI. Hoje no Brasil as diárias oscilam de R$ 20,00 a R$ 45,00 em quartos coletivos e R$ 50,00 a R$ 100,00 em quartos duplos com banheiro privativo. Nos períodos de feriados prolongados trabalhamos com sistema de pacotes e com preços diferenciados.
Revista Hotéis — A HI Hostels Brasil promove alguma ação de conscientização ambiental ou de responsabilidade social para os associados ou nos destinos que atuam?
Carlos Augusto Alves — Entre as premissas do movimento alberguista no mundo está a preocupação com o meio ambiente. Seus associados são estimulados a promoverem ações que tratem do cuidado com as normas ambientais: Conservação da Energia”, “Reciclagem”, “Educação Meio-ambiental” e “Consumo” consciente são prioridades para o movimento. O Curitiba Eco Hostel, engajado nestas premissas lançou a campanha “Preservar faz bem”. O projeto começou no inicio do ano. O projeto é dividido em trimestres, que foram dedicados a uma área especifica dos elementos (terra, água, ar, fogo) tendo assim um foco bem direcionado. São implementadas ações simples, baratas e eficientes, mas que podem fazer uma grande diferença para o meio ambiente. Na área de responsabilidade social, somos parceiros do Ministério do Turismo e da Saúde na campanha “Viajem Legal tem Camisinha”. Todos os hostels e Associações distribuem material educativo e preservativos, o objetivo da campanha e a prevenção de doenças sexualmente transmitidas e HIV. Também somos chancelados pela Unesco como Centro de Cultura pela Paz pelo trabalho de integração da juventude mundial feita ao longo dos nossos 100 anos.
Revista Hotéis — Quais são os planos de crescimento da HI Hostels Brasil nos próximos anos? Os grandes eventos que o País irá sediar terá algum impacto nesta performance?
Carlos Augusto Alves — Nós somos uma associação cujos diretores fazem um trabalho voluntário. Estamos contratando uma consultoria externa para um planejamento de marketing de curto, médio e longo prazo. O trabalho vai ser iniciado no mês de agosto.
Revista Hotéis — O turismo jovem continuará sendo o principal foco de atuação da HI Hostels Brasil?
Carlos Augusto Alves — Hoje estamos cada vez mais confiantes neste mercado de turismo jovem. Esta nova geração está viajando muito, fazendo intercâmbio, se hospedando em nossos hostels. Estamos focados no turismo interno e temos um trabalho em parceria com a UNESCO que valoriza os hostels em cidades do patrimônio. Estamos organizando, juntamente com o IPHAN, o Fórum Juvenil do Patrimônio Mundial, que antecede a Conferência Mundial da UNESCO em Brasília neste mês de julho.