Diversidade e inclusão inspiram painel na 61ª Equipotel
Hotelaria continuará perdendo dinheiro e talentos enquanto não representar a diversidade de vozes e corpos da sociedade brasileira, apontaram especialistas na Arena Senac
*Texto por Zaqueu Rodrigues em colaboração para a Equipotel 2024
A 61ª Equipotel apresentou uma maratona de palestras que iluminaram o mercado de hospitalidade sob múltiplas perspectivas ao longo dos quatro dias de feira no Expo Center Norte, na capital paulista. Neste quarto e último dia, a ARENA SENAC – Conecta Educação em Hospitalidade apresentou o painel Diversidade, Equidade e Inclusão nos serviços de hospitalidade.
Mediado pela advogada e docente da área de Gestão e Negócios no Senac, Luana Manini, o encontro foi protagonizado pela Gerente de Diversidade, Equidade e Inclusão da Accor Hotels, Laís Souza, e pelo Fundador e CEO da Startup Afroturismo HUB, Hubber Clemente. Os especialistas ressaltaram que hotelaria continuará perdendo dinheiro e talentos enquanto não representar genuinamente a diversidade de vozes e corpos da sociedade brasileira.
Laís ressaltou que é fundamental que a sociedade seja representada em todos os níveis do mercado, algo que não ainda acontece com as pessoas minorizadas. “É importante direcionar as ações a partir dos dados, de um plano estruturado para que a diversidade seja uma realidade no mercado de hospitalidade”, ressaltou a executiva da Accor Hotels, citando que a edição de 2023 do programa de Trainee da rede francesa contou com a participação de 60% de pessoas negras e 53% formado por mulheres”.
Hubber Clemente destacou que a diversidade e inclusão é urgente. “Incluir significa dar condições adequadas. As pessoas negras não se veem representadas na hospitalidade proposta hoje; não há pertencimento visual”.
A professora Manini também reforçou a importância de ampliar a consciência sobre a realidade da empresa ao mirar as lentes da diversidade e inclusão. “Uma empresa diversa consegue atender ampliar as perspectivas para atender as necessidades diversas e proporcionar experiências significativas de hospitalidade”, ensinou.
Laís enfatizou que é hora de se aprofundar no tema. “É um trabalho que não pode ser apenas pontual, tem que ser permanente. O primeiro passo é fazer o diagnóstico para entender quem é o seu público e quem compõem o seu time de colaboradores. O segundo é engajar todos, principalmente as lideranças, para que as ações se concretizem fundamentadas em compromissos institucionais”.
A executiva da Accor Hotels sublinhou que “não basta só abrir uma vaga sem criar um ambiente que tenha pertencimento, inclusão, segurança e saúde. É preciso sensibilizar, preparar a equipe, promover o letramento, conversar sobre segurança mental no trabalho. É muito importante ter abertura apreciativa para o tema, que é urgente para o desenvolvimento da hospitalidade e para a permanência dos profissionais na empresa”.
Essa urgência está estampada nos dados sobre a diversidade na hospitalidade, observou Clemente, tomando como exemplo os dados da Embratur sobre o tema. “De acordo com os dados compartilhados pela Embratur, vindos do Ministério do Trabalho, 60% dos trabalhadores da hotelaria brasileira são profissionais negros. De modo geral, eles ganham 200 reais a menos exercendo as mesmas funções e tende as mesmas escolaridades e capacitações”.
Para ilustrar o cenário, Hubber tomou como exemplo o mercado de hospitalidade de São Paulo. “No ato da admissão – com o mesmo nível de formação –, os profissionais brancos (30%) ganham R$ 3.500 reais; os profissionais pardos (27%) ganham R$ 2.600 reais; e os profissionais negros (13%) ganham 2.500. Por quê existe essa diferença?”, questionou Clemente, lembrando que a primeira lei contra o racismo no Brasil, Lei Afonso Arinos, foi criada após um caso de racismo dentro de um hotel.
Enquanto não ampliar a pluralidade de vozes e narrativas em todos as posições, a hotelaria continuará perdendo talentos, apontaram os especialistas. “As pessoas não tem mais interesse em trabalhar na hotelaria. Os profissionais negros não veem representados no setor. Essa é a realidade, não existe essa falácia de apagão de mão de obra. O que há é o desinteresse. Se a hotelaria não se tornar inclusiva no recrutamento – respeitando e valorizando a diversidade cultural, ancestral, religiosa e estética de corpos –, continuará perdendo talentos”.
Luana apontou que a expansão da diversidade e inclusão não se trata de abaixar a régua, mas sim de tornar visível a diversidade de corpos, vozes, experiências e talentos dos profissionais minorizados. Laís completou: “A imagem de diversidade e inclusão precisa refletir a realidade dentro da empresa. Não adianta ter apenas uma foto de pessoas negras no anuncio do recrutamento e a realidade ser outra”.
Hubber apontou como um bom exemplo nessa jornada a iniciativa que implementou no Hotel Mercure Salvador, no Rio Vermelho, na capital baiana. “Realizamos uma série de ações para que as pessoas negras se vejam representadas na hospitalidade, tanto na parte de amenities direcionados aos cabelos afro como na valorização da identidade por meio de colaboradores usando turbante, disponibilização de touca e fronhas de cetim, recepcionistas negras. A diversidade e inclusão na hotelaria é para ontem”.