Especial

Cresce número de hotéis que investem em ações ambientais

Se o hotel tem regras próprias e projeto claro de ecoeficiência, isso fica evidente para o cliente e nem é necessário investimentos em propaganda.

 

No último dia 27 de março vários hotéis do Brasil apagaram as luzes por uma hora para apoiar o projeto A Hora do Planeta, que busca promover a conscientização ambiental e teve em sua quarta edição mais de 500 milhões de participantes em quase 100 países. Pelo fato de apagarem as luzes do letreiro, da fachada, lobby, áreas comuns e promoveram jantares as luzes de velas, muitos hotéis brasileiros fizeram uma autopromoção de terem uma forte preocupação ecológica, o que é no mínimo um tremendo equívoco. Alguns hotéis investem mais recursos na publicidade de suas ações do que na prática e para isto utilizam o fato de sensibilizar os hóspedes que preservam uma área verde (muitas das vezes por obrigação legal) ou a reutilizarem a roupa de cama e as toalhas de banho (o que muitos hóspedes consideram uma tremenda jogada de marketing de muitos hotéis para economizar água). Se o hotel tem regras próprias e projeto claro de ecoeficiência, isso fica evidente para o cliente e nem é necessário investimentos em propaganda.
Muitos estrangeiros antes de efetuarem uma reserva num hotel no Brasil, principalmente os que estão localizados em santuários ecológicos ou áreas de preservação ambiental, procuram saber primeiramente o que eles fazem com o lixo. Se ele é reciclado, incluindo resíduos orgânicos, se o óleo utilizado na cozinha é jogado dentro da pia ou doado a uma instituição que recicla, como se dá o tratamento de esgoto, a redução do consumo e reaproveitamento d´água, assim como de fontes alternativas de energia, como a solar ou mesmo eólica. Aos poucos os brasileiros estão tomando esta consciência e belas fotos em folders e sites de piscinas, apartamentos ou buffets fartos nos restaurantes já não são mais fatores decisivos na escolha de um meio de hospedagem.

Conscientização ambiental
Alguns empreendimentos hoteleiros brasileiros estão conscientes disto e já conquistaram a ambiciosa certificação ambiental ISO 14001 e agora almejam a certificados com o Leed – Leadership in Energy and Environmental Design, selo verde para a construção civil, mas este processo ainda está engatinhando no Brasil. Segundo a ONG Green Building Council Brasil, atualmente existem somente 14 empreendimentos que conquistaram este selo, mas cerca de 150 obras estão em processo de certificação, entre as quais alguns hotéis. As construções que obedecem às normas de certificação Leed têm um aumento de 5% a 10% no custo de implantação, mas no entanto, os gastos na operação são reduzidos em 40%. E redução nos custos de um hotel é de vital importância para a rentabilidade do negócio e porque não dizer para a própria sobrevivência. As novas tecnologias disponíveis no mercado ajudam a garantir economia de energia e de água, os dois grandes custos operacionais de um hotel depois da folha de pagamento dos colaboradores. Muitos hotéis já estão adotando lâmpadas mais eficientes – como as fluorescentes e as de LED – e sensores para iluminação e para torneiras, além de privadas com dois botões de fluxo de água (um mais curto e outro mais longo).
Além destas ações ecologicamente corretas impactarem na redução do custo operacional, elas servirão como critérios avaliativos na nova classificação hoteleira que o Ministério do Turismo está discutindo e que em breve estará sendo implantada. Muitos hotéis brasileiros investem há anos em ações de preservação ambiental e nem necessitam ser divulgadas, pois está a olhos vistos dos hóspedes. O Tivoli Ecoresort Praia do Forte que está completando 25 anos é um bom exemplo. Desde o início das suas atividades, as maiores preocupações do empreendimento foram o desenvolvimento sustentável e a responsabilidade social. Um dos grandes diferenciais do hotel é a vasta área preservada, pois ele ocupa apenas 20% dos 300 mil m² de área, mantendo a vegetação típica que faz da Praia do Forte um santuário ecológico. Uma entidade foi criada para administrar os projetos comunitários e orientar o desenvolvimento urbanístico da área sem prejuízo dos recursos naturais, a Fundação Garcia D´Ávila. O esforço incluiu pequenos detalhes, como a mudança de costumes locais nocivos à conservação do patrimônio ecológico, como os antigos hábitos nativos de cortar lenha e comer ovos de tartaruga.

Participação comunitária
A comunidade foi chamada para participar do processo de desenvolvimento do empreendimento, possibilitando um crescimento planejado e conjunto. A Vila dos Pescadores foi mantida, com a doação do espaço ao município e a exigência de que as casas dos pescadores locais fossem passadas aos seus filhos e nunca vendidas. Isso garantiu a preservação da cultura regional e a participação da comunidade no turismo sustentável criado.
Baseando-se no conceito de ecoeficiência, um método gerencial baseado em produzir mais com menor impacto ambiental, o Ecoresort adotou técnicas de gerenciamento sustentáveis. Essas ações possibilitam que o aproveitamento dos recursos naturais e a menor interferência no ambiente resultem também em benefícios econômicos. Um exemplo deste método é a coleta seletiva, na qual o lixo é reciclado e os resíduos sólidos produzidos têm um destino ecologicamente correto. O reaproveitamento de podas de árvore e a estação de tratamento de água também integram a lista de procedimentos ecoeficientes do Tivoli Ecoresort Praia do Forte. Entre outras ações de sustentabilidade que o Resort possui é a utilização do óleo servido nas cozinhas para a produção de biocombustível, equipe de educadores ambientais, que buscam, da vivência integrada ao meio ambiente, reforçar a importância da adoção de práticas e atitudes ecologicamente corretas, principalmente com as crianças. Entre as atividades estão visitas às reservas naturais da região, oficina de papel reciclado, plantio de mudas e sementes, entre outras.

Conscientização dos colaboradores
O Salinas do Maragogi All Inclusive Resort, em Alagoas, está investindo na conscientização dos seus colaboradores para a conservação da fauna e flora local. Sob o comando do biólogo Guilherme Freitas, acaba de concluir a primeira etapa de treinamento com a equipe náutica e colaboradores do empreendimento, como mensageiros, jardineiros, recepcionistas, camareira e seguranças. Freitas foi contratado para ajudar na conservação das áreas do hotel e para conscientizar hóspedes e funcionários da importância de preservar o meio ambiente local. Os funcionários do resort recebem treinamento, como o pessoal de Alimentos & Bebidas e os hóspedes também podem participar de palestras ambientais temáticas com duração de 45 minutos. “Já treinamos mais da metade dos funcionários do complexo e nosso objetivo é que, até o final de 2010, todos tenham passado pela capacitação”, finaliza Freitas.
O Ponta dos Ganchos Exclusive Resort, localizado em Governador Celso Ramos, Santa Catarina, recicla todo seu lixo, inclusive o orgânico. Todos os resíduos de alimentos se transformam em adubo no processo de compostagem, que se dá através da decomposição dos alimentos em um processo totalmente natural.  Para oferecer refeições preparadas com ingredientes livres de agrotóxicos, o resort conta agora com uma horta orgânica entregue aos cuidados de um antigo colaborador do resort, o seu Nonô. A horta produz uma grande variedade de legumes, verduras, temperos como alho e cebola, e algumas frutas delicadas, como o morango.

Certificação ISO 14001
Em Visconde de Mauá, Rio de Janeiro, o Hotel Bühler criou o projeto Lixo Mínimo. Os resíduos orgânicos vão para uma miniusina e são transformados em adubo, usado posteriormente no jardim e na horta orgânica. Os hóspedes são convidados “de forma simpática” a fazer a separação do lixo reciclável – depois, o material é doado, assim como são convidados a contribuir com US$ 1 por estada para beneficiar uma área de conservação estadual – em cerca de dez anos, arrecadou-se aproximadamente R$ 400 mil. O hotel também planta eucaliptos para abastecer a sauna e as lareiras e é um dos poucos no Brasil que possui a certificação ambiental ISO 14001.
O Ibis obteve em 2004 esta certificação, tornando-se a primeira rede internacional de hotéis econômicos a obter a certificação ISO 14001. Com mais de 800 hotéis espalhados pelo mundo, a rede Ibis tem como uma das prioridades a sustentabilidade. Iniciativas como ligar os equipamentos de preparo de comida conforme o necessário, colocar em stand by os dispositivos elétricos que não estão em uso e equipar os lobbies e corredores com lâmpadas de poucos watts trazem resultados benéficos não apenas para o meio ambiente, como também ajudam a reduzir gastos. No Brasil, por conta da coleta e a reutilização da água (por exemplo, em seus jardins) de chuveiros, pias de banheiro e água de chuva, os hotéis Ibis passaram a consumir 20% menos água. A meta da empresa agora é aumentar a conscientização ambiental dos hóspedes e colaboradores com informações e treinamento.

Neutralizar o carbono
O exemplo de conscientização e preservação ambiental não é somente de grandes resorts ou de hotéis de redes internacionais. Pequenas pousadas ou meios de hospedagem no Brasil estão dando bons exemplos, como a  Pousada Alto da Boa Vista, em Campos do Jordão, que acaba de ser certificada pelo Instituto Águas do Prata com o selo IDES – Índice de Desenvolvimento Ecologicamente Sustentável. O certificado foi concedido depois um minucioso estudo de impacto ambiental feito pela ONG  IAP, que reconheceu as várias ações ambientais feitas pela Pousada, que se torna a primeira do Brasil a neutralizar o carbono consumido pelos seus hóspedes e eventuais eventos, servindo como exemplo para o País. A coordenadora do projeto, Adriana Prestes, usou os seguintes parâmetros para conceder o selo: A Pousada Alto da Boa Vista passou a utilizar 100% de lâmpadas fluorescentes ao invés de incandescentes para economizar energia; tem construções com estruturas de madeira de origem certificada (costaneiras) e materiais recicláveis (pedras de rio); reaproveita o lixo orgânico com depósito de compostagem; seus objetos de decoração são feitos com materiais reciclados (como cúpulas de abajures e luminárias feitos de fibra de bananeira); seus chuveiros com aquecedores individuais de passagem evitam uso de caldeiras. Os vasos sanitários têm baixo consumo de água; realizou treinamento em 100%  dos funcionários para aplicação de medidas sustentáveis e conscientização, entre muitos outros. Bernard Contipelli, proprietário da Pousada se diz muito satisfeito com os resultados obtidos. “O selo é apenas um reconhecimento do nosso empenho, mas nosso maior prêmio é saber que estamos colaborando para a saúde da Terra. Tomara que outros hoteleiros se inspirem e façam o mesmo”, afirma.
O Txai, resort de alto luxo localizado em Itacaré, na Bahia, possui vários projetos de preservação ambiental, mas um dos que mais chamam à atenção é o Txaitaruga. Este projeto foi criado em 2004 em parceria com a Universidade Estadual de Santa Cruz (UESC, Bahia) e é um trabalho de cooperação com o Projeto TAMAR na conservação das tartarugas marinhas que desovam na APA Costa de Itacaré – Serra Grande, uma área de 10 km e que abrange as praias de Itacarezinho, Patizeiro e Pompilho.  O hotel mantém uma equipe de trabalho, formada por biólogo, monitor ambiental, apóio logístico e responsabilidade institucional junto ao Tamar. Além do monitoramento dos ninhos, o programa prevê sensibilização de hóspedes e comunidade, por meio de ações de educação ambiental e de apoio ao desenvolvimento regional, simultâneos aos esforços de conservação.

Resultados animadores
O Txai acaba de divulgar o relatório da temporada 2008/2009 com números que comprovam comprometimento do hotel com a sustentabilidade da região. O programa de monitoramento acompanhou 77 ninhos de tartarugas marinhas durante a temporada reprodutiva (setembro de 2008 a julho de 2009), facilitando o nascimento de 5.827 filhotes. Os números também impressionam pela diferença apontada com a temporada passada: o relatório 2007/2008 registra  apenas 39 ninhos, e o nascimento de 2.427 tartarugas marinhas, graças ao maior controle nas áreas de desova.
Com a rigidez nas normas ambientais impostas pelos órgãos como o IBAMA, empreendimento hoteleiro no Brasil tem que nascer ecologicamente correto e um bom exemplo é o Grand Palladium Imbassaí Resort & Spa. Ele está sendo construído numa área de preservação ambiental, na Linha Verde, mais precisamente na Praia de Imbassaí, município baiano de Mata de São João. O resort contará com uma equipe de biólogos para assessorar e supervisionar o pessoal encarregado do cuidado com os animais, da equipe de jardinagem, bem como o uso e tratamento de produtos químicos. Todos os produtos de limpeza utilizados no Grand Palladium Imbassaí serão biodegradáveis. Haverá também coleta seletiva de lixo espalhada pelas instalações do hotel, toda a água utilizada para irrigação será depurada, sendo que o sistema de irrigação será controlado por um sistema automático de economia de água, entre outras ações.

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