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Coronavírus provoca grande impacto no mercado hoteleiro brasileiro

Muitos hotéis suspenderam as operações por tempo indeterminado e os que ainda insistem em manter o funcionamento, amargam taxas de ocupação em torno de 5%

Ameaça mundial e repentina, o COVID-19 ou coronavírus, já vitimou milhares de pessoas em diversos países do mundo. O novo vírus espalhou-se com certa velocidade nos continentes asiático, europeu, nos Estados Unidos e na América do Sul, totalizando mais de 140 países com casos confirmados. Na América Latina, o Brasil é o País com maior número de atingidos pelo surto, iniciado em dezembro de 2019 na China.  No dia 11 de março, a OMS – Organização Mundial da Saúde, declarou oficialmente estado de pandemia em nível mundial, anúncio justificado pelo Diretor geral da entidade, Tedros Ghebreyesus: “Temos mais de 118 mil infecções em 114 nações, sendo que 4.291 pessoas morreram”. Na ocasião da declaração, o número de casos fora da China havia aumentado 13 vezes e a quantidade de países afetados triplicado desde o ‘estouro’ do surto na China.

Como surgiu esse vírus?

O coronavírus no entanto, não é uma novidade. Esse tipo de vírus é encontrado na natureza há muitos anos e conhecidos pela ciência desde 1960. O que apareceu no final de 2019, na província de Wuhan, na China, sofreu uma mutação, por isso levou o nome de COVID-19, que significa: Corona Vírus Disease 19 (o número é uma referência ao ano em que surgiram os primeiros casos de infecção). Antes do seu aparecimento, a ciência já tinha conhecimento de seis tipos, alguns bem populares e que mataram muitas pessoas no mundo como o SARS – Síndrome Respiratória Aguda Grave, que começou na China em 2002 e matou 774 das 8.098 pessoas infectadas; e o MERS – que da tradução do inglês significa Síndrome Respiratória do Oriente Médio e também matou muitas pessoas.

O período de incubação do COVID-19 pode variar de dois a 14 dias, fase em que não há transmissão do vírus. Não há consenso na ciência sobre como o COVID-19 passou por seleção natural dentro de um hospedeiro animal e chegou aos seres humanos. Uma das explicações (como nos casos do SARS e MERS) é a de que o morcego teria sido o hospedeiro definitivo, passando para outro animal que seria o hospedeiro intermediário e esse teria sido transmitido aos seres humanos, provavelmente por meio da ingestão de sua carne. Outra hipótese é a de que o COVID-19 passou de um animal para o ser humano, tornando-se patogênico apenas no corpo do homem. A capacidade de transmissão entre os humanos desenvolveu-se pouco antes do início da epidemia, ainda no corpo dos primeiros infectados. No Brasil os casos começaram a aparecer no mês de fevereiro.

O velho e bom hábito de lavar as mãos várias vezes ao dia, principalmente ao chegar da rua, deve se incorporar novamente aos hábitos dos brasileiros. Crédito da foto – Zukunftssicherer por Pixabay

Imagem do inimigo invisível

O COVID-19 possui um revestimento exterior de proteína spike (na tradução para o português, espinhos), que serve para agarrar e penetrar nas paredes celulares humanas e animais, por isso sua imagem é de uma bolinha cheia de espinhos. Ao invadir as células humanas ele atinge, principalmente, uma proteína chamada ACE2, que está presente em alguns tecidos corporais, como nariz e boca. Os primeiros infectados no final do ano passado em Wuhan, na China, tinham ligação com um mercado local que comercializava frutos do mar, o que levantou a suspeita de que a infecção tinha relação com os animais. Ainda não existe a certeza de que, de fato, a transmissão ocorreu de um animal marinho, mas outros bichos entraram na lista de possíveis suspeitos, como cobras e morcegos.

O COVID-19 inicialmente causa sintomas parecidos com os de uma gripe comum podendo evoluir para complicações no sistema respiratório, principalmente em pessoas com imunidade comprometida (pela idade avançada ou por doenças pré-existentes). O meio de transmissão é o mesmo de outros tipos de gripe: por dispersão de gotículas de saliva através de tosse ou espirro, manuseio de objetos e superfícies contaminadas. No caso de contato com essas superfícies, se a pessoa leva a mão aos olhos, nariz ou boca, pode ser infectada.

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Na suspeita de infecção pelo COVID-19, é recomendado manter a calma e só procurar um agente de saúde se houver, além dos indícios de gripe, problemas respiratórios e histórico de contato com pessoas comprovadamente infectadas pelo coronavírus. Para evitar o contágio, deve-se manter distância em locais públicos de, no mínimo dois metros das outras pessoas, além de manter bons hábitos de higiene como lavar as mãos constantemente.

A Harus apresenta várias soluções em álcool para o mercado – Foto – Divulgação

O velho e bom álcool gel

Na impossibilidade de lavar as mãos, o velho e bom álcool em gel, esquecido nas gavetas e bolsas de muita gente, é a solução mais eficaz no momento. Com o avanço da pandemia, o produto virou artigo raro nos pontos de vendas, motivando fornecedores da hotelaria a trabalhar em capacidade máxima para tentar atender a demanda que cresceu de forma vertiginosa. Esse é o caso da Harus, um dos mais tradicionais fornecedores de amenities da hotelaria nacional. “Com a suspensão das atividades de muitos meios de hospedagens parceiros nossos, houve uma queda em torno de 70% nas compras de amenities. Mas em contrapartida, as vendas de álcool em gel dispararam. A demanda passou de 1,3 mil frascos mês para mais de 15 milhões no último mês de março, Tínhamos estoques para atender apenas 1,2 milhões de unidades. Além dos meios de hospedagem, estamos recebendo muitos pedidos de farmácias, supermercados e hospitais. Com isso, existe o risco de desabastecimento de matérias primas, pois algumas são importadas da China e o dólar tem um impacto grande”, avalia Luiz Roberto Magrin Filho, Diretor geral da Harus Soluções em Hospitalidade.

O oportunismo de alguns fornecedores de matéria prima que majoraram muito os preços é enfatizado por ele como algo preocupante e que necessita de fiscalização por parte dos órgãos públicos. “A válvula dosadora do álcool em gel teve um aumento de sete vezes o preço anterior. Já o carbopol, que faz o álcool se tornar gelatinoso, era adquirido em torno de US$ 15 por quilo e agora não é encontrado por menos de US$ 130 e alguém tem de tomar uma providência para conter esses abusos”, declara Magrin.

Ele aponta como benéfico para o setor o projeto aprovado pela Câmara dos Deputados no último dia 17 de março, que permite por 90 dias a venda de álcool etílico 70% para o consumidor individual até um litro pela demanda. Por questão de segurança, a venda do álcool líquido 70%, muito inflamável, até então era restrita a laboratórios, hospitais e empresas que precisam de algum tipo de esterilização. “Com isso o projeto Evenz saiu da gaveta e já soltamos mais de quatro milhões de unidades de álcool gel para atender vários segmentos. Enquanto não chega uma nova remessa de matéria prima de álcool gel, estamos atendendo com álcool etílico. Mesmo virando a linha de produção para atender à demanda crescente, temos adotados medidas para proteger a saúde de nossos colaboradores, através de orientações, medindo a temperatura e proibindo as pessoas com resfriado de trabalharem”, conclui o Diretor Magrin Filho.

Álcool gel para enfrentar a pandemia

Frente a um desafio tão repentino e inesperado que colocou em xeque a saúde das pessoas em todo o mundo, a hotelaria já começou campanhas para evitar o contágio dentro dos empreendimentos. No entanto, a presença do álcool em gel 70%, produto que é comprovadamente uma das principais armas contra o contágio, é deficitária devido a alta demanda. Com base neste cenário, a Realgem’s, fabricante e fornecedora de produtos de higiene e amenities para hotéis e outros meios de hospedagem, montou a sua própria estratégia para que os hotéis continuem abastecidos. Mauro Carvalho, CEO da companhia, detalha as ações elaboradas pela Realgem´s para o enfrentamento da crise: “Diante dos últimos acontecimentos e também das incertezas do mercado, ainda é impossível medir impactos do coronavírus para o nosso setor. O cenário é novo para todos. Por isso estamos muito concentrados em dar ao nosso cliente todo o apoio e suporte para esse momento tão peculiar. Estamos focados em novas soluções, otimistas para que – muito em breve – possamos inovar mais uma vez e trazer uma novidade que certamente vai trazer boa notícia aos empresários, com impactos positivos para a hotelaria”.

Mauro Carvalho de Oliveira, CEO da Realgem’s (Foto: Divulgação)

Carvalho explica que a demanda do álcool em gel na hotelaria está muito alta: “Mas ainda assim os hotéis estão demorando para interpretar o álcool em gel não somente como custo, mas sim como uma ferramenta de marketing para conseguir dar confiança aos seus clientes, garantindo e demonstrando que o empreendimento se preocupa com seus clientes”, finaliza o CEO Carvalho.

A Biodecon é uma empresa brasileira especializada em limpeza, desinfecção e desodorização de risco biológico com certificação internacional”

Limpeza, desinfecção e desodorização de riscos biológicos

No Brasil já existem empresas que oferecem serviços de nível mundial e que podem ser importantes aliadas no combate ao novo coronavírus. A Biodecon é uma empresa brasileira especializada em limpeza, desinfecção e desodorização de risco biológico certificada internacionalmente pela ABRA – American BIO-RECOVERY Association. Os altos padrões implementados nos protocolos de intervenção dão a garantia e a segurança de que os ambientes contaminados voltem a ser usados com total segurança. “A experiência única no combate contra o novo coronavírus é a melhor solução para que os ambientes possam voltar a ser usados rapidamente. A Biodecon foi fundada com o intuito de Limpar, Desinfectar e Desodorizar áreas de risco biológico, como limpeza de cenas de crime e trauma (homicídios/suicídios com presença de fluídos biológicos), decomposições, residências de acumuladores compulsivos, limpeza pós-praga, surtos/pandemias (vírus e bactérias). Realizamos desinfecções em diversas áreas, como brinquedotecas, academias, áreas de lazer, escritórios, comércios, escolas, hotéis e motéis. Limpamos o que outros não querem, não podem ou não devem fazer”, explicou Sergio Mulet Lopez, Diretor da Biodecon.

O ozônio pode matar vírus em ambientes onde ele possa estar, como quartos de hotéis – Foto – Divulgação

Ambientes mais seguros com o uso do ozônio

A Wier, empresa de soluções tecnológicas para oxi-sanitização, higienização e tratamento de efluentes, fundada no ano de 2011 em Florianópolis/SC, oferece uma alternativa de prevenção com o ozônio, gás que pode ser um forte aliado para evitar a proliferação de vírus em ambientes fechados e com alto fluxo de pessoas. “O ozônio pode matar vírus em ambientes onde ele possa estar, como quartos de hotéis, salas de espera, espaços para reuniões, lounges, salões de jogos, entre outros ambientes similares”, afirma o Dr. Bruno Mena Cadorin, CEO da WIER.

No que se refere ao coronavírus e à covid-19, tudo ainda é muito novo. “O vírus foi identificado recentemente. Ainda não há comprovação científica de que o ozônio é eficiente no combate ao coronavírus, mas baseado em seu mecanismo de ação contra outros micro-organismos, podemos dizer que é muito possível e provável que ele também possa matar o causador da covid-19”, salienta.

O coronavírus já é conhecido pela ciência desde 1960, mas teve uma mutação na China e ficou mais perigoso – CRÉDITO PARA Vektor Kunst iXimus – Pixabay

Por ser um gás, o O3 consegue se espalhar por todo o ambiente onde é aplicado e alcançar lugares que uma limpeza convencional não consegue. A aplicação do ozônio é simples e ocorre por meio de um equipamento chamado Gerador de Ozônio, compacto, de uso simples e intuitivo. Ele trabalha sozinho, permitindo que o profissional de limpeza se desloque para o próximo cômodo a ser higienizado e também contribui para a diminuição dos gastos com água e produtos químicos. É o fim das suítes interditadas. Outro lado positivo é que a tecnologia é sustentável e ambientalmente correta.

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Para os micro-organismos em geral, a atuação direta do ozônio ocorre rompendo a parede celular e danificando a estrutura responsável pela contaminação. “Dessa forma, o mesmo mecanismo de ação do ozônio deve ocorrer também para o vírus da COVID-19, ajudando no combate à sua proliferação”, afirma Cadorin.

A cartilha da ABRASEL orienta os cuidados na manipulação dos alimentos – Crédito da foto – Vardan Sevan por Pixabay

Procedimentos em manipular A&B

Tendo em vista que o contato é a principal forma de contrair o COVID-19 e quem trabalha produzindo e servindo A&B – alimentos e bebidas tem que ter uma preocupação grande, a ABRASEL – Associação Brasileira de Bares e Restaurantes, produziu um pequeno guia prático. Nele estão os cuidados e procedimentos para os restaurantes, bares e estabelecimentos similares:

— Converse com os funcionários e explique a eles que não há razão para alarme. Reforce a importância de seguir os procedimentos de higiene na cozinha, no salão e no escritório.

— Oriente para que eles se vacinem contra a gripe comum – isso não evita o contágio por coronavírus, mas diminui os casos de gripe (que podem ser confundidos com COVID-19) e desafoga o sistema de saúde.

— Lavar as mãos é um dos itens mais importantes para todos – desde o pessoal da cozinha, salão/atendimento, até os clientes. Cuide para que todos estejam informados sobre a importância de manter as mãos limpas e cuide para que as pias estejam abastecidas com sabão, papel-toalha e álcool 70%.

— Álcool em gel é outra maneira de eficiente de manter as mãos higienizadas e evitar o contágio por contato. Se possível, disponibilize para os funcionários e clientes – manter um frasco de álcool em gel 70% perto dos pratos do bufê, por exemplo. Também é muito útil para os caixas e garçons, que não podem deixar o posto para lavar as mãos com frequência.

— Higienizar pratos, copos e talheres com cuidado e de maneira correta é essencial. O funcionário encarregado de manipular itens sujos deve usar luvas – ao retirar restos de alimentos, por exemplo. Ao disponibilizar talheres, pratos ou copos para os clientes é preciso seguir as boas práticas também. O funcionário deve lavar bem as mãos antes de manipular os itens limpos e a maneira de ofertar pratos e talheres deve minimizar, se possível, os riscos de contato. Em restaurante self-service, por exemplo, os talheres podem estar dentro de saquinhos de papel. No a la carte, os itens devem ser colocados à mesa só na hora do serviço.

— O ar-condicionado deve ser mantido, se possível, ventilando bem o ambiente da cozinha e do salão. Os filtros devem estar limpos e a manutenção em dia.

Maria José Dantas: “Os novos tempos exigem uma adaptação na rotina da camareira e no processo de limpeza diária” – Foto Divulgação

Cuidados na limpeza e higienização

A hotelaria é um setor onde a limpeza é fator relevante para a boa experiência do hóspede. Em tempos de pandemia, esse cuidado deve ser redobrado. Para Maria José Dantas, Presidente da ABG – Associação Brasileira de Governantas e Profissionais de Hotelaria, “a sugestão é identificar o nível de conhecimento das suas equipes operacionais sobre contaminação biológica em uma escala simples (germes, bactérias, etc), dentro da sua rotina. Contudo, é necessário reforçar as informações essenciais de proteção”.

A especialista reitera a necessidade extrema do uso de bactericidas na higienização de banheiros e afirma: “os novos tempos exigem uma adaptação na rotina da camareira e no processo de limpeza diária. No método ABC de Housekeeping, que orienta a sequência lógica dos processos de higienização, limpeza e arrumação, a recomendação é usar bactericida no banheiro e detergente no quarto. Para o momento atual, é imprescindível a higienização das mãos ao final de cada processo de limpeza. No atual contexto, o uso do bactericida pode ser ampliado para todas as superfícies do quarto, controles remotos, bancadas de trabalho, telefones, maçanetas internas, externas, enfim, em todas as superfícies que o hóspede toca”, observa.

 

Detalhes que importam

Segundo Maria José, existem práticas que devem ser observadas na higienização dos quartos e que vão além de uma limpeza assertiva e eficaz: “É muito importante observar que a limpeza dos componentes eletrônicos deve ser cuidadosa para não danificá-los. O ideal é o uso do álcool 70° com pano umedecido, ou panos especiais de limpeza com peróxido de hidrogênio, em sentido único.  Os cuidados das equipes de governança redobraram. O uso de EPI’s tornou-se essencial, bem como a higienização das mãos. Algumas áreas que poderiam passar despercebidas, agora têm que ser objeto de atenção como, por exemplo, as botoeiras dos elevadores, fonte de contaminação das mãos. A lavagem frequente das mãos, como amplamente divulgado por especialistas, pode ser a maior arma contra essa pandemia. Se não puder lavar as mãos imediatamente, use álcool em gel. Temos que ter atenção e cuidado com as ações rotineiras, como andar de elevador, pegar em corrimãos e fechar as torneiras. Jamais consumir qualquer alimento deixado nos apartamentos, pois além do risco de envenenamento, o risco de contaminação é muito alto. Outro hábito que deve ser incorporado é a higienização diária dos uniformes, que em algumas empresas já é regra. Já para os cuidados pessoais além do ambiente profissional, também é recomendado retirar a roupa usada no transporte para ir e voltar ao trabalho assim que chegar em casa e não vesti-las novamente até serem lavadas, assim como a lavagem das mãos. Já foi comprovado que o vírus sobrevive por algum tempo em contato com a nossa roupa, então essa atitude ajuda na prevenção. O ideal é, ao chegar em casa, retirar toda a roupa usada no transporte e tomar banho. Em nossa casa, devemos lavar a torneira na hora que estamos higienizando as mãos com o mesmo sabonete, preferencialmente sabonete líquido. Assim, fechamos a torneira com a segurança que as mãos continuarão limpas. Mas, se estivermos em uma área pública, devemos adotar outro processo, depois de higienizar as mãos, usar o papel toalha para secar as mãos e fechar a torneira com ele. Existe um risco real de contaminar as mãos nesse momento. Isso é uma recomendação importante”, ensina.

Maria José Dantas também ressalta que, em tempos de quarentena, a equipe de governança – braço essencial da operação hoteleira – continua trabalhando e por isso, o cuidado deve ser intensificado. “As equipes de governança devem assumir a responsabilidade de serem agentes multiplicadores de novos hábitos de higiene e segurança, para si, para o próximo e para suas famílias”. E conclui: “Que nesse momento histórico a hotelaria consiga retomar plenamente suas atividades o mais rápido possível e se reerguer. Que esse momento sirva para nos transformar em melhores profissionais e melhores seres humanos”.

Impactos da crise

Nos setores de Turismo e Hotelaria, o impacto gerado pela crise do coronavírus foi significativo. Feiras do calendário anual que tradicionalmente acontecem no primeiro semestre, tiveram datas adiadas. Redes, hotéis, resorts e outros meios de hospedagem começaram a suspender suas atividades em consenso com o aviso de quarentena, determinado pelas autoridades. Conforme o aviso, somente os serviços essenciais deveriam continuar funcionando. Todos os outros prestadores de serviços e empregados deveriam ficar em suas casas. Prevendo um colapso na economia do setor, logo as principais entidades do trade divulgaram uma carta aberta ao governo questionando a Medida Provisória 927, que segundo o seu entendimento, não atende aos empregos do setor de Turismo no Brasil. A seguir o texto na íntegra.

“Com 80% dos hotéis e resorts e a totalidade de parques e atrações turísticas do Brasil fechados, os setores apelam por ajuda do governo federal para manter os empregos. As restrições às viagens ao redor do mundo em função da Pandemia e a necessidade de isolamento social paralisam a cadeia de turismo e assolam a economia de forma global. As MPs anunciadas até o momento pelo governo federal brasileiro, sobretudo as trabalhistas, não representam nenhuma solução para o setor. Diferentemente de outros setores econômicos, onde há queda na produção, o Turismo parou. De que adianta diminuir jornadas de trabalho ou salários, ou autorizar o teletrabalho se parques e hotéis já estão fechados?

Não havendo deslocamento de pessoas, não há prestação de serviços e não há produção. Turismo não se estoca. Comunidades e destinos inteiros podem sofrer com o desemprego!

Os setores representados pelas associações hoteleiras e de parques do Brasil, Resorts Brasil, ABIH, FOHB, FBHA, BLTA, Sindepat, Adibra e Unedestinos reafirmam: as empresas não suportam este impacto financeiro, não é prejuízo, é falência iminente e supressão imediata dos empregos deixando de movimentar R$ 31,3 bilhões na economia brasileira.

Nossa luta é para manter mais de 1 milhão de empregos diretos e indiretos. Se países como França, Espanha, Portugal, Itália, Estados Unidos, Argentina, Uruguai adotaram medidas imediatas para manter empregos e salvar a economia do turismo, o Brasil deve fazer o mesmo. Se não o fizer, a recessão levará ao caos completo com desemprego e violência, nada menos de 4 milhões de pessoas impactadas (mais da metade da população do Rio de Janeiro ou 1/3 da população de toda a cidade de São Paulo). Um desastre total para a recuperação não só da economia, mas da imagem do destino Brasil. Essa luta não é só nossa, é do Brasil”.

Assinam a carta a ABIH Nacional – Associação Brasileira da Indústria de Hotéis; a BLTA – Brazilian Luxury Travel Association; a FBHA – Federação Brasileira de Hospedagem e Alimentação; o FOHB – Fórum dos Operadores Hoteleiros do Brasil; a Resorts Brasil – Associação Brasileira de Resorts; o SINDEPAT – Sistema Integrado de Parques e Atrações Turísticas; e a UNEDESTINOS – União Nacional de CVBx e Entidades de Destinos.

 

Alexandre Sampaio: “Alexandre Sampaio: “O impacto do COVID-19 na operação hoteleira têm sido dramático” – (Foto: divulgação)

Quadro dramático

Para Alexandre Sampaio, Presidente da FBHA – Federação Brasileira de Hospedagem e Alimentação, “o impacto do COVID-19 na operação hoteleira têm sido dramático. Centenas de hotéis, entre grandes, pequenos, médios, pousadas e hostels devem fechar as portas, motéis inclusos. Estamos esperando por um avanço do Governo neste sentido, pois a primeira medida provisória de flexibilização de certas situações trabalhistas foi tímida. Nem todos estão capitalizados para fazer frente aos dispêndios fixos e todas as obrigações inerentes ao funcionamento, até então normal no início do mês de março. A Federação tem trabalhado no sentido de orientar a relação com suas representações laborais das empresas com os sindicatos no sentido de encontrar mecanismos como antecipação de férias e negociações diretas numa representação mais ampla. Queremos garantir o emprego”.

No início de março, representantes da ABAV Nacional – Associação Brasileira de Agências de Viagens, juntamente com outras entidades, também formalizaram o envio de uma carta ao ministro do Turismo, Marcelo Álvaro Antonio, contendo cinco medidas emergenciais a fim de garantir a sustentabilidade das empresas do setor de viagens e turismo, frente aos impactos do coronavírus. São elas:

– Disponibilização de linha de crédito especial na Caixa Econômica Federal e Banco do Brasil para as empresas de turismo, com carência para o início do pagamento de no mínimo, seis meses;

– Aprovação de decreto para postergar o pagamento de impostos relativos à folha de pagamento, também por seis meses, desde que quitados no exercício de 2020, conforme documento texto para decreto anexo;

– Liberação do saque de FGTS para funcionários de empresas que exerçam atividade turística;

– Parecer favorável do Ministério da Justiça em relação à remarcação de viagens contratadas pelo consumidor, frente ao cancelamento e devolução de valores. As agências não possuem reservas hoje para realizar a devolução de valores e a remarcação da viagem seria uma solução para manutenção do negócio sem prejudicar o consumidor. Vimos ainda reivindicar que a Nota Técnica no 2/2020/GAB-SENACON/SENACON/MJ seja transformada em Portaria para que ela possa ser utilizada de forma mais ampla pelo setor;

– Redução do IRRF a 0% nas remessas para pagamentos de serviços turísticos ao exterior.

Desta, são signatárias as entidades: ABAV Nacional, ABIH Nacional – Associação Brasileira da Indústria de Hotéis, Abracorp – Associação Brasileiras das Agências de Viagens Corporativas; Airtkt – Associação Brasileira dos Consolidadores de Passagens Aéreas e Serviços de Viagens; Aviesp – Associação das Agências de Viagem de Ribeirão Preto e Região; Braztoa – Associação Brasileira de Operadoras de Turismo; CLIA Brasil – Associação Brasileira de Cruzeiros Marítimos; FBHA – Federação Brasileira de Hospedagem e Alimentação; e FOHB – Fórum de Operadores Hoteleiros do Brasil.

 

União do setor

Em São Paulo, o Presidente da ABIH-SP – Associação Brasileira da Indústria de Hotéis de São Paulo, Ricardo Andres Roman, propôs a união dos hotéis e a mobilização do trade turístico em âmbito municipal. “Alinhados às demais entidades do setor de viagens e turismo, alertamos que é iminente a falência dos meios de hospedagem e dramáticas as consequências sociais. Unidos aos mais de 32 mil meios de hospedagem existentes no Brasil, no Estado de São Paulo somos cerca de 12 mil empreendimentos que geram para a economia nacional mais de R$ 13 bilhões por ano e 150 mil empregos diretos”, afirmou.

O gestor ressaltou como importante passo no sentido de evitar o colapso do setor, a abertura da linha de crédito turístico do Governo do Estado (disponível no endereço www.creditoturistico.com.br). “Porém isso não basta. Em âmbito federal, estimamos que um milhão dos empregos mantidos pelo setor como um todo estão ameaçados. Precisamos que o Governo Federal também disponibilize créditos facilitados para o setor”, acrescentou.

Roman finalizou o comunicado destacando a importância do apoio do setor às equipes que combatem o coronavírus na linha de frente: “Nossa pauta de reivindicações inclui: linha de crédito incentivada para dar sustentação ao fluxo de caixa e cobrir todas as despesas fixas; subsídios para pagamento da folha de funcionários, visando evitar o desemprego; incentivos aos acordos trabalhistas; segurança jurídica junto à CLT e moratória no recolhimento dos impostos federais, estaduais e municipais enquanto durar a crise, para posterior pagamento parcelado (Refis). Defendemos que os governos priorizem os pequenos hotéis e garantam apoio financeiro às Estâncias e Municípios de Interesse Turístico, com a gestão compartilhada dos recursos, visando fortalecer os Conselhos Municipais de Turismo. Estamos dispostos a abrir as portas dos hotéis para contribuir com a ampliação da rede de suporte às equipes de saúde e hospedar quem deve ficar de quarentena. Basta que as autoridades competentes regulamentem os protocolos de atendimento”, afirma.

Manoel Cardoso Linhares:”É importante nesse momento também lembrar que a hotelaria é um setor fundamental na economia nacional” (Foto: Divulgação)

Já Manoel Cardoso Linhares, Presidente da ABIH Nacional – Associação Brasileira da Indústria de Hotéis revela que: “É importante nesse momento também lembrar que a hotelaria é um setor fundamental na economia nacional, que impacta diretamente muitos segmentos. Para se ter uma ideia dos números, no Brasil, há cerca de 32 mil meios de hospedagem formais que geram cerca R$ 31,8 bilhões para economia nacional, sendo responsáveis por 380 mil empregos diretos. Nesse momento além da união do segmento em busca de soluções efetivas para a crise já instalada, precisamos ter fé e iniciar de imediato a pavimentação de um novo amanhã, quando as fronteiras estarão novamente abertas e viajar, seja a trabalho ou a lazer, voltará a ser uma aspiração em nossas vidas. Sendo assim, vamos, com o perdão da palavra, viralizar essa campanha: Não cancele, remarque!!”, motivou Linhares.

 

O estudo da HotelInvest aponta que nos próximos dois meses a taxa de ocupação na hotelaria nas cidades de São Paulo e Rio de Janeiro deve ficar próxima a 5%

 

Queda na taxa de ocupação

A HotelInvest, referência em serviços de consultoria hoteleira na América do Sul, com mais de 700 projetos em 14 países diferentes, acaba de divulgar um estudo sobre o impacto do COVID-19 na hotelaria brasileira. A ênfase é na análise das cidades do Rio de Janeiro e São Paulo, que possuem dados diários de ocupação e tarifa e as cidades que estão apresentando a maior pandemia da doença. E segundo esse estudo, o quadro é muito preocupante.

Entre os principais aspectos apontados estão a queda de demanda acentuada nos próximos meses. Com isso, haverá o fechamento de diversos hotéis em curto prazo e nos próximos dois meses a ocupação deve ficar próxima a 5%. Muitos hotéis fecharão temporariamente como estratégia de minimização de perdas.

Esse estudo aponta que a expectativa de ocupação média anual ficará próxima a 35% em São Paulo e de até 45% no Rio de Janeiro nesse ano. Mas para que isso aconteça, a recuperação deverá iniciar no próximo mês de junho e crescer gradativamente (10 pp ao mês) até dezembro. O apoio governamental ao longo de 2020 é fundamental para a solvência do parque hoteleiro nacional, pois sem auxílio, muitos hotéis devem ir à falência e pode colapsar o sistema de viagens em todo o País, com desdobramentos sérios a toda a economia.

José Ernesto Marino Neto: “Via de regra governo deve não atrapalhar. Governante bom é como juiz de futebol, se acabar a partida e você não se lembrar dele, é porque ele foi bem”

Fechar ou não os hotéis? Eis a questão!

O Consultor e CEO da BSH International, José Ernesto Marino Neto, tem uma opinião bem clara sobre o assunto. “Custos e unhas devem ser cortados sempre! Se é público e notório que a ocupação será zero ou próxima de zero, se não há clientes a captar, se a ordem pública é para ficar em casa, então é largamente aconselhável o fechamento do hotel pelo período que a situação durar. É uma forma de limitar perdas. Aliás, é oportunidade para encerrar contratos de experiência, contratos de estágio, renegociar contratos de TV por assinatura, de manutenção de elevadores, de revisão das lâmpadas em áreas públicas, aparelhos de ar condicionado e de colocar em férias funcionários que serão essenciais em outros momentos do ano”, avalia Marino Neto.

Como existem várias modalidades de investimentos canalizados no segmento hoteleiro brasileiro, ele detalha os impactos. “O nosso mercado tem vários sistemas de governança: (i) hotel tem mesmo dono e operador; (ii) hotel tem dono(s) e é arrendado a um operador; (iii) hotel tem dono(s) e é administrado por um operador. As implicações financeiras são distintas em cada um dos modelos. Quanto maior o envolvimento financeiro do operador, maior a tendência do operador pensar em limitação de perdas, em momento como estamos passando. Os condo-hotéis são largamente operados em modelo de prestação de serviços que coloca operador e investidores em zona de conflito nos momentos de crise. Nós, sempre que possível, recomendamos que o modelo seja de “profit sharing” com envolvimento financeiro do operador. As empresas europeias tem cultura empresarial mais próxima ao modelo que apreciamos que as norte-americanas. Com a desculpa de serem empresas “asset light” procurar ser também “risk free”, mas são coisas distintas. Não há negócio sem risco e quando há envolvimento de muitos investidores o aconselhável é criar um modelo no qual o operador compareça com capital para a operação e os investidores compareçam com o capital para disponibilizar o imóvel devidamente equipado para operar. Temos executado projetos assim e a tendência é de aumentar o número de negócios nesse formato. “Skin in the game!”, prevê Marino Neto.

Segundo ele, esse é um momento apropriado para os investidores de condo-hotel reverem suas estruturas e reorganizarem seus sistemas de governança. O modelo tradicional de síndico e assembleia geral com hoteleiro sendo administrador como prestador de serviços deveria desaparecer. Asset Manager Hoteleiro profissional alinhado com os investidores e que saiba estruturar os negócios com contratos de locação na modalidade de “profit sharing” deveria ser chamado para mudar o que deve ser mudado. Mas o asset manager deve ter interesses iguais aos dos investidores e não ser, como muitos, defensores de alguns operadores. “Nós estamos trazendo novos operadores europeus ao Brasil com essa mentalidade e novidades serão mostradas no mercado no segundo semestre”, afirma Marino Neto.

Em relação a perspectiva do setor hoteleiro para os próximos meses, ele prevê que: “Via de regra governo deve não atrapalhar. Governante bom é como juiz de futebol, se acabar a partida e você não se lembrar dele, é porque ele foi bem. Mas no caso presente será necessário uma ação forte de impulso econômico. Como a demanda despencou, há espaço para incentivos à demanda. Se o Banco Central comprar os créditos do bancos, diminuir os depósitos compulsórios e ampliar a dívida interna para financiar atividade produtiva com juros subsidiados é possível amenizar os efeitos da crise que se mostrará a maior de todos os tempos. O governo também poderá facilitar pagamento de tributos e até reduzi-los para que os recursos fiquem nos bolsos dos contribuintes, incentivando-os ao consumo e ao investimento produtivo.

Quem gera riqueza é o setor privado. Setor público apenas coleta recursos produzidos pelo setor privado em forma de tributos. Não acredito em quebradeira geral na hotelaria, até porque os hotéis representam ativos de grande valor e a enorme maioria dos hotéis no Brasil têm pouca dívida. Mas acredito em desaparecimento de milhares de empresas que orbitam em torno dos hotéis. As pequenas organizações que terceirizam serviços e que prestam serviços de manutenção terão dificuldade de sobreviver. Salários altos devem dar lugar a jovens que estão subindo na carreira. Será um momento de rearranjo geral. Nada será como antes”, concluiu.

Pedro Cypriano: ““Os próximos três a seis meses serão bem difíceis para o setor hoteleiro no Brasil” – Divulgação

Perspectivas do setor

Já Pedro Cypriano, Sócio-diretor da consultoria hoteleira HotelInvest, acredita que até o momento, espera-se que os efeitos do coronavírus no setor hoteleiro nacional sejam em curto prazo, com a recuperação da demanda até o final do ano. Após o controle da disseminação da doença e queda do número de casos, é natural que a ocupação volte a crescer e até dezembro ela esteja em patamares próximos aos de 2019. “A principal dúvida e preocupação da HotelInvest é sobre os desdobramentos da Covid-19 na diária média dos empreendimentos. Caso os hoteleiros baixem os preços, além dos efeitos sobre a ocupação tenderem a zero, o prejuízo financeiro no setor será maior e, principalmente, talvez precisemos do no mínimo mais dois anos para voltar às diárias de 2019 e daí se iniciar um novo ciclo de valorização dos ativos. Este seria o pior dos resultados, pois retroagiríamos à performance de 2018 ou até de 2017, em RevPAR. Quanto aos novos hotéis em desenvolvimento, o impacto mais imediato é no provável adiamento das aberturas até então previstas para 2020. Dos mais de 60 novos hotéis anunciados para este ano, a maioria deve ser postergada, até que o ambiente econômico e de saúde pública melhore. Os próximos três a seis meses serão bem difíceis para o setor hoteleiro no Brasil. Sem apoio governamental, muitos hotéis fechariam as portas de forma definitiva. Esperemos anúncios de auxílio nos próximos dias”, avaliou Cypriano.

Em relação aos modelos de contrato que rege as operações hoteleiras no Brasil Cypriano questiona a responsabilidade de cada um. “Nos hotéis com contrato de arrendamento, o credor do prejuízo operacional será a operadora. Apesar do resultado negativo em algum momento ser abatido dos lucros futuros, o desencaixe financeiro precisará ser arcado pela rede hoteleira. É um modelo contratual que diminui a exposição de risco do investidor. No entanto, para que a rede suporte os prejuízos também precisará de caixa. Além dos pleitos governamentais, a obtenção de crédito para capital de giro será fundamental. Já nos hotéis administrados, a responsabilidade de arcar com prejuízos é do investidor. Mas a dúvida que fica é: quem, na atual situação, aportará capital para cobrir a operação do hotel? Certamente poucos indivíduos o fariam. Logo, os pleitos governamentais também para esse perfil de negócio é vital para a solvência do parque hoteleiro nacional”.

Em relação as medidas governamentais para amenizar os impactos no setor hoteleiro, Cypriano aponta que elas devem atender a dois eixos: 1) minimização do custo operacional; e 2) financiamento para capital de giro. No primeiro item, a desoneração fiscal e a contenção de gastos com a folha de pagamentos são inevitáveis pelos próximos seis meses. A postergação de pagamento de tributos e encargos também ajuda a diminuir a exposição de caixa do setor. Já sobre o crédito, taxas baixas e carência mínima de até 12 meses serão fundamentais. Não se trata de dar regalias aos empresários, mas sim de criar condições de manter a operação dos empreendimentos e garantir a manutenção de centenas de milhares de empregos. A união entre o setor privado, o governo e os trabalhadores é vital para a perpetuidade do setor. Cada um desses agentes precisará contribuir para que saíamos da maior crise já vivida pela hotelaria e por toda economia nacional”, concluiu.

O setor de multipropriedade que é a grande alavanca de recursos para se construir hotéis no Brasil poderá ser afetado

Impactos no mercado imobiliário e turístico

A multipropriedade hoje é a grande alavanca de recursos no desenvolvimento de novos meios de hospedagem no Brasil, mas poderá sofrer um forte impacto em razão da pandemia do coronavírus. Isso é o que aponta a pesquisa “Perspectivas para os Mercados Imobiliário e Turístico – Impactos do COVID-19”  que a ADIT Brasil – Associação para o Desenvolvimento Imobiliário e Turístico no Brasil acaba de fazer em parceria com o Grupo Prospecta. Entre os resultados obtidos, 53% dos entrevistados que são empreendedores dos setores imobiliário e turístico, afirmaram acreditar que a recuperação econômica do mercado deve levar de seis a 12 meses.

Sobre os impactos no quadro de funcionários das empresas, 34% delas adotou sistema de home office integral, 29% home office parcial e 14% já apresentou demissões nas equipes. O estudo ainda apontou que apenas 26% das empresas possui saldo de caixa para cobrir custos fixos por mais de seis meses a partir de março. Exatos 54% do mercado possui caixa até três meses.

Antes da pandemia se instaurar, 86% dos entrevistados pretendiam investir ou empreender no Mercado Imobiliário ainda neste ano. Pela falta de perspectiva em realmente concluir tal feito em 2020, o primeiro trimestre de 2021 deve movimentar o mercado: 35% dos entrevistados possuem essa visão. Na ordem, 29% ainda não possui prazo em vista e 18% se resguardará para o primeiro semestre de 2022. A pesquisa ainda aponta que 60% dos empreendedores sinalizaram mudanças em toda a estratégia de investimento. Apenas 17% afirmaram manter o plano inicial para 2020.

Apoio de US$ 2 trilhões

Enquanto no Brasil se discute qual será o montante que o Governo Federal irá injetar na economia para amenizar a crise provocada pelo COVID-19, os congressistas dos Estados Unidos aprovaram um acordo em comum com a Casa Branca. Ele prevê estímulos de US$ 2 trilhões para aliviar as consequências da pandemia do coronavírus sobre a economia do país. O pacote deverá auxiliar trabalhadores, empresas e o sistema de saúde. Para ter uma dimensão do significa esses recursos, ele equivale a aproximadamente R$ 10,2 trilhões. O montante é bem maior do que o PIB – Produto Interno Bruto (todas riquezas que o Brasil produziu num ano) que totalizou R$ 7,3 trilhões em 2019. Entre as principais medidas anunciadas pelo Governo Federal norte-americano estão: adiamento de pagamentos de impostos, abertura de linhas de crédito e empréstimos com juros baixos para empresas, e aumento da verba para pagamento de seguro desemprego aos estados. Diversos governadores de estados americanos já anunciaram pacotes também favoráveis às micro e pequenas empresas.

 

Helena Abdo: “O bom sendo deverá ser essencial para se chegar a um acordo e evitar a judicialização” – Foto – Divulgação

Direitos do consumidor

A palavra bom senso deverá prevalecer a partir de agora para evitar conflitos e embates judiciais em busca de reparação aos danos provocados pelo COVID-19 que se caracteriza por força maior, o que elimina a aplicação de multas. Como novo coronavírus alterou os planos de milhares de viajantes em todo o mundo e causou a maior interrupção no mercado de viagens de todos os tempos, segundo especialistas em tráfego aéreo e aviação. Como resultado, vieram à tona diversos questionamentos sobre direitos em relação a compra de passagens aéreas e pacotes de viagem. Em resposta, o Ministério da Justiça e Segurança Pública do Brasil divulgou dia 9 de março recomendações aos órgãos de defesa do consumidor quanto a procedimentos relacionados a viagens turísticas diante dos efeitos do Covid-19. Segundo consta na nota ministerial, “Consumidores que queiram ou necessitem reconsiderar o serviço contratado nesses segmentos devem tentar negociação direta com as empresas de aviação ou agências de turismo e se amparar nos direitos previstos na Resolução 400 da ANAC – Agência Nacional de Aviação Civil, no Código de Defesa do Consumidor e no Código Civil”, explica Helena Abdo, sócia do Cescon Barrieu especialista em Direito do Consumidor.

Segundo ela, antes disso, é essencial verificar o contrato firmado com os fornecedores e avaliar a descrição dos serviços contratados, cláusulas relativas a remarcações, desistência e cancelamentos, além de multas e reembolsos. Apesar de todo o cenário, é importante ter em mente que o consumidor não tem amplo direito de arrependimento – seja a desistência imotivada ou motivada por insuficientes razões jurídicas, como o temor de riscos exagerados eventualmente não existentes. Com isso, a negociação deve ser baseada no bom senso de ambas as partes, a fim de que não haja abusos seja pelos fornecedores ou pelos consumidores.

O próximo passo é verificar se há cláusulas sobre exclusão de responsabilidades em eventos com caracterização de caso fortuito e de força maior – hipóteses que, de acordo com a lei, afastam a aplicação de penalidades contratuais. É que a pandemia pelo Coronavírus pode ser considerada um evento de força maior e, portanto, eliminar a aplicação de multas e penalidades. Para isso ocorrer, deve ficar efetivamente provado o risco de exposição humana, em razão de alguma restrição relacionada à pandemia. Nesse quadro, há abertura para tirar a responsabilidade civil do fornecedor de produtos e/ou serviços, mesmo que não expressamente previstos no CDC – Código de Defesa do Consumidor.

A regra da força maior aplica-se não só a situações relacionadas a serviços aéreos e viagens, mas sobre toda e qualquer atividade na qual o fornecedor de uma cadeia produtiva esteja efetivamente impedido de cumprir com suas obrigações em razões dos eventos extraordinários e imprevisíveis causados pela pandemia. “Estamos diante de um cenário não imaginado, em que vidas estão em risco. Nesse contexto, vale lembrar que a saúde é um direito básico do consumidor, expressamente previsto em vários dispositivos do CDC, tais como os artigos 4º, 6º, 8º e 10″. Por sua vez, as empresas podem não ter capacidade de cumprir com suas obrigações por determinações governamentais, por exemplo. Por isso, a melhor opção sempre será o bom senso, para que consumidores e empresas não sejam onerados excessivamente e não sofram com abusos e desequilíbrios, mantendo uma relação saudável”, concluiu Helena Abdo.

Solidariedade em alta

Muitos hotéis estão destinando os apartamentos ao sistema público de saúde para poder atender aos infectados com o novo coronovírus ou mesmo acolhendo os profissionais da saúde. E num momento difícil como esse que estamos vivendo, a solidariedade e ao apoio ao próximo está em evidência.  Como a pandemia do COVID-19 cancelou e ou adiou a grande maioria dos eventos que deveriam acontecer nos próximos dias e meses, muitos desses profissionais que são freelas estão passando por muitas necessidades e até mesmo fome. Para poder amenizar um pouco esse sofrimento, a SAB (Supplier Alliance Brazil), aliança de fornecedores e prestadores de serviços para eventos formada pela R1 Audiovisual, Tes Cenografia, 42 Labs, Prime Geradores, Shift Mobilidade, Cia do Tomate e Quik Park, se uniu para criar um site de arrecadação para ajudar os freelancers do mercado de eventos, durante a crise provocada pela pandemia do coronavírus. “São profissionais importantíssimos para o mercado e a hora é de buscar uma solução para ajudar a todos neste momento delicado”, comenta o presidente do Grupo R1 e autor da ideia, Raffaele Cecere. Qualquer pessoa pode ajudar a iniciativa por meio deste link. O valor arrecadado será direcionado para todos os profissionais freelancers cadastrados nas empresas da aliança (http://sabrazil.com.br).

 

Confira a seguir, algumas ações de solidariedade que alguns meios de hospedagem

fizeram para amenizar o sofrimento da população

Doação de alimentos do La Torre para a Fundação Doce Lar – Foto – Divulgação

La Torre Resort doa quase duas toneladas de alimentos no extremo Sul da Bahia

O Resort La Torre em Porto Seguro/BA doou no último dia 26 de março cerca de 1 tonelada de alimentos para asilos de idosos, aldeias indígenas, e famílias de baixa renda. “A solidariedade faz parte de nosso jeito de ser La Torre”, comentou Luigi Rotunno, CEO do Grupo de empreendimentos que há mais de um mês vem tomando precauções e iniciativas para uma possível crise já anunciada pela pandemia do coronavírus (COVID-19). Desde cancelamentos prévios para reservas do exterior, ao descanso remunerado de seus mais de 500 colaboradores e doações a famílias de baixa renda.

Dezenas de idosos foram beneficiados com a doação realizada para as Fundações da Terceira Doce Lar (Agrovila – Porto Seguro) e Meu Lar (Terra de Cabral – Santa Cruz Cabrália), famílias da Aldeia Indígena Juerana (Porto Seguro), do Projeto Baianarte (Baianão – Porto Seguro) e da Ação da Cidadania (Extremo Sul da Bahia), trabalhadores ambulantes e diversas famílias de baixa renda que foram identificadas em necessidade.

A rede colocou à disposição dos belo-horizontinos em situação de rua cerca de 3.000 unidades de shampoos, condicionadores e sabonetes (Foto: Divulgação)

MHB Hotelaria fez doação de amenities para moradores de ruas em Belo Horizonte

Responsabilidade social sempre foi uma preocupação dos gestores da rede MHB Hotelaria e, devido à pandemia causada pelo Coronavírus, quando os cuidados com a higiene pessoal torna-se ainda mais fundamental, a rede colocou à disposição dos belo-horizontinos em situação de rua cerca de 3.000 unidades de shampoos, condicionadores e sabonetes. As doações foram encaminhadas à Associação INAPER – Instituto de Apoio e Orientação às pessoas em situações de risco que fez a devida distribuição dos produtos.

 

O hotel Pires de Balneário de Camboriú disponibilizou seus 160 dormitórios individuais e/ou para casais para receber os profissionais da saúde – Foto – Divulgação)

Rede Pires de Santa Catarina acolhe profissionais de saúde durante período da pandemia

A Rede Pires, proprietária de oito empreendimentos em Balneário Camboriú e Itajaí, no estado de Santa Catarina, acolheu os profissionais da saúde que atuam diretamente no combate e tratamento da Covid-19 para descansar e recarregar as energias em segurança. Os Diretores da empresa, Isaac Pires e Joel Rogério Pires Junior, cederam as instalações do Hotel Pires, localizado no centro de Balneário Camboriú, para acolher os profissionais da saúde – o critério para utilizar o local foi estar trabalhando no combate à pandemia (médicos, enfermeiros e técnicos de enfermagem).

Ao todo, estiveram à disposição dos profissionais, 160 dormitórios individuais e/ou para casais. “Trata-se de uma corrente do bem, não pudemos receber novos hóspedes mas auxiliamos a comunidade a passar por esta situação o quanto antes”, afirmou Isaac.

De acordo com o Infectologista Martoni Moura e Silva, da Secretaria de Saúde da Prefeitura Municipal de Balneário Camboriú, seguindo as normas de segurança, foi solicitado aos profissionais de saúde que fizessem seu primeiro banho após a jornada, em seus respectivos ambientes de trabalho. Depois, ao terem acesso ao hotel, pudessem tomar seu segundo banho, com mais tranquilidade e conforto.

Os colaboradores da rede hoteleira receberam capacitação para proceder de forma ainda mais rigorosa na higienização dos ambientes. O manuseio da roupa de cama e descarte do lixo, por exemplo, foi diferente durante a pandemia. O hotel também passou por vistoria, conforme informação do infectologista. “Os profissionais de saúde que são os guerreiros foram recebidos nesse hotel, e o sentimento de todos os envolvidos foi de muito acolhimento, sabendo da distância que tivemos que manter um dos outros nesse período do isolamento”, enfatizou o infectologista, Martoni.

 

Houve um cuidado na preparação e distribuição em razão de tratar de alguns alimentos serem perecíveis (foto divulgação)

Slaviero doa alimentos a instituições assistenciais

Diante da suspensão das operações de algumas das unidades da Slaviero, a administradora hoteleira paranaense resolveu fazer doações de alimentos a instituições que cuidam de pessoas em estado de vulnerabilidade. Várias instituições que cuidam de pessoas em estado de vulnerabilidade receberam as doações e as equipes se revezaram para agilizar o quanto antes as entregas. Elas trabalharam para que a logística das doações se desse o mais rápido possível, uma vez que o foco eram os alimentos perecíveis que já estavam nas unidades antes da pausa das operações. Todos os cuidados no que diz respeito à embalagem e processos de higienização destes alimentos foram observados rigorosamente pelos colaboradores empenhados neste processo.

Para receberem os alimentos, foram selecionadas diferentes instituições de acordo com as cidades em que a rede opera. Entre as beneficiadas que já receberam as primeiras doações, estão a Associação Braços Abertos, em Florianópolis, e a Casa Bom Pastor, em Blumenau. Cerca de 600 kg de alimentos foram entregues como frutas, verduras, carnes, entre outros. “A hospitalidade característica da Slaviero vai além de nossas atividades hoteleiras. Cuidar do próximo e prezar pela nossa comunidade faz parte da nossa missão e por isso iniciamos esse projeto agora. O momento é crítico para todos, mas encontramos nesta ação, uma forma de ajudar quem precisa e evitar o desperdício desses alimentos”, informou Eraldo Santana, Diretor de operações da Slaviero Hotéis.

Lobby do Uxua Casa Hotel & Spa – Foto – Divulgação

A Uxua Casa Hotel & Spa promove ação aos vulneráveis da comunidade

O empreendimento localizado em Porto Seguro (BA) paralisou suas atividades para evitar contaminar hóspedes e colaboradores com o novo coronavírus. Como grande parte dos funcionários ficaram reclusos em casa, o hotel promoveu ações de suporte nutricional para vulneráveis da comunidade. O projeto teve supervisão da Chef Ju Pedrosa e do nutrólogo Dr. Jullian Hamamoto e consistiu na distribuição de refeições para idosos em isolamento e crianças locais sem acesso aos refeitórios das escolas.

Além da distribuição gratuita de marmitas àqueles em situação vulnerável, o empreendimento ainda disponibilizou do nutrólogo que esteve à disposição total dos hospitais locais. Aos apreciadores da gastronomia da chef, que comanda o restaurante do Uxua, as refeições puderam ser adquiridas via delivery a preços reduzidos. O menu exclusivo e limitado a cada dia, foi preparado do lar da própria Ju Pedrosa, que também cumpriu as recomendações de isolamento social.

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