Opinião

Como você gerencia seu hotel?

*Artigo de Mario Cezar Nogales 

Vocês já pararam para pensar em como administram o hotel que está ao seu cargo? Seja você o gerente ou o proprietário, em muitos casos e até sem mesmo nos darmos conta, administramos através de armas que impõem a vontade de todos na base do medo de sofrer alguma punição.

 

Obviamente que a grande maioria acredita que se não fosse assim, seus colaboradores não fariam o que devem fazer uma vez que sem esta ferramenta não haveria a disciplina exigida para o exercício da função.

 

Você já se perguntou o porquê disto?

 

Já tentou analisar se esta ferramenta é de fato a melhor maneira de administrar o seu hotel?

 

Vamos a alguns fatos 

Frederick Winslow Taylor mais conhecido por F. W. Taylor foi um engenheiro mecânico estadunidense. É considerado o “Pai da Administração Científica” por propor a utilização de métodos científicos cartesianos na administração de empresas sendo seu foco a eficiência e eficácia operacional na administração industrial.

 

Em relação ao desenvolvimento de pessoal e seus resultados, acreditava que oferecendo treinamentos de forma correta e sistemática, haveria possibilidade de fazê-los produzir mais e com melhor qualidade.

 

Também incluiu um sistema de pagamento por quantidade produzida. Isso fazia com que os rendimentos dos funcionários aumentassem de acordo com seu esforço. Assim, conseguiu maximizar significativamente a eficiência da organização.

 

Em nenhum momento de seus estudos foi apontado que a imposição por punições os resultados seriam melhores que a premiação pelos resultados, não somente a premiação monetária, como também vários outros formatos de premiações como o reconhecimento, mais tempo em folgas, aquisições de produtos pelo preço de custo, etc.

 

As definições dos dicionários indicam que a palavra medo significa uma espécie de perturbação diante da ideia de que se está exposto a algum tipo de perigo, que pode ser real ou não. Pode-se entender ainda o medo enquanto um estado de apreensão, de atenção, esperando que algo ruim vá acontecer.

 

Para além das definições da palavra, o medo é uma sensação. Essa sensação está ligada a um estado em que o organismo se coloca em alerta, diante de algo que se acredita ser uma ameaça.

 

Fomos adestrados para ter medo 

Indo mais adiante neste tópico, podemos observar que desde nossa infância fomos ensinados que devemos ter medo para fazer alguma coisa e no lugar de expandir a nossa consciência e conhecimento através do que nos molda como humano que é a curiosidade e sempre fomos colocados diante do medo de: não faça isto senão… Ou não faça aquilo senão…

 

Na escola fomos educados a sentir medo, o medo de errar, o medo de falhar numa prova, o medo de atrasar para chegar, o medo de não ser igual aos demais, o medo de não participar de determinado conjunto de regras, o medo de ser gordo demais, o medo de ser magro demais, medo de não ser aceito, etc. Assim chegamos a nossa sociedade, sentimos medo o tempo todo, o medo de não poder pagar as contas, o medo de perder o emprego, o medo de não poder comprar o carro, o medo de não vestir a roupa certa, o medo de sair às ruas, medo de dar novas ideias que não façam parte da cognição em geral, enfim, o constante medo de tudo e de todos.

 

Desta forma cedemos o nosso poder e elegemos pessoas que usam o poder que lhe demos para que nos infrinjam ainda mais medo, veja o exemplo dado pelo Ministro do Turismo: se os hotéis não fizerem isto, vamos lhe proporcionar aquilo. Logo, o ministro não está fazendo nada mais do que o que a própria sociedade já está acostumada.

 

Como mudar isto? 

Como foi escrito por Lao Tse, “mantenha seus inimigos ainda mais próximos”, já conhecemos o que nos motiva a administrar pelo medo, basta estuda-lo mais a fundo assim você perceberá que quando deixa de administrar pelo medo, a primeira impressão da maioria é de que a sua maneira não serve para a corporação ou para as pessoas até que chega o momento dos resultados.

 

Lembro-me bem de que os gerentes na década de 1980 eram analisados quando saiam de férias, se suas equipes fossem melhor do que ele quando não estava presente, isso era a demonstração de que este gerente sabia escolher seus subordinados e sabia treina-los, contudo, por medo de errar, mantinha as rédeas curtas de sua equipe centralizando a maioria das decisões, já aquela equipe em que as férias do gerente passavam despercebidas, era a demonstração de uma eficiente gestão, uma vez que contava com parceiros no lugar de subordinados.

 

O ato de saber contratar 

Obviamente que o primeiro a ser feito é o de fato saber escolher a sua equipe, em geral, as pessoas escolhem suas equipes de acordo com o que eles conhecem de si mesmo sem perceberem que estão escolhendo pessoas muito iguais a ela, há varias formas de conseguir escolher a sua equipe, principalmente as chefias imediatas, um dos testes que indico para escolher uma equipe coesa e que atinjam a todas as necessidades é o teste de Belbin.

 

Meredith Belbin é conhecido por ser o “pai das equipes”. Ele pesquisou durante 35 anos centenas de gerentes em todo o mundo, com testes psicotécnicos sobre comportamento de indivíduos, relações interpessoais e funções fundamentais que pudessem se tornar sucesso ou fracasso em uma equipe.

 

Segundo Belbin, um dos motivos pela qual uma equipe não alcança o sucesso começa com a seleção dos candidatos ele afirma que nem sempre as pessoas disponíveis são as que podem fazer parte de uma equipe e nem sempre pode agregar melhoras à empresa.

 

As equipes mais estruturadas são aquelas em que existem pessoas que coordenam, que articulam, que analisam, que facilitam, que implementam, que realizam e as que são especialistas o que pode ocorrer cada uma numa personalidade diferente ou mesmo varias ocorrências em uma mesma personalidade.

 

Gestão descentralizada e participativa 

Mesmo que você gerencie a sua unidade e faça parte de um mecanismo de rede é você quem dá o tom na sua unidade. É sabido que em hotelaria é impossível ter padrões iguais em todos os hotéis, mesmo que estes se localizem na mesma cidade e no mesmo bairro, cada unidade terá um perfil, uma identidade diferente da outra, e isto é singularmente proporcional à maestria do gerenciamento da unidade.

 

Vinicius Sebastião Borges da Silveira, quando discorre sobre o tema cita Kanaane (1994, p.44) pois este destaca que as organizações necessitam adotar posturas mais flexíveis com relação às concepções sobre poder e influência, o que implica a adoção de estratégias compatíveis com o envolvimento e o engajamento dos colaboradores, possibilitando a valorização do potencial humano.

 

A divisão rígida do trabalho cede lugar a equipes multifuncionais, nas quais cada colaborador está preparado para cumprir tarefas variadas, significando assim, o fim da era mecanicista e o início da era humana. É através da participação que os colaboradores envolvem-se com os objetivos e resultados das empresas e sentem-se parte integrante do processo estratégico e produtivo.

 

Não tema perder seu emprego 

A formação de uma equipe é algo muito apreciado por qualquer empresa e é tido quase que como uma arte, uma vez que o gerente que encabeça a unidade deve ser mais que o tutor da imagem da empresa e tem, por si só, uma carga muito grande de responsabilidade e não pode estar em todos os lugares ao mesmo tempo. Logo, o gerente não deve temer perder seu cargo para outro que seja mais competente do que ele.

 

Quando somos competentes em uma função, logo nos destacamos da grande maioria e se nos é oferecido outra função o que o vemos como desafio e assim a carreira de sucesso (ou não) vai se desenrolando, o maior problema é quando o profissional se sente estagnado em uma função porque justamente não é convidado para desempenhar outra e mesmo que o individuo se sinta a vontade em desempenhar outro cargo, o convite não é feito, isto demonstra que este colaborador chegou ao ponto máximo de sua carreira. Para fazer frente a isto, não basta apenas adquirir novos conhecimentos, o individuo deve saber em que função ele é competente e manter-se nela, temos vários exemplos de carreiras de sucesso que quando vão para outra função fica lá estagnados, assim como temos varias outras carreiras de sucesso em que o individuo percebe que se for adiante não terá o sucesso que tem e este é o X da questão, saber exatamente aquilo em que somos competentes, a partir deste conhecimento o individuo não mais sente o medo de ser substituído por outro que seja mais competente que ele.

 

Algumas sábias palavras devem ser lembradas: 

“Há apenas duas maneiras de obter sucesso neste mundo: pelas próprias habilidades ou pela incompetência alheia.” (Jean de La Bruyère).

 

“Antes de iniciares a tarefa de mudar o mundo, dá três voltas na tua própria casa.” (Provérbio chinês).

 

“Se respeitar as pessoas como elas são, você poderá ser mais eficaz ajudando-as a se aperfeiçoarem.” (John Gardner).

 

“Assim como uma gota de veneno compromete um balde inteiro, também a mentira, por menor que seja, estraga toda a nossa vida.” (Gandhi).

 

“Ousadia contém gênio, poder e magia” (Göethe).

 

“Ambição é o caminho para o sucesso. Persistência é o veículo no qual se chega lá.” (Bill Eardley).

 

“Tornar o simples complicado é fácil. Tornar o complicado simples, isto é criatividade.” (Charles Mingus).

 

“Para alcançar o conhecimento, acrescente coisas todos os dias. Para alcançar a sabedoria, remova coisas todos os dias.” (Lao Tse)

 

“Não se consegue atingir resultados diferentes fazendo a mesma coisa” (Einstein).

 

“…Não falhei mais de 1.000 vezes, a lâmpada foi um processo em mais de 1.000 partes” (Thomas Edison).

 

Portanto, caro leitor, se você administra a sua unidade na base do medo, ou seja, se fizer isto vai lhe acontecer aquilo (como uma punição ou perda do emprego), pense de novo. Aqueles colaboradores que só funcionam desta forma, com certeza não colaboram para o desenvolvimento e a prosperidade de sua unidade e isto porque não foram corretamente selecionados ou não tem o perfil criado pelo seu hotel. Tenha sempre em mente que somente o presente existe, o passado já acabou e não existe mais e o futuro ainda não chegou, logo, pensar no presente é uma das coisas mais difíceis de serem realizadas uma vez que o ser humano constantemente se preocupa com o futuro ou relembra do passado vivenciando-o como realidade. O passado nos mostra o caminho pelo qual passamos e o futuro é moldado pelo presente, logo, estar no presente e pensar no presente é de fato mais que uma necessidade para a eliminação do medo latente e presente em nossa sociedade.

 

*Mario Cezar Nogales é Consultor especialista em hotelaria, já tem publicados dois livros e atuante no trade hoteleiros saiba mais em www.snhotelaria.com.br  ou mande um e-mail: mario.nogales@uol.com.br

 

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