Opinião

Cliente Oculto As delícias de um restaurante de hotel

*Marcos Galvez

 

Poucas coisas em uma viagem são tão gostosas quanto tomar café da manhã. Fazer a primeira refeição do dia fora de casa, já antecipando as gostosuras que estarão disponíveis à mesa, tem o poder de tornar mais leve e prazeroso qualquer passeio trivial ou aquela viagem de negócios espinhosa. Durante anos de viagens testando hotéis e restaurantes tive pouquíssimos problemas relacionados a café da manhã, seja em pousadas simples ou em resorts luxuosos.
De fato, me lembro com carinho e água na boca de dois estabelecimentos simples, mas com um senhor café da manhã. Um deles fica no interior de São Paulo, na cidade de Torrinhas. Todos os produtos eram produzidos lá: a manteiga, geléias, frutas, requeijão, queijo, pães e bolos. Nada de luxo ou pratos rebuscados, muito pelo contrário. A dona da pousada soube aproveitar as tradições locais e transformá-las numa farta e deliciosa refeição com gostinho de casa de avó.
Outro lugar inesquecível foi em uma pousada no Pelourinho, em Salvador. Novamente o frescor dos ingredientes, mesclado com a culinária local, conquistaram meu paladar. Retornei outras vezes a passeio atraído pela boa comida, a louça personalizada e charmosa, além do serviço atencioso.
Em hotéis de médio porte para cima, o café da manhã costuma ser mais do que caprichado, com inúmeras opções de frutas, frios, bolos, estações de omeletes, tapiocas, crepes e demais novidades. Nestes estabelecimentos, acho elegante e inteligente oferecer uma estação completa e sortida para pessoas obrigadas a manter o regime mesmo durante as férias. Nada mais desagradável para quem sofre de diabetes, pressão alta e outras doenças que restringem o cardápio do que abastecer seus pratos em meio a tantas tentações.
Contudo, terminado o café da manhã, muitos donos de hotel costumam se atrapalhar demais com esse espaço, caso ele seja destinado a servir almoço e jantar. De certa forma, não há muito mistério na primeira refeição do dia. Ok, já presenciei pecados mortais, como o achocolatado servido direto da lata, pães e biscoitos industrializados e da pior qualidade, bem como suco de laranja feito de pozinho concentrado (este, em um hotel de grande porte em Recife, mês passado…). Porém, casos de total desleixo como esses são felizmente exceções. Agora, quando o assunto é almoço e jantar, a maioria perde a mão.
Aliás, poucos os restaurantes de hotéis tornam-se uma referência gastronômica, atraindo para suas mesas quem não é hóspede. A cidade do Rio de Janeiro tem alguns exemplos de ótimos restaurantes de hotel, São Paulo também. E é só. Aliás, você mesmo já se programou para comer em algum restaurante de hotel fora dessas duas cidades? Pois é, acredito que não. Ter um restaurante de hotel digno de nota envolve um investimento grande, que nem todos estão dispostos – ou financeiramente aptos – a fazer. Contratar um bom Chef é imprescindível, bem como montar um cardápio que reflita o clima do hotel e da cidade, fugindo dos lugares comuns. E em geral, os cardápios de restaurantes de hotel são pouco empolgantes, focados em uma famigerada “cozinha internacional” – não importa se o estabelecimento fique em Ribeirão Preto, Cuiabá ou Florianópolis. E dá-lhe filé com fritas, estrogonofe de frango, fettuccine a quatro queijos e similares. Pior: todos os pratos têm o mesmo sabor insosso.
Um restaurante de hotel bem montado, com ótimo serviço e menu personalizado pode ser um atrativo extra para a hospedagem. Lugares charmosos, com uma cozinha excelente costumam receber gente interessante e tornam-se referência na cidade. Mas, se por acaso a cozinha não for uma vocação nata de seu negócio, basta continuar servindo um ótimo café da manhã para agradar aos hóspedes e, quem sabe, comensais madrugadores em busca de uma ótima refeição matutina.

*Marcos Galvez é um personagem criado pelos consultores da Konduti, empresa de cliente oculto especializada em hotelaria, gastronomia e turismo.  Contato – konduti@konduti.com.br

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