Entrevista

Bons ventos sopram na hotelaria nacional

A hotelaria brasileira navega por águas calmas no pós-crise. Muitas oportunidades configuraram-se com a realização da Copa do Mundo de 2014 e as Olimpíadas de 2016 e o momento é de crescimento e transformação. O País ainda precisa construir mais leitos e hotéis de diferentes categorias podem surgir por todo o Brasil nos próximos anos, gerando novos negócios para toda a cadeia do turismo nacional.
Esta crescente do setor hoteleiro brasileiro vêm se configurando por conta da luta de diversos empreendimentos, associações e entidades, que estão sempre em busca de melhorias para a hotelaria. Uma das personalidades que trabalha na reivindicação por estes benefícios é Alexandre Sampaio de Abreu, presidente do SindRio – Sindicato de Hotéis, Restaurantes e Bares do Rio de Janeiro, primeiro vice-presidente da Federação Nacional de Hotéis, Restaurantes e Bares e Diretor financeiro da Associação Brasileira da Indústria de Hotéis.
Hoteleiro na cidade e do Estado do Rio de Janeiro, atuante ativo do setor de hospedagem e profundo conhecedor dos problemas da alimentação, Alexandre fala nesta entrevista exclusiva sobre o atual momento do turismo nacional e perspectivas para os próximos anos, além das principais reivindicações do setor.

Revista Hotéis – Como o senhor vê a indústria do turismo, hoje, no Brasil?
Alexandre Sampaio – Estamos realmente numa fase áurea. O crescimento  econômico do Brasil, pouco afetado pela crise mundial, a expansão do crédito e a diversificação dos produtos turísticos, propiciaram um incremento de consumidores nacionais que antes não cogitavam o lazer como uma perspectiva de consumo. Tivemos uma temporada excepcional em todo Brasil, inclusive beneficiando as áreas de alimentação e entretenimento turístico, com benefícios para toda a cadeia produtiva e na economia como um todo.
Revista Hotéis – Já há reflexos no turismo nacional após a confirmação da Copa do Mundo e das Olimpíadas no País?
Alexandre Sampaio – Creio que apesar da recessão americana e europeia, a confirmação das Olimpíadas de 2016 no Rio e a proximidade da Copa deste ano na África, chamaram a atenção para o Brasil, resultando em uma nova leva de turistas de mercados que antes não nos compravam. A partir do 2º semestre, todas as mídias estarão para nós direcionadas, o que resultará em forte crescimento do turismo receptivo internacional no nosso País. Não devemos esquecer que também investidores nacionais, e de fora, cogitam aportar recursos em nosso setor, na construção de hotéis, restaurantes e outros equipamentos turísticos.
Revista Hotéis – Como o atual quadro político brasileiro, já que estamos em ano eleitoral, afetará o turismo brasileiro, uma vez que existem questões específicas, como a privatização dos aeroportos, que dependem de medidas federais?
Alexandre Sampaio – Realmente teremos um ano de 2010 difícil, com questões controversas – porém  estratégicas – que precisam de decisões políticas para serem resolvidas, pois importam ao turismo. O período legislativo deverá ter seis meses de atividade, o que dificulta a obtenção de consenso sobre áreas cruciais, como por exemplo os aeroportos. Devemos trabalhar com o viés de que o governo incrementará  o PAC da mobilidade e não descuidará de dar as condições de crédito para financiamento de obras em estádios e de infraestrutura nas doze sedes da Copa.
 
Revista Hotéis – Qual é a importância do treinamento funcional em função dos grandes eventos já captados pelo Brasil?
Alexandre Sampaio – Assumindo as responsabilidades que cabem a iniciativa privada, devemos estar atentos às oportunidades que os governos municipais  e estaduais vão oferecer para investimentos no setor. Dentro deste quadro, o treinamento funcional é crucial para oferecermos um serviço com instalações modernas e atendimento impecável. As entidades patronais com a Federação Nacional de Hotéis e Restaurantes, a ABIH-Nacional  e o Sistema Senac da CNC, estão desenvolvendo projetos, além de já atuar, no aprimoramento de nossos colaboradores, como também na capacitação dos pequenos empresários de hospedagem e alimentação, visando  que o nível de exigência, a que seremos submetidos, seja correspondido. O governo federal não deve descuidar dos recursos para potencializar convênios, visando a disseminação e o aperfeiçoamento desta formação, buscando o patronato e os laborais em conjunto, uma padronização desta pedagogia e conteúdo pragmático profissional em  cada especialização.

Revista Hotéis – Na próxima década, quais as oportunidades que se apresentarão para a indústria do turismo?
Alexandre Sampaio – No Brasil, os investimentos em hotelaria crescem de forma  acentuada, não só   por causa da Copa, mas  também para atender o segmento de negócios, que  demandará hotéis econômicos em cidades médias, aliando boas instalações e atendimento eficiente. Acredito que grupos de alimentação do exterior em sistemas de franquias analisam as condições para  se expandir em nosso mercado, além da área de receptivo de aventura, eco-turismo e esportes radicais. Na verdade o turista hoje busca uma experiência inusitada, que não usufrui no seu dia a dia, procurando uma vivencia indelével, para compensar o seu cotidiano. Na minha opinião, aqueles empreendedores que descobrirem estes nichos e oportunidades, serão bem sucedidos.

Revista Hotéis – O senhor levanta a bandeira de tornar o turismo receptivo reconhecido oficialmente e tributariamente como atividade exportadora. O que está sendo feito para implementar essa idéia?
Alexandre Sampaio – Recebemos recentemente o Secretário de Políticas Econômicas  do Ministério da Fazenda, Nelson Barbosa, quando tivemos oportunidade de mais uma vez, expor nossa proposta. Hoje o cliente estrangeiro  faz seu pré-pagamento de diária em hotel com cartão de crédito, emitido no exterior,  ou remete a  importância para garantia de hospedagem.  Este faturamento  é contabilizado pela hotelaria em lucro real, com isenção de PIS/COFINS. Entretanto, mais da metade deste movimento é pago através de operadoras de receptivo internacional, aqui sediadas, que intermediam estes recursos. Estas empresas,  em  grande parte MPE’s, não usufruem deste benéfico fiscal, impossibilitando os hotéis também de fazê-lo, pois a operação passa a ser considerada como interna ou doméstica. Com a defasagem cambial e custos ascendentes no Brasil, as diárias  encarecem, tirando competitividade de nosso produto, em escala internacional. Se fossemos reconhecidos como atividade exportadora, com certeza  seríamos mais competitivos, trazendo mais divisas, para ajudar a equilibrar a balança de pagamentos do turismo.  Tivemos uma audiência pública na  Comissão  de Turismo  da Câmara dos Deputados e voltaremos a procurar  as autoridades responsáveis, com o Ministério da Fazenda, MDIC e Receita Federal, para tratar do assunto.

Revista Hotéis – O que pode ser feito em relação a questão tributária no setor hoteleiro nacional?
Alexandre Sampaio – A questão tributária afeta toda a economia. Em nosso setor chega a ser perversa, algumas de nossas  demandas são:
a) Aumentar o enquadramento para micro e pequena empresa para R$ 3.400.00,00 anuais;
b) Criar uma agência reguladora na área de cartões de crédito de maneira que a relação oligapolizada entre as bandeiras e os estabelecimentos seja equilibrada, com redução das taxas praticadas;
c) Alterar mecanismos de compensação de prejuízos acumulados para hotéis, em anos subseqüentes, de maneira que eventuais sazonalidades sejam minimizadas;
d) Reduzir o prazo para depreciação acelerada de imóveis;
e) Padronização no Confaz de uma alíquota única de ICMS, incentivada, sobre faturamento bruto, para alimentação fora do lar, beneficiando hotéis e restaurantes;
f) Redução dos impostos incidentes sobre energia e serviços públicos concedidos como água, gás e esgoto, propiciando uma alternativa para o setor recompor margens, hoje extremamente reduzidas;
g) Redução dos custos sobre a folha de pagamento;
Inúmeras outras poderiam ser elencadas, sendo o mais importante, unirmos forças no encaminhamento de nossas reivindicações.

Revista Hotéis – Qual o posicionamento da indústria de hotéis em relação a linha de crédito do BNDES Pró Copa Turismo?
Alexandre Sampaio – A iniciativa é louvável, destacando-se alguns pontos como o aumento do prazo  de financiamento, a ampliação do valor financiável e a diminuição  do limite para operações diretas junto ao BNDES. Entretanto não se discutiu a alteração de critérios sobre a análise de riscos e garantias. Se os técnicos dos bancos envolvidos não alterarem a forma de ver o negócio hotel, somos reticentes sobre o volume de valores que serão captados.

Revista Hotéis – E em relação a classificação hoteleira? Qual a posição da hotelaria nacional nessa questão?
Alexandre Sampaio – A hotelaria nacional é muito diversificada e temos certeza não há consenso sobre a questão da classificação. O Governo propõe oito novas matrizes segmentadas, o que é positivo, desde que elas sejam aperfeiçoadas e modernizadas anualmente, com a participação das entidades setoriais. Três aspectos se destacam na opinião da hotelaria nacional: a classificação não pode ser obrigatória, os financiamentos públicos não devem estar atrelados a hotéis ou  projetos classificados e, por último, jamais pensar  em determinar que empresas  governamentais só possam fazer reservas em empreendimentos classificados.

Revista Hotéis – O senhor é candidato e presidente da Federação Nacional de Hotéis Restaurantes e Similares. Quais são seus principais planos e metas para o cargo?
Alexandre Sampaio – Os planos e metas não são meus e sim do conjunto da maioria do Sindicatos  que compõem  a  Federação Nacional de Hotéis e Restaurantes. O importante é a filosofia de trabalho que é a marca desde grupo, que objetiva o melhor para os  65 Sindicatos que fazem parte de nosso universo e a resultante para as empresas de nosso setor, razão de nossa existência. Incentivar e desenvolver projetos de treinamento para funcionários de todos os níveis e ampliar o Qualifica Brasil, programa de qualificação profissional dos pequenos empresários criado pela Federação; Desenvolver parcerias com os Sindicatos para a oferta de serviços aos comerciantes da região de forma a ampliar o número de associados e fortalecer as entidades; Resgatar o Planejamento Estratégico da FNHRBS. Atuar em conjunto com a CNC e o sistema Sicomércio para superar entraves que afetam nossa atividade nas áreas trabalhista, fiscal e de direitos autorais; Aperfeiçoar o relacionamento com os macro fornecedores de nossa cadeia produtiva para tornar mais dinâmica nossas transações comerciais; Organizar a cada ano uma grande feira, em conjunto com um  Congresso Nacional dos Restaurantes, Bares, Hotéis e Similares, para analisarmos o setor, superararmos dificuldades, trocarmos idéias e nos informarmos sobre novas tecnologias e conceitos de gestão.

Revista Hotéis – Seu trabalho no SindRio, ajudará na gestão caso seja eleito?
Alexandre Sampaio – A atual fase do SindRio é parte deste trabalho  em equipe, do qual eu faço parte ocupando a Presidência. Somos hoje reconhecidos  pelas instancias de governo nos três níveis, como interlocutores de nosso setor, trabalhando junto com outras entidades co-irmãs. Prestamos inúmeros serviços aos nossos mais de dois mil  de associados diretos, além de representarmos uma base de  22 mil  empresas.

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