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Aumenta número de mulheres em cargos gerenciais nos hotéis de luxo

No mercado de trabalho mundial, as mulheres já ocupam 1,2 bilhão de postos de trabalho de acordo com pesquisas divulgadas pela Organização Internacional do Trabalho. O crescimento da participação feminina em cargos de nível hierárquico mais elevados é uma tendência que já vinha sendo observada há anos em estudos e comprovado pelos índices de contratação de mulheres por empresas dos mais variados portes e perfis. No Brasil, segundo dados da Bovespa, as mulheres são responsáveis por 50% dos investimentos na Bolsa, sendo que 40% dos clubes de investimentos são formados por mulheres. Também segundo a publicação The Economist, as mulheres respondem por 40% do PIB mundial. E as estatísticas ainda anunciam que 65% dos materiais de construção são escolhidos por mulheres assim como, 88% dos planos de saúde e 92% dos pacotes turísticos. Dados do Fórum Econômico Mundial apontam que no Mundo, as mulheres brasileiras ocupam a 69º posição na igualdade entre os gêneros, onde o local com mais igualdade entre os sexos é na Dinamarca, onde a renda das mulheres quase se iguala a dos homens.

Um exemplo deste crescimento se vê no segmento hoteleiro. Se olharmos para a hotelaria há algumas décadas, vamos lembrar que os cargos executivos eram ocupados, na sua imensa maioria, por homens e que as mulheres tinham poucas oportunidades profissionais, ou quando tinham eram em cargos menores, como por exemplo, camareira, auxiliar de recepção e outras atividades sem muitas chances de ascensão a uma carreira profissional que vislumbrasse cargos considerados de maior relevância.

Com tanta vontade, nada mais justo do que colocar as mulheres no comando e hoje, é normal encontrá-las em posições de primeiro escalão tanto na hotelaria nacional quanto na internacional. São as jovens diretoras ou gerentes de alimentos e bebidas, eventos, marketing, financeira, recursos humanos e, principalmente as gerentes gerais, em todas as bandeiras que estão presentes no mercado. Este parece ser o momento da mulher na hotelaria. Elas estão em alta. E que perfil tem esta mulher hoteleira? Como estas mulheres atingiram um cargo de alto poder em hotéis cinco estrelas, considerados hotéis de luxo?

Conhecimento é essencial
Para atingir o alto padrão e conseguir o emprego dos sonhos, não precisa simplesmente saber administrar. Pois cuidar de hotéis de uma, duas ou três estrelas é uma tarefa simples, onde as exigências são menores e consequentemente mais fácil de atingir os objetivos, agora chegar ao ápice do poder e gerenciar hotéis cinco estrelas não é tarefa fácil.

Hoje é preciso ter uma estratégia diferente, falar idiomas, ter na bagagem algum curso realizado no exterior, seja graduação, pós ou MBA. É com esses diferenciais que a jovem hoteleira de hoje chega ao mercado. Quanto mais atributos acadêmicos, postura e experiência internacional ela possuir, maiores serão as chances de fazer uma bela carreira no Mundo da hospitalidade, principalmente na hotelaria de luxo.

Uma prova disso é que as mulheres invadiram as universidades nos últimos 15 anos: dados do IBGE mostram que elas são maioria nos cursos superiores, na proporção de 55,3% contra 44% dos homens. Assim, as profissionais vêm preenchendo uma carência que foi muito vinculada à mão-de-obra feminina no passado. Qualificadas, elas ganham credenciais para disputar vagas de trabalho com os homens em condições de igualdade.

Ciente de que conhecimento é essencial para se ocupar grandes postos na hotelaria, está a Gerente Geral do JW Marriott Rio de Janeiro, Rosana Okamoto que acumula em sua bagagem extensa experiência no setor hoteleiro, onde o investimento em sua capacitação teve grande responsabilidade em seu sucesso. A executiva é formada em Administração Hoteleira pela Hotel Mangement School Lês Roches, na Suíça, percorreu diferentes hotéis, tipos e categorias como Business, Ski Resort, Beach Resorts, Conference Hotels, Long Stay e em países que ficam em três continentes diferentes: Suíça, Japão e Brasil. “Preparação profissional e acadêmica são muito importantes, mas a vontade de crescer, a garra de aprender e o afinco de trabalhar longas horas se necessário for, também têm grande valor nessa trajetória. Todo o meu investimento em estudo, desde a graduação, foi importante na construção da minha carreira. Por isso, eu gostaria de citar todos eles. Comecei o estudo em São Paulo, na Renascença Escola. Logo depois me tranferi para o Universidade Les Roches, na Suiça. Também fiz um ano de administração na PUC de São Paulo. Já os cursos de extensão que me ajudaram muito foram a pós graduação em administração hoteleira na FAAP, em São Paulo (SP). E o curso de finanças para administradores na FGV, também em São Paulo. Também é importante destacar os diversos treinamentos de desenvolvimento de liderança da própria rede Marriott que me ajudaram muito em todo esse processo. O primeiro obstáculo que eu encontrei foi realmente estudar, me formar em hotelaria. Estudei fora, tive que ficar longe do meu País e da minha família. Eu tinha consciência da importância em investir na minha formação para conseguir avançar na profissão. Outro ponto importante é que em hotelaria não é porque você se forma fora do país, em uma faculdade renomada, que você automaticamente ganha um cargo de gerência. É necessário começar em cargos mais básicos para ter base para o futuro. Limpei mesa, fiz check-in, passei pela cozinha. Fiz de tudo um pouco para ter base até chegar a um posto gerencial. Foi assim que desenvolvi meu potencial de liderança. Já em cargos gerenciais, passei por Recursos Humanos e Operações”, argumenta Rosana.

Mercado competitivo
A formação de grandes profissionais torna o mercado cada vez mais competitivo e com isso os desafios crescem. A competição é grande, já que a hotelaria mudou na última década. Segundo Rosana, “O desafio é constante e a melhor forma de se chegar ao cargo pretendido e de se manter nele, é investindo em auto conhecimento e melhorando o seu cabedal de informações diariamente. Eu sempre me atualizo e frequento cursos complementares e de pós-graduação. Vejo que as dificuldades em se alcançar grandes postos na hotelaria as vezes se dão pela pessoa ser do sexo feminino. E não acredito que seja só na hotelaria e sim em todas as áreas. Ainda existe uma dificuldade de aceitação. Me sinto muito sortuda por estar em uma companhia como a Marriott que tem planos que desenvolvem a diversidade como um todo e respeita a mulher como profissional”, comenta.

De acordo com Rosana, um dos pontos principais no momento de se realizar a contratação de um determinado executivo, é não fazer distinção de sexos no momento da contratação. “Eu não faço distinção no momento da contratação. Analiso o currículo e o perfil para a posição, assim como no dia a dia de trabalho. A exigência do profissional que faço pelo cargo é compatível, não muda por ser homem ou mulher. Acho que existe diferença entre percepções de um homem para uma mulher no trabalho e na vida como um todo. Existem características próprias dos gêneros que reunidas podem render muito mais para a empresa. Inteligente é o líder que consegue maximizar isso. A mulher geralmente é mais detalhista e consegue exercer várias funções ao mesmo tempo. Já o homem costuma ser mais focado em uma ação, mais racional. A combinação dos dois gêneros é muito boa”, avalia.

Conciliação Carreira X Família
Nascida em Buenos Aires, na Argentina, a Diretora de Hospitalidade do hotel Blue Tree Premium Faria Lima, Maria Rosa Leroy, acumula muita experiência no segmento hoteleiro. A executiva é formada em Pedagogia com pós graduação em Recursos Humanos, e seu início na hotelaria foi como consultora na área de treinamentos e recursos humanos.

Maria Rosa afirma ter se apaixonado pela hotelaria já em suas primeiras consultorias. “Iniciei minha carreira no Sheraton Mofarrej, como gestora de Recursos Humanos em 1985, antes de sua abertura. Eu também havia feito um trabalho de consultoria no hotel Crowne Plaza, para o Hotel Maksoud, e comecei efetivamente em 1986. Permaneci no cargo de gestora de Recursos Humanos por dois anos, após decidir que tinha interesse em ingressar na operação do hotel, área que sempre me encantei. Gerenciei a recepção do hotel, a governança, fui diretora de vendas por três anos, e deixei a Sheraton com o cargo de gerente operacional”, afirmou.

As mulheres têm o desafio de equilibrar os papéis em casa e no trabalho, mas a necessidade de mostrar capacidade de executar as tarefas com eficiência e talento, além de ter espírito de liderança e confiança em sua equipe, são habilidades essenciais para qualquer gestão. A conciliação entre carreira e família foi a principal dificuldade enfrentada por Maria Rosa. “A hotelaria é uma carreira que exige muito tempo, é uma carreira que em inglês se chama time consuming, ela demanda muito tempo e muitas horas de serviço. Acredito que o maior desafio que eu tive no meu começo de carreira foi conciliar a minha vida pessoal com o trabalho, que demandava trabalhar finais de semana até altas horas. É uma carreira que você precisa estar muito presente. Eu não tive obstáculos em minha carreira, sempre tive muito foco, busquei conhecer muito bem a operação do hotel como um todo, área por área. Tive a oportunidade de liderar praticamente todas as áreas de um hotel, desenvolvendo a visão estratégica no negócio. As promoções foram aparecendo, tanto que fiquei 14 anos na Sheraton e já estou há treze anos na rede Blue Tree”, conta.

Auge da carreira
Poucas mulheres no Brasil conseguiram chegar ao cargo de gerente geral de um hotel de luxo no Brasil, o que constitui para muitos o auge da carreira, pois neste segmento os homens ainda dominam por completo e grande parte deles, são estrangeiros.
Comandando um dos mais renomados hotéis de luxo do Mundo, o Copacabana Palace, está Andréa Natal. Ela lembra como iniciou os estudos em hotelaria e posteriormente a carreira. “Me graduei pela Faculdade Estácio de Sá, no início dos anos 80, onde a profissionalização nessa área era novidade no Brasil. Iniciei minha carreira muito cedo, no Le Meridien, e posteriormente fui convidada a trabalhar no Le Meridien em Salvador, o que foi uma escola para mim. Aprendi muito, gerenciei diversos setores aprimorando o meu estilo de trabalho. Retornando ao Rio, fui convidada a trabalhar no Belmond Copacabana Palace e aceitei na hora.  Fiz cursos de aperfeiçoamento em Cornell, na França e estágios em hotéis americanos e europeus. Ao longo de minha jornada profissional, não tive obstáculos, minha carreira foi acontecendo na medida em que eu me encontrava preparada para assumir novas funções”, lembra.

De acordo com Andrea, é necessário ter foco e objetivo quando se almeja alcançar um determinado cargo. “É sempre muito importante continuar aprimorando os conhecimentos, fiz alguns cursos durante a minha trajetória profissional para estar sempre melhorando e adquirindo técnica e bagagem.  Nunca percebi isso, que as dificuldades em se alcançar um determinado posto de trabalho são maiores pelo fato da profissional ser mulher, talvez por estar tanto tempo na mesma empresa, nunca senti dificuldades. Quando imaginei ter alguma dificuldade não me intimidei, enfrentei com a elegância que a hotelaria exige. A mulher vem conquistando mais e mais posições de chefia. Acho natural que elas passem a assumir essas funções de comando”, afirma.

Desafios de gerenciar um hotel 5 estrelas
O Hotel Santa Teresa, situado na capital fluminense, também conta com uma gerente geral mulher. Mônica Paixão estudou Relações Públicas, na Universidade Estadual do Rio de Janeiro – UFRJ e também fez Economia, na Faculdade Cândido Mendes. E antes de assumir a gerência geral do hotel, Mônica trabalhou no Ipanema Plaza Hotel, além de ter ficado no Le Meridien por 15 anos, onde adquiriu experiência no ramo hoteleiro.

Provar que é possível gerenciar um hotel cinco estrelas é um desafio a ser conquistado e que demanda tempo, mas paras estas mulheres isso é tirado de letra. “Na hotelaria, comecei como recepcionista no Le Meridien Copacabana, posteriormente para chefe de turno, em seguida assistente de gerência; assistente de chefe de recepção; posteriormente para chefe de recepção. Assumir o cargo da gerência geral foi o maior desafio por ser um hotel de grande porte com um número elevado de funcionários, onde o início foi bastante árduo devido ao grande volume de atribuições a serem executadas. Porém acredito que o que facilitou conquistar esse cargo foi ter a oportunidade de começar a minha carreira em cargos baixos, onde pude adquirir um amplo conhecimento geral do funcionamento de um hotel. Acho que a mulher em muitos casos se destaca mais do que o homem. Em relação a sensibilidade e percepção de detalhes que o homem geralmente não tem. Infelizmente ainda há lugares e pessoas que não conseguem acreditar no potencial profissional de uma mulher”, comentou. Com relação ao futuro, Mônica afirma estar muito bem em seu cargo atual, e seu principal desejo é ter mais tempo para ficar com a família.

Toque feminino faz a diferença
Para estas executivas, este espaço no mercado será uma rotina a partir de agora. Pois o crescimento profissional das mulheres que gerenciam hotéis cinco estrelas, já não é mais uma novidade e sim uma tendência. Se pensarmos em vantagem ou desvantagem no gerenciamento destes tipos de empreendimentos pelas mãos femininas, vemos que não há diferença, na administração realizada por um homem ou uma mulher. A frente de um dos mais luxuosos hotéis da capital paulista, o hotel Fasano São Paulo, está Cláudia Marino como gerente geral. A executiva iniciou sua carreira no mercado hoteleiro em 1998, após ter concluído o curso de Administração de Empresas na Universidade Mackenzie e Hotelaria no Senac, além de ter cursado alguns cursos na Universidade de Cornell, nos Estados Unidos. De acordo com ela, seu primeiro cargo na área foi como Recepcionista Junior na Rede de Hotéis Estanplaza.

Ao longo de sua trajetória profissional, Claudia passou por várias experiências até assumir o posto de Gerente geral do hotel. “Foram 16 anos de muito trabalho, amadurecimento pessoal e profissional. Gerenciar diferentes expectativas (tanto de hóspedes quanto da equipe) é um grande desafio. Saber lidar com frustrações, com reclamações, com elogios e reconhecimentos foi essencial para estar onde estou hoje. Certamente consegui trazer para a minha vida profissional, valores que recebi em casa, na minha família. Crescer em um ambiente de muito respeito ao próximo e conviver com meus pais trabalhando muito e gostando do que faziam moldou o meu caráter. Isto foi muito importante para mim”, afirmou.

Para ela, as profissionais não encontram grandes dificuldades de se alcançar um posto de chefia pelo fato de serem mulheres. “Quando você é um profissional comprometido, dedicado e ama o que faz, não importa ser homem ou mulher. No Grupo Fasano, dos 4 Gerentes Gerais, 3 são mulheres. Acredito que existam algumas diferenças entre os homens e as mulheres. Por natureza, os homens são considerados mais racionais que as mulheres. Dito isso, tanto homem quanto a mulher precisa buscar o equilíbrio entre o emocional e o racional para poder justamente se destacar enquanto um bom líder. Já tive líderes homens e mulheres e os dois tipos de gestão foram fundamentais para eu formar o meu próprio estilo de liderança”.

Com relação a colocação das mulheres em cargos de chefia na atualidade, Claudia Marino afirma que este mercado está bem significativo. “Em hotelaria é necessário ter muita sensibilidade. É preciso gostar de servir, de atender às pessoas. De olhar olho no olho e ser paciente. Tanto em relação aos hóspedes quanto funcionários. Caso contrário, a roda não gira. Na minha opinião, as mulheres fazem isso muito bem! Talvez sejamos mais flexíveis”, frisa.

Veja na galeria de imagens abaixo mais algumas fotos.

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