Arquitetura e design na hotelaria: conheça as principais tendências

Foi-se o tempo em que um bom chuveiro, um colchão confortável e uma localização privilegiada eram a chave do sucesso para a performance de um empreendimento hoteleiro. O perfil do hóspede mudou muito nos últimos anos e as exigências aumentam cada dia mais. Internet de alta velocidade já não é um luxo e, hoje, se valoriza o encantamento, as novas experiências que o hotel pode oferecer.

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A necessidade de repensar a arquitetura e o design na hotelaria surgiu, em boa parte, por conta da mudança do perfil de comportamento do público. Se antes, os viajantes buscavam serviços de qualidade, higiene e conforto ao se hospedar em um hotel, hoje, além disso, procuram vivenciar experiências únicas em um meio de hospedagem. Outro fator determinante foi a internet, que permitiu o surgimento de canais de contato como o TripAdvisor, onde as pessoas podem avaliar os serviços oferecidos pelo empreendimento, compartilhar fotos e fazer críticas, sejam elas positivas ou negativas. Sem falar nas redes sociais, como o Instagram, plataforma cujos usuários compartilham e trocam experiências com seus seguidores sobre os lugares que visitam em suas viagens.

A forma de projetar o hotel diz muito sobre sua identidade e seus valores em relação ao mundo. “Acreditamos que o empreendimento deve ser aberto para a cidade, possibilitando que o hóspede conheça e vivencie experiências locais, e também que a cidade possa vivenciar o hotel. Assim, ele funcionará como uma grande praça de serviços e possibilitará a troca entre o habitante local e os hóspedes. Os viajantes não querem mais somente conforto, querem viver o local. A hotelaria precisa seguir as mudanças de comportamento de seus consumidores, incluir novos usos e anseios e ter mais interesse pelo local onde está inserido”, destaca a arquiteta Mila Strauss, do escritório MM18 Arquitetura, de São Paulo (SP).

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Tecnologia em prol do conforto e segurança

A tecnologia e a personalização dos serviços são buscas constantes dos hóspedes da atualidade. Hoje é possível escolher um hotel por sua localização, destinos, marcas, temas, pelas melhores ofertas, por perfil e tipos de serviços.  No cenário mundial da valorização das experiências, que vão além dos parâmetros originais da hospedagem, há um aspecto que sobrevive a toda evolução: o desejo de um mundo melhor, mais saudável e confortável, amplamente buscado em nossos anseios de melhor aproveitamento dos recursos, dos princípios humanistas de trocas de diálogos culturais, sobrepujados pela arquitetura e design. Esses são valores percebidos pela gigante da hotelaria mundial AccorHotels. Ela atua com suas 20 marcas em 4.100 hotéis espalhados por 95 países atualmente. Então, compreender culturas distintas e traduzir em soluções e serviços, tem sido um dos grandes desafios da rede hoteleira francesa na implementação de seus hotéis. “O design e a arquitetura transformam, emocionam e revolucionam as experiências destes que são plurais, conectados, dinâmicos, e anseiam pelo novo: nossos clientes. E, para nós, o mais importante é compartilhar destas histórias, estar entre as fotos das famílias, ser escolhidos em todas as vezes em que existam estes momentos importantes para cada um, especialmente por nosso atendimento, estrutura e por conseguir cultivar memórias positivas em cada hóspede. Por isso, estamos explorando fortemente cinco pilares na concepção de nossos hotéis e isso inclui: Design4Experience, Design em A&B, novas tecnologias, sustentabilidade socioeconômica   e entretenimento”, revela Paulo Mancio, SVP de Design e Construção da AccorHotels América do Sul.

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Paulo Mancio: “O design e a arquitetura transformam, emocionam e revolucionam as experiências” Foto – Divulgação

Um bom exemplo que a AccorHotels possui no Brasil, de proporcionar a melhor experiência para o hóspede oferecendo tecnologia e design inovadores em um novo conceito de quarto de hotel, está no hotel Pullman São Paulo Vila Olímpia. Nesse empreendimento foi criado o #360ROOM, o quarto mais “fora da caixa” desenvolvido pela AccorHotels. Com projeto idealizado pelos times de design e TI do Grupo, todas as novidades disponíveis neste ambiente foram pensadas para colocar o hóspede no centro da experiência. Escolher a posição das paredes? Ajustar a cama eletronicamente em direção à janela ou contra a luz do sol? Ou, então, colocar suas roupas para lavar e, pouco tempo depois, retirá-las limpas, secas e passadas? Essa é a realidade no novo quarto.

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No local, cada pessoa utiliza as funcionalidades da forma como for mais conveniente. Os profissionais da AccorHotels apostaram em um projeto contemporâneo, leve, com referências à natureza no uso de plantas naturais e que, ao mesmo tempo, promove a integração da tecnologia e do conforto de uma forma espontânea e visualmente atraente. O design da cama e do sofá, uma experiência tecnológica e de puro conforto, foram desenvolvidos pela AccorHotels e o projeto técnico permite posicionar este móvel de acordo com o desejo do hóspede, com um comando eletrônico.  A paleta de cores neutra é proposital para permitir que as diversas opções cromáticas do sistema de iluminação tenham o melhor resultado. Os tons podem variar entre o “calmo” e o modo “festa”, por exemplo. Já os aparelhos eletrônicos podem ser controlados ao alcance das mãos por meio de um iPad.

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O apartamento #360ROOM do Pullman Vila Olímpia foi concebido para atender as novas necessidades da hotelaria – Foto – Divulgação
Pensar fora da caixa

Essa é a palavra de ordem para quem deseja desenvolver um projeto hoteleiro. É assim que pensa o arquiteto Eduardo Manzano, que foi diretor de importantes escritórios internacionais de arquitetura. Atualmente é titular do EMDAStudio, onde comanda um quadro multidisciplinar focado em arquitetura da Hospitalidade e Corporativa. Em seu currículo, constam mais de 75 projetos de hotéis e, tem no retrofit do Hotel Nacional do Rio de Janeiro, sua mais emblemática realização. Segundo Manzano, hoje em dia, os hóspedes do hotel têm expectativas mais elevadas do que nunca. “Participar de experiências sensoriais nunca foi tão importante, mesmo que seja por apenas um pernoite. Estas experiências sensoriais passam pela percepção de materiais sofisticados e texturas exóticas, utilizando os cinco sentidos, como vimos no escopo da concorrência internacional para os projetos AC Marriott para a América Latina, que vencemos no ano passado. Tudo isso com a sensação de casa”, define Manzano.

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Eduardo Manzano: “hoje em dia, os hóspedes do hotel têm expectativas mais elevadas do que nunca” – Foto – Divulgação

Com foco prioritário na experiência, ele lista 11 tendências relacionadas ao design e que considera interessantes a partir de 2019, embora venham surgindo paulatinamente nos últimos dois anos.

Experiências ainda mais personalizadas

Os hotéis terão que se concentrar na criação de experiências memoráveis para seus hóspedes, ao invés de simplesmente oferecer comodidades e serviços. Eles aprenderão a ser criativos na adaptação de suas experiências às preferências dos clientes, inspirando-se nos hotéis-boutique, independente do padrão hoteleiro. Os visitantes podem esperar saudações personalizadas e quartos de acordo com suas preferências, bem como produtos exclusivos com curadoria do hotel. Essas experiências, aliadas ao design do hotel, são fundamentais para cativar as gerações mais novas, principalmente os millennials, a parcela demográfica que mais viaja no mundo.

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O apartamento categoria superior do hotel Indigo Lower East Side em Nova York é um bom exemplo do novo design na hotelaria. Foto – Divulgação
De casa para a “casa”

Para driblar a concorrência com o Airbnb, cada vez mais os hotéis passarão a oferecer itens antes apenas presentes em apart-hotéis, como cafeteiras e, em alguns casos, apartamentos totalmente equipados para o hóspede “long stay” (longa estadia). A tecnologia, com mais pontos de elétrica do que o convencional, deverá se tornar mandatória e oferecer uma conectividade de melhor qualidade do que as próprias residências dos hóspedes.

Estilo eclético

Não é novidade que a “padronização” já deixou de ser relevante na arquitetura hoteleira, bem como o uso das cores neutras como Fendi, bege ou cinza, predominantes e populares na última década. A ordem agora é “ser eclético” e colorido, independente do padrão do hotel. Um exemplo dessa visão é o Indigo do Lower East Side, em Nova York.  Da mesma forma, o uso de elementos regionais continuará a ser um trunfo para o sucesso e receptividade do hotel, sem contar a utilização de elementos “vintage”, que mexem ainda mais com a memória afetiva do hóspede. “Mas atenção: ter um estilo eclético não quer dizer que o quarto deverá ser rebuscado. A simplicidade e a sustentabilidade devem vir à frente, como no exemplo citado acima”, detalha o arquiteto.

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O estado da arte na tecnologia inserida em um quarto

A automação vem entrando cada vez mais nas unidades econômicas, visto que seus custos vêm se reduzindo à medida que as evoluções tecnológicas se popularizam. Hotéis já estão experimentando com unidades “Alexa” em seus quartos, e chaves e comandos por Smartphones, assim como menus personalizados e pré-determinados passarão a fazer parte do dia a dia do hóspede moderno. O quarto “conhecerá” antecipadamente o próximo hóspede a ocupá-lo. A Kohler lançou recentemente o sistema Kohler Konnect, que atende ao pedido do hóspede/usuário através do Alexa, Google Assistant e Apple Homekit, preparando o banho com apenas um comando de voz.

Entretenimento Personalizado

Neste ano, reforçando mais ainda a sensação de “casa”, os hóspedes verão as TVs transmitindo seu próprio conteúdo de assinante de Netflix, Amazon Prime, YouTube e outras plataformas. Ao mesmo tempo, ainda poderão desfrutar da sensação de uma hospitalidade personalizada e amigável.

Indoor encontra o outdoor

Uma das tendências de design de hotel mais interessantes a se observar é o direcionamento da experiência ao ar livre para lobbies e corredores de hotéis. O hotel CitizenM, localizado na Times Square, em Nova York, preconizou isso há mais de cinco anos e, no verão, sua área externa é mais frequentada do que a interna, dada a proximidade com o bar do lobby. Hotéis econômicos como o OWN, de Buenos Aires, capital da Argentina, também foi um dos pioneiros neste sentido. “Trazer o exterior e a natureza para dentro do lobby é premissa básica para os novos empreendimentos. Estamos concebendo um projeto de conversão de um edifício corporativo para hotel e, uma grande cascata existente, que não funciona há mais de dez anos, será reativada para criar este ambiente natural e agradável”, diz o arquiteto.

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O Roof Top ganha cada vez mais força na hotelaria nacional – Foto – Divulgação
Espaços multifuncionais

Flexibilidade é fundamental nos novos projetos de espaços multifuncionais. No lugar das salas estanques de eventos de hoje, os espaços multifuncionais deverão ter pé direito mínimo de 3,50 m e possibilidades quase infinitas de configurações. Isso pressupõe muita tecnologia e instalações antes apenas encontradas em projetos com tecnologia “triple A”.

Compromisso com a ecologia

Em 2019, os hotéis estarão mais focados no uso de práticas ambientalmente sustentáveis, desde o uso de materiais de construção naturais e reciclados e/ou recicláveis, até painéis solares e reciclagem de roupas. “Veremos mais iniciativas para medir e reduzir as pegadas de carbono e a irradiação por LED, a fim de reduzir o consumo de energia. Falando de design, esta tendência provocará os hotéis a incorporarem mais vegetação viva e luz natural em seus projetos”, revela Manzano.

Evolução do Lobby

O lobby será uma extensão da sala de estar, com cantos aconchegantes para pequenas reuniões, onde os hóspedes possam obter alguma privacidade sem se sentirem isolados. Essas áreas receberão mais vegetação natural, podendo servir de anteparo entre os espaços. Essa importante tendência de design de hotéis já fez com que as redes atualizassem completamente seus lobbies em ambientes únicos e personalizados.

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A tendência é que cada vez mais os apartamentos dos hotéis tenham cara de casa – Foto – Divulgação
Integração com o urbano

A partir deste ano os hotéis assumirão, mais ainda, seu papel de “hub” local. Atividades multiculturais deverão fazer parte do cardápio de ofertas de entretenimento do hotel, que passará a ser praticamente um centro cultural e social local, atraindo pessoas da vizinhança. “Todos os projetos em andamento no EMDAStudio contemplam bares e academias voltados para a rua. Esta tendência exige acrescentar toques locais ao design do hotel, bem como envolver designers e artistas locais para criar um ambiente único”.

O mini/micro-quarto

Da mesma forma que o Airbnb pressionou o quarto a assumir uma configuração de “casa”, os novos hostels mudaram a configuração da hotelaria, principalmente quando falamos dos micro-hotéis, mais “descolados”. Em função do custo do terreno, o negócio hoteleiro passa a “fechar a conta” e fazer sentido cada vez com quartos menores, de 12 a 16 m², e em maior quantidade por implantação.

Muitas redes hoteleiras têm hoje produtos “mini” e “micros” para atingir a este tipo de negócio, normalmente olhando para o mercado influenciado pela geração Millennials. “Em novembro de 2018, a Hilton lançou a marca Motto e acreditamos que se torne um sucesso em um nicho antes dominado pelo Moxy da Marriott e em alguns lugares como o CitizenM e Yotel e até os Ultra Econômicos como os Pod Hotels. Vale lembrar que a rede SBE-Morgans Hotel Group, recém-adquirida pela AccorHotels, tem em seu portfólio o interessante Hudson Hotel, em Nova York, com áreas comuns generosíssimas e quartos mínimos. Quanto ao F,F & E, hotéis como o Yotel e o Room Mate retornaram com os beliches (também adotados pelo Motto), desta vez mais sofisticados”, finaliza Eduardo Manzano.

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Edgar J. Oliveira

Diretor editorial - Possui 31 anos de formação em jornalismo e já trabalhou em grandes empresas nacionais em diferentes setores da comunicação como: rádio, assessoria de imprensa, agência de publicidade e já foi Editor chefe de várias mídias como: jornal de bairro, revista voltada a construção, a telecomunicações, concessões rodoviárias, logística e atualmente na hotelaria.

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