Opinião

Analisando a Copa de 2014 e seu reflexo na hotelaria – Artigo de Mario Cezar Nogales

* Mario Cezar Nogales

Após o meu texto intitulado: “Brasil um país de bananas” e sua repercussão, creio que minhas expressões devam tomar um rumo mais esclarecedor com relação ao evento da Copa de 2014.

É sabido através da historia da hotelaria que o turismo tomou uma grande expansão quando os romanos decidiram construir suas “vias” para manter a comunicação de seu império e fortalecer o mesmo, obviamente que apenas as “vias” não foram vias de fato para a hotelaria (hospedaria) da época sem que houvesse o devido cuidado com a segurança das mesmas para que seus usuários que eram viajantes a negócios sejam eles em nome de Roma ou mesmo comerciantes, ou até mesmo suas consortes que faziam o turismo de lazer, desfrutassem da longa viajem e das casas de banho e hospedarias em pontos de parada e outras cidades.

Também não haveria tido esta expansão hoteleira se caso as cidades não suprissem com o devido conforto e hospitalidade a estes turistas que deviam contar também com cuidados médicos e facilidades para compras de artigos e bibelôs que pudessem levar consigo como lembranças de suas estadas e passagens por lugares ainda desconhecidos e de culturas tão diferentes.

Avançando no tempo, em nossa historia recente, governantes brasileiros com o intuito de receber bem aos turistas que vinham de outros países e continentes deram um grande empuxo na hotelaria nacional com isenção de impostos e facilitação na construção de hotéis que pudessem atender a um publico mais exigente e acostumado com a hotelaria europeia, e se não fosse assim, a nossa hotelaria ainda estaria engatinhando com pelo menos uns 100 anos de atraso.

Isto nos remete a que governos de fato preocupados com o país não estão preocupados em quanto a hotelaria irá cobrar ou quanto seus empresários irão lucrar, uma vez que quanto maior o faturamento, maior será a sua arrecadação com impostos. Sua preocupação maior era com que estes meios de hospedagem pudessem prestar um serviço de hospedagem e hospitalidade com grande qualidade e que atendesse a um publico bastante exigente, afinal de contas, estariam representando seus países para um publico estrangeiro, o que me lembra, na historia grega, que os governantes das cidades estados durante as olimpíadas exigiam que os administradores das estalagens fossem exemplar na hospitalidade brindada aos participantes e torcedores, caso contrário poderiam ser julgados como traidores da pátria, e em nenhum momento se discutia o quanto era cobrado, simplesmente o importante foi sempre a preocupação com a hospitalidade e o bem estar de seus turistas.

Também é sabido que a gestão hoteleira na atualidade seja nas metrópoles ou em cidades turísticas, devem administrar uma produção ociosa que varia entre 40% e 50%, isto nos faz refletir que toda grande data, evento ou festa são épocas onde a hotelaria deve fazer o seu melhor e garantir recursos para sua existência ao longo do ano. Na regência do mercado de acordo com a oferta e a procura, devemos maximizar as receitas quando a ocupação é alta e administrar os custos quando a ocupação é baixa para garantir os empregos existentes não só de seus colaboradores, como também de seus proprietários e investidores.

Obviamente que o evento da FIFA que durará apenas 30 dias não irá fazer verão no turismo nacional por si só, contudo é uma época de grande expectativa na ocupação geral das cidades sedes do evento assim como nas cidades ao redor delas e logicamente como a procura será alta, os descontos em todo o trade quase que inexistirão, afinal de contras quanto maior a procura, maiores são os preços, uma prática comum em mercados de países democráticos sem intervenção do governo no que é privado (e se assim não fosse, o preço do tomate nunca chegaria a R$ 12,00 o quilo como ocorreu recentemente fazendo com que pizzarias sofressem pois não havia alta na procura de seus produtos).

Levando em consideração a tudo isto, a organização da Copa de 2014 não é nenhum bicho de sete cabeças, é um torneio como outro qualquer que, contudo, chama a atenção e as paixões mais profundas de seus torcedores e isto, ao longo dos anos, vem criando mercados gigantescos desde seu inicio, afinal de contas a Copa de 70 não é nada comparada com a de 2014 se levarmos em consideração os grandes investimentos privados com o esporte e com os passes dos jogadores (Mané Garrincha que o diga). Com este atrativo econômico, obviamente que a FIFA com o passar dos anos deixou de ser apenas uma empresa organizadora de um evento e passou a ser considerada como uma empresa que movimenta milhões, ou senão, bilhões de dólares em um espaço curto de tempo e como qualquer outra empresa, ou negocio, a rentabilidade da mesma deve ser amplamente aumentada, não só com o esporte em si, mas com todos os atrativos indiretos que ela gera como é o caso do turismo no país sede que ela trará durante seu evento.

Neste caso, para gerir as questões de hospitalidade a FIFA criou a MATCH como gestora das viagens dos torcedores ao redor do mundo que queiram assistir aos jogos e nada mais justo, afinal de contas esta empresa poderá brindar aos seus clientes a qualidade exigida por cada um de seus consumidores. A isto eu chamo de eficiência empresarial para a maximização do rendimento do empreendimento, sou favorável a esta prática, se não fosse não seria um ferrenho defensor dos empreendimentos privados que é o que nos faz evoluir e avançar na prosperidade.

Contudo, devemos sempre nos lembrar de que o poder corrompe e o poder absoluto corrompe absolutamente e é para alguns fatos que devemos voltar nossos olhos e percepções e avaliar se a Copa de 2014 de fato trará uma evolução no turismo nacional ou apenas é algo em que alguns lucrarão em detrimento de uma maioria.

Em 2007 o Brasil foi anunciado com o agraciamento de se tornar o país sede da copa de 2014, para que isso ocorresse o governo nacional da época não mediu esforços para demonstrar que o país estava preparado para tal evento de tamanha magnitude em um curto espaço de tempo, uma destas demonstrações foi a normatização das funções no turismo desde 2004 por encomenda do governo nacional, algo inédito no país que passou despercebido por grande parte do trade, na historia de nosso planeta apenas temos exemplos de normatização de funções em países cujos governos foram estritamente controladores como na Alemanha da década de 1930/1940 e na ex União Soviética e nem preciso lembrar ao leitor o que acontecia nestes países, não é mesmo?

Voltando os olhos para a MATCH, esta celebrou com vários hotéis pelo pais contratos com hotéis para que estes fossem os meios de hospedagem oficiais do evento e obviamente que nenhum empresário é tolo o suficiente para fechar a tarifas em 2009 para um evento em 2014. Acontece que a MATCH funciona como se fosse uma operadora de turismo, ela fecha o allotment para o período e caso não confirme com a devida antecedência o hotel está livre para ocupar as UH’s como bem queira. Claro que o consumidor da MATCH também não é nenhum desavisado e graças a internet muitos deles já conhecem os custos de turismo no Brasil e é obvio que a MATCH fará pacotes completos e devemos lembrar que como qualquer empresa sua máxima é sempre aprimorar e melhorar seus rendimentos, o que também é a máxima de nossa hotelaria, afinal de contas somos todos empresários e como a procura será grande, obviamente que os preços não serão nada econômicos.

O que acontece neste interim?

Vemos que o nosso ministro do Turismo, o nobre Gastão Vieira, Filho de José Carneiro Dias Vieira e de Belarmina Serra Dias Vieira. Em 1969 obteve o bacharelado em direito pela Universidade Federal do Maranhão, com mestrado na Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro em 1976. Em Manaus concluiu o curso de técnico em problemas de desenvolvimento econômico pela Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (CEPAL) e foi um dos analistas do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) (1975-1994) em Brasília, além de integrar o Conselho Nacional Consultivo da Campanha Nacional de Escolas da Comunidade (CNEC).

Ingressou no PMDB em 1985 e durante o Governo Sarney aproximou-se de Roseana Sarney, filha e então assessora presidencial de José Sarney. Secretário-executivo do Projeto Grande Carajás, afastou-se do cargo e foi eleito deputado estadual em 1986 e reeleito pelo PSC em 1990, partido do qual integrou o diretório estadual. Licenciou-se do mandato para ocupar o cargo de Secretário de Planejamento no governo Edison Lobão (1991-1994).

De volta ao PMDB foi eleito deputado federal em 1994, mandato do qual se afastou para assumir a Secretaria de Educação no governo de Roseana Sarney, de quem foi Secretário de Planejamento quando a mesma retornou ao poder após a cassação de Jackson Lago. À parte suas passagens pelo Executivo foi reeleito deputado federal em 1998, 2002, 2006 e 2010.

Em 2008 foi o sexto colocado na disputa pela prefeitura de São Luís, pleito vencido por João Castelo em primeiro turno. Com a demissão de Pedro Novais foi nomeado Ministro do Turismo pela presidente Dilma Rousseff, que efetuou sua quinta mudança no gabinete desde a sua posse em setembro de 2011, vem a público com as seguistes frases sobre a hotelaria nacional em relação às tarifas:

“Desde o CADE [Conselho Administrativo de Defesa Econômica] até o Ministério da Justiça, há todo um conjunto de órgãos governamentais e uma legislação específica para punir esse tipo de abuso” (sobre tarifas dos hotéis).

“Decidimos, juntamente com os empresários, que esses grandes eventos não podem ser atropelados por questões de mercado. Estamos nos reunindo c todos eles, em todas as cidades-sede. Estivemos em São Paulo, estamos hoje em Brasília e vamos viajar o país inteiro, antecipando os fatos.” (também sobre as tarifas dos hotéis).

Eu particularmente não creio em coincidências e creio plenamente num estado democrático com plenos direitos de que é privado. O público, como o nome já diz é público e para o bem de todos.

Não basta o ministro vir com o Plano Nacional de Turismo dizendo que é ousado e busca a redução dos preços e melhor qualidade dos produtos e serviços dizendo: “Confiamos na estabilidade econômica, no crescimento do nível de emprego”, assinalando que o PAC-Turismo objetiva tornar as cidades mais agradáveis aos próprios moradores e receptivas aos visitantes. Para que isto ocorra se fazem necessárias as premissas romanas de segurança, saúde e educação o que seu ministério não tem a competência para solucionar.

Além do mais, o histórico do ministro ligado ao ex-presidente José Sarney… (sem mais comentários)

Isto não são insinuações, são fatos de conhecimento de todos por esta grande nação e devo lembrar que o “imbecil sou eu por acreditar que ainda vivo num estado democrático”.

Alias, não sou contra a Copa ou a FIFA, sou um torcedor, mas antes de tudo sou um brasileiro acordado e que nunca dormiu “no barulho” de políticos, apenas resta meu recado ao Ministro: Quer baixar os preços na hotelaria, comece cortando os bolsos dos governos que nos toma quase 35% em cargas tributárias. (isto sem fazer menção aos estrondosos gastos públicos com empreendimentos particulares)
*Mario Cezar Nogales é Consultor especialista em hotelaria, já tem publicados dois livros e atuante no trade hoteleiros saiba mais em www.snhotelaria.com.br  ou mande um e-mail: mario.nogales@uol.com.br

 


Os artigos assinados são de responsabilidade exclusiva de seus autores, não representando necessariamente a opinião da Revista Hotéis.

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