Opinião

Acessibilidade em Hotéis – Será?

Luiz Arthur Medeiros*

 

É um pouco batido falar das dimensões continentais do nosso País e dos contrastes que aqui existem.  Não dá, infelizmente, para falar que temos no País uma situação de respeito aos portadores de necessidades especiais, seja nas calçadas esburacadas, seja nos ônibus e trens lotados, seja nas escolas e universidades. Na hotelaria, como reflexo natural, a situação não é diferente.

 

A lei 640/2003 que determina um percentual de apartamentos hoteleiros devidamente adaptados e aptos a receber portadores de necessidades especiais é praticamente uma peça de ficção científica em que as autoridades fingem que fiscalizam e os hotéis fingem que cumprem. E digo que fingem que cumprem, pois ainda lidamos com o conceito de “adaptar” um hotel ao deficiente físico, quando deveríamos usar o termo “pensar” o hotel para este hóspede.

 

Engana-se quem pensa que colocar umas barras de segurança no banheiro e fazer as portas mais largas seja suficiente para atender este público, assim como engana-se mais ainda o hoteleiro que pensa que um apartamento preparado ao deficiente não possa ser usado por qualquer hóspede na ausência no seu cliente preferencial.

 

Estar preparado para o deficiente físico é ter espaço suficiente para que as cadeiras de roda circulem, é ter piso frio para facilitar a entrada de um cão-guia, é pensar na comunicação visual com recursos de Braile, é ter sempre o dispositivo de closed caption nos televisores para os deficientes auditivos, entre outras facilidades. E as tais barras de segurança no banheiro têm uma regulamentação específica para sua correta instalação. Não adianta colocar de qualquer jeito, num ponto em que não há risco de furar um cano mesmo que isto implique que tal barra fique fora de mão para o potencial usuário.

 

Sai caro? Ainda sai, mas é só os hoteleiros começarem a pensar conjuntamente nisso que teremos a velha e boa economia de escala e os valores de investimento cairão. Além do mais já há jurisprudência favorável ao ressarcimento pelo poder público àqueles prédios que tiveram suas plantas aprovadas antes da existência da lei e que fizeram investimentos posteriores para adaptar sua estrutura. Dá trabalho? Claro que dá, assim como dá trabalho conquistar qualquer hóspede que está aí no mercado esperando ser agradado para se tornar cliente fiel.

 

Mas mesmo se você hoteleiro não fizer nada disso, há atitudes realmente baratas que podem ser feitas e sobre as quais deixo aqui algumas perguntas: quantos hotéis você conhece que têm cardápios em braile? Quantos hotéis você conhece que tenham pelo menos uma acomodação para cão guia? Quantos hotéis você conhece que tenham pelo menos um funcionário que saiba se comunicar em LIBRAS? Quantos hotéis você conhece em que algum funcionário saiba colocar a televisão em modo closed caption? Pois é, se sua resposta foi zero para todas as questões que fiz, você está absolutamente a par da realidade aqui no nosso País.

 

E para os hoteleiros que hoje só pensam em Copa do Mundo e Olimpíadas aí vai uma notícia. No mundo de turistas que vêm para cá, de 4% a 6% serão portadores de necessidades especiais, e são estes que, por sua própria limitação acabam gastando mais dentro do seu hotel.

 

*Luis Arthur Medeiros é Consultor e Diretor da Concierge Hotelaria – Contato: arthur@conciergehotelaria.com.br

 

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