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Hotelaria nacional em boas mãos

Acumulando um total de 13 cargos na hotelaria e turismo, Manoel Cardoso Linhares facilmente pode ser considerado um dos mais influentes empresários do segmento. Há 22 anos inaugurou seu hotel no estado do Ceará e desde então, investe dia após dia no setor, enfrentando as mudanças do mercado e se adaptando à concorrência apresentada pela própria evolução tecnológica.

O hoteleiro luta junto à ABIH – Associação Brasileira da Indústria Hoteleira e FBHA – Federação Brasileira de Hospedagem e Alimentação, entidades nas quais é hoje Vice-Presidente, a aprimorar a prática no setor.

Atualmente, os hotéis – principalmente independentes – enfrentam sites de reserva, plataformas de hospedagem online, impostos sobre serviços e escassez de linhas de crédito, dificultando cada vez mais a atuação saudável dos meios de hospedagem.

Nesta entrevista exclusiva, Linhares adianta como será receber o Conotel 2018 em Fortaleza, que volta a ser itinerante, e aponta as principais dificuldades do segmento para evolução e soluções para os gargalos, além de ações que já estão em prática para benefício da classe.

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Revista Hotéis – Você é um empresário bem sucedido no Ceará. Que ramos de atividades você investe?Revista Hotéis – Você é um empresário bem sucedido no Ceará. Que ramos de atividades você investe?

Manoel Linhares – Investimos nos ramos de hotelaria, construção civil, postos de combustível e imobiliário.

Revista Hotéis – Como e quando resolveu investir no segmento hoteleiro? Pretende expandir neste segmento?

Manoel Linhares – Por acreditarmos muito no setor hoteleiro e pela sua importância para a economia, resolvermos investir há 22 anos na criação do nosso hotel. O turismo sempre será a maior indústria geradora de emprego e recursos para todas as regiões de nosso país, por essa razão pretendemos expandir e investir continuamente no setor.

Revista Hotéis – Como você analisa a hotelaria de quando começou a investir e a dos dias atuais? Em sua opinião, o que mudou e o que isto impacta nos serviços prestados?

Manoel Linhares – A hotelaria da minha época de entrada no setor não difere muito do que temos hoje, pelo menos na parte de serviços disponíveis. Creio que as mudanças mais importantes foram a presença da tecnologia na comercialização, em alguns procedimentos que nos dias atuais podem ser feitos por máquinas na área de limpeza dos quartos e áreas comuns, lavagem de roupa, sistemas de faturamento e controles internos feitos por softwares e hardwares de ponta.

Outrossim, as formas de atendimento se multiplicaram em nichos da atuação, faixas de preços e objetivos de mercado. Ademais, as formas de aferição do nível de satisfação do hóspede atualmente podem ser de imediato conhecimento por parte do estabelecimento, através das redes sociais, internet e facebook.

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Revista Hotéis – Você é uma pessoa bastante articulada. Quais os cargos e entidades participa e o que isto agrega a sua pessoa?

Manoel Linhares

• Presidente do Sindihotéis Ceará
• Presidente do Rotary Club Fortaleza
• Vice-presidente da ABIH Nacional
• Vice-presidente da FBHA
• Diretor da ABIH Ceará
• Diretor do SKAL Nacional
• Diretor do SKAL Fortaleza
• Conselheiro do Fórum de Turismo e Conselho de Turismo de Fortaleza
• Membro do Conselho Empresarial de Turismo da CNC
• Membro do Conselho Regional do SESC Ceará
• Membro da Câmara Setorial da Cadeira Produtiva de Eventos do Ceará
• Membro do Conselho Municipal do Trabalho de Fortaleza
• Membro do Conselho Empresarial de Turismo e Hospitalidade da Fecomércio-CE

Fazer parte de todas essas entidades e conselhos é um desafio diário. Participar ativamente de todas elas, me traz experiência e conhecimento, além da sensação de estar fazendo a diferença e contribuindo para o turismo local e nacional. Trabalhar em prol do que acredito e com entusiasmo é o que me motiva diariamente.

“A falta de uma política pública setorial de estado para o turismo nos preocupa”

Revista Hotéis – Na sua opinião, quais são as principais dificuldades que a hotelaria nacional enfrenta hoje?

Manoel Linhares – A hotelaria como setor no mundo e no Brasil passa por transformações no terceiro milênio, que trarão desafios a serem enfrentados por hoteleiros de pequeno porte, assim como redes, principalmente nos grandes centros.

A concorrência dos sites de reservas para hospedagens familiares é um problema atual em quase todos os países, a percepção do cliente quanto ao sua expectativa de atendimento e consequentemente a possibilidade expressar sua satisfação ou não de imediato nas redes sociais, são situações inerentes à hospedagem deste século, que colocam em cheque grande parte dos conceitos e padrões existentes até então para o receptivo do hóspede.

Tecnologias que se apresentam e mudam rapidamente, investimentos intensivos em treinamento de mão de obra e familiarização com equipamentos novos, são processos que exigem uma fina percepção do segmento, para se manter a   frente da concorrência com vantagens comparativas.

No Brasil, os meios de hospedagem, sofrem para sua expansão e viabilização, da falta de linhas de financiamento adequadas ao perfil do negócio, qual seja, longo na amortização, sujeito a uma maturação comercial que passa por sazonalidades e fatores exógenos ao controle do proprietário, além de ser intensivo de capital na construção e montagem do imóvel.

Em nosso País, a maior parte destes recursos, pelo menos em áreas urbanas, tem vindo de incorporações imobiliárias, juntando interesses de construtoras, incorporadoras e empresas de gestão hoteleira.  O problema é que neste quadro recessivo, a pré venda ou comercialização a posteriori das unidades, caso seja esta a opção dos investidores, fica sujeita a segurança das projeções de retorno ao cliente potencial, face a custo do apartamento vendido e da rentabilidade que o negócio irá gerar, em comparação com outras opções de aporte para capitais existentes sem tanto risco.

Ademais, mesmo com legislações municipais permissivas, quantos a exigências para erguer apart, flats ou condo hotéis, o custo do terreno, o CUB de construção e o posterior mobiliário exigido (que pode variar na especificidade do contrato), somado a qualquer financiamento parcialmente tomado, nos juros atuais, exigem uma precisão rara de ser atingida nos dias de hoje, em quase todos os lugares, para esta taxa de rentabilidade.

Como as linhas de crédito subsidiado são escassas, demandam garantias e contrapartidas dos bancos repassadores exagerados e mesmo em fundos regionais, ficam às vezes sujeitas a critérios políticos de análise, enveredar neste setor hoje em dia, só com capital próprio na maior parte das vezes, muita segurança que o local escolhido, o target do empreendimento e a gestão eficiente garantam sucesso do negócio.do, o target do empreendimento e a gestão eficiente garantam sucesso do negócio.

Outro aspecto a considerar são os impostos que incidem nos serviços brasileiros, se bem que temos uma reforma tributária anunciada a caminho, extremamente necessária, tanto para nos livrar da burocracia quanto da incidência percentual exagerada, mas enquanto isto o quadro atual não é animador.

A maior parte dos meios de hospedagem brasileiros são pequenas e micro empresas, grande parte delas irregulares em algum aspecto (certidões operacionais, licenciamento ambiental, alvarás, falta do Cadastur), porém mesmo assim, IPTU, ISS, licenças diversas e taxas variadas , comprometem o resultado.

Quando passamos para lucro real ou presumido, PIS, COFINS e IR, além de ICMS, desestimulam qualquer empreendedor, isto quando ainda temos lucro, pois na atualidade, raras são as operações rentáveis. A reforma trabalhista, com certeza trará algum alívio nos custos de mão de obra, dado que contamos também com a nova lei da terceirização.

Mas o que mais preocupa é a falta de uma política pública setorial de estado para o turismo, que atraia capitais estrangeiros para nossa área, que facilite a vinda de parques temáticos internacionais, que adeque e module a exigência constitucional da reciprocidade na concessão de vistos de entrada para turistas estrangeiros de grandes centros emissores.

No Congresso temos que pressionar nossos parlamentares para liberar os cassinos, permitir 100 % de capital estrangeiro em nossa aéreas, promulgar o projeto de lei de transforma a Embratur numa agencia de fomento e divulgação par atrair visitantes do exterior , modernizar a Lei Geral do Turismo e sancionar uma legislação que facilite a implantação de áreas em nosso litoral de clusters turísticos com Cancun no México.

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Revista Hotéis – Qual a posição da ABIH Nacional em relação as OTA´s e sites de reservas como o Airbnb? Existe competição desleal com a hotelaria instalada? Como resolver a questão?

Manoel Linhares – Nós reconhecemos a grande importância das Agências de Vendas Online (OTA’s) na democratização comercial do setor hoteleiro, uma vez que possibilita a livre concorrência entre os pequenos hotéis dos locais mais distantes do nosso país com os grandes empreendimentos das capitais e até mesmo com as redes.

Portanto, esta parceria entre as OTA’s e a hotelaria nacional precisa ser cada vez mais forte, transparente e fiel. Porém, ainda existem poucas empresas grandes neste setor participando desse convênio, o que dificulta a livre negociação de cada um dos pequenos  empreendimentos hoteleiros com estas poucas empresas multinacionais.

O setor hoteleiro defende que seja estabelecido um limite máximo de comissionamento para evitar possibilidade de abuso do poder econômico, com aumento de cobrança de porcentagem por parte de algumas empresas e, por isso, também defende a regulamentação geral dessa prática.

Para se ter uma ideia do tamanho do problema, uma das principais plataformas internacionais de vendas de hospedagem online, o Airbnb, reconhece um faturamento de dois bilhões de reais, com a venda de pernoites em apartamentos residenciais no país, em apenas um ano.

Quando a plataforma pagar todos os tributos que a hotelaria brasileira é obrigada a  recolher, o valor arrecadado poderia chegar a cerca de 800 milhões de reais, sendo destes, 100 milhões de ISS.

Todos perdem, não só a hotelaria nacional, mas os municípios, estados e a união que deixam de arrecadar milhões em impostos, que poderiam representar investimentos para a cadeia do turismo, que não inclui apenas os estabelecimentos hoteleiros, mas diversos serviços que geram emprego e renda no país, além da própria divulgação internacional do Brasil por intermédio da EMBRATUR.

O Brasil não está na contra mão de uma tendência. Hoje, o mundo todo, mesmo já recebendo parte dos tributos, diferente do Brasil, questiona a atuação dessas plataformas, pois elas claramente burlam as legislações em praticamente todos os países que atuam, já que não existe locação imobiliária por uma noite, serviço típico prestado pela hotelaria, destinado ao mercado de turismo.

Além dessa questão, ainda é preciso destacar que os locais que recebem os turistas através da plataforma não são cadastrados no CADASTUR, do Governo Federal, não têm alvará municipal e nem sofrem qualquer fiscalização das prefeituras, nem dos órgãos de segurança pública.O Brasil não está na contra mão de uma tendência.

Hoje, o mundo todo, mesmo já recebendo parte dos tributos, diferente do Brasil, questiona a atuação dessas plataformas, pois elas claramente burlam as legislações em praticamente todos os países que atuam, já que não existe locação imobiliária por uma noite, serviço típico prestado pela hotelaria, destinado ao mercado de turismo.

Além dessa questão, ainda é preciso destacar que os locais que recebem os turistas através da plataforma não são cadastrados no CADASTUR, do Governo Federal, não têm alvará municipal e nem sofrem qualquer fiscalização das prefeituras, nem dos órgãos de segurança pública.

Chamamos atenção ainda do Conselho de Corretores de Imóveis (CRECI) que precisa se posicionar a respeito do assunto, pois é sua função intermediar o serviço de locação imobiliária de residências, caso fossem verdadeiros e leais, os argumentos apresentados pela plataforma.

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Revista Hotéis – Como a reforma trabalhista que foi aprovada recentemente no Congresso pode beneficiar o setor hoteleiro?

Manoel Linhares – A reforma trabalhista permitirá um grande avanço nas relações capital / trabalho no Brasil, especialmente em nosso setor, dado a desoneração das formas de contratação, do trabalho intermitente, das flexibilidades permitidas doravante nos contatos em especial a horas extras e suas compensações, férias, intervalos de refeições, horas de jornadas, etc.

Hotelaria é sazonal ao extremo, lida com eventos, banquetes, festas e congressos, exigindo mão de obra temporária, sem necessidade de vínculo permanente, que também interessa ao trabalhador, dado que este quer ter mais liberdade para se comprometer com serviços que mais lhe remuneram.

Com a terceirização e a lei das gorjetas trazem um novo patamar, para o convívio com nossos colaboradores, aonde inclusive os sindicatos patronais   e laborais terão um papel decisivo para o sucesso deste período de adaptação.

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Desbravador

Revista Hotéis – Além da conquista da flexibilização da mão de obra na reforma trabalhista, quais são os demais pleitos que a hotelaria faz junto as autoridades públicas?

Manoel Linhares – A regulação das agências de viagem on-line é um ponto importante. Outra questão é o pagamento de direitos autorais dentro dos apartamentos das unidades hoteleiras que é uma discussão de muitos anos, mas que já está absolutamente demonstrada a injustiça da tentativa desta cobrança, uma vez que o apartamento hoteleiro locado se iguala juridicamente a uma residência, além da impossibilidade de checagem se existe ou não uso de tal obra intelectual.

A ABIH Nacional defende que parte dos recursos arrecadados através das atividades das plataformas internacionais de venda room nights em unidades residenciais, sejam utilizados para se promover a isonomia tributária do setor, sendo revertidos para fortalecer os investimentos em divulgação da própria imagem do país.

Com isto, estaremos restabelecendo a paridade tributária entre todas as atividades de hospedaria, reduzindo a carga tributária da hotelaria regulamentada para o mesmo nível que será cobrado destas plataformas internacionais, além de direcionarmos parte de toda esta arrecadação para o fortalecimento da imagem do país e divulgação dos seus maravilhosos destinos e o crescimento da economia pelo segmento do turismo que beneficiará a todos.

Também não concordamos com o anunciado aumento da alíquota da unificação do sistema da incidência de PIS/Confins em serviços sobre  lucro real e presumido, somos contra a reoneração da folha de pagamento pelo retorno da contribuição da parte patronal do 20 % da incidência previdenciária ao invés dos atuais 4.5 % sobre o faturamento.

Queremos a criação de uma faixa para hotelaria mais baixa, na sistemática de cobrança da energia fornecida por concessionárias, queremos a edição de uma instrução normativa de Receita Federal, para ratificar a não incidência de nenhum imposto nas taxas de serviço arrecadadas, para repasse aos nosso corpo funcional, gostaríamos de que os investimentos em aprimoramento de nosso quadro de funcionários com cursos de formação profissional pudessem ser abatidos direto no IR das empresas.

“Vamos mudar o hábito das pessoas que só vão ao hotel quando necessitam de quarto”

Revista Hotéis – Fortaleza será a sede do CONOTEL no próximo ano. O que está sendo preparado para este evento que voltou a ser itinerante?

Manoel Linhares – Um dos acontecimentos mais importantes do setor de hotelaria, turismo e hospedagem é o Congresso Nacional de Hotéis – Conotel, que comemora o ano que vem 60 edições, com o tema “Brasil, a retomada do crescimento hoteleiro”.

O evento, que volta a ser itinerante, acontece em Fortaleza, e a pauta incluirá, certamente, todos os temas pelos quais estamos lutando no Congresso Nacional, além de temas técnicos ligados a todos setores hoteleiros. Também ampliaremos, através de uma parceria com a Equipotel, a programação com uma feira de produtos e equipamentos voltados, não só para hospedagem, mas também para a gastronomia.

Além disso, em Fortaleza, durante os três dias do Conotel 2018, que acontece entre 16 e 18 de maio, todo dia será dia do Hoteleiro. Mostraremos aos congressistas e convidados o bem receber tão característico do destino com uma programação social para lá de especial.

Revista Hotéis – Você é um nome praticamente certo para comandar a ABIH Nacional a partir do próximo ano. Como e quando será apresentação das chapas, como se dará a eleição e uma vez empossado, será o primeiro cearense a comandar esta entidade máxima do setor hoteleiro com 81 anos de atividades. Quais são seus planos frente a entidade?

Manoel Linhares – Vou seguir as diretrizes apontadas pela atual gestão de Dilson Jathy Fonseca Jr., atual presidente da ABIH Nacional e juntamente com as ABIH´s estaduais, através do associativismo, trabalhar para trocar informações e experiências e defender constantemente o setor.

Nas últimas décadas, o setor de hotelaria vem resistindo a delicadas fases econômicas e políticas. Agora, nesse momento em que o País atravessa mais um período difícil, a ABIH Nacional atuará com força e determinação para defender os interesses dos empresários, seja no âmbito do executivo, legislativo ou judiciário, em níveis municipais, estaduais e federal.

Quando olhamos pra trás, percebemos o quanto caminhamos. Mas, o importante agora, além de reconhecer todo o trabalho que já foi feito, é perceber que os desafios não param e que ainda temos um longo caminho a percorrer na defesa dos interesses do setor.

Revista Hotéis – No que a ABIH Nacional e Federação Brasileira de Hospedagem e Alimentação – FBHA podem atuar em conjunto?

Manoel Linhares – Em vários níveis, por exemplo, no aspecto político em Brasília nas casas congressuais e no executivo federal, atuamos em conjunto para defesa da categoria tanto em aspecto propositivo quanto em matérias que nos prejudicam, a fim de nos opormos as mesmas, ressalto por exemplo a tentativa de se promulgar um projeto de lei que libere a chamada multipropriedade de empreendimentos hoteleiros, nos quais apartamentos comercializados na forma de condo hotéis ou flats, não tenham mais do que um proprietário por unidade.

Isto seria um absurdo, dado que, sistemas como estes são fundos imobiliários já regulamentados pela CVM. Por último somos contra qualquer alteração na política para estes lançamentos imobiliários, por parte da Comissão de Valores Imobiliários em face da troca da presidência daquela entidade.

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