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Hotelaria baiana passa por profundas mudanças, mas mantém o axé

A Bahia era um dos estados que mais promovia o turismo no Brasil, mas em razão de uma política pública equivocada, de não priorizar o setor, e com o fechamento do centro de convenções, houve perdas irreparáveis, principalmente na capital. E para agravar a situação, o hub da companhia aérea Gol passou para Fortaleza e o da Azul foi para o Recife, a malha aérea diminuiu e isso teve um impacto. Nos últimos quatro anos, Salvador perdeu 22 meios de hospedagens. E um deles, um ícone de hospedagem, o Bahia Othon Palace fechou as portas no dia 18 de novembro.

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Mesmo com essas dificuldades, o setor hoteleiro está reagindo, pois a taxa de ocupação média está em 61,29%, resultado superior ao observado no mesmo período do ano anterior (54,44%), mas o valor médio da diária nesse período permaneceu estável em R$ 228,71. E, como a hotelaria baiana está superando essas adversidades, agravadas pelo atual momento da situação política econômica do País, você confere nessa entrevista exclusiva com o hoteleiro e Presidente da ABIH/BA – Associação Brasileira da Indústria de Hotéis da Bahia, Glicério Lemos.

Revista Hotéis – A cidade de Salvador perdeu 22 empreendimentos hoteleiros nos últimos anos. Quais os motivos que levaram a essa situação?

Glicério Lemos – Os motivos são diversos, dentre eles, a falta do Centro de Convenções, crise econômica do País, aeroporto com pouca malha aérea e em reforma há anos e falta de investimento em marketing publicitário para público final.  Isso ocasionou, nos últimos quatro anos, a perda de 22 empreendimentos hoteleiros na Bahia, sendo eles:  Hotel Jaguaribe Praia, Hotel Cores do Mar, Hotel Patamares (Patamares Praia Hotel), Pousada Bayona, Porto Farol Apart Hotel, Itapoan Praia Hotel,  Hotel Atlântico, Belmar Hotel, Pestana Bahia Hotel,  Tulip Inn Centro de Convenções, Marina Riverside Hotel, Hotel Litorâneo, Pousada Lagoa Praia , Solar Diana, Hotel Pelourinho,  Hotel Corsário, Salvador Praia Hotel, Hostel Patuá, Vila Giuliana, Pousada Red Fish, Albergue do Porto e Othon Palace Hotel.

O Bahia Othon Palace está localizado em Ondina, um dos principais pontos turísticos da capital baiana – Foto – Divulgação

R.H – O hotel Bahia Othon Palace encerrou as operações no dia 18 de novembro. Como foi recebido essa notícia pela indústria hoteleira da Bahia? E quais os impactos que isso terá para Salvador?

G.L – O fechamento do Othon Palace foi uma decisão da rede, pontual em Belo Horizonte e Salvador, sendo uma surpresa desagradável não só para o turismo como para a ABIH / BA – Associação Brasileira da Indústria de Hotéis da Bahia, porque a taxa de ocupação hoteleira vem crescendo desde de julho de 2017. Com o fechamento do Othon teremos um prejuízo grande para toda a cadeia do turismo, com a demissão de 240 funcionários. A ABIH /BA tentará relocar todos estes funcionários em outros hotéis, para evitar um impacto ainda maior na economia do Estado e no número de desempregados.

O fechamento do Centro de Convenções da Bahia ocasionou muitos transtornos ao turismo baiano – Foto – extraída do Google Maps

R.H – O centro de convenções do Bahia Othon Palace tem capacidade para até três mil pessoas. Isso dificulta ainda mais atrair eventos para a capital baiana que não conta com o Centro de Convenções da Bahia?

G.L – Realmente a cidade vai encontrar uma dificuldade de um espaço tão significativo, que tinha capacidade para receber três mil pessoas. Agora os congressistas vão se dirigir para outros hotéis que também possuem Centro de Convenções, no Farol da Barra, Ondina e Rio Vermelho.

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R.H – Qual a importância do turismo corporativo para Salvador e como vocês estão se mobilizando para a construção do novo centro de convenções?

G.L – O prefeito de Salvador atendeu a um pedido da ABIH-BA para a construção do novo Centro de Convenções, no mesmo bairro onde existia o antigo (Boca do Rio) e, prontamente, foi aceito. Foi feito o projeto, a escolha da área, os recursos estão garantidos, já alocados no orçamento do município de Salvador, não restando mais nenhuma dúvida de que se tornará realidade. Acreditamos tanto que conseguimos trazer em 2020 para a capital baiana, o maior congresso da indústria hoteleira, o CONOTEL – Congresso Nacional de Hotelaria, que será realizado no novo Centro de Convenções de Salvador em conjunto com a comemoração dos 50 anos da ABIH.  Este equipamento é de alta relevância para a cidade de Salvador e não podemos abrir mão, o Centro de Convenções é a cereja do bolo e a sua inauguração trará eventos nacionais e internacionais para a capital baiana, movimentando a economia e gerando emprego e renda.

“Agora os congressistas vão se dirigir para outros hotéis que também possuem Centro de Convenções, no Farol da Barra, Ondina e Rio Vermelho”

 

R.H – Antigamente, a Bahia era um estado modelo para atrair investimentos hoteleiros e, consequentemente, turistas, mas nos últimos anos a Bahia tem perdido espaço para outros estados. Na sua opinião, por que essa mudança está ocorrendo?

G.L – Foi uma política adotada pelo atual Governo do Estado da Bahia em não priorizar o turismo, por não ter olhos para enxergar a economia do turismo, que alavanca 53 setores da economia.  Desde que o Centro de Convenções da Bahia teve suas atividades interrompidas, Salvador perdeu muito com o turismo. Salvador perdeu a sua grande malha aérea porque o Governo não quis reduzir alíquota do querosene da aviação, causando a saída do hub da Gol, que foi para Fortaleza, onde está ocorrendo um grande aumento de voos nacionais e internacionais, como também perdemos o hub da Azul para Recife, aumentando também o número de voos nacionais e internacionais, causando um grande prejuízo para a economia da Bahia.

Mata de São João, litoral norte da Bahia – Foto: Divulgação

R.H – Alguns especialistas afirmam que os hotéis do Litoral Norte baiano são grandes concorrentes para os turistas que viajam à Bahia, mas não permanecem em Salvador e isso impacta na taxa de ocupação, o que faz com que alguns empreendimentos tenham que diminuir tarifas para serem competitivos. Isso realmente ocorre? Qual sua opinião a respeito?

G.L – São dois segmentos diferentes de hotelaria, são públicos distintos na qual a concorrência é pouca.  Há alguns anos, Salvador perdeu muito em função de não ter modernizado a sua infraestrutura e, hoje, Salvador é uma cidade requalificada, com grande infraestrutura, temos o metrô, novas praças, novos museus, está em construção o BRT, enfim, uma cidade desenvolvida para os soteropolitanos e turistas. A diminuição da tarifa se deve pela falta do Centro de Convenções e a diminuição da malha aérea, que culminou juntamente com a crise econômica que o Brasil atravessa, o que foi uma infeliz coincidência em reunir tantos aspectos negativos. Mas, hoje estamos retomando o crescimento da taxa de ocupação hoteleira, que teve início em julho de 2017 e até hoje só tivemos um número crescente na taxa de ocupação e só faltando recuperar a diária média, que neste momento se encontra estável.

“Alguns especialistas afirmam que os hotéis do Litoral Norte baiano são grandes concorrentes para os turistas que viajam à Bahia”

 

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R.H – Qual a taxa de ocupação acumulada nos últimos meses dos hotéis associados a ABIH/BA? A diária média está de acordo com a rentabilidade necessária ou falta melhorar muito?

G.L – De janeiro a setembro de 2018 tivemos uma taxa de ocupação média de 61,29%, resultado superior ao observado no mesmo período do ano anterior (54,44%), com um crescimento neste período de 12,58%. O valor médio da diária no período permaneceu estável (R$ 228,71 em 2018 e R$ 228,71 em 2017) enquanto o Revpar cresceu 12,59%, passando de R$ 140,18, em 2018, contra R$ 124,51, em 2017. Os resultados revelam que estamos mantendo a tendência de crescimento. Contribuiu para esse desempenho a intensificação do trabalho que a ABIH/BA vem desenvolvendo desde 2016, em divulgar o Destino Salvador, nos principais mercados emissores da América Latina. Realizamos o Road Show promovendo capacitação, blitz e palestra com os principais agentes e operadores de viagens de diversas regiões. Realizamos também a Rodada de Negócios que reuniu diversos empreendimentos hoteleiros, empresas de receptivo, bares e restaurantes, operadores de turismo do Brasil e América Latina, para promover reuniões de negócios e alavancar o turismo local. O Fam Show para operadores de viagem e FAM Show de agentes de viagem, com o intuito de fortalecer ainda mais o turismo de Salvador, com passeios e visitas aos principais pontos turísticos da capital baiana. Todo este trabalho tem contribuído com este resultado expressivo.

Com o final do 3° trimestre, o ano de 2018 está se consolidando para ter as melhores taxas de ocupação dos últimos cinco anos. Para o verão, a tendência é a de termos uma taxa de ocupação de 90 a 92% e esperamos para o Réveillon uma taxa de ocupação de 100%.

“Salvador foi uma das cidades sedes dos jogos da Copa do Mundo, e isso resultou em um marketing do Destino Salvador com turistas estrangeiros e locais”

R.H – Na sua opinião, qual foi o legado que a Copa do Mundo de 2014 deixou para a hotelaria de Salvador? Quantos hotéis foram construídos? Isso teve impacto nos que fecharam ou na taxa de ocupação e diária média?

A hotelaria de Salvador vive um momento de mudanças Foto: Divulgação – Salvador Destination

G.L – Salvador foi uma das cidades sedes dos jogos da Copa do Mundo, e isso resultou em um marketing do Destino Salvador com turistas estrangeiros e locais. 10 novos hotéis foram construídos na época e o pós Copa do Mundo não foi o motivo do fechamento hotéis, o que ocorreu foi o fechamento do Cento de Convenções e a falta de investimento do Governo do Estado em publicidade dirigida ao público final, juntamente com a crise econômica do país, resultando no fechamento de alguns hotéis.

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R.H – Quais são os principais gargalos existentes na hotelaria baiana? E como resolvê-los?

G.L – Os dois grandes gargalos da hotelaria baiana são: a falta do Centro de Convenções, do turismo de negócios para Salvador e a falta de investimento do Governo do Estado da Bahia no setor do turismo para atrair hub de empresas aéreas baixando o querosene da aviação e investimento em publicidade ao público final. O aeroporto que era o grande problema, foi privatizado e está com a obra em ritmo acelerado para a sua recuperação.

“Os dois grandes gargalos da hotelaria baiana são: a falta do Centro de Convenções, do turismo de negócios para Salvador e a falta de investimento do Governo do Estado da Bahia”

R.H – Como você enxerga a hotelaria baiana nos próximos anos?

G.L – A ABIH/BA e a SECULT – Secretaria Municipal de Cultura e Turismo tem investido na capacitação de operadores e agentes de viagem e na divulgação do destino turístico Salvador em diversos países da América Latina, com o projeto Road Show. Desde a sua implementação em 2016, o Road Show já capacitou mais de 3.500 operadores e agentes de viagem e percorreu 20 em cidades brasileiras e estrangeiras. O que tem ajudado na recuperação do fluxo de turistas na capital baiana.  Este ano, já visitamos Belo Horizonte, Rio de Janeiro, Santiago, no Chile, Montevideo, no Uruguai, Buenos Aires, Córdoba e Rosário, na Argentina e Brasília e, até o fim do ano, vamos percorrer mais oito cidades. Outro fato que tem contribuído com o turismo na capital baiana é a novela Segundo o Sol, da rede Globo, que se passa em Salvador. Acredito que para os próximos anos com a finalização da obra do novo Centro de Convenções, em setembro de 2019, com a ampliação da requalificação dos pontos turísticos da cidade e também com a renovação do aeroporto com a nova operadora Vinci, teremos uma recuperação de toda a cadeia do turismo.

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Edgar J. Oliveira

Diretor editorial - Possui 31 anos de formação em jornalismo e já trabalhou em grandes empresas nacionais em diferentes setores da comunicação como: rádio, assessoria de imprensa, agência de publicidade e já foi Editor chefe de várias mídias como: jornal de bairro, revista voltada a construção, a telecomunicações, concessões rodoviárias, logística e atualmente na hotelaria.
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