Entrevista

Entrevista com Enrico Torquato Fermi- Presidente da ABIH Nacional

Recentemente o Ministério do Turismo anunciou que irá monitorar o preço das diárias hoteleiras para evitar preços abusivos durante a Copa das Confederações. O Presidente da ABIH — Associação Brasileira da Indústria de Hotéis, Enrico Torquato Fermi, afirma que esta medida é equivocada, pois em seu ponto de vista, a hotelaria brasileira está muito consciente do papel a ser desenvolvido, diante dos grandes eventos mundiais que ocorrerão no nosso País, e não vão desperdiçar esta oportunidade.

 

Este é um dos temas tratados nesta entrevista exclusiva com o Presidente Fermi que se mostra preocupado com a qualificação da mão de obra hoteleira, pois o PRONATEC, que é o Programa de Qualificação de Mão de Obra do Governo Federal, ainda não chegou nos diversos segmentos do setor turístico e o tempo está encurtando.

 

Fermi destaca também nesta entrevista as conquistas em conjunto com as entidades co-irmãs da hotelaria, os pleitos do setor e os legados que a Copa do Mundo de Futebol de 2014 deixará para o Brasil. Confira nesta entrevista exclusiva.

 

Revista Hotéis — O Ministro do Turismo, Gastão Vieira, anunciou recentemente que o governo irá monitorar o comportamento das diárias de hotéis para evitar preços abusivos durante a Copa das Confederações, em junho. Como você analisa esta questão? Existem realmente excessos ou isto é uma interferência descabida que o Governo Federal quer fazer no setor? E onde fica a livre concorrência?

 

Enrico Torquato Fermi — Existe uma preocupação por parte do governo e também de todo setor hoteleiro, que o Brasil não fique com a fama de destino caro. Foi divulgada pela EMBRATUR uma pesquisa, da qual não concordamos com a metodologia utilizada, totalmente equivocada, que causou alguns transtornos sobre o tema. No entanto, assumimos um compromisso com o MTur, através de um documento assinado por todas as associações do setor e entregue ao ministro Gastão Vieira, de fazermos um trabalho em conjunto para coibirmos alguns casos pontuais de preços excessivos, que por ventura venha existir. A hotelaria brasileira está muito consciente do papel a ser desenvolvido, diante os grandes eventos mundiais que ocorrerão no nosso País, e não desperdiçaremos esta oportunidade.

 

Revista Hotéis — Como você analisa as negociações que foram feitas entre os representantes da FIFA com os hotéis em relação aos preços das diárias, pois alguns hoteleiros não aderiram alegando que houve uma forte pressão na negociação por uma tarifa bem reduzida.

 

Enrico Torquato Fermi  — Desde 2007, quando o Brasil foi escolhido País sede da Copa do Mundo de 2014, que a MATCH chegou ao Brasil e assinou pré-contratos com toda a hotelaria das 19 cidades que pleiteavam ser cidade sede. Existem regras muito duras nestes contratos, que a maioria da hotelaria brasileira aceitou, visando contribuir para o sucesso do evento e respeitando a experiência da MATCH, na condução deste processo, nas últimas quatro Copas do Mundo. Entretanto existem alguns poucos hotéis que não aderiram ao contrato e cabe a nós, respeitar o direito da livre negociação.

 

Revista Hotéis — O Ministério do Turismo diz que poderá criar uma comissão permanente na Câmara para analisar projetos de lei específicos da área de turismo. Até que ponto isto poderá ser benéfico para o setor hoteleiro?

 

Enrico Torquato Fermi  — Hoje, existe na Câmara Federal a CTD, que é a Comissão de Turismo e Desportos. Criar uma comissão só de turismo, foi um pleito que o Ministro Gastão Vieira levou ao presidente da casa, Deputado Henrique Alves e mostra a importância que está sendo dada ao setor, por parte do executivo e do legislativo. Em função do crescimento econômico do  turismo no País e da crescente participação no PIB brasileiro, temos que ser tratado com mais atenção e uma comissão de turismo, aceleraria a formação de projetos de interesse do setor e contribuiria para o desenvolvimento do Brasil.

 

Revista Hotéis — Recentemente houve por parte do Governo Federal uma desoneração na folha de pagamento e no custo de energia elétrica. Qual o impacto que esta medida trouxe para o setor e o que esta economia poderá proporcionar aos meios de hospedagens?

 

Enrico Torquato Fermi — A inserção do setor hoteleiro no primeiro momento do plano “Brasil Maior”, foi uma vitória nossa e a união de nossas instituições (ABIH, FBHA, FOHB e RESORTS BRASIL), foi de grande importância para que pudéssemos ter êxito. O plano foi elaborado visando, unicamente, desonerar  a indústria hoteleira brasileira. A atuação do Ministério do Turismo, através do seu Secretário executivo Valdir Simão e do Ministério da Fazenda, através do secretário de políticas economicas, Márcio Roland, propriciaram  que grande parte da hotelaria brasileira fosse contemplada pelo plano. Estimamos uma economia em torno de R$500 milhões ao ano e que contribui para deixar o setor mais competitivo.

 

Revista Hotéis — Quais os próximos pleitos que a ABIH reinvidica para o setor?

 

Enrico Torquato Fermi  — A nossa grande preocupação, ainda continua sendo a capacitação de nossa mão de obra, pois o PRONATEC não chegou nos diversos segmentos do setor turístico e o tempo está encurtando. O Ministro Gastão Vieira disse ter pura convicção de que não conseguirá atingir as metas do programa de qualificação, se não contar com as entidades do setor. Foi externado por ele, na última reunião do Conselho Nacional de Turismo. O principal objetivo é qualificar o profissional que está trabalhando e que, em função do rápido crescimento do turismo no País, não teve condições de se aprimorar. Temos que capacita-lo dentro da própria empresa,pois a experiência nos mostra que o profissional não se desloca para uma escola, depois de uma jornada de trabalho. Daí a importância das empresas,que abrirão mão de horas de trabalho deste profissional para que ele estude no seu ambiente de trabalho. Esta é nossa contrapartida.

 

Revista Hotéis — Em vários entrevistas do Ministro do Turismo e de seus assessores eles sempre destacam que a hotelaria não é uma atividade periférica do turismo, mas sim central e considerada o pilar do segmento. Se eles realmente possuem esta visão na teoria, porque na prática a hotelaria não recebe o devido reconhecimento. Na sua opinião o que falta é vontade política, recursos ou maior pressão do setor?

 

Enrico Torquato Fermi — Eu tenho dito que o setor turístico no Brasil, quando comparado aos setores do comércio e da indústria, é um bebê e está, apenas, engatinhando. O comércio e a indústria tem mais de 100 anos de organização, enquanto o nosso setor veio ter uma importância, como atividade econômica, nos últimos 15 anos. O próprio Ministério do Turismo só existe há 11 anos e sua estrutura ainda é muito frágil. Nos falta dados, números para mostrar nossa pujança e a maioria do orçamento do Ministério do Turismo vem de emendas parlamentares.

 

O Ministro Gastão Vieira tem feito um grande esforço, para mostrar ao governo a nossa importância econômica e o quanto podemos contribuir para o crescimento do País de uma forma sustentável, empregando mais brasileiros ajudando a diminuir as desigualdades sociais, fazendo mais investimentos e respeitando o meio ambiente.

 

Tivemos com a ministra Gleisi Hoffmann em 2012, por duas oportunidades. Mostramos a ela as nossas preocupações em diminuir os gargalos que impedem o crescimento do setor e ela nós garantiu que iria se empenhar para solucioná-los. Avançamos, mais ainda temos uma grande estrada à caminhar. O orçamento do Ministério do Turismo é muito pequeno e ainda sofre cortes todos os anos. Precisamos clarear regras, que contribuam para a atração de mais investimentos, temos que avançar na questão da desoneração.

 

O setor está unido, organizado e continuará cobrando os avanços por parte do governo e se colocando a disposição, para contribuir no que for necessário. Novas conquistas virão.

 

Revista Hotéis —  O SBClass – Sistema Brasileiro de Classificação hoteleira ainda é muito incipiente e poucos hotéis aderiram. Na sua opinião o que está errado, existe excesso de burocracia, um custo elevado e como equacionar esta questão?

 

Enrico Torquato Fermi  — Participamos ativamente da nova matriz de classificação hoteleira, denominada de SBClass. Há pouco mais de quatro meses é que ficou pronto todo o processo interno no Ministério do Turismo. Diferente da matriz anterior, esta é bastante acessível no que diz respeito a burocracia e a custo. Antes, se cobrava em torno de R$ 80 mil para conseguir se classificar e tinha uma burocracia excessiva e isto terminou criando e disseminando, junto a hotelaria brasileira uma barreira para que o hotel pudesse se classificar. Estou neste segmento há 23 anos e nunca teve um hotel classificado, mas vou aderir ao SBClass.

 

Essa classificação vem atender a hotelaria independente, ou seja, aos hotéis que não pertencem a redes hoteleiras, que vêm a ser 93% da hotelaria brasileira. As redes já têm uma classificação própria.  Estamos fazendo reuniões nas cidades sedes da “Copa das Confederações”, juntamente com o Ministério do Turismo, apresentando todos os projetos que estão a disposição do setor, tais como a FNRH— Ficha Nacional de Registro de Hóspede eletrônica, CADASTUR e o próprio SBClass e a hotelaria está verificando a importância de aderir aos projetos e contribuir para consolidar e fortalecer os nossos dados.

 

Revista Hotéis —  Como você analisa os recursos que os governos, bancos oficiais ou mesmos particulares disponibilizam para a modernização e ampliação do setor hoteleiro no Brasil? Eles são suficientes, fáceis de conseguir ou os investimentos ficam por conta da iniciativa privada?

 

Enrico Torquato Fermi  — As linhas de créditos existentes são várias, porém inacessíveis. Os bancos oficiais exigem 130% de garantias reais, ou seja, a empresa tem que apresentar escrituras de imóveis que equivalam a 130% do valor solicitado. Com esta solicitação os bancos deveriam extinguir os setores de análise e de fiscalização, pois perderam suas funções diante de tamanha exigência.

 

O BNDES — Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social, de social não tem mais nada. Os fundos constitucionais — FNO, FCO e FNE — que foram criados na constituição de 88, visando alavancar o desenvolvimento nas regiões Norte, Centro Oeste e Nordeste, e ajudando o crescimento destas áreas evitando o deslocamento de sua população para o Sudeste e Sul do País, também perderam a sua função, pois aplicam as mesmas exigências absurdas e são burocraticamente excessivos.

 

A Presidente Dilma tem que intervir fortemente neste setor, tirando os bancos desta zona de conforto, sob pena de parar o desenvolvimento de vários pólos turísticos no País. A hotelaria de pequeno porte (até 50 apartamentos) é quem alavanca novos destinos e não tem acesso às linhas de crédito existentes, pelos motivos expostos acima. As redes hoteleiras só chegam quando o destino está consolidado, contribuindo com a melhoria da mão de obra local e com o aumento da arrecadação tributária.

 

Com este panorama, os bancos oficiais estão na contra mão de todas as políticas sociais e de desenvolvimento do Governo Federal, deixando de contribuir com a geração de novos empregos, consequentemente com a diminuição da pobreza do nosso País e de freiar o desenvolvimento regional em um País de dimensão continental.

 

Revista Hotéis — Você acredita que a hotelaria brasileira vai estar devidamente preparada  para receber os grandes eventos que o Brasil irá sediar nos próximos anos? 

 

Enrico Torquato Fermi  — O Brasil tem uma hotelaria muito jovem, ou seja, a grande maioria dos equipamentos hoteleiros do País foi construído nos últimos 20 anos. Cumpriremos muito bem a nossa parte neste processo, contribuindo para o sucesso de nosso País.

 

Revista Hotéis —  Quais os legados que estes grandes eventos que o Brasil irá sediar nos próximos anos poderá deixar para o segmento hoteleiro?

 

Enrico Torquato Fermi  — A hotelaria brasileira visualiza três grandes legados. A visibilidade internacional que estamos tendo, jamais conseguiriamos somente com o orçamento da EMBRATUR. As obras de infraestrutura, principalmente nas 12 cidades sedes e a qualificação da nossa mão de obra.

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