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Alta constante no sebo bovino tem forte impacto nos preços dos sabonetes

Além de ser uma arma primária no combate a pandemia da COVID-19, o sabonete é um item essencial na hotelaria que terá que absorver aumentos de até 63% em que sua maioria é provocado pela JBS que monopoliza o setor

O segmento hoteleiro sofreu um forte impacto provocado pela pandemia da COVID-19 e inevitavelmente muitos meios de hospedagens que suspenderam as operações em razão da pandemia, não vão conseguir retomar as operações. Mesmo com as medidas adotadas pelo Governo, o desemprego no setor será inevitável e as linhas de crédito estarão cada vez mais escassas e servirão de moeda de troca para os bancos cumprirem cotas na venda de plano de saúde, seguro, consórcio, entre outros penduricalhos.

Os meios de hospedagens que retomaram as operações devem obedecer a rigorosos protocolos de segurança sanitária, mas isso impacta em investir em produtos e equipamentos na proteção dos colaboradores e hóspedes como uso de máscaras faciais, álcool gel, higienização e limpeza e uso de tecnologia para evitar contato humano. Esse custo extra terá que ser absorvido pelos hotéis, pois dificilmente vão conseguir repassar na tarifa, ao contrário, ela terá que ser muito competitiva para voltar a atrair os hóspedes. E um aumento que será inevitável dos hotéis absorverem, será na aquisição de sabonetes.

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Sebo bovino é o vilão?

E uma das explicações desse aumento de preço do sabonete está na alta do sebo bovino que é o principal insumo na fabricação da massa base do sabonete. Os aumentos estão desenfreados e em alguns casos, chegaram a 63% desde o início desse ano. E os fabricantes de sabonetes não terão como absorver esse aumento, tendo em vista que outros insumos, como a embalagem também está tendo aumentos constantes. E esse é o cenário que se apresenta para a hotelaria nos próximos meses. O preço do sabonete estará atrelado ao preço do boi gordo que é negociado na bolsa de compras futuras, que tem cotação em dólar e que vai depender do preço em vigor do diesel. Essa história parece meio complexa de quem estiver comprando o sabonete na hotelaria, mas vamos aos fatos e voltar ao ano de 1990.

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Nessa época, o governo brasileiro lançou projetos destinados à pesquisa do biodiesel para acompanhar o movimento mundial em curso por combustíveis limpos e renováveis. Mas somente em dezembro de 2004 com o lançamento do PNPB – Programa Nacional de Produção e Uso do Biodiesel que o setor avançou significativamente, tornando-se um valioso instrumento de geração de riqueza e inclusão social. O objetivo inicial era o uso de mamona como alternativas naturais para inserir no óleo diesel, mas aos poucos o óleo de soja foi ocupando seu espaço e o sebo bovino.

Sebo virou comodities

Essa matéria prima, considerada um patinho feio que em alguns casos era despejada em rios, córregos e aterros sanitários para alimentar urubus, sobrava no mercado. Sua utilização se restringia basicamente a indústria de higiene e limpeza. Hoje a realidade é outro e sebo bovino virou comodities. Se levarmos em consideração que o rebanho bovino no Brasil é praticamente igual a um boi por habitante, a oferta terá que ser suficiente para atender o mercado doméstico e abastecer a crescente demanda da China, países da África e Europa por proteína animal.

Alta constante no sebo bovino tem forte impacto nos preços dos sabonetes
O milho também pode ser utilizado na fabricação de biocombustível (Foto: Pixabay/Chokniti Khongchum)
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Demanda crescente

Com a alta do dólar, tudo que é relacionado ao boi é aproveitado, reafirmando o ditado popular que do boi só não se aproveita o berro. E no sebo não poderia ser diferente. Os frigoríficos travam uma verdadeira guerra silenciosa nos bastidores do mercado para aumentar sua produção de proteína animal e seus insumos e fazem compras futuras junto aos pecuaristas, que na maioria das vezes exigem o pagamento antecipado na cotação do dólar. O sebo bovino, que é o principal insumo da massa base para a fabricação de sabonete, está atualmente em torno de R$ 4,13 o quilo na maioria das regiões do Brasil, registrando uma alta considerada em relação ao início desse ano. Para o curto prazo a expectativa é de que a demanda siga firme, mantendo o mercado aquecido. A explicação está no uso crescente para a produção de biocombustível que conta com muitos incentivos governamentais.

Leis do mercado

De acordo com Cid Caldas, Coordenador geral de Cana de açúcar e Agroenergia da Secretaria de Política Agrícola do MAPA – Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, atualmente são produzidos no Brasil cerca de 2,5 milhões de toneladas/ano de gordura animal. Desse total 1,5 milhão são provenientes do abate de bovinos. Ele entende que a elevação dos preços do sebo bovino está associada as leis do mercado (oferta e demanda) e que não existe qualquer intenção do Governo de intervir neste importante arranjo produtivo.  “Não existe incentivo ao uso deste produto diretamente. Ele entra como outras matérias primas na produção de biodiesel. O Sebo Bovino (resíduo da indústria de carnes) era um problema em decorrência da sua abundância. O uso do sebo na produção do biocombustível agregou valor a cadeia produtiva da indústria de carnes que passou a obter melhores preços para este resíduo. A indústria voltada ao setor de higiene terá que concorrer com outros atores para a obtenção de sua matéria prima, fazendo contratos de longo prazo e fidelizando seus fornecedores”, analisa Caldas.

Aliado ao combate da COVID-19

Em razão de sabonete ser um forte aliado primário no combate a pandemia da COVID-19, aumentos exagerados podem inviabilizar o uso de sabonete em populações mais carentes, mas Caldas diz que: “Entendo a preocupação da indústria de higiene, mas querer que o governo intervenha neste segmento alegando questões de combate a COVID-19, é no mínimo desproporcional. O problema da falta de uso de produtos de higiene pela população mais carente não é de hoje e está associado a questão de renda”, lembrou Caldas.

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De acordo com dados da EMBRAPA – Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária, o sebo bovino já responde por 14,3% da produção desse biocombustível, atrás somente da soja. Atualmente o biodiesel tem uma participação de 12% na composição do óleo diesel no Brasil, mas estudos preveem um aumento para 15% em breve, o que mantém a alta desse produto no mercado. Com isso, inevitavelmente o preço desse comodities deverá continuar subindo. E a aposta é certa, pois o estado do Mato Grosso que é o maior produtor de grãos e de gado do Brasil, já conta com 14 usinas instaladas e já foram comercializados mais de R$ 6 bilhões de litros de biodiesel no estado. No Brasil, a comercialização de biodiesel é feita por meio de leilões públicos organizados pela ANP – Agência Nacional de Petróleo.

Impacto no sabonete

O Consultor hoteleiro Mario Cezar Nogalez lembra que a mamona deveria ser o principal biocombustível a ser usado no biodiesel e isso foi amplamente defendido pelo Governo do PT – Partido dos Trabalhadores. “Mas estranhamente a gordura animal ganhou força e começou a sofrer ajustes astronômicos já que a Petrobras começou a produzir biodiesel com toda a gama biológica para esta produção e o sabonete foi um dos afetados. Vimos subir o preço em questão de dois anos em mais de 100% e a desculpa naquela época era que o mercado internacional mandava na massa base de sabonete. Como a demanda é certa para o uso do sebo bovino nos próximos anos, aparecem os aproveitadores, como a JBS que é líder desse mercado, que dá preferência e prioridade para o mercado externo e na minha opinião, o Governo deveria intervir”, avalia Nogalez.

Alta constante no sebo bovino tem forte impacto nos preços dos sabonetes
Mario Cezar Nogalez: “Como a demanda é certa para o uso do sebo bovino nos próximos anos, aparecem os aproveitadores, como a JBS”
Demanda crescente

Ele se diz muito preocupado com a movimentação mundial da China na aquisição de comodities e que se o Governo não ficar de olho não será apenas o sebo que faltará no mercado. “Sem que haja uma demanda crescente, serão todas as comodities nacionais e se isto ocorrer não serão apenas os menos abastados que sofrerão, seremos todos”, alerta Nogalez. Em relação aos repasses constantes que inevitavelmente a indústria de higiene fará a hotelaria ele destaca que: “O custo do sabonete com relação as diárias dos hotéis giram em torno de 0,10% dos custos das diárias, enquanto as OTA’s possuem um comissionamento médio de 14%. Basta o gestor do meio de hospedagem começar a fazer administração de fato e deixar de se enganar, dando prioridade ao que de fato interessa, a qualidade da hospedagem. Enquanto as capitais ainda sofrem com a baixa ocupação ocasionado pela crise mundial da pandemia, o turismo interno de lazer está em pleno vapor. Já existem vários destinos turísticos onde a taxa de ocupação já está em plena recuperação com taxas maiores de ocupação do que previsto”, revela Nogalez.

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Opções de combustível biodegradável

O biodiesel é um combustível biodegradável derivado de fontes renováveis como óleos vegetais e gorduras animais como sebo bovino e suíno. Estimulados por um catalisador, eles reagem quimicamente com álcool. O Brasil conta com diferentes espécies de oleaginosas que podem ser usadas para produzir o biodiesel. Entre elas estão a mamona, dendê, canola, girassol, amendoim, soja e algodão. Esse biocombustível substitui total ou parcialmente o diesel de petróleo, em motores de caminhões, tratores, camionetas, automóveis e também motores de máquinas que geram energia. Por ter alta produtividade em óleo e um sistema de produção já razoavelmente estabelecido no Brasil, o dendê tem sido apontado como a espécie vegetal que deverá crescer a produção para atender a demanda de biodiesel. Como o dendê é muito utilizado em cosméticos, esse pode ser mais um gargalo que a indústria de higiene poderá sofrer em breve se a demanda não acompanhar o consumo. E não obstante, o bolinho de acarajé também poderá se impactado.

Posição da indústria

A ABISA – Associação Brasileira da Indústria Saboeira se mostra preocupada com a alta do sebo bovino no mercado, pois ele é o principal componente da massa base podendo chegar em até 60% da composição do sabonete. O sebo bovino é o principal insumo utilizado na indústria do Brasil e países da América do Sul na fabricação de sabonetes, mas há outras soluções, como a estearina de Palma que é a mais utilizada em países da Europa e na Ásia. “Essa é uma matéria prima vegetal, que pode substituir o sebo pois possui uma composição química muito similar ao sebo bovino. No Brasil há uma demanda maior de palma do que se é produzido, portanto a estearina de Palma pode chegar em preços mais elevados que o sebo bovino. Há a opção da importação, que pode oferecer preços mais baixos que o mercado interno, porém há que se levar em conta o câmbio do dólar”, alerta a executiva da ABISA, Zoé Morés.

Alta constante no sebo bovino tem forte impacto nos preços dos sabonetes
Zoé Morés: “O sebo bovino é o principal insumo utilizado na indústria do sabonete”

Segundo ela, em razão da pandemia da COVID-19 houve redução no abate bovino, pois muitos frigoríficos tiveram que suspender às operações ou reduziram pela metade, mas o consumo do sebo continuou crescendo. “O aumento de preço ainda foi impulsionado pelo mercado de soja, pois com o crescimento do mercado de biodiesel essa oleaginosa está bem disputada no mercado interno e nas exportações. Nós atuamos em conjunto com os fabricantes de sabão com o intuito de parametrizar com melhores incentivos a estrutura fiscal das compras por essa matéria prima para que a indústria saboeira possa ter uma atuação mais forte do que a indústria de biodiesel”, assegura Zoé.

 

Situação preocupante

Ela lembra que sebo bovino não é a principal matéria prima para a fabricação de biocombustível, o óleo de soja representa uma grande parcela e gorduras suínas e de frango ainda apresentam melhores vantagens em relação ao sebo bovino. Por conta da gordura bovina apresentar um índice de iodo mais baixo, implica em um menor rendimento em comparação às demais gorduras. “Porém com a escassez do óleo de soja por conta das exportações da soja em grão, tanto o sebo quanto outras gorduras animais e vegetais (como palma, milho, etc) passaram a ser mais demandadas. A ABISA se preocupa com essa situação e está sempre buscando alternativas para as indústrias de sabão. A vantagem do mercado de sabão é a possibilidade da importação, enquanto a indústria de biocombustível fica limitada ao mercado interno. E há excelentes oportunidades pouco exploradas nesse sentido, com sebo de qualidade e preços atrativos. A produção de sabonetes se intensificou bastante no final do primeiro bimestre, houve um aumento das vendas em um primeiro momento da pandemia devido ao incremento no consumo. Porém atualmente existem distribuidores com níveis elevados de estoque de sabonetes e não há risco de escassez desse produto ao consumidor. Pelo contrário, esse alto índice de estoque acaba dificultando até mesmo a negociação dos preços em relação ao aumento da matéria prima. Nesse caso, atualmente não foi constatada a necessidade de importação”, concluiu Zoé.

Preço sob consulta

Umberto Manzo, Diretor da Danfler, um dos mais tradicionais fabricantes de sabonetes e amenities para a hotelaria nacional com a marca Exoterika confirma que esses aumentos constantes de massa base para o sabonete se acentuaram no ano passado. “No início de 2019 o aumento era a cada dois meses, mas no início desse ano passou a ser mensal e agora ocorre semanalmente sob consulta de tabela. De novembro de 2019 a agosto de 2020 tivemos um aumento de 43% nesse insumo e inevitavelmente temos que repassar aos nossos clientes. A JBS é dominante no mercado, porém existem outras empresas no mercado, mas com custo elevado, não existe flexibilidade na negociação e a situação preocupa”, destaca Umberto.

 

Ele defende que o governo deveria intervir no setor impondo regras claras para o aumento da matéria prima, quebrando o monopólio existente e dando a permissão para aumentos consecutivos sem um controle afim de evitar que ocorra superfaturamento no cenário. “Se essas medidas não forem realizadas, poderá haverá o desabastecimento para as indústrias cosméticas. O sabonete é um produto essencial para o combate a pandemia da COVID-19 e higiene pessoal, que ficará com um preço inacessível se for mantido o cenário hoje. No cenário hoteleiro trará um impacto nos custos operacionais, pois nenhuma indústria de cosméticos conseguirá absorver um aumento de 43% na massa base do sabonete”, concluiu Umberto.

Alta constante no sebo bovino tem forte impacto nos preços dos sabonetes
Luiz Roberto Magrin Filho: “Não faz sentido os aumentos que estão acontecendo na massa base de sabonete fornecido pela JBS” (Foto: Renato Hazan)
Suspensão temporária nas vendas

A Harus Soluções em Hospitalidade, um dos principais fornecedores de amenities para a hotelaria nacional, teve que emitir um comunicado ao mercado hoteleiro em meados do mês de agosto suspendendo temporariamente as vendas de sabonetes para o setor. “Se mantivesse os preços da tabela em vigor, eles não cobririam nem o custo de produção. Não faz sentido os aumentos que estão acontecendo na massa base de sabonete fornecido pela JBS. Eles querem reajustes semanais e isso impacta em aumento de até a 63% num momento difícil que passa a economia em razão da pandemia da COVID-19, em que a hotelaria é um dos segmentos mais afetados. As vendas de sabonetes para o setor tiveram uma queda drástica em razão de muitos meios de hospedagem ainda estarem fechados ou com baixas taxas de ocupação. Mesmo diante dessa dura realidade, não temos como absorver esses aumentos constantes de insumos sem repassar aos nossos clientes, pois não estamos conseguindo renegociar a aquisição da massa básica sem reajustes e inevitavelmente teremos que repassar aumentos de até 40% aos nossos clientes. E o mais agravante, é que mesmo com alta dos preços, está faltando massa base de sabonete e a previsão de normalidade acontece somente de 10 a 20 dias”, assegura Luiz Roberto Magrin Filho, Diretor geral da Harus.

 

Segundo ele, outro aumento considerável que está acontecendo no mercado é o dos filmes bopp nas embalagens plásticas dos sabonetes que chegou a 16,2%, somente nos últimos dias. “Os reajustes estão acontecendo com muita frequência e já fui notificado pelos nossos fornecedores desse insumo, que haverá reajuste nos próximos dias em torno de 7,5 a 11%”, disse Magrin Filho.

Intervenção do Governo é a solução

A JBS além de ser a principal produtora de sebo bovino no Brasil, oriundos de seus diversos frigoríficos, também é a maior produtora da massa base, assim como é a maior produtora de sabonetes em barra e sabões no segmento B2B. Ou seja, o ciclo de insumos e produtos derivados é um círculo fechado e com isso a empresa ganha um grandioso poder de competitividade no mercado. Existem outras empresas fabricantes de massa base para sabonete no mercado, mas elas não conseguem atender a demanda, como a Sinter Futura, que adquire parte de sua demanda em alguns momentos no mercado. Ela também é uma grande produtora de sabonete e cosméticos e assim como as demais empresas que atuam no mercado, também foi impactada diretamente com os aumentos de preço da massa base, causados pelos aumentos de preço da sua principal matéria prima, o sebo bovino. “Desde o início do ano, a massa base aumentou mais de 40%, acompanhando os aumentos do sebo, que representa 80% do seu custo. Sempre é muito difícil repassar aumentos de preços para os clientes, em especial em momentos de crise. O fato é que os fabricantes de sabonetes não têm outra alternativa, sua principal matéria prima está em níveis de preços nunca vistos antes e se optarem por não repassarem o aumento, existe grande risco de terem sérios problemas financeiros. A principal causa dos aumentos da massa base está relacionado com a indústria de biodiesel que está comprando volumes altíssimos de sebo e por consequência impactando nos preços dos sabonetes, item essencial para o combate a pandemia de COVID-19. Na minha opinião o Governo deveria sim intervir e reduzir o percentual da mistura de biodiesel no diesel. Me parece um contrassenso continuar com essa política, tendo em vista que o biodiesel aumenta o preço do diesel para o consumidor final e toda a cadeia de transportes”, enfatiza, Breno Grou, CEO da Sinter Futura.

Alta constante no sebo bovino tem forte impacto nos preços dos sabonetes
Breno Grou: “O Governo deveria sim intervir e reduzir o percentual da mistura de biodiesel no diesel”

E se na sua opinião, a situação hoje é preocupante, a tendência é se agravar ainda mais nos próximos anos se medidas governamentais não forem adotadas. “A produção de biodiesel vem aumentado no Brasil por causa da exigência do aumento do percentual de mistura do biodiesel no diesel. No início deste ano, entrou em vigor o B12 (todo o diesel vendido deve ter 12% de biodiesel em sua composição) o que causou um grande desequilíbrio no mercado interno de óleos e gorduras. O Governo projeta que essa mistura chegue a 15% em 2023, o que tende a piorar ainda mais a situação. A única forma que vejo de resolver essa situação seria o Governo reduzir a porcentagem da mistura. Antes da entrada em vigor dessa regulamentação do biodiesel, deveria ter sido feita uma análise mais profunda sobre os impactos negativos dessa medida nos segmentos de higiene & limpeza e alimentos. Como isso não foi feito, o mercado de higiene e limpeza no Brasil é praticamente refém da gordura animal e óleos vegetais e tem competido diretamente com o setor de combustíveis”, concluiu Grou.

 

Falta de opção de fornecedores de massa base

Vicenzo Manzo, Diretor da Ecco Brasil, também tradicional empresa fornecedora de sabonete e amenities para a hotelaria, é outro empresário que se diz preocupado com aumentos crescentes e recorrentes da massa base. “Nos últimos quatro meses ocorreu um aumento de 50% na aquisição da massa base bovina, que é a principal matéria prima para fabricação de sabonetes. Não temos como absorver esse custo e inevitavelmente será repassado para o produto final. E o pior é que não existe muitas outras opções no mercado para compra desse insumo, por que a JBS (maior processadora de carne bovina no mundo) incorporou os principais frigoríficos do Brasil e exterior. Assim, eles acabam ditando os preços no mercado”, destaca Vicenzo.

Em razão do uso crescente do sebo bovino para o biodiesel, ele não acredita no desabastecimento para indústria de higiene. “Mesmo porque isto já ocorre há muito tempo, mas infelizmente ficamos sujeitos a esses aumentos abusivos. Tenho esperança em uma intervenção do Governo diante destes aumentos, por que representará um impacto na inflação do País. Ou uma opção inteligente seria substituir o sabonete sólido por sabonete líquido, mas existe uma dificuldade em fazer as pessoas mudarem hábitos adquiridos a várias gerações”, concluiu Vicenzo.

Alta constante no sebo bovino tem forte impacto nos preços dos sabonetes
O sabonete ou sabão fabricado com sebo bovino pode virar artigo de luxo em breve (Foto: Pixabay/theresaharris10)
Cartel da JBS

Uma fonte ouvida pela reportagem, que pediu para não ser identificada em razão de ser cliente da JBS e temer represálias na aquisição da massa base para fabricar sabonetes, não poupa críticas a atuação da empresa, que no seu entender, é um cartel no setor. “Sabendo que o sebo bovino terá aumentos crescentes nos próximos anos, a JBS faz compra do produto no mercado futuro e em alguns casos, paga de forma antecipada aos pecuaristas para ter certeza que receberá o produto para atender a demanda. Assim consegue um bom preço, mas oferta em alta ao mercado e quem não sujeitar a pagar o que a JBS reajusta semanalmente, fica sem essa matéria prima essencial. Os poucos concorrentes que existem no mercado, não conseguem atender a demanda e possuem pouco poder de barganha na compra do sebo bovino que a JBS monopoliza a compra. Então não existe a tal livre iniciativa da lei de oferta e procura e o Governo faz vista grossa, quando deveria intervir nesse monopólio. Controlar comodities e impor preços abusivos ao mercado, talvez seja a nova política que a holding J&F está adotando para cumprir o acordo de leniência de R$ 10,3 bilhões, firmado com o Ministério Publico Federal. Como esse valor deve ser corrigido ao longo do período de 25 anos, a soma final pode passar de R$20 bilhões. E mesmo vendendo várias empresas para ajudar a pagar essa dívida, é bom lembrar que a JBS Higiene & Limpeza é a principal produtora de sabonetes em barra e sabões no segmento B2B e detém marcas como Francis, Albany e Protex. E o pior de tudo é que com tantas falcatruas apuradas dos Irmãos Batistas, controladores da J&F, a holding ainda fica posando de boazinha no mercado contando com a péssima memória dos brasileiros. E recentemente fez uma campanha se solidarizando com a pandemia da COVID-19 doando sabonetes, cestas básicas e equipamentos hospitalares. O que ela precisa é praticar preços sem abusos e evitar aniquilar a concorrência”, concluiu indignada a fonte.

A JBS foi procurada pela nossa reportagem para uma entrevista sobre o assunto, mas através da Diretoria de comunicação corporativa se limitou a dizer que: “A JBS não irá comentar o assunto”.

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Edgar J. Oliveira

Diretor editorial - Possui 31 anos de formação em jornalismo e já trabalhou em grandes empresas nacionais em diferentes setores da comunicação como: rádio, assessoria de imprensa, agência de publicidade e já foi Editor chefe de várias mídias como: jornal de bairro, revista voltada a construção, a telecomunicações, concessões rodoviárias, logística e atualmente na hotelaria.

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